Foregone parece ter vindo direto do passado, a despeito de apresentar elementos modernos. Na pele de uma guerreira, exploramos um mundo em conflito em uma jornada de ação 2D bastante direta. O foco é saltar por cenários e golpear inimigos, mas há outros sistemas para trazer complexidade, como equipamentos com diferentes propriedades e árvores de habilidades. Infelizmente, vários problemas e limitações fazem com que o título seja uma experiência nada memorável.
Tentando impedir a queda de um reino
A paz da cidade de Calagan foi ameaçada por Tormento, uma força corrompida lançada por um país rival. Por causa disso, o local foi infestado de criaturas terríveis que espalham o caos e o terror. A esperança é uma super soldado conhecida apenas como Pacificadora, que vai usar sua força e agilidade melhoradas para acabar com os monstros do Projeto Hera, que foram corrompidos pelo Tormento. Pelo caminho, a garota vai descobrir que seu envolvimento no conflito é maior do que parece.A jornada da Pacificadora é uma clássica aventura de ação e plataforma 2D cujo objetivo é avançar derrotando inimigos. Para atacar, a garota conta com dois tipos de armas: facas, espadas e lanças são utilizadas para golpear oponentes próximos; já pistolas, arcos e escopetas permitem acertar alvos distantes. A munição das armas de fogo é limitada, mas ela pode ser recuperada ao acertar inimigos com ataques físicos, sendo assim somos forçados a nos aproximar dos perigos para poder utilizar completamente os dois tipos de armamento.
No decorrer da aventura, a heroína adquire novas habilidades, como poderes curativos, um raio de energia poderoso, uma explosão que atinge todos os inimigos da tela e uma barreira para evitar dano. Algumas das técnicas também aumentam sua mobilidade: uma investida aérea permite alcançar locais distantes, já um golpe em direção ao chão é capaz de destruir solo frágil. Salas escondidas com itens poderosos nos convidam a explorar com cuidado os estágios.
Fora os movimentos básicos, há aspectos de customização no título. Equipamentos podem ser adquiridos ao derrotar inimigos ou encontrar salas secretas, e eles têm raridades, atributos e habilidades passivas diferentes — uma mesma arma, por exemplo, pode ter várias versões distintas. Além disso, um ferreiro é capaz de melhorar as características dos itens ao custo de dinheiro. Atributos da Pacificadora e de suas habilidades também podem ser aperfeiçoados e há diferentes conjuntos de possibilidades.
É difícil não se encantar com o visual do jogo, que conta com belos e variados cenários 2D repletos de detalhes, como florestas, templos antigos, uma fábrica abandonada ou um laboratório em um píer. Já os personagens são representados com sprites de modelos 3D propositalmente em baixa resolução e com serrilhados, o que traz um aspecto pitoresco a eles. No fim das contas o resultado é ótimo, e a fluidez da ação ajuda a deixar tudo mais bonito. Já a história e a música são qualquer coisa e não fazem muita diferença na experiência como um todo.
Cortando tudo em combates ágeis
Velocidade é uma palavra que define bem a experiência de Foregone. A Pacificadora se movimenta de forma ágil, conseguindo alternar livremente entre ataques físicos e com as armas de fogo. Apreciei a variedade de armas, como uma imensa foice, uma arma de choque que acerta vários inimigos em sequência e o gunchuck, uma curiosa mistura de arma com nunchuck. Esquivas e ataques especiais trazem ainda mais possibilidades aos combates.A cidade de Calagan está tomada por inimigos e há razoável variedade de oponentes para enfrentar. No entanto, rapidamente as batalhas perdem a graça por vários motivos. Para começar, os embates são fáceis e basta utilizar a mesma estratégia sempre, ou seja, esquivar para as costas do oponente e atacá-lo até a morte. A quantidade de tipos de inimigos se revela limitada com o tempo e passamos toda a aventura enfrentando os mesmos dez monstros — depois de pouco tempo eu já estava entediado de repetir as mesmas ações e estratégias.
Mesmo com esses problemas, a aventura tem alguns pontos interessantes. Para começar, a ação é simples e descomplicada, e é quase relaxante derrotar vários inimigos em sequência sem pensar muito. Enfrentar grupos de diferentes inimigos é empolgante, sendo necessário priorizar quem atacar primeiro, afinal erros podem ser fatais. Já as lutas contra os chefes são intensas, pois eles apresentam padrões de ataques mais elaborados e passam a usar novos golpes com o decorrer do combate.
Os sistemas de customização também têm problemas. Coletar inúmeros equipamentos com propriedades diferentes parece interessante na teoria, porém na prática é de pouco impacto: as habilidades passivas são irrelevantes (como adicionar 2% de possibilidade de aplicar veneno), a quantidade de itens inúteis é alta e as diferenças entre armas do mesmo tipo se resumem a pontos de força ou defesa. Sendo assim, eu simplesmente escolhi alguns poucos equipamentos bons e joguei fora todo o resto, e não há incentivos para testar diferentes tipos de armas ou conjuntos. As árvores de habilidade sofrem do mesmo mal, com efeitos irrisórios — aumentar 1% da vida ou da força influenciam em nada a jornada.
Uma jornada por um mundo monocórdio
A aventura de Foregone é estruturada em fases cujo objetivo é derrotar os inimigos para chegar até o chefe. Existem alguns aspectos de exploração tímidos, como salas secretas e partes que só podem ser acessadas após coletar habilidades especiais, porém a progressão é majoritariamente linear.Mundos estruturados de forma sequencial não chegam a ser um problema, mas Foregone comete uma falha grave ao apresentar um desenho de níveis bastante desinteressante. Todos os estágios do jogo se resumem a andar e bater, sendo que eventualmente precisamos derrotar inimigos específicos ou ativar botões para abrir portas. Trechos de plataforma são raríssimos e, quando aparecem, são extremamente simples. As fases apresentam diferentes temas, como floresta, laboratório, ruínas e cemitério, no entanto, mecanicamente, são idênticas — basta jogar o primeiro estágio para saber como é o resto do jogo. Alguns trechos dos mapas, inclusive, são exatamente iguais.
Por causa desses aspectos, a jornada se torna cansativa e repetitiva rapidamente. Em um momento eu já estava tão irritado de enfrentar os mesmos inimigos e de fazer os mesmos passos para abrir portas que simplesmente passei a ignorar os combates e segui em frente, esquivando dos inimigos — curiosamente mal tive dificuldade, o que mostra a irrelevância dos embates no level design do jogo.
O jogo foi lançado originalmente em 2020 e agora recebeu novidades em uma atualização gratuita. A inclusão mais notável foram as Missões, que oferecem diferentes desafios com limite de tempo, como derrotar todos inimigos ou navegar por áreas repletas de armadilhas. Há também chefes exclusivos e algumas das tarefas contam com restrições que nos forçam a jogar de maneiras diferentes. Para mim, este é o melhor conteúdo de Foregone, pois os estágios são mais elaborados e exploram as habilidades de navegação da protagonista de forma interessante, sendo necessário muita destreza e velocidade para conseguir completá-los.
Uma experiência limitada
Foregone aposta na simplicidade para oferecer uma aventura 2D razoável. O seu maior destaque é o combate direto e acelerado, em especial as batalhas contra os chefes. Porém, não faltam problemas: o level design é desinteressante e repetitivo, a dificuldade é banal, e os sistemas de customização são irrelevantes. As missões opcionais conseguem oferecer desafios interessantes, mas são só uma pequena parcela do pacote. No mais, Foregone é nada memorável e recomendado somente para aqueles que buscam algo extremamente básico.Prós
- Trechos de ação e plataforma ágeis;
- Visual vibrante e elaborado;
- Boas batalhas contra chefes;
- Desafios opcionais interessantes e bem elaborados.
Contras
- Desenho de níveis preguiçoso e com áreas extremamente similares;
- Combate fácil, repetitivo e com pequena variedade de inimigos;
- Muitos elementos irrelevantes ou mal implementados, como sistema de loot de equipamentos e árvore de habilidades.
Foregone — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Blue Bubble
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Blue Bubble