Brigandine: The Legend of Runersia é um caso curioso. O RPG estratégico foi lançado em 2020 para Switch e PS4 em comemoração aos mais de 20 anos do clássico cult do gênero, Brigandine: The Legend of Forsena (PS), lançado originalmente em 1998 com uma versão revisada em 2000.
Após tanto tempo e devido à natureza de nicho do jogo, um novo lançamento dificilmente era esperado mesmo por seus mais fervorosos fãs. Com belas artes 2D, uma boa variedade de sistemas e dificuldade customizável, The Legend of Runersia é uma instigante jornada por um novo mundo de fantasia.
Um continente abençoado por mana
Runersia, uma terra repleta de mana graças às bênçãos do Rune God. O continente é dividido em seis partes, sendo quase todas portadoras de um equipamento sagrado chamado de Brigandine. Em uma guerra entre os seis reinos, apenas um será capaz de dominar todo o continente.
Um dos pontos que chamam a atenção em Brigandine é a variedade de suas nações, interesses e motivações. No noroeste fica o Reino de Norzaleo, detentora do Brigandine da Justiça. Após a morte do rei Rubino III, o príncipe (também chamado Rubino) terá que assumir a liderança da nação e enfrentar o campo de batalha por justiça.
Já a República de Guimoule foi estabelecida por Mohana Carradine e tem em mãos a Brigandine da Glória, sendo também a sede de Mohana, uma das duas facções religiosas que veneram o Rune God. Quando a 15ª presidente fica acamada, uma crise nacional força a sua filha Eliza Uzala a assumir o poder para proteger a glória da nação.
Mana Saleesia é comandada pelo impiedoso Rudo Marco. |
O principal inimigo de Guimoule é a teocracia Mana Saleesia, na qual está localizada a principal fonte de mana do continente, fazendo com que o país seja um importante local de peregrinação. É lá que mora a seita Zai, que afirma ser a verdadeira seguidora de Deus em oposição a Mohana. Eles são liderados pelo impiedoso e ambicioso Rudo Marco, que matou o seu pai e antigo líder para assumir o controle da nação e o poder da Brigandine da Santidade. Com isso, o jovem propõe uma revolução que ameaça tornar o continente.
Próximo da região central do continente fica o lar da tribo Shinobi. Comandados por Talia, o grupo é composto por fortes mulheres guerreiras. De posse do Brigandine da Liberdade, elas sempre foram usadas como espiãs e mercenárias, mas agora almejam total independência das outras nações.
Os piratas de Mirelva são uma das principais forças de Runersia. |
Portadores do Brigandine do Ego, os piratas das Ilhas Unidas de Mirelva são liderados por Stella Hamett, descendente de lendários capitães piratas. No intuito de defender as ilhas da invasão, ela decide partir para o ataque e tomar o continente para si.
Por fim, há também o Império Sagrado de Gustava ao norte do continente. Em meio a uma área difícil onde as bênçãos de mana não chegam, o clã Gustav se tornou soberano. Tratado com desprezo pelas outras nações, o imperador Tim Gustav tentará dominar as nações ao seu redor e obter o tratamento merecido por seu clã.
Uma guerra entre seis nações
A primeira coisa que o jogador precisa fazer é escolher entre um dos seis reinos. Cada um deles conta com personagens e histórias próprias, iniciando em pontos diferentes do mapa. Além da sua nação, é necessário definir a dificuldade que irá enfrentar. Ao invés de apenas selecionar “Fácil”, “Normal” e “Difícil”, existe também uma modalidade “Custom”.
Nela é possível definir em detalhes os aspectos desejados para a dificuldade. Incluídos nisso estão elementos como a competência da IA dos inimigos, a velocidade de obtenção de recursos como EXP e Mana (necessária para invocar e manter monstros aliados), o número de turnos, entre outros fatores.
Graças a essa possibilidade, mesmo sendo um RPG estratégico de nicho, o título permite ao jogador moldar a sua experiência. Mais do que escolher entre comodidade e desafio, esse sistema adiciona uma camada de liberdade para definir o desafio que o jogador realmente quer enfrentar de uma forma que poucos jogos fazem.
Após terminar a história com uma das nações também é liberado um Modo Desafio em que é possível escolher entre os personagens já utilizados para criar uma equipe especial que pode combinar aliados improváveis. Como o próprio nome do modo já indica, a dificuldade dele já é pré-definida, sendo pensada para que o jogador teste suas habilidades de forma opcional.
Mapa mundi. |
Em termos do jogo em si, a ideia é que cada nação controla uma certa quantidade de áreas. Conforme esses pontos fazem divisa com outros, cabe a cada líder enviar tropas para atacar os vizinhos e tomar o território. Ganha quem assumir todo o continente. Caso uma nação perca todos os seus territórios, ela será apagada da história de Runersia.
Há duas fases: organização e ataque. No primeiro, o jogador deve mobilizar suas tropas, enviá-las em quests, invocar monstros aliados (que só podem fazer parte de uma tropa que tem energia para suportá-los), evoluir as classes dos personagens. As quests são formas de treinar os personagens ou obter equipamentos e itens, sendo possível também recrutar novos aliados caso o jogador tenha atingido determinados requisitos. Todas essas ações podem ser canceladas e trocadas enquanto se está na organização.
Durante a fase de ataque, as nações escolhem quais vizinhos irão invadir. Personagens que acabaram de se mover ou estão realizando quests não podem atacar. No entanto, os primeiros ainda podem se defender das invasões das nações inimigas.
Para saber se vale a pena atacar, existe uma métrica de CP (pontos de combate) que avalia o poder de força das equipes. É possível ver esse valor para os seus territórios e os que fazem divisa direta, oferecendo um bom panorama de ações que é avaliado tanto pelo jogador quanto pelo oponente.
Gerenciando o micro-combate
Os ataques levam o jogo para uma tela específica similar a jogos como Final Fantasy Tactics. É possível utilizar apenas três tropas por vez e a ordem dos turnos é definida pelo nível dos personagens. Membros de uma mesma tropa podem ser movidos em qualquer ordem.
Curiosamente, ao invés da área das batalhas ser dividida em quadrados, ela é composta por hexágonos, um detalhe pequeno, mas importante de se levar em consideração na movimentação. Outro aspecto relevante são os terrenos, que podem ser montanhas, florestas, planícies, neve, estradas, lagos ou pântanos. Cada tipo de personagem tem uma afinidade diferente, sendo importante ficar de olho nisso para melhor aproveitar os benefícios de cada área (que incluem aumento de evasão, por exemplo).
O objetivo do combate é derrotar os inimigos ou forçá-los a recuar, mas há um limite de 12 rodadas. Após esse tempo, se o atacante não tiver ocupado o hexágono em que está situado o castelo, será vitória do grupo defensor. Esse local é um ponto estratégico também no combate, já que o HP de qualquer unidade que esteja nele é recuperado durante a passagem de turnos.
Além do ataque básico, cada personagem e monstro conta com habilidades específicas de classe. A maioria das magias e golpes especiais exigem que o personagem não se movimente antes de usar. Graças a isso e aos outros aspectos, o jogador precisa avaliar estrategicamente os posicionamentos de suas tropas para poder avançar e obter vitória nas suas invasões.
Vale destacar que monstros derrotados são mortos, mas aliados que lideram as tropas (em geral, humanos) só precisarão passar um tempo recuperando de suas feridas. No entanto, dependendo das configurações de dificuldade, monstros cujos líderes foram derrotados podem ser capturados pelos inimigos. Da mesma forma, é possível obtê-los dos inimigos.
Caso o jogador prefira, é possível também usar um modo automático ou acelerar o combate. Porém, vale destacar que o botão de turbo também afeta a velocidade do cursor, dificultando um pouco o controle. Nas opções do menu, é possível acelerar a movimentação de personagens em combate para um efeito similar sem o problema do cursor.
O retorno de uma lenda da estratégia
De forma geral, todas as opções de ação com as quais o jogador conta para o gerenciamento de suas tropas na guerra e para controlar diretamente os pequenos combates adicionam profundidade estratégica e exigem um planejamento adequado do jogador. Aprender a lidar com todos esses aspectos pode ser a diferença entre uma derrota humilhante e a glória da conquista.
O jogo conta com alguns pequenos errinhos no texto, mas eles não chegam a ser ofensivos ou atrapalhar demais a experiência. Por outro lado, as artes 2D especialmente presentes nos momentos de história chamam muita a atenção, tanto nos detalhados porta-retratos dos personagens quanto nos belos quadros de eventos importantes que contam com pequenas animações.
Brigandine: The Legend of Runersia é um RPG estratégico e ao mesmo tempo um projeto que claramente conhece a fundo os valores do gênero para entregar uma obra de qualidade. Com elementos que agregam qualidade de vida à experiência, é difícil não recomendar o título para pessoas que têm interesse no gênero.
Prós
- Dificuldade customizável;
- Cada nação possui seus próprios eventos, onde são detalhados os seus interesses e motivações;
- Sistemas estratégicos oferecem opções de ação ao jogador, que precisa planejar adequadamente os seus movimentos;
- Modo desafio permite misturar os personagens de vários reinos para uma jornada mais complicada;
- Artes 2D belíssimas de personagens e eventos.
Contras
- Pequenos errinhos no texto em inglês;
- Turbo dificulta o uso do cursor.
Brigandine: The Legend of Runersia - PS4/Switch - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Mariana Mussi S. Infanti