Pequenos e terríveis pesadelos
Em Little Nightmares II controlamos o pequeno Mono, um garoto que acorda na clareira de uma escura floresta e cheia de armadilhas, e logo se depara com a cabana de um caçador. Na cabana ele encontra Six, a protagonista do primeiro jogo e, após libertá-la de um quarto e conseguir sua confiança, escapam juntos do lar do perigoso caçador, até chegar em Pale City.
Ao chegar na cidade, a dupla percebe que uma Torre de Transmissão distorce a realidade do local e altera o comportamento dos estranhos moradores. Além disso, Mono parece, de alguma forma, estar relacionado com a Torre. As duas crianças precisam atravessar a cidade, passando por tenebrosas localidades, para resolver o mistério por trás da transmissão e ficarem em segurança.
Em sua curta duração, entre três e quatro horas resolvendo os quebra-cabeças em um tempo adequado, o enredo oferece pouquíssimos detalhes sobre o universo do jogo e seus personagens, sendo necessário ler descrições e o conteúdo oficial do jogo, já que não há diálogos ou textos para enriquecer a história. O ritmo da narrativa é bastante lento, tendo poucos momentos nos quais novos detalhes são adicionados à trama. Além disso, assim como em seu antecessor, o título deixa muito em aberto a interpretação do jogador sobre os eventos finais, o que gera várias teorias e intensa pesquisa pós-campanha.
Apesar do desenrolar fraco do enredo, a nova aventura traz um tom de terror psicológico ainda maior que o primeiro título e proporciona uma grande montanha-russa de emoções, intercalando-se entre momentos mais calmos e focados na resolução de quebra-cabeças, perseguições frenéticas e abordagens stealths, com o objetivo de passar pelos enormes e assustadores adultos sem ser percebido.
A cada ambiente explorado, a atmosfera fica ainda mais tensa e perturbadora, com novos perigos espreitando no escuro. Os inimigos, no maior estilo Tim Burton, colaboram, em grande parte, na criação deste cenário arrepiante e desconfortável. A professora com seu longo pescoço e os pacientes do hospital proporcionam momentos de tirar o fôlego, desde fugas frenéticas ou sendo cuidadoso em cada movimento para não chamar a atenção dos inimigos. Não foram poucas as vezes que fiquei ansioso ao passar por uma porta ou atravessar por salas escuras com potenciais ameaças. Mas afirmo, estranhamente, que é uma ansiedade “boa”, que te prende ao jogo de forma brilhante, mesmo após fugir de diversas crianças de cera.
Entre puzzles e fuga
Little Nightmares II é dividido em cinco segmentos, todos com o mesmo formato: chegamos em uma nova localidade, resolvemos puzzles para avançar, enfrentamos novas ameaças enquanto que, em certos momentos, devemos passar ou fugir do “chefão” do lugar. Apesar de seguir constantemente o mesmo padrão, o título sempre se renova nos quebra-cabeças, evitando que se torne repetitivo. Os desafios de raciocínio lógico são bastante criativos e possuem uma dificuldade leve, fazendo com que a gameplay flua muito bem sem te deixar preso em certo local por longos períodos.
Muitas novidades foram adicionadas à jogabilidade da franquia. Durante quase toda a campanha somos acompanhados por Six, que auxilia na solução de vários puzzles e impulsiona para alcançarmos certos pontos. A inteligência artificial da personagem funciona muito bem para as poucas e básicas funções que exerce. Outra adição é a aparição de machados, martelos e outros itens utilizados como armas brancas para quebrar portas, objetos e em um simples sistema de combate que acontece em poucas ocasiões.
Enquanto os desafios lógicos são um ótimo atrativo, os momentos de fuga podem não deixar muito claro o caminho a se seguir ou os obstáculos que devemos escalar, desviar ou passar por baixo. Por vezes são necessárias algumas tentativas, consequentemente mortes, para conseguir perceber a solução para escapar de inimigos que estão na sua cola, ou acertar o exato momento de realizar um salto.
Há também alguns coletáveis em Little Nightmares II. Alguns deles, muito difíceis de serem achados, são chapéus que Mono pode usar, o que o faz nunca revelar seu rosto. Há também fantasmas de transmissão que, se todos encontrados, revelam um “final verdadeiro”, o que não passa de uma cena adicional ao final do jogo.
Na parte técnica, Little Nightmares II é bastante consistente. Os visuais do jogo, apesar de simples, cumprem seu papel ao proporcionar uma atmosfera tensa e com detalhes, por vezes perturbadores. O game expandiu ainda mais seu universo apresentado uma cidade com diversos cenários, ao invés de nos prender em uma única localidade como o antecessor. Para complementá-los, a trilha sonora casa muito bem com a ambientação e escala de acordo com os momentos cruciais. Apesar de raros, houve momentos em que o personagem ficava preso em algum canto de parede, entre objetos ou dava algum glitch, piscando por alguns segundos na tela.
Vale a pena jogar Little Nightmares II?
Se você é fã de jogos de puzzles e adora a adrenalina de um bom título de terror, Little Nightmares II com certeza deve estar na sua coleção. Apesar do enredo lento e com poucos detalhes, o jogo é uma evolução enorme de seu antecessor, tanto na parte de jogabilidade, que trouxe ótimas novidades, quanto na proposta do terror psicológico, garantindo muitos momentos angustiantes e de tirar o fôlego.
Prós
- Verdadeiro terror psicológico, se comparado com o antecessor;
- Novos elementos de jogabilidade renovam a franquia;
- Desafios lógicos com a dose certa de dificuldade;
- Level design criativo;
- Ambientação e trilha sonora escalam a experiência para outro nível.
Contras
- Enredo com poucos detalhes, sendo necessário buscas externas para melhor compreensão;
- Evolução lenta da história, deixando o jogador “no escuro” por muito tempo.
Little Nightmares II — PS4/XBO/PC/Switch — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise publicada com cópia digital cedida pela Bandai Namco