Análise: Coleção Arcade da Blizzard (Multi) é um bom exemplo de como coletâneas de jogos devem ser produzidas

Embora só reúna três games, a qualidade de cada um deles, somada à boa quantidade de conteúdo e opções, torna o título uma ótima pedida.

em 04/03/2021

Dada a longevidade da indústria dos jogos eletrônicos, uma prática bastante comum é trazer coletâneas de grandes sucessos do passado. Além de reunir games de qualidade, essas coleções podem trazer materiais extras, funções adicionais e versões especiais desses títulos. A Coleção Arcade da Blizzard (Multi) segue essa receita à risca, oferecendo uma experiência repleta de nostalgia, conteúdo e, principalmente, diversão.

Uma coleção enxuta, mas caprichada

Lançada no dia 19 de fevereiro de 2021 para Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One e PC, a coletânea é mais um dos projetos para comemorar os 30 anos da Blizzard. A empresa subsidiária da Activision Blizzard é hoje famosa por franquias como Overwatch, Warcraft e Diablo. Inicialmente chamada de Silicon & Synapses, a companhia contou com ótimos games desde os seus primórdios.
São várias novidades para comemorar as festividades
São justamente três desses primeiros jogos que compõem a Coleção Arcade da Blizzard. São eles: Blackthorne (ação e plataforma), The Lost Vikings (quebra-cabeça e plataforma) e Rock N' Roll Racing (ação e corrida). Apesar de a quantidade ser reduzida, esses games têm boa qualidade e valem o destaque recebido. Cada um deles conta com duas versões originais e uma “definitiva”, repleta de melhorias em relação às outras.
Três ótimos jogos em um pacote belo e funcional
Antes de falarmos individualmente de cada jogo, vale a pena fazer alguns comentários gerais sobre a coletânea. Ela é bastante robusta e bem apresentada, com menus bonitos e funcionais. O sistema de salvamento e as configurações de tela (moldura, proporção e filtros) e botões são competentes; destaque para a função de rebobinar, que permite ao jogador facilmente retroceder alguns segundos no jogo (não disponível nas versões definitivas).

É uma pena que seja possível criar somente um save por jogo, mas isso não chega a comprometer. Afinal, vale lembrar que os títulos contam com os famosos passwords, que podem ser facilmente encontrados na internet. Além dessas qualidades, a Coleção Arcade da Blizzard traz outro elemento crucial para uma coletânea: materiais extras.

Os materiais ilustram um pouco da história dos jogos
Embora pareça óbvio que uma coleção deva trazer conteúdos que contém um pouco da história dos seus games, infelizmente isso nem sempre ocorre na prática. Títulos como Namco Museum Archives Vol. 1 e Vol. 2 (Multi), Space Invaders Forever (PS4/Switch) e Super Mario 3D All-Stars (Switch) são exemplos que trazem “apenas” os jogos, sem nenhum material extra interessante.
     
Felizmente, a Coleção Arcade da Blizzard seguiu um caminho parecido com Samurai Shodown NeoGeo Collection (Multi), trazendo vários conteúdos legais: documentários em vídeo, imagens promocionais, artes conceituais e trilhas sonoras são alguns dos materiais disponíveis. Além disso, todos eles já vêm liberados e podem ser curtidos a qualquer momento, sem estar atrelados a conquistas obtidas após horas de jogo.
Até mesmo propagandas originais estão disponíveis
É muito agradável ver que as versões definitivas foram produzidas em 12 idiomas diferentes, incluindo o português brasileiro. A maior crítica à coleção vai para a ausência completa de modos online. Seria incrível poder correr contra os amigos ao redor do mundo, ou pelo menos comparar recordes com outros jogadores.

Blackthorne – atire e explore com muito estilo

Começamos falando do título “mais novo”, lançado originalmente em 1994. Ele conta com duas versões clássicas: a original do SNES e a do 32X, um periférico que expandia o poder de processamento do Mega Drive (também conhecido como Sega Genesis) para 32 bits (para referência, o SNES tem 16 bits). Enquanto a primeira tem arte pixelada, a segunda tem gráficos pré-renderizados, além de quatro níveis novos.
O jogo equilibra plataforma e tiro

O título tem uma história intrincada, mas que pode ser resumida da seguinte forma: Kyle, o protagonista, é um habilidoso ex-militar e mercenário que conseguiu escapar da prisão após ser condenado à morte. Após sonhos estranhos, o herói descobre que faz parte de uma civilização alienígena chamada Androthi, que está à beira da extinção graças aos malignos Ka’dra’suul.

Para salvar o seu povo, ele viaja à sua terra natal, o planeta Tuul, e começa a sua aventura. As fases combinam plataforma e ação, exigindo que o jogador explore os cenários labirínticos e derrote inimigos com sua escopeta. Blackthorne foi criado através da técnica de rotoscopia, de forma semelhante ao primeiro Prince of Persia, resultando em animações bastante realistas, ainda que um pouco lentas.

Explore os cenários e vença os inimigos
Dividido em quatro áreas principais, o game requer bons reflexos e um timing adequado, pois os cenários exigem saltos precisos e oferecem vários monstros para combater. Conforme os níveis de cada área são vencidos, a dificuldade das lutas e a complexidade dos mapas aumenta, embora também seja possível obter melhorias para Kyle e sua arma. Um jogo desafiador, mas divertido e repleto de boas ideias.

The Lost Vikings – um quebra-cabeça divertido e original

Passamos agora para o game “mais velho”, lançado em 1991. São duas versões disponíveis: a do Super Nintendo, que é a original, e a do Sega Genesis, que contou com cinco níveis adicionais, cenas extras e um modo para três jogadores (a definitiva combina recursos dessas duas). Aliás, logo, logo vai ficar claro o porquê desse modo multijogador ser tão relevante.
Alterne o controle entre os vikings para completar as fases

A premissa do game é meio maluca: três vikings são sequestrados por Tomator, líder de um império alienígena, para servirem de atração em um zoológico intergaláctico. Eles conseguem escapar da espaçonave-prisão, mas acabam perdidos pelo fluxo temporal, de onde (ou quando) precisam escapar para enfrentar o vilão e voltar para casa.

Essa história é contada por várias cenas interessantes, algo inovador na época original do jogo. Graças às viagens no tempo, The Lost Vikings tem a liberdade de apresentar fases com as mais diversas ambientações e estruturas. O objetivo é sempre levar os três heróis ao final do nível utilizando as habilidades únicas de cada um, de forma alternada ou sincronizada.

A cooperação entre os personagens é essencial para progredir
São eles: Erik, o Veloz, o mais rápido e que também pode pular; Baleog, o Feroz, armado com uma espada e um arco e flecha; e Olaf, o Robusto, com seu escudo que também pode ser utilizado como planador. Misturando plataforma com quebra-cabeças, o título é divertido, original e desafiador. É preciso planejar as ações dos vikings e agir com precisão, pois só assim todos chegarão vivos até o final dessa ótima aventura.

Rock N' Roll Racing - pisando fundo na emoção!

Fechando com chave de ouro, temos o título de 1993, que é certamente o mais famoso e querido da coletânea. Tal como os dois anteriores, ele chega com a versão do Super Nintendo, que é a original, e a do Sega Genesis, que conta com uma música extra e o dobro de pistas. Aqui não temos uma história ou premissa relevantes: a ideia é escolher um personagem e vencer as corridas em pistas intergalácticas.
Explosões e derrapagens são obrigatórias nas corridas

Representando vários planetas diferentes, os corredores contam com atributos e visuais distintos. Para vencer as corridas, é preciso ser rápido e combativo, pois os carros contam com armas e equipamentos feitos para detonar os concorrentes. Adquirir veículos e melhorias exige dinheiro, acumulado ao obter boas classificações e realizando feitos como destruir competidores e coletar itens especiais.

As pistas são bastante variadas, com muitos formatos diferentes e atrações como saltos e obstáculos. A cada série de corridas vencida, o jogador avança para uma mais difícil, tornando a aquisição de novos carros e melhorias obrigatória para triunfar. A versão definitiva de Rock N' Roll Racing traz como destaques uma maior qualidade no áudio e um modo multijogador local para até quatro pessoas.

Se não dá pra vencer na velocidade, então vai na malandragem
Como não poderia deixar de ser, um dos maiores destaques do game é a sua trilha sonora. Tal como sugere o título, temos um belo conjunto de músicas do gênero rock, incluindo clássicos como Bad to the Bone, Breaking the Law e Highway Star. Quanto a esse tópico, deixo apenas uma crítica à ausência da canção Paranoid, que, em minha opinião, era a que melhor representava este jogo radical e viciante, sobretudo quando jogado com os amigos.

Nostalgia, qualidade e diversão

Em meio às várias coletâneas lançadas no mercado, a Coleção Arcade da Blizzard (Multi) se sobressai com uma proposta bastante sólida. Os três jogos apresentados, Blackthorne, The Lost Vikings e Rock N' Roll Racing, são atemporais e muito divertidos. Eles chegam com diversas versões diferentes, com destaque para as definitivas, que entregam novidades e melhorias muito bem-vindas.
 
Apesar de deixar a desejar em certos pontos, como na falta de modos online e no sistema de salvamentos limitado, o título tem um grande saldo positivo. Em particular, a presença de materiais extras é um belo mimo aos jogadores e complementa bem a proposta da coletânea. Uma ótima sugestão para a sua biblioteca, sobretudo para quem já era fã desses verdadeiros clássicos.

Uma coleção com aventuras clássicas e divertidas

Prós

  • Coletânea com três jogos de boa qualidade: Blackthorne, The Lost Vikings e Rock N' Roll Racing;
  • Várias versões interessantes de cada um dos títulos, incluindo uma “definitiva” com diversas adições e melhorias;
  • Grande quantidade de materiais extras como vídeos, artes conceituais e propagandas;
  • Sistema de salvamentos, ajustes de jogo e função rebobinar funcionam muito bem.

Contras

  • Ausência de modos de jogo online;
  • Não é possível criar múltiplos arquivos de salvamento.
Coleção Arcade da Blizzard – Multi – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Blizzard

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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