Análise: Deck of Ashes (PC) traz um jogo de cartas original e divertido, mas sem grandes destaques

Ainda que a proposta básica seja interessante, todo o resto é apenas mediano.

em 30/01/2021

Jogos de cartas se tornaram lançamentos comuns na indústria dos games. Logo, para que um game desse gênero consiga obter sucesso, é preciso trazer originalidade e qualidades que o destaquem dos demais. Deck of Ashes (PC) é um bom exemplo de como atender o seu público alvo, contando com uma jogabilidade única. Mas será que isso é o suficiente para o grande público? É o que vamos conferir em mais uma análise.

Concorrência exigente

São várias as razões pelas quais os jogos de cartas digitais se tornaram tão populares. Enquanto eles compartilham toda a beleza e a diversão oferecidas pelas suas contrapartes físicas, as versões eletrônicas são normalmente mais acessíveis e permitem uma ambientação mais completa. Logo, o gênero recebe novos títulos com frequência.
 
Lançado em 11 de junho de 2020, Deck of Ashes é um game com uma interessante proposta de jogo de cartas. Desenvolvido pela AYGames e publicado pelas empresas Buka Entertainment e WhisperGames, ele também traz elementos de RPG em um estilo roguelike. Nada revolucionário, mas bastante competente.
Conheça os Outcasts

Ele conta a história dos Outcasts (do inglês, Exilados), um grupo de bandidos que se voltou contra a humanidade. Tendo cometido diversos crimes hediondos, eles descobrem sobre a Ash Box (Caixa de Cinzas), que, segundo rumores, lhes daria um poder incrível. Para obter a caixa, eles firmam um acordo com a Lady Death (Senhora Morte), dona do artefato.

A ganância do grupo gera uma disputa entre os membros pela posse da Ash Box, resultando na quebra do objeto. A chamada Ash Curse (Maldição das Cinzas) atinge todo o mundo, corrompendo as paisagens e criando monstros terríveis. Os Outcasts também acabam sendo afetados, ganhando incríveis poderes ao custo das suas próprias almas.

A disputa pela Ash Box
Para resolver essa catástrofe, eles recebem a ajuda do Ash Priest (Sacerdote das Cinzas) para encontrar e derrotar Lady Death. A história cria uma atmosfera interessante e permeia cada ponto de Deck of Ashes. Cenários, personagens e demais elementos tem uma pegada decrépita e sinistra, criando uma ambientação competente e que combina com o jogo de cartas.

Muitas campanhas para jogar

Depois dessa apresentação da história, o game, que é do tipo singleplayer, começa propriamente. Deck of Ashes, além de um modo tutorial competente, apresenta uma campanha para cada um dos quatro Outcasts em busca de redenção. Em termos de progressão, elas são semelhantes: o jogador é colocado em um grande mapa repleto de eventos que são gerados aleatoriamente.
O mapa poderia ter sido mais caprichado
Tal como num jogo de tabuleiro, o personagem pode se mover pelo mapa um espaço de cada vez. Cada local pode reservar eventos, recursos e/ou batalhas, que devem ser utilizados para fortalecer o respectivo Exilado e seu baralho de cartas. Isso porque, ao final de um contador de tempo, uma batalha contra um chefe deve ser vencida.
O ritmo das partidas é dinâmico
Esse ciclo é repetido até o “chefão final”, a misteriosa Lady Death. As diferenças entre as campanhas se dão no baralho de cada protagonista e pelos tipos de ambiente que compõem os mapas. As variações renovam Deck of Ashes, tornando-o suficientemente interessante para levar o jogador a começar novamente. Por fim, um epílogo fecha a história de maneira satisfatória. O último modo de jogo é o Badlands, que é mais difícil e tem foco somente na sobrevivência.

Hora do duelo!

Passemos agora para o mais importante, que é a jogabilidade do game. Embora cada personagem tenha seu próprio baralho e desafios a enfrentar, as regras do jogo são as mesmas para todos. O Outcast tem uma barra de vida e começa cada rodada com seis cartas. Para serem usadas, elas possuem um custo de mana, cuja quantidade é limitada, mas recuperada a cada rodada.
Temos uma boa quantidade de opções para montar o baralho
Para vencer a batalha, é preciso reduzir a energia dos inimigos a zero, utilizando diversas mecânicas diferentes. O assassino Sly aflige menor dano bruto, mas tem cartas que causam sangramento e envenenamento. Já o guerreiro Buck tem foco em grandes danos, utilizando cartas que intensificam o efeito dos ataques. Lucia, com habilidades flamejantes, e Magnus, com poderes místicos, completam o grupo.
Cada personagem tem suas próprias técnicas e estratégias

Cada um deles é divertido ao seu próprio modo, exigindo estratégias diferentes e dinâmicas. É elogiável a grande quantidade de efeitos e condições tanto por parte dos baralhos dos protagonistas, quanto por parte das habilidades dos vilões a serem derrotados. E mesmo sendo variadas, as opções são bem explicadas e garantem partidas intuitivas.

Além de gerenciar a mana, o jogador precisa lidar com o Deck of Ashes (Baralho de Cinzas), que é a maior originalidade do jogo de título homônimo. Ele é composto pelas cartas utilizadas e descartadas durante o combate, não podendo ser compradas diretamente. Para recuperá-las ao baralho principal, é preciso ativar cartas específicas que, em contrapartida, drenam a vida do personagem.

Ao final de cada luta, é preciso escolher como usar os Rest Points
Essa mecânica de gerenciamento, utilizando um equilíbrio entre risco e recompensa, é desafiadora e garante várias opções interessantes. Algumas cartas só ativam seus efeitos no Baralho de Cinzas, enquanto outras são recicladas automaticamente. Ao final de cada batalha, os chamados Rest Points são recebidos e podem ser utilizados para recuperar vida e/ou cartas do Deck of Ashes para a próxima luta.

A mistura de cartas, RPG e roguelike

Além de um sistema de combate por cartas sólido, Deck of Ashes conta com elementos de outros gêneros para compor sua estrutura. Batalhas e pequenos eventos proporcionam diversos tipos de recursos, sendo que cada um deles tem seu propósito. Eles podem ser utilizados no acampamento, que é onde o jogador gerencia a campanha.
O acampamento guarda melhorias importantes
Moedas, por exemplo, podem ser usadas para adquirir receitas de cartas novas. Outros recursos permitem a criação de cartas a partir das receitas, comprar habilidades passivas e até melhorar atributos como acerto crítico e velocidade. Esses elementos de RPG, embora não sejam muito relevantes no contexto geral, aumentam as possibilidades de customização da forma de jogar.
Escolha os upgrades de acordo com o seu estilo
Além dos mapas serem gerados randomicamente, o gênero roguelike é representado por um sistema de morte permanente (salvo na dificuldade mais baixa ou utilizando um ritual específico). Mesmo não sendo apaixonante, essa mistura de gêneros garante uma jogabilidade variada e divertida. É uma pena que o game só tenha maior competência nesses quesitos que, embora importantes, não garantem um pacote completo muito atrativo.

Um bom jogo (e só isso)

Se por um lado Deck of Ashes oferece um jogo de cartas com boa qualidade, o mesmo não pode ser dito do restante do título. Não que ele seja ruim nos demais elementos; ele apenas não consegue se destacar de forma relevante. Um exemplo direto é a apresentação, que, como dito anteriormente, é sinistra e mistura bem os gêneros de fantasia e terror.
A arte se destaca mais nas telas de carregamento

A questão é que, mesmo sendo originais e bem apresentados, incluindo uma boa variedade de inimigos e cenários, os visuais, em geral, não chegam a saltar aos olhos. As animações, inclusive, são bastante limitadas e chatas. Efeitos e trilha sonora, embora legais em um primeiro momento, se revelam repetitivos. A dublagem é o que mais se destaca desses elementos, com vozes bem escolhidas para os personagens.

Mapas e menus apresentam layouts ruins, tanto visual quanto funcionalmente. Gerenciar o baralho ou as habilidades passivas é uma tarefa chata, assim como explorar os cenários. Dada a característica estratégica do game, essas etapas deveriam ser mais valorizadas, sobretudo para incentivar quem não é super fã do gênero.

A chegada nos consoles promete boas novidades
Vale registrar que, apesar de não ser muito atrativo para jogadores em geral, Deck of Ashes teve uma boa recepção. Ele, inclusive, receberá versões para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch até a metade do ano. Esses novos lançamentos prometem trazer várias novidades, incluindo a presença de uma nova personagem, a elfa Sibyl.

Para os fãs de jogos de cartas

Infelizmente, Deck of Ashes (PC) basicamente só tem apelo para o seu público alvo. Mesmo apresentando um interessante sistema de jogo de cartas, os demais elementos do game são apenas medianos. Gráficos, som, design e animações são competentes, embora pouco atraentes. Logo, temos um título bastante recomendado para os fãs do gênero, mas pouco para quem não curte o popular “coração das cartas”.

Uma experiência divertida para quem curte jogos de cartas

Prós

  •  Jogo de cartas é divertido e desafiador de forma original;
  • Grande quantidade de cartas e estratégias diferentes;
  • Visuais são bonitos, misturando fantasia e horror de forma equilibrada;
  • Dublagem é bem utilizada ao longo da história;
  • Diversas campanhas diferentes para jogar.

Contras

  • Embora competente nos pontos característicos do gênero, faltam atrativos para jogadores em geral;
  • Vários elementos têm baixa qualidade, incluindo mapas, animações e menus.
Deck of Ashes – PC – Nota: 6.5
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Buka Entertainment

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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