Ainda assim, ano passado a Team17 anunciou The Survivalists (Multi), uma aventura no universo de The Escapists (Multi) que confia ao jogador a missão de sobreviver em uma ilha deserta e conseguir prosperar a partir dos recursos obtidos da própria natureza. Hoje, após o aguardado lançamento, será que este carismático indie cumpre o que promete? Confira conosco a seguir em nossa análise.
Um novo começo
Como inúmeras obras com essa temática, The Survivalists inicia (adivinhe!) com o jogador chegando a uma ilha deserta após um acidente marítimo. Então, após a surpresa inicial com o ocorrido, caberá a você personalizar seu personagem e começar a se aventurar pela região, que provavelmente será seu lar por um tempo considerável.
Como evidenciado pelo título do jogo e pelas descrições acima, The Survivalists é um jogo do gênero survival (ou sobrevivência), no qual você precisará obter e gerenciar recursos para poder progredir ou se manter. Na prática, assim como na vida em si, isso significa várias ações realizadas em sequência, algumas delas sendo mais divertidas que outras.
Por exemplo: muito provavelmente a sua primeira necessidade será um machado, usado para quebrar pequenas pedras e cortar árvores. Para construir um, serão necessários seixos, encontrados em cavernas e outros espaços. Uma vez de posse dos seixos e do machado, você conseguirá gerar madeira e mato, e assim construir feixes de palha e, posteriormente, uma cama para dormir e salvar o jogo.
Essa é uma fórmula que já foi vista em outros games, mas que ainda rende frutos justamente por dois pontos principais: a liberdade que é conferida ao jogador depois de certo tempo e a dificuldade natural provinda do desafio constante de buscar e administrar os recursos necessários. É uma pena, porém, que apesar de uma base sólida, a obra da Team17 se perca um pouco na execução desses sistemas, como veremos a seguir.
Macacos me mordam!
Talvez a grande distinção de The Survivalists seja a possibilidade de fazer amizade com macacos e ensiná-los a realizar tarefas por conta própria. Ao encontrar os espécimes pelas ilhas e preparar uma refeição para eles, você ganhará parceiros leais e produtivos — basta selecionar o modo de imitação com a tecla Q ou o botão LT (ou equivalente) e quaisquer ações realizadas pelo jogador durante 30 segundos serão repetidas à exaustão pelos bichinhos, desde que estes possuam uma ferramenta adequada.
Como é possível selecionar cada macaco separadamente e delegar ações individualmente, não é difícil montar uma verdadeira cadeia produtiva, digna dos ensinamentos de Henry Ford. É possível, por exemplo, ensinar um macaquinho a cortar as árvores e outro a colher os recursos, o que certamente facilita muito quando o objetivo é construir uma casa ou outra estrutura mais trabalhosa.
Do mesmo modo, também é viável treinar os macacos para o combate, fazendo com que seja possível andar pela ilha com um exército de primatas o acompanhando, no melhor estilo “valentão da escola”. Esta função também é bem útil, posto que há diversas ameaças aqui, de morcegos a tigres, passando por orcs (!) e tubarões.
Só que há um problema: embora a mecânica dos macaquinhos funcione muito bem e seja um dos pontos altos do título, provendo uma recompensa ao esforço de achar os bichinhos espalhados pelo mapa, a partir de um certo ponto ela também diminui consideravelmente a dificuldade do jogo, a qual já possui outros problemas por si só.
Baú da felicidade
Ao iniciar o título, você notará uma série de onze quadrados no canto inferior da tela. Jogando, você notará que este é o seu inventário, e que não há como expandi-lo. Até aí tudo bem, só que em poucas horas já é possível notar que o número de espaços ou slots do jogador é muito pequeno, fazendo com que você precise constantemente “soltar” itens para produzir coisas novas.
Lógico, há a possibilidade de produzir baús de armazenamento, mas quando uma receita precisa de quatro itens, e cada um desses itens precisa de três elementos para serem produzidos (por exemplo), atribuições relativamente comuns começam a se tornar trabalhosas e repetitivas demais para serem prazerosas. Esse incômodo acaba forçando o uso dos macacos mesmo em situações simples, e a impressão que fica é de que os desenvolvedores deliberadamente optaram por tornar o processo meio obtuso, com o intuito de criar uma dificuldade artificial.
Essa impressão acaba sendo reforçada pelo fato de que The Survivalists não é lá um jogo difícil: aqui não há permadeath — a chamada morte permanente — nem mesmo como opção. Se você falhar em combate, a única coisa que perderá (além de tempo) são seus itens carregados, que podem ser facilmente recuperados voltando ao local da ocorrência acompanhado de uma gangue de macacos (olha eles aí de novo).
Morrer lutando, aliás, talvez seja a única forma de realmente vir a nocaute nas ilhas desertas do jogo. Por mais que haja medidores de fome e de resistência, o personagem é forte o bastante para aguentar horas com um espetinho de carne ou uma asinha de morcego frita no capricho. Epa, bateu aquela fome? Nada que um coco ou uma frutinha não resolvam até a hora de chegar à base novamente.
Nem mesmo os macacos podem morrer, o que significa que mesmo os maiores desafios atuais do título, como labirintos e criptas, estão mais sujeitos a tentativa e erro do que ao domínio em si das mecânicas do jogo. E, considerando que o combate pode ser resumido a alternar ataques e esquivas em tempo real, a sensação de monotonia infelizmente pode não demorar muito a aparecer para os jogadores veteranos do gênero.
Construir e crescer
Dentro do jogo, criar um item automaticamente ocasiona a descoberta de novos artefatos, fazendo com que não seja muito difícil desbloquear todos os projetos de construção. De longe, o mais importante é o da bancada de criação, que lhe permitirá criar armadilhas e arcos/lanças, além de abrir espaço para a jangada, que possibilita explorar novas ilhas.
No geral, há uma boa quantidade de opções, e como os terrenos são gerados aleatoriamente ao iniciar um novo jogo, caso você goste do loop proposto de construir, gerenciar e explorar, há potencial aqui para diversas aventuras. Em uma adição positiva, se a companhia da inteligência artificial cansar, até quatro jogadores podem jogar juntos no modo multiplayer online.
A qualquer momento é possível hospedar ou entrar em jogos, o que gera momentos divertidos — importante relatar que não tive dificuldades para achar outros jogadores em minhas tentativas na Steam. Só recomendo tomar cuidado com suas ações para não ser removido de uma sessão pelo dono da ilha, caso você seja um visitante.
Com o tempo de jogo, começa a ficar mais claro que, apesar dos problemas atuais com dificuldade e progressão, e a presença de um sistema de combate relativamente chocho, The Survivalists possui alicerces sobre os quais é possível expandir com segurança. Os próprios desenvolvedores parecem estar cientes disso, divulgando um roadmap de atualizações pouco tempo após o lançamento do título. Dentre as promessas, figuram novos biomas, variações climáticas e a possibilidade de domesticar e cruzar diferentes animais.
São ambições interessantes, e fundamentalmente possíveis dentro do jogo atual. Falando dos méritos do título, os gráficos em pixel art foram bem trabalhados — destaque para a iluminação —, a trilha sonora cumpre seu papel, e explorar cavernas e desbravar o desconhecido é divertido, especialmente acompanhado de amigos ou por uma turma de macacos. Criar pequenas cadeias produtivas e elaborar construções mirabolantes também é bem satisfatório, especialmente porque é possível personalizar e ensinar os símios.
Mas, mediante tudo o que foi citado e a divulgação do plano de atualizações, fica a sensação que este é um jogo que se sairia melhor como um título em acesso antecipado ou simplesmente ficando um pouquinho mais de tempo no forno. O que está aqui é divertido no estado atual? Sendo sincero, sim, especialmente para jogadores mais novos ou casuais, que gostem de exploração e não liguem para a ausência de desafio. Porém, veteranos notarão que é difícil jogar e não perceber que falta atualmente aquele “quê” a mais — que justamente poderia elevar a obra da Team17 à condição de indispensável.
Meu novo mundo
Como citado ao longo da análise, The Survivalists tem seus méritos. A aventura da Team17 possui boas ideias e consegue proporcionar bons momentos (especialmente no multiplayer), mas jogadores veteranos logo perceberão que falta conteúdo depois de algumas horas, e a ausência de um desafio mais robusto infelizmente também pode resultar em uma tranquilidade que perigosamente beira a monotonia.
Como a base construída aqui é sólida, fica a torcida para que os desenvolvedores cumpram as promessas estabelecidas pelo roadmap e entreguem novidades para os jogadores. Assim, muito provavelmente The Survivalists estará mais próximo do panteão dos grandes jogos independentes. No estado atual, fãs do gênero e jogadores mais casuais certamente encontrarão divertimento. Mas, a todos os outros, fica o alerta de que talvez seja melhor procurar outra ilha para atracar.
Prós
- Ilhas geradas aleatoriamente garantem certo frescor à aventura;
- Exploração é divertida;
- Suporte a multiplayer online;
- Sistema de aprendizagem dos macacos funciona como o anunciado e rende bons momentos;
- Belos gráficos em pixel art e boa iluminação;
- Otimização.
Contras
- Fora dos labirintos e das criptas, não há grandes desafios;
- Sistema de combate insosso e repetitivo;
- Ausência de permadeath e mais opções de dificuldade;
- Tendência ao marasmo no estado atual.
- Ausência de multiplayer local.
The Survivalists - PC/Xbox One/PS4/Switch - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17