O recente trailer de revelação de The King of Fighters XV causou um alvoroço na comunidade gamer, mesmo possuindo menos de um minuto de duração e não mostrando nada do gameplay. Não é pra menos, pois a série The King of Fighters (popularmente conhecida como KOF) é amada por fãs de jogos de luta, sendo uma referência no gênero. Mas nem sempre foi assim.
A idade das trevas
De KOF 2003 a KOF XII, a SNK passou por um período difícil, com jogos duramente criticados pelos fãs e pela mídia especializada. Essa queda de qualidade deveu-se principalmente aos gravíssimos problemas financeiros enfrentados pela empresa, que passou por um processo de falência e várias mudanças de controlador e distribuidoras, como a coreana Eolith e a japonesa Playmore.
E como se não bastassem esses problemas, houve ainda a mudança de hardware, que saiu da arquitetura MVS para a placa Sammy AtomisWave e posteriormente para a placa Taito Type X² (a mesma de Street Fighter IV). Cada mudança de hardware é uma dor de cabeça para os programadores, que precisam aprender a programar na nova plataforma.
KOF XII, lançado nos arcades em 2009 foi um desastre. Foi o título com menor número de lutadores de toda a série principal. Não possuía história, nem encerramentos para os times - aliás, nem havia times - e nem um chefão final. O zoom dos lutadores durante a partida era exagerado, atrapalhando a jogabilidade que era quebrada e ruim. Este título fez parecer que a glória de The King of Fighters havia definitivamente ficado no passado.
E nesse cenário triste, veio The King of Fighters XIII, que trouxe de volta a glória dos bons tempos da franquia.
A volta aos clássicos
Lançado em 2010 nos arcades, The King of Fighters XIII concluiu o arco de Ash Crimson, com uma grande reviravolta e assombrou a todos com seu lindo visual 2D.
A jogabilidade deste título seguiu a fórmula de sucesso dos clássicos da série: o bom e velho três contra três. Sem strikers, sem troca de personagens no meio da luta e sem câmera maluca dando zoom quando não deve.
Focado em combos rápidos e movimentação constante, o jogo é uma delícia, acessível para novatos e tecnicamente avançado para veteranos, com novas mecânicas que permitem combos apoteóticos.
Existem quatro tipos diferentes de pulo e um rolamento que evita ataques, por isso não existe a possibilidade de um oponente ficar no canto da tela só soltando magias. Aqui os jogadores precisam se movimentar e manter a pressão de ataque o tempo todo, o que faz com que as partidas sejam muito dinâmicas e, sobretudo, gostosas de assistir.
A coleção de personagens é generosa, 32 iniciais além de dois desbloqueáveis (Billy Kane e Saiki) e três DLC (Mr. Karate, Iori em chamas e Kyo NESTS) com enorme variedade de estilos e estratégias. Seja qual for seu estilo de jogar, haverá um grupo de personagens que lhe agradará. Os trios, ausentes no jogo anterior, voltaram e em sua maioria com as
formações clássicas. E você pode conhecer um pouco mais sobre cada um deles, pois antes de cada luta acontece um diálogo, em que podemos ver como os personagens se relacionam.
Novas mecânicas
Entre as novas mecânicas trazidas em KOF XIII destaca-se o Drive Meter, uma nova barra de energia que permite cancelar um especial emendando com outro especial, o chamado Drive Cancel. Isto permite combos de especiais ao custo de meia barra Drive ou entrar no Hyper Drive Mode, gastando toda a barra (“estourar” como dizem os kofeiros).
O Hyper Drive Mode é um estado temporário que aumenta o dano e permite o uso de algumas habilidades exclusivas deste modo, como por exemplo executar Neo Maxes consumindo apenas duas cargas do Super Meter.
Os Neo Maxes são especiais poderosíssimos que consomem três cargas do Super Meter e toda a barra de Drive, ou duas cargas de Super Meter enquanto se está no Hyper Drive Mode.
Este jogo também trouxe o sistema EX, já presente em outras franquias de luta, como Vampire Savior da Capcom. Trata-se de uma versão mais forte das magias comuns, que consomem uma carga do Super Meter.
Muita coisa pra assimilar? Não se preocupe, este jogo tem um tutorial detalhado que ensina todas as mecânicas de forma interativa.
O último The King of Fighters em 2D
Beleza é algo totalmente subjetivo e difícil de analisar, mas… este jogo é lindo. Os cenários são coloridos e detalhados, as magias são bonitas e brilhantes, com belos efeitos de partículas. Detalhes como o movimento de respiração dos personagens e a forma como se movem durante os combos é impressionante.
Se houve algo que XIII herdou positivamente de seu antecessor, certamente foi a arte dos personagens, que foram totalmente redesenhados usando uma técnica que a SNK chamou de “Dot Creation.”
Esta técnica permite desenhar figuras em pixel art 2D com a movimentação detalhada de um modelo 3D. É um processo trabalhoso de criação, mas de maneira muito simplificada, envolve criar um personagem em 2D, fazer um modelo 3D a partir deste conceito, animar o modelo 3D e depois desenhar com pixel arte por cima deste modelo. O hardware que roda o jogo não está lidando com um modelo 3D, mas sim com um gráfico em pixel art 2D.
A grosso modo, o processo lembra a técnica realizada pela Rare em Donkey Kong Country (SNES), em que as imagens do jogo eram renderizadas em estações 3D poderosíssimas, depois transformadas em imagens 2D, que eram lidas pelo SNES. Logo não se trata de um jogo 3D “de verdade”, pois o console estava tratando as imagens como elementos 2D.
A estética dos personagens de KOF XIII é um tema controverso. Muitos jogadores consideram estas artes como as mais belas de toda a série, já outros consideram que os personagens ficaram horrorosos. Eu diria que é uma questão de gosto pessoal, que depende muito do personagem. Alguns ficaram feios mesmo, como Clark e Ralph, outros ficaram lindos, como Yuri e Kim. Mas o jogo, de um modo geral, tem uma estética bastante agradável.
Já que estamos falando da aparência dos personagens, este título permite uma grande customização de cores, algo que não é visto em nenhum outro título da série até o momento. Você pode criar e gravar até cinco esquemas de cores customizados para cada personagem, além dos dez já pré-definidos pelo jogo.
O jogo também é repleto de cutscenes belíssimas que enriquecem a experiência no modo história. A trilha sonora também é digna de elogios, especialmente o tema de abertura.
Consumo somente no local
Por ser tão ruim, o servidor do modo online é um deserto e leva um tempão para encontrar oponentes. No momento em que escrevo esta matéria tentei jogar online, tanto no Steam quanto na Xbox Live, e encontrei apenas um oponente num período de meia hora. A partida, como descrevi acima, foi extremamente decepcionante, com lags que tornaram a experiência sofrível.
Como nos KOF “de antigamente”, este deve ser jogado apenas em partidas locais. Aí sim você possui a melhor experiência que este título pode oferecer.
Games With Gold
Se você é assinante Games With Gold, corra para baixar o jogo; títulos do Xbox 360 ou Xbox original são incorporados permanentemente à sua biblioteca e você poderá jogá-los mesmo que cancele a assinatura do serviço. Além disso, o jogo é retrocompatível com consoles Xbox One e Xbox Series S/X.
Cheio de opções, com sua jogabilidade rápida e técnica, focado no modo história e com música e gráficos belíssimos, The King of Fighters XIII resgatou a credibilidade após um período muito difícil para a franquia. É um título gostoso de jogar, cheio de personalidade, mas peca pelo seu modo online. Trata-se de um dos jogos mais importantes e bonitos da série, além de ser um dos melhores jogos de luta disponíveis atualmente.