Meus jogos favoritos de 2020 — Ivanir Ignacchitti

Os redatores do GameBlast falam sobre os títulos que mais curtiram entre os lançamentos deste ano.

em 07/12/2020

2020 foi um ano difícil e tenso, imagino que isso seja verdade para a maioria das pessoas, se não todo mundo. Em meio à pandemia, tenho a sorte de poder trabalhar e estudar remotamente e até tenho realizado encontros virtuais com meus amigos com uma boa frequência, mas, ainda assim, meu estado psicológico está longe de estar em seus melhores dias.

Além dos reflexos individuais, a questão da Covid-19 claramente afetou as indústrias de várias formas, e para a produção de games não foi diferente. Porém, mesmo com uma variedade de atrasos e complicações, o ano ofereceu uma boa variedade de experiências interessantes, sejam elas nos consoles ou no PC.

Como mencionei no ano passado, minhas principais plataformas são o PC e o Switch, os quais adquiri em 2018. No entanto, também tive a oportunidade de adquirir um PS4, que antes era do nosso ilustre colega Lucas Fábio Rodrigues, atual proprietário de um PS5 de dar inveja ao resto da redação.

É apenas graças a isso e à ajuda de um amigo que um jogo do console da Sony consta nesta lista. Do contrário, seria impossível o meu acesso a ele, visto que se trata de um exclusivo. Gostaria de destacar que não há nenhuma razão específica para a ordem da lista. Sem mais delongas, confiram os meus jogos favoritos de 2020.

Aokana: Four Rhythms Across the Blue (Multi)

Deve ser fácil reparar o quanto eu tenho apreço por visual novels. É um gênero que curto bastante e sou no geral bastante aberto às experiências que elas podem proporcionar. Aokana é um jogo que já estava no meu radar desde seu lançamento no PC, pela Neko Nyan. No entanto, só tive a oportunidade de jogá-lo este ano, com o seu lançamento para Switch.

Aokana é centrado em um esporte fictício chamado Flying Circus (usualmente abreviado para FC), que envolve competições individuais usando sapatos antigravitacionais. O protagonista, Masaya, é um jovem rapaz que era um grande prodígio, mas abandonou a carreira atlética após um certo evento. No entanto, por morar em uma ilha onde voar é parte do dia-a-dia de boa parte dos adolescentes, ele não consegue ignorar totalmente o seu passado.

Um dia ele encontra uma garota chamada Asuka, e uma série de eventos faz com que ele se torne treinador do time de FC da escola. Isso fará com que ele tenha a oportunidade de conhecer melhor algumas jovens atletas da região, oferecendo quatro rotas possíveis.

Enquanto a maior parte do jogo é uma boa dose de calmaria e humor, o título também consegue passar a tensão de torcer por atletas que se esforçam em um esporte. Dramas e romance são também parte do pacote, cuja trilha sonora impecável e maravilhosa é do tipo de guardar para a vida.

Peaky Blinders: Mastermind (Multi)

Eu nem conhecia a série Peaky Blinders antes do jogo. Sou uma pessoa completamente desligada de audiovisual ocidental de forma geral, então não é algo surpreendente. Eu realmente não esperava curtir tanto o jogo.

O primeiro aspecto que chamou a minha atenção foi a história. Se passando antes da série, o jogo oferece uma narrativa fechadinha e interessante sobre o grupo mafioso conhecido como Peaky Blinders. Com uma variedade de reviravoltas, a trama me cativou durante as poucas, porém satisfatórias, horas de jogo.

No entanto, o verdadeiro charme fica por conta do gameplay. O nome Mastermind é uma forma perfeita de descrevê-lo. Cabe ao jogador coordenar as ações de múltiplos personagens simultâneos para avançar pelas áreas, evitando ser visto por inimigos. Cada um deles tem seus próprios poderes e o jogador consegue controlar o tempo para fazer com que eles ajam simultaneamente.

Infini (PC/Switch)

Se o anterior já foi algo que me surpreendeu, Infini deve ser uma das coisas que mais superaram minhas expectativas na vida. Com um visual tosco e estranho, minha primeira impressão foi a de que se trataria de mais um shovelware bizarro, daqueles que todo dia saem no Steam.

No entanto, Infini é um jogo realmente muito bom. A ideia dele é que você controla a Esperança e deve guiá-la pela psicodelia do infinito. Trata-se de uma espécie de puzzle em que você precisa movimentar o personagem e usar a câmera para realizar jogadas de perspectiva e avançar.

Cada conjunto de fases apresenta uma forma de movimentação diferente e o esperado é que o jogador gaste horas tentando achar o jeito certo de adaptar a câmera enquanto se movimenta. O que está na tela é o mundo inteiro, ou seja, loops horizontais e verticais podem ser realizados se não houver nenhum objeto (como uma parede) obstruindo o caminho.

É um jogo em que ao invés de “pensar fora da caixa”, o jogador precisa pensar em “como usar a caixa a seu favor”. A trilha sonora e o visual ajudam a dar um tom bizarro e psicodélico ao jogo que se encaixa perfeitamente. No entanto, confesso que acho a trama um pouco concreta demais para a proposta.

Under Night In-Birth Exe:Late[cl-r] (Multi)

Apesar de eu não ser bom em jogos de luta, gosto bastante do gênero. Eu cresci jogando títulos da SNK, em especial os de Neo Geo Pocket. Neste ano eu tive a oportunidade de jogar alguns deles, mas o que mais me agradou foi Under Night In-Birth Exe:Late[cl-r].

Foi uma excelente oportunidade fazer a análise dele no Switch. Não havia jogando nenhuma das infinitas versões anteriores, que adicionam esquisitices no nome, mas a atual é verdadeiramente fantástica.

Amo de paixão os golpes e o visual dos personagens. Com um estilo moderno, a arte 2D do jogo é algo muito bem trabalhado. A trilha sonora também gruda bastante na cabeça. Até minha experiência online foi consistentemente boa.

Taisho x Alice -Episode II- (PC)

No ano passado, eu destaquei o Episode I. 2020 é um ano para falar com ainda mais intensidade de Taisho x Alice (também conhecido afetuosamente como TaiAli). A qualidade do novo episódio é tão grande, mas tão grande, que me dá até vontade de tirar o anterior da lista do ano passado.

Não dá nem para comparar. TaiAli I era uma boa introdução com as versões masculinas de Cinderela e Chapeuzinho Vermelho. Ele já demonstrava algumas das qualidades da obra, incluindo a personalidade da protagonista e o tom sombrio das reviravoltas. Mas dá vontade de rir de quão leve aquilo tudo era.

Comparado com Gretel e Kaguya, os rapazes da nova história, o primeiro capítulo era só uma brincadeira de criança. Além de continuar com a tradução divina de Molly Lee, que consegue fazer a leitura ser absolutamente fluida e engajante, a obra vai muito mais fundo em mostrar as situações desesperadoras de backstory dos personagens. Confesso que estou ansioso e com medo do que está por vir nas próximas rotas da história.

Death Stranding (PC/PS4)

Death Stranding lançou este ano no PC e isso me deu a oportunidade de aproveitar o novo jogo do Kojima. Como fã de Metal Gear Solid, cujos jogos me foram apresentados há poucos anos por um amigo, é óbvio que eu estava na expectativa pela obra.

Em resumo, Death Stranding é um “trem bizarro”. Quem diria que virar um entregador poderia dar um jogo tão divertido? É um jogo que gira em torno de fetch quests e consegue mostrar a devida recompensa para o jogador.

De forma geral, o port roda muito bem no meu PC e foi uma experiência bem marcante. O mistério era bem interessante e eu provavelmente nunca vou esquecer a sensação de ser perseguido pelas BTs. A praia nunca mais será a mesma.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions (Multi)

 

Eu odeio futebol e nunca nem tinha visto nada de Captain Tsubasa antes. Porém, eu amo de paixão Inazuma Eleven, que me fez perceber que jogos de esporte podem ser maravilhosos. Porém, usualmente a sensação é que o mercado é inundado sempre com mais do mesmo, foco em realismo e coisas que francamente não apelam tanto pra mim.

Por conta disso, decidi tentar a sorte com o novo jogo de Captain Tsubasa. E compensou, já que o título é sensacional. Rise of New Champions adiciona poderes especiais, visual de anime com estilo bastante característico, customização de personagem e um modo história bem divertido. Dá para perceber que a equipe de desenvolvimento teve muito carinho por ele.

Iwaihime (PC)

Ryukishi07 é um dos escritores mais famosos das visual novels. Criador de Higurashi no Naku Koro Ni e Umineko no Naku Koro Ni, o autor tem uma grande variedade de outras obras publicadas no Japão. Iwaihime é uma que eu já conhecia de nome e o anúncio de que ela teria uma versão em inglês pela ShiraVN me deixou boquiaberto.

Com apenas um momento não muito significativo de escolha, o jogo conta a história de um jovem que se muda sozinho para a cidade natal de seus pais. Em meio ao cotidiano comum, ele percebe que em sua sala há uma garota com uma estranha boneca. Rumores dizem que os cabelos do brinquedo crescem por ele ser amaldiçoado.

Com uma história repleta de reviravoltas, a obra oferece um mistério bastante interessante, com elementos sobrenaturais. Os aspectos visuais e o uso de sons para construção da atmosfera também me agradam bastante.

Trials of Mana (Multi)

Seiken Densetsu 3 é uma lenda dos RPGs de SNES. No ano passado, o primeiro lançamento ocidental da obra ocorreu oficialmente graças à Collection of Mana e um remake do título com o nome Trials of Mana chegou ao PC, ao PS4 e ao Switch este ano.

Francamente falando, é um RPG de ação essencial para fãs do gênero. A adaptação 3D consegue elevar o gameplay a algo muito mais fluido e agradável, demonstrando claramente o esforço, carinho e dedicação da equipe.

Algumas pessoas podem considerar que a história funcionava melhor na versão 2D, mas acho isso besteira diante do gameplay. Para mim, é sem sombra de dúvidas a melhor versão desse clássico RPG e gostaria de ver mais desse tipo de esforço em futuros relançamentos da empresa, que ainda tem muitas séries clássicas para reviver. Quem sabe uma versão 3D do clássico Bahamut Lagoon?

Mad Rat Dead (PS4/Switch)

A Nippon Ichi Software é mais conhecida por Disgaea e outros RPGs estratégicos, mas há alguns anos a empresa tem investido no desenvolvimento de pequenos títulos. htoL#NiQ foi uma obra marcante nesse sentido, sendo o início de um processo de mais liberdade interna para a discussão de outros projetos.

É impressionante ver a influência disso e como isso rendeu à empresa uma variedade de jogos curiosos, que inclui Yomawari, The Liar Princess and the Blind Prince, Lapis x Labyrinth e duas obras mais recentes. Apesar de gostar bastante também de void tRrLM(); //Void Terrarium, o jogo que considero meu favorito é Mad Rat Dead.

Tive a oportunidade de jogá-lo no Switch (a duras penas, devido ao meu Joy-Con estar quase inutilizável, com drift) e a experiência é muito charmosa. Trata-se de um jogo que combina plataforma e ritmo, forçando o jogador a se movimentar de acordo com a música. Com uma trilha fantástica e o humor bizarro e escrachado que a empresa costuma utilizar, Mad Rat Dead é viciante e me deixou incapaz de tocar em outro jogo de plataforma sem tentar me adequar ao ritmo da música.

Xenoblade Chronicles: Definitive Edition (Switch)

Um dos meus primeiros jogos de Switch foi Xenoblade 2, mas nunca tinha tido a oportunidade de experimentar o original, fora um breve trecho no New 3DS. Este ano pude finalmente jogá-lo no Switch e me diverti bastante com a obra.

Explorar o seu vasto mundo é bastante divertido e recompensador. A história também me agradou muito com suas reviravoltas. As batalhas usam um sistema curioso de tempo real, que foi consistente e divertido de usar durante todo o tempo; eu ainda pretendo retornar ao jogo no futuro.

Curiosamente, uma das minhas partes favoritas do jogo é a história adicional Future Connected, um epílogo que altera um pouco os sistemas de combate. Em particular, me afeiçoei bastante a Nene e Kino, filhos do nopon Riki. Eles acompanham Shulk e Melia em sua nova jornada e são personagens muito preciosos.

13 Sentinels: Aegis Rim (PS4)

Desenvolvido pela Vanillaware, 13 Sentinels talvez seja o meu jogo do ano. Acho que tudo o que eu tenho a dizer sobre a obra já está na análise, mas repito que trata-se de uma obra de ficção científica imperdível.
 
Com um enredo marcado por várias e várias reviravoltas, referências a filmes clássicos (e outras mídias também) e múltiplas perspectivas, é até difícil falar sobre a sua narrativa. Boa parte da experiência envolve aprender detalhes, formar teorias, receber reviravoltas ainda mais intrigantes, que quebram o que você achava que estava acontecendo e depois reconectar as pontas soltas na sua cabeça, enquanto pensa em quão desgraçada é aquela situação toda.

E tem lutas estratégicas de robôs gigantes, customização do arsenal deles, sair atirando mísseis e quebrando tudo para proteger a cidade e o terminal, etc. Esse aspecto é tão interessante quanto a história e os dois criam algo verdadeiramente único e especial. Ficaria muito feliz se a obra não ficasse presa no console da Sony e pudesse ser apreciada por mais jogadores.

Indo além

Apesar de destacar os títulos acima, também gostaria de fazer algumas menções honrosas aqui. Muitos foram os jogos que pude experimentar graças ao Blast este ano. Entre eles, tenho bastante carinho por:

No fim de 2019, após minha lista anterior, também teve Baldr Sky (PC) e Detroit: Become Human (PC/PS4) que são excelentes experiências. E se essa lista de 2020 já foi enorme, a expectativa é que 2021 também tenha muitos outros jogos. Já estou de olho em uma boa variedade deles, incluindo as figurinhas repetidas de Digimon Survive (Multi) e Fuga: Melodies of Steel (Multi), que são os dois títulos que mais estou interessado em jogar desde 2018.


Além deles, minha lista de expectativas inclui:

  • Atelier Ryza 2 (Multi);
  • Shin Megami Tensei V (Switch);
  • NEO: The World Ends With You (PS4/Switch);
  • Goodbye Volcano High (Multi);
  • Rune Factory 5 (Switch);
  • The Dark Pictures Anthology: House of Ashes (Multi);
  • Persona 5 Strikers (Multi);
  • Balan Wonderworld (Multi);
  • Olympia Soirée (Switch);
  • Dairoku: Ayakashimori (Switch);
  • Variable Barricade (Switch);
  • MAMIYA (PC);
  • Bravely Default II (Switch);
  • Ys IX: Monstrum Nox (Multi);
  • Ghostwire: Tokyo (PC/PS5);
  • Poison Control (PS4/Switch);
  • A Space for the Unbound (Multi);
  • Little Nightmares II (Multi);
  • Shin Megami Tensei III: Nocturne HD (PS4/Switch);
  • Nier Replicant ver.1.22474487139… (Multi);
  • Cotton Reboot! (PS4/Switch);
  • Saga Frontier Remastered (Multi);
  • Saviors of Sapphire Wings / Stranger of Sword City Revisited (Multi);
  • Disgaea 6: Defiance of Destiny (Switch);
  • Gal*Gun Returns (Multi);
  • Guilty Gear Strive (Multi).

Também espero o port de The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV no PC e o de World’s End Club no Switch, assim como torço que Maglam Lord (PS4/Switch) e Anonymous;Code (PS4/Switch) tenham a chance de vir para o Ocidente. De toda forma, fica uma forte esperança de que 2021 será um ano melhor. Não só no mundo dos games, mas nos outros aspectos também. 

E para vocês, caros leitores? Como foi 2020?

Revisão: José Carlos Alves


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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