Análise: Highway Blossoms (PC): um romance que brota e floresce na estrada

Visual novel yuri desenvolve o relacionamento gradual entre duas mulheres de personalidades aparentemente antagônicas.

em 19/10/2020

Lançado originalmente em 2016, Highway Blossoms conta a história de duas garotas que se conhecem na estrada. Em 2018, o jogo recebeu um update que adicionou voz a todas as cenas de fala, alterou a trilha sonora para uma versão remasterizada e fez uma variedade de outros polimentos. Com o lançamento recente do DLC Highway Blossoms: Next Exit, optei por escrever primeiro sobre a experiência do jogo base em uma análise que ainda não havia sido feita aqui no GameBlast.

Uma viagem pelas rodovias estadunidenses

Criada por seu avô, Amber é uma mulher independente em uma viagem para um festival de música na Califórnia. Enquanto dirigia sua motorhome, a jovem nota uma pessoa que está pedindo ajuda na estrada. Marina, uma garota com uma idade próxima, não havia colocado gasolina suficiente no carro e precisava de ajuda para pelo menos chegar a um posto próximo.

No entanto, o que deveria ser um rápido auxílio logo se torna uma jornada das duas pelas rodovias estadunidenses. Era a primeira vez que Marina saía de casa e ela tinha um objetivo bastante específico: procurar o ouro escondido por um antigo explorador. As duas partem então em uma jornada para encontrar esse tesouro e ao mesmo tempo acabam se aproximando.

De fato, o aspecto mais forte do jogo são os personagens e suas interações. Enquanto Amber é a princípio uma garota dura na queda e mantém a cabeça no lugar, Marina se empolga facilmente com coisas que nunca viu. A relação entre elas tem um crescimento perceptível ao longo do jogo, sendo notável como o comportamento de ambas sofre alterações. Por exemplo, Amber tem uma tendência a ser mais carrancuda, mas a presença de Marina costuma deixá-la sorridente. Marina também aprende a lidar melhor com sua inexperiência e a tirar sarro de Amber em algumas circunstâncias.


É um tipo de relacionamento em que é fácil de acreditar, as personagens parecem pessoas reais e é divertido acompanhar o cotidiano delas, mesmo em seus momentos mais mundanos, por ajudar nessa caracterização. Esse relacionamento é desenvolvido de forma gradual, mas não é como se fosse uma linha reta, sendo possível ver como ambas gastam um tempo para compreender a relação, ao mesmo tempo que dramas pessoais também as afetam, demonstrando suas falhas e fraquezas. Os personagens secundários, que incluem um trio que também está em busca do tesouro e alguns personagens mais esporádicos, são um pouco mais exagerados, mas também são humanizados e adequados ao tom da obra.

O aspecto sonoro é algo que contribui para isso também. Todos os diálogos contam com vozes em inglês, e esse trabalho é realmente bem feito. Graças às vozes, os personagens e as situações ganham vida própria, fazendo com que as conversas sejam muito mais atrativas e interessantes. A emoção transmitida pelos dubladores ajuda a fazer as situações cômicas e dramáticas terem muito mais força.


E isso é bastante importante em um caso como o de Highway Blossoms. Afinal, ele faz parte de uma categoria específica de visual novel, que é a de “kinetic novels”. Nesse tipo de obra, não é possível alterar nada da história. Não há opções de diálogo e a obra é puramente linear. Ainda mais próximo do que faz algumas pessoas considerarem visual novels como “não-jogos”, é justamente a imersão na atmosfera e no contexto emocional que circunda os personagens que é o elemento mais importante para esse tipo de obra. Logo, as vozes fazem muita diferença para a experiência.

Ainda no aspecto sonoro, a trilha se destaca em particular no seu uso de road trip music, contando com músicas de Able Kirby, Jake Abernathie, Kevin Turner e Smoke Thief. Lost with the Wind e Howe’s Guitar são exemplos claros do estilo sonoro do jogo, que tende ao uso de violão e músicas no estilo country. De forma geral, as músicas se encaixam muito bem com a narrativa.

Por outro lado, o aspecto visual conta com uma discrepância bastante específica. Como usual no gênero, Highway Blossoms conta com trechos de diálogo que usam o que podemos chamar de sprite comum e momentos com gráficos mais detalhados que representam cenas importantes e memoráveis da história (tradicionalmente chamados de CGs). É usual que a arte normal e das CGs seja diferente, mas no caso de Highway Blossoms tive uma forte sensação de que não se tratava das mesmas personagens devido às mudanças no traço e à cor de cabelo de Marina, que é alterada nas cenas para retratar a iluminação, mas o resultado acaba parecendo uma mudança muito mais radical.

Também gostaria de ressaltar que o jogo conta com várias opções de acessibilidade. É possível alterar a fonte, o contraste, o tamanho e o espaçamento, além da visibilidade e da cor da caixa de texto. Para pessoas com dificuldades para visualizar o texto também é possível ativar o leitor automático de texto, fazendo com que os trechos não-dublados (monólogos internos e narração) sejam audíveis também. Esses recursos são muito bem-vindos.

Laços que florescem na estrada

De forma geral, o charme de Highway Blossoms está nos personagens e na forma como as dinâmicas entre eles se desenvolvem. Mais do que uma grande narrativa, a busca pelo ouro é apenas um gatilho para aproximar os personagens e contar uma história que é ao mesmo tempo mundana e emocionalmente cativante. Para quem tem interesse em ver duas mulheres de personalidades aparentemente antagônicas se conhecendo melhor e se tornando um casal, a obra é uma interessante opção.

Prós

  • Relacionamentos críveis com personagens bastante cativantes;
  • No geral, a dublagem é bem feita e ajuda a dar vida aos personagens;
  • Trilha sonora se encaixa bem no contexto de expedição nos EUA;
  • Opções de acessibilidade.

Contras

  • Discrepância de algumas CGs com os modelos comuns das personagens.

Highway Blossoms – PC – Nota: 8.0

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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