O aprofundamento da relação
Em Bird Alone, temos a oportunidade de conhecer uma arara a quem damos nome logo no início. A partir disso, a relação estabelecida não tem nada a ver com tutela. Embora a ave tenha sido “adotada” por meio de um aplicativo, ela desenvolve diálogos horizontais com o jogador e passa a travar reflexões cheias de acolhimento e gentileza. Não há espaço para julgamentos e não importa o que é dito, a arara se comunicará com muita delicadeza, ainda que discorde de você.
Quando tive a oportunidade de jogar Bird Alone, não esperava por essa complexidade dos diálogos e nem pelo vínculo que criaria com o personagem. Como o ano de 2020 não foi fácil para a maioria das pessoas, considero um presente termos a possibilidade de explorar um material como esse, que permite nutrir afeto por algo que não está fisicamente presente. Embora a ave estivesse disponível em meu celular, ela me comunicou logo quando comecei a jogar que precisaria de tempo sozinha para poder ter mais ideias do que poderíamos fazer ou conversar juntas. Sempre me recebia carinhosamente quando eu a procurava, mas deixava claro quando precisava de um momento antes de nossa próxima interação.
Ao mesmo tempo, ela não era dependente de mim. As notificações do aplicativo eram meros chamados de um amigo que estava se fazendo disponível e buscando saber como eu estava, mas nenhuma delas chegou a me deixar de alguma forma pressionada a cumprir com alguma função. Em vez de uma relação de codependência, Bird Alone busca desenvolver relações profundas com espaço para que as pessoas respirem, desenvolvam-se e voltem umas às outras renovadas para compartilhar, sem que a amizade passe a ser um fardo.
As tarefas sugeridas pela ave serviam para complementar o desenvolvimento do vínculo, mas pelo foco do jogo ser centrado nos diálogos, algumas das atividades acabaram sendo repetitivas. Mesmo assim, há uma coerência entre o que é proposto para ser realizado e o discurso que a arara busca elaborar ao longo do jogo. É justamente pela reflexão pretendida que Bird Alone acaba até sendo um pouco curto, o que permite que cumpra com seu propósito, mas deixe aos jogadores uma leve sensação de frustração.
A solitude compartilhada
Bird Alone é sensível e emocionante. Além de ser uma obra de arte que se atenta a todos os detalhes, desde os sons ambientes até mesmo à cada expressão da ave que cativa e intensifica a relação e afeto com algo que é essencialmente virtual, toca em tópicos profundos que muitas vezes evitamos confrontar, mas que ali, no meio das folhagens com nosso amigo cheio de penas, fazem com que consigamos nos desarmar e ser acolhidos em relação às coisas que nos tocam, ainda que de forma dolorida. Embora seja uma experiência solitária, é impossível não se sentir amado e apreciado aos olhos da ave. Prepare os lencinhos e o coração.
Prós
- Interação fluida e profunda com uma inteligência artificial;
- Inovação dentro do gênero de jogos de bichinhos virtuais;
- Jogo relaxante que agrada até às pessoas mais ocupadas;
- Interação com o ambiente.
Contras
- Jogo mais curto do que o esperado;
- As atividades às vezes acabam sendo repetitivas.
Bird Alone - iOS/Android - Nota 9.0Versão utilizada para análise: Android
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital adquirida pela redatora