The Prophecy of the Throne apresenta um roteiro original, subvertendo um dos elementos principais da história: a seleção real. Com novos personagens adicionados à trama, a obra coloca Subaru em uma posição desconfortável, sendo necessário esforço para que ele descubra quem é a impostora e evite que sua amada Emilia seja acusada injustamente.
Uma ameaça à profecia do trono
Tudo começa com a chegada de um emissário real à mansão de Roswaal, onde Emilia e Subaru moram. Sem oferecer muitos detalhes, o grupo logo descobre que o processo de seleção real foi adiado. Para entender melhor a situação, Emilia terá que ir à capital real e obviamente Subaru irá acompanhá-la.
Ao todo, há seis facções no jogo, oferecendo suporte às candidatas: Emilia, Crusch, Anastasia, Priscilla, Melty e Felt. Cada uma das garotas possui seus cavaleiros e apoiadores, mas tem um porém: de acordo com a profecia, apenas cinco candidatas deveriam existir. Logo, uma impostora está entre elas e Emilia é uma das pessoas que sofrem acusações de ser impostora.
Para quem não conhece a obra original, existe um resumo opcional no início do jogo. Ele explica rapidamente e de forma clara os elementos relevantes da história, aliviando a entrada no universo de Re:Zero. Quem já está familiarizado com a obra tem uma noção mais clara do que está acontecendo, mas a narrativa ainda consegue oferecer boas reviravoltas em torno das motivações dos novos personagens.
De forma geral, a história é sólida e bem desenvolvida. A trama consegue mostrar o apelo de Re:Zero e apresentar uma narrativa fechada em si, bem estruturada. De forma resumida, é como se fosse um bom filme de anime, fazendo uma extensão à obra original que é bastante divertida por conta própria, mesmo estando inserido em um âmbito maior dentro do universo.
Ele também apresenta muito bem os personagens, cujo carisma é perceptível. Nosso herói, Subaru, é um rapaz consciente de sua posição como alguém que veio de outro mundo e que consegue voltar da morte, mas que ao mesmo tempo prefere evitar se tornar dependente dessa habilidade cujas limitações ele ainda não compreende perfeitamente. Ele faz piadas com bastante frequência e seu amor por Emilia também acaba sendo motivo de chacota, mas, quando precisa agir, ele também demonstra seriedade mesmo sendo fraco e não muito inteligente.
Gostaria de destacar em particular também as seis candidatas cujas personalidades são bastante distintas. A relação entre elas chama a atenção, sendo interessante ver como determinadas mudanças no desenrolar da trama levam Subaru a conhecer outros lados delas. Enquanto o herói é sempre leal a Emilia, a busca pela falsa candidata o coloca em uma posição muito difícil graças a seu nível de envolvimento e empatia com elas.
Porém, é necessário destacar que a narrativa é prioritariamente linear, havendo apenas algumas pequenas ramificações para New Game+ e para quando o jogador falha em uma missão. Essa escolha acaba subutilizando a habilidade de Subaru e reduzindo a capacidade de intervenção do jogador. Mesmo com a narrativa interessante, é uma pena que os desenvolvedores optaram por essa decisão.
Hora da missão
Apesar de o jogo ser majoritariamente no formato visual novel, o título também conta com dois outros aspectos de gameplay. Primeiramente, é possível explorar algumas áreas como a mansão e a capital, mas apenas para cumprir determinadas tarefas, usualmente conversar com o personagem X. Outros NPCs também estão presentes, alguns deles oferecendo itens como tópicos de conversação.
Esses acréscimos ao inventário do jogador são úteis para os trechos táticos, que são o segundo aspecto de gameplay específico. Neles Subaru precisa realizar algum tipo de missão, como parar um inimigo ou explorar áreas em busca de informações junto com os seus aliados. O que chama a atenção é que Subaru é o único personagem que o jogador controla e ele não consegue atacar inimigos, sendo necessário usar inteligência e os elementos do cenário a seu favor.
Essa escolha torna o elemento tático algo mais próximo de um puzzle simples, em que o jogador precisa encontrar os triggers corretos para avançar. Não à toa o jogo é descrito como “aventura tática” e não como um RPG tático ou algo similar. Vale destacar também que antes de todas as missões é realizado um briefing detalhando a operação. Nele o jogador tem algumas opções estratégicas, definindo os objetivos e como os personagens irão se comportar.
Em uma missão de obter informações, um personagem pode vasculhar uma área ou outra dependendo das escolhas que o jogador faz nessa etapa de planejamento. E as escolhas podem estar abertas ou escondidas dependendo dos itens obtidos na breve etapa de exploração.
No entanto, aqui há também outro desperdício, no fato de que esses elementos de gameplay são pouco utilizados. É importante ter em mente que o jogo é prioritariamente uma visual novel, as áreas de exploração são pequenas e os trechos táticos são raros. Isso também leva a uma subexploração da proposta, que faz com que o conceito de estratégia se reduza às escolhas do planejamento e à ativação de triggers sem evoluir o gameplay adequadamente ao longo do jogo.
Vale destacar também que em raríssimas ocasiões o jogador tem acesso a um mapa-múndi. No entanto, tive dificuldade de entender a utilidade dele quando o jogador tem apenas uma opção real e todas as outras são apenas diálogos negando a ida de Subaru e sua equipe. Inclusive, em uma cena, os personagens têm que parar em uma área para descansar o dragão alugado, mas esse local está no lado oposto ao trajeto correto, fazendo com que o mapa seja até mesmo inconsistente com a história.
Outros valores como visual novel
Apesar das questões que mencionei acima, me diverti bastante com Prophecy of the Throne. O texto em inglês é de alta qualidade, com raros errinhos de digitação e trechos em que a fala e a escrita são diferentes. Ambas as opções de voz (inglês e japonês) fazem um excelente trabalho em dar vida aos personagens e proporcionar uma experiência emocionalmente envolvente, enquanto o roteiro é instigante o suficiente para envolver o jogador no universo geral de Re:Zero.
Da mesma forma, visualmente, o título conta com artes 2D belíssimas. Os cenários de fundo são bem detalhados, mas o que chama realmente a atenção são os modelos dos personagens. A animação deles salta aos olhos, demonstrando uma expressividade muito acima da que normalmente é esperada de uma visual novel. No entanto, vale destacar que em ambas as opções de dublagem a movimentação labial não é sincronizada. Efeitos especiais também parecem estar faltando em algumas cenas.
Nos trechos de exploração e estratégia são utilizados gráficos 3D com os personagens em formato chibi (super deformados de forma a ter uma grande cabeça e corpo pequeno). Esse visual é funcional, mas não muito interessante em comparação com a alta qualidade dos modelos 2D animados.
De forma geral, Re:ZERO -Starting Life in Another World- The Prophecy of the Throne traz uma adição interessante para o universo da série de light novels e anime. Mesmo linear, sua história bem desenvolvida, seus personagens cativantes e o bom emprego de vozes e visual 2D tornam a obra uma boa visual novel. Mesmo com um gameplay um pouco subdesenvolvido, isso por si só já faz a obra valer a pena e me deixou bastante interessado em mergulhar mais fundo no universo de Re:Zero.
Prós
- História sólida e bem desenvolvida;
- Personagens carismáticos;
- Pistas que instigam o jogador a querer saber mais sobre a obra original;
- Dublagens em inglês e japonês são ambas muito boas;
- De forma geral, o texto em inglês é de alta qualidade;
- Visual 2D muito bem animado ajuda a dar vida às cenas;
- Conceito inusitado de jogo tático focado totalmente em inteligência.
Contras
- Poucos trechos de tática não exploram tão bem a proposta;
- Narrativa prioritariamente linear;
- Mapa-múndi inútil e inconsistente.
Re:ZERO -Starting Life in Another World- The Prophecy of the Throne –
PC/PS4/Switch – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft