Análise: Kill It With Fire (Multi) — bem-acabado para uma demo, escasso para um jogo completo

O título chega finalmente aos consoles após pouco mais de seis meses de sua versão original no PC.

em 07/03/2021

Um dos principais apelos da indústria indie é que, pelo fato de se tratar de desenvolvedores sem tantas amarras comerciais (normalmente impostas pelas empresas de grande porte que têm uma visão engessada do que faz um produto ser vendável), ideias malucas demais para serem arriscadas em outras circunstâncias podem ser colocadas em prática, especialmente jogos de apelo humorístico ou que se concentram basicamente em uma única ideia.


Esse é o caso de Kill It With Fire (Multi), que atribui ao jogador a tarefa principal e simples de eliminar, das mais diversas formas, aranhas. A questão é que, justamente por se tratar de um título focado nesta única ideia, somado às limitações decorrentes de um processo de desenvolvimento independente, o game jamais parece atingir seu verdadeiro potencial, tanto em seu aspecto técnico quanto em seu lado conceitual.



No embalo do rock das aranhas

Pois bem, a estrutura básica de Kill It With Fire se estende através de diversas fases compostas basicamente de ambientes fechados em que o jogador precisa exterminar aranhas, o mote central do jogo. Matando uma quantidade determinada de aracnídeos, desbloqueamos mais armas. Assim, começamos com uma simples prancheta e vamos montando nosso arsenal (não tão vasto como inicialmente dá a parecer) com novos modos de dar cabo dos bichos, como uma frigideira, lança-chamas improvisado, ou estrelas-ninja. Também recebemos alguns objetivos a serem cumpridos e podemos encontrar melhorias para o radar detector.

É claro que, da mesma maneira que vamos nos fortalecendo, as aranhas fazem o mesmo: novas variantes, como aranhas que saltam, explodem ou se reproduzem em segundos, vão sendo inseridas ao longo da campanha. Nota-se que a expressão “ao longo” aqui é utilizada de uma forma até que irônica, visto que é quando trazemos à tona o principal problema do game: trata-se de um título extremamente curto.




Ressalta-se ainda que não é um curto com alto fator replay, o que seria compreensível, mas desses em que um jogador mais dedicado consegue fazer 100% dele em questão de pouquíssimas horas, apenas. Mesmo com os objetivos paralelos, como os desafios de habilidade (sempre embalados por um rock extremamente irritante) presentes em cada estágio, trata-se de uma experiência essencialmente vazia e extremamente curta.

Além disso, algo bem desestimulante é a ausência de qualquer desafio. Apesar de haver alguma dificuldade atrelada à própria jogabilidade — experimente tentar acertar uma aranha com um tiro de pistola — não há sequer uma barra de vida, característica extremamente básica da qual o game certamente se beneficiaria no sentido de fazer com que o jogador se preocupe com alguma coisa enquanto resolve as tarefas atreladas a cada fase.




Em Kill It With Fire, a única constância que poderia servir como um medidor de pontuação é o tempo levado para a realização de tais afazeres, que envolvem desde matar certa quantidade de aranhas a resolver alguns puzzles simples nos ambientes de cada estágio. No total, são nove cenários diferentes que contam com algumas pistas que tentam pincelar de maneira sutil que existe alguma coisa por trás da infestação das aranhas. Nenhum deles é realmente inspirado ou vai além do mediano em termos de qualidade. Ao contrário, um dos casos, o labiríntico jardim japonês, é especialmente ruim e conta com um design de fase atroz e bem incômodo de se percorrer.

Visualmente, o game distribuído pela tinyBuild não tem nada de especial em sua estética low-poly, embora o fato de que absolutamente quase todos os elementos dos cenários são interativos — ou melhor, reativos, visto que eles estão lá para serem destruídos ou espalhados pelo ambiente enquanto estamos na busca das aranhas — seja digno de reconhecimento. Em contrapartida, o áudio é muito pouco variado e mais causa irritação do que realmente colabora no sentimento de imersão. A jogabilidade prática também não apresenta problemas de manejo, mas também, com tão poucos recursos disponíveis, não há nem espaço para que algo assim aconteça. 



Mate-as com fogo... e fica por aí.

Eu realmente gostaria de ter mais para falar sobre Kill It With Fire, mas o jogo se resume a basicamente isso. Ele muito me lembra de outro título que joguei no passado, chamado High Hell (PC), cuja estética é similar e se destacava por ser possível de ser finalizado em poucas horas, também. Entretanto, a diferença crucial é que High Hell tinha por trás justamente a ideia de contar com o fator replay, desafiando o jogador a finalizá-lo em tempos cada vez menores.

No caso de Kill It With Fire, nem isso acontece. Tudo nele é extremamente limitado e sucinto. Ele é pouco variado e a ideia original, por mais interessante que seja, fica prejudicada por conta das poucas fases, dificuldade irrisória e variação baixíssima das armas que podem ser utilizadas. Ainda, quando parece que a coisa vai finalmente engrenar, o jogo acaba em um cliffhanger para uma eventual sequência. Esperamos que, caso ela venha à luz, que ela faça jus e realmente traga esse sentimento de caos prometido por esse primeiro. Sabemos que nem toda produção precisa ser grandiosa, mas é nítido que há muito espaço para melhora aqui. 

Prós

  • A ideia é interessante;
  • Destruição é sempre algo divertido;
  • Boa quantidade de objetos de cenário reativos.

Contras

  • Design de fases que varia entre o mediano e o ruim;
  • Falta de desafio;
  • Curta duração;
  • Arsenal de armas pouco diverso;
  • A música que toca durante os desafios de habilidade.
Kill It With Fire — Multi — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela tinyBuild


É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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