GONNER2 é a sequência do colorido e exótico roguelike de tiro e plataforma lançado originalmente em 2016. A continuação mantém boa parte dos conceitos do original, como o inusitado visual e o personagem que se desmonta ao levar dano, e as combina com ideias inéditas interessantes, como mira livre e multiplayer. O resultado é um jogo divertido e frenético, mesmo que assolado por algumas questões já presentes no anterior.
Ajudando a Morte
Ikk, o estranho e solidário herói sem forma física, está de volta em GONNER2. Desta vez o personagem precisa ajudar a própria Morte, cujos domínios foram invadidos por uma presença misteriosa. Para resolver a situação, Ikk vai fazer o que sabe de melhor: pegar armas e acabar em todas as criaturas terríveis que aparecerem pelo caminho.GONNER2 segue a estrutura run and gun 2D clássica, ou seja, o objetivo é chegar até o final das curtas fases, que estão infestadas de inimigos. Para enfrentar os desafios, Ikk “monta” um corpo com uma cabeça, uma arma e uma mochila, cada qual com características únicas — essas partes, inclusive, podem ser trocadas por outras no decorrer da partida. Ao ser atingido, o personagem se desmonta e precisamos recuperar seus equipamentos para poder voltar ao normal e continuar a aventura.
A principal novidade da sequência é a mira livre: agora Ikk pode atirar livremente para qualquer direção. Além disso, o herói ganhou uma investida, que pode ser utilizada para atacar inimigos ou alcançar locais altos. Melhorias diversas estão espalhadas pelo caminho, como balas que rebatem, um pulo adicional no ar e projéteis explosivos. A mochila teve suas funções alteradas e agora simplesmente guarda itens — no anterior ela continha habilidades especiais. O jogo agora também conta com multiplayer local para até quatro jogadores.
A jornada, dessa vez, apresenta estrutura não linear. Em vez de atravessar as fases sempre na mesma sequência, podemos escolher entre duas opções de estágios, e para alcançar o chefe final é necessário completar três áreas. As mecânicas de roguelike continuam presentes com mapas gerados proceduralmente, morte permanente e, claro, dificuldade acentuada. Ao começar uma nova partida, podemos escolher qualquer cabeça ou arma desbloqueada anteriormente.
No frenesi do tiroteio
Ação acelerada é uma constante em GONNER2. O ritmo é ágil por causa dos estágios pequenos, da grande quantidade de inimigos e da jogabilidade simples e descomplicada. Há incentivos para ser rápido e preciso: um combo que aumenta o multiplicador de pontos é ativado conforme derrotamos monstros em sequência. Outra vantagem do combo é aumentar a quantidade de orbes recebidos, que podem ser utilizados para comprar itens ou reviver o herói — a dificuldade é alta, logo ter muitos orbes é quase que essencial para avançar.É extasiante sair destruindo tudo na pele de Ikk, e as novas mecânicas da sequência contribuem ainda mais nesse sentido. Mirar para qualquer direção deixa os tiroteios mais versáteis, e o novo movimento de investida é ótimo para se mover mais rápido ou sair de uma situação complicada. Os diferentes equipamentos trazem diversidade às partidas: uma cabeça guarda mais munição, mas tem menos vida; a arma laser é ótima para acertar muitos inimigos, mesmo com mira imprecisa; um dos crânios impede que o personagem desmonte ao ser atingido ao custo de menos corações; a escopeta é poderosa e tem alcance limitado.
Apreciei bastante a progressão não linear, afinal agora temos a oportunidade de ver diferentes estágios em cada partida, assim como a diversidade de situações. Na área dos robôs, o desafio é evitar buracos enquanto desviamos de inimigos voadores. Já as cavernas são repletas de corredores estreitos. Na área subaquática o personagem se move livremente na água, o que muda a jogabilidade. É uma pena que a geração procedural dos mapas não seja das melhores, resultando em estágios lineares e muito parecidos entre si. Isso, em conjunto com a pequena quantidade de áreas, traz a sensação de repetição depois de um tempo.
A dificuldade é alta e basta um simples deslize para desmontar e morrer. A fragilidade do herói, em conjunto com a necessidade de coletar munição com frequência, traz uma constante sensação de frenesi: nas minhas partidas, sempre me vejo correndo loucamente para matar inimigos e pegar balas ao mesmo tempo em que evito os bichos mais complicados. Os chefes, em especial, são bastante interessantes e alguns deles contam até com elementos de bullet hell. No início é um pouco complicado sobreviver, mas depois de algumas tentativas já estava fazendo combos e jogadas impressionantes.
Um ponto frustrante é o seu sistema de morte. Ao ser atingido, Ikk se desmonta e precisa recuperar os equipamentos para continuar, e se o personagem for acertado nesse meio tempo ele morre definitivamente. Podemos utilizar os orbes para revivê-lo, porém ele reaparece no início do estágio, sendo necessário atravessar trechos repletos de inimigos com um personagem indefeso, o que na maioria das vezes significa ser derrotado de novo. Entendo a intenção dessa mecânica, mas ela gera irritação em vez da sensação de desafio.
Navegando por uma explosão de cores
Talvez o detalhe mais marcante de GONNER2 seja o seu visual colorido, estilizado e exótico. É estranho em um primeiro momento, mas rapidamente revela o seu charme único. Há também constantemente em ação um recurso inusitado: os cenários se revelam aos poucos conforme o personagem avança. Além de ser visualmente único, é também um elemento de design, afinal só conseguimos ver perigos e obstáculos próximos, o que incentiva a continuar se movendo sempre.Assim como o anterior, a sequência tem um problema grande de clareza visual. É muito comum a tela ser tomada por elementos coloridos, o que torna difícil identificar perigos. Para piorar, projéteis e armadilhas não se destacam o bastante, às vezes sendo da mesma cor que os inimigos — várias vezes durante as partidas, fui acertado por projéteis que eu nem consegui ver direito. Com o tempo é possível se acostumar um pouco com isso, mas não deixa de incomodar.
Outra questão é o seu conteúdo: GONNER2 conta somente com cinco áreas. Não há modos extras ou alternativos, e dependendo da habilidade do jogador tudo pode ser visto em pouco tempo. Há alguns poucos segredos para descobrir e um placar online, mas não achei que são incentivos suficientes para revisitar a aventura depois de terminá-la uma vez, principalmente por causa da estrutura similar dos estágios.
Uma continuação simples e divertida
GONNER2 conta com elementos de tiro e plataforma precisos aplicados em uma aventura de ritmo acelerado. É empolgante derrotar inimigos em sequência enquanto escapamos de perigos, ainda mais quando a morte está frequentemente à espreita. A ambientação exótica se destaca e é um deleite explorar seu mundo colorido, por mais que seja comum se perder na confusão visual. A dificuldade acentuada é uma constante e você vai morrer bastante até conseguir chegar no fim da aventura, mas é fácil perceber que o conteúdo do jogo é limitado. Aspectos de roguelike, como diferentes equipamentos e geração procedural amenizam essa sensação, por mais que não seja suficiente. No mais, GONNER2 é uma experiência intensa, por mais que breve.Prós
- Mecânicas de tiro e plataforma interessantes e ágeis, com incentivo para abordagem agressiva;
- Boa variedade de equipamentos e poderes disponíveis para o personagem;
- Visual colorido bonito e exótico.
Contras
- Geração procedural simples demais, o que cria estágios muito parecidos entre si;
- Confusão visual atrapalha bastante nos momentos mais intensos;
- Quantidade limitada de conteúdo.
GONNER2 — PC/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury