Se existe uma coisa em que os PCs levam vantagem sobre os consoles é na variedade dos jogos. Embora os videogames tenham a sua cota de originalidade, a facilidade e o baixo custo para se desenvolver games para computadores tornam as chances de obter produtos inovadores maiores.
There Is No Game: Wrong Dimension (PC) é um exemplo claro disso, oferecendo uma aventura encantadora e surpreendente. Prepare-se para uma viagem singular, pois a análise vai começar!
Um ótimo “não game”
Antes de qualquer coisa, é importante ressaltar que o game é do tipo apontar e clicar (do inglês
point and click). Ou seja, o jogador utiliza somente o mouse para interagir com os elementos da tela, sem precisar do teclado ou de qualquer outro periférico. Esse tipo de jogo é bastante popular na internet, sobretudo nos clássicos games em Flash.
Isso se deve à estrutura simples que esses games apresentam. Personagens, itens e outros elementos devem ser clicados, arrastados ou segurados com o mouse; mecânicas que podem ser adaptadas para gêneros como corrida, tiro, cartas e até ação. E é aí que There Is No Game: Wrong Dimension, lançado em 6 de agosto para PC, mostra o seu trunfo, levando o estilo a limites incríveis.
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Não deixe o jogo te afastar: a aventura vai ser incrível |
Como deve ter ficado claro através do seu nome, o título da produtora Draw Me A Pixel não se “considera” um game. Ao começar a jogar, diversos elementos tentam persuadir o jogador a fechar o programa e ir fazer outra coisa. Admito que essas seções iniciais foram uma grata e divertida surpresa, tornando-se uma introdução perfeita do que estava por vir.
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Que tal acelerar essa tela de carregamento? Em Wrong Dimension você pode! |
Antes de prosseguirmos com a análise, preciso deixar claro que tentarei ser um pouco genérico nas informações. Desde já, confirmo que There Is No Game: Wrong Dimension é um ótimo game, mas bastante diferente do que estamos acostumados a jogar normalmente. Logo, citar certos pontos pode resultar em spoilers e estragar surpresas importantes.
Apontar e clicar como você nunca viu
Os personagens principais do game são o próprio game, que diz não ser um “game” e que o jogador deve ir embora, e você, o “usuário”. O primeiro capítulo do título (de um total de seis diferentes, mais um com os créditos) gira em torno de perseverar para continuar jogando, em meio a várias tentativas do jogo de desmobilizar o “usuário” e sua vontade de entender o que está acontecendo.
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O bom humor está por todas as partes do game |
Depois dessa seção inicial, o game começa a deixar mais clara a sua proposta. Existe uma razão pela qual o jogo não é mais um jogo e, para resolver esse mistério e as várias surpresas que surgem pelo caminho, o jogador deverá pensar “fora da caixa” e utilizar “todos” os recursos a sua disposição. Ênfase em “fora da caixa” e “todos”, pois certos desafios somente serão vencidos com soluções criativas.
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Nada como um bom e velho "papel, pedra ou tesoura" |
Elas incluem “quebrar” partes do cenário, brincar com os menus e interagir com elementos da tela. Essas descrições podem parecer estranhas, mas elas são bem precisas. There Is No Game: Wrong Dimension incentiva constantemente o jogador a tentar coisas aleatórias, que normalmente não são feitas em jogos convencionais, para resolver os enigmas.
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Mate a saudade (ou então conheça pela primeira vez) um telefone de disco |
Os cenários e personagens que encontramos nessa inusitada aventura são, no mínimo, surpreendentes. Mantendo a promessa dos spoilers, prepare-se para visitar um conhecido mundo de RPG, mistérios na Era Vitoriana, artistas consagrados do humor e muitas quebras da quarta parede. Até os créditos oferecem várias surpresas legais.
História divertida e imersiva
Graças a sua ideia única de parceria entre usuário e game (ou não game), várias interações se valem da quebra da quarta parede. Some isso a uma jogabilidade simples, afinal só temos o mouse à disposição, mas bastante intuitiva e competente, e temos vários ótimos desafios. Solucionar cada um deles é sempre uma grande satisfação.
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Vários minigames precisarão ser vencidos para avançar no game |
Alguns são mais intuitivos, enquanto outros poderão levar certo tempo para serem resolvidos. Caso o jogador não consiga resolver algum enigma, existe um botão de ajuda no canto superior direito da tela. Não existe uma penalidade em utilizá-lo; aliás, There Is No Game: Wrong Dimension não possui sistema de pontuação ou nota.
O objetivo é chegar ao fim da sua campanha, com auxílios ou não, e descobrir mais sobre os mistérios do game. Essa estrutura realmente me fascinou, pois sem a pressão de obter resultados, curtir a história, os personagens e as mecânicas divertidas foi ainda melhor. É uma pena que essa proposta só possa ser realmente aproveitada uma única vez (mais sobre isso logo adiante).
Produção de alta qualidade
There Is No Game: Wrong Dimension não é só competente em sua proposta e sua jogabilidade. O visual do game (ou não game) é muito bonito, com gráficos coloridos e bem definidos. Conforme os capítulos avançam, novos estilos são apresentados, variando entre filmes antigos, desenhos animados e jogos clássicos, mas sempre com o mesmo alto padrão de qualidade.
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It's dangerous to go alone! Take this! |
Os menus e HUDs do game também são muito legais e divertidos. Mesmo sendo quase que obrigatória devido à proposta de alta interatividade do game, essa qualidade visual foi além do necessário e merece muito crédito. Juntamente com os gráficos, o som de Wrong Dimension é outro grande destaque.
As músicas são agradáveis e variam de emocionantes a misteriosas com maestria. Efeitos sonoros também são ótimos, sobretudo frente à possibilidade de interagir com quase tudo que está na tela. O meu elemento favorito, entretanto, é a dublagem. O trabalho de voz dos personagens, em particular do “game”, é do mais alto nível.
Será que este jogo é para mim?
Caso o leitor esteja com dúvidas sobre o game, e com razão devido a sua proposta diferenciada, deixo aqui uma sugestão gratuita bastante interessante. O título predecessor a Wrong Dimension, chamado de There Is No Game – Jam Edition (Mobile/PC), está disponível gratuitamente na internet. Através da
Steam, do
Google Play ou de sites de jogos online, recomendo fortemente ao leitor experimentar o título.
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Conhecer o primeiro título vai ser divertido e te dar uma ideia sobre Wrong Dimension |
Além de ser uma bela amostra do que o jogo mais novo tem a oferecer, ele é bastante divertido por si só. Mesmo que o leitor não tenha intenção de comprá-lo agora, recomendo fortemente a experiência. O único requisito é ter um bom nível de inglês, pois tal como em Wrong Dimension, ele é bastante importante. Esse, aliás, é um ponto que merece atenção.
Normalmente não costumo criticar games que não são localizados para o português brasileiro. O processo de tradução de um jogo eletrônico é muito mais trabalhoso e caro do que de um filme ou de um livro, por isso eu sempre procuro ser compreensivo nesse quesito. Dito isso, é uma pena que There Is No Game: Wrong Dimension sofra bastante nesse ponto.
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Elementar, meu caro Watson! |
Mesmo tendo menus, legendas de falas e boa parte dos elementos do jogo traduzidos com qualidade, infelizmente ficou faltando ir um pouco além. Boa parte da diversão do game vem das divertidas vozes dos personagens, que estão somente disponíveis no inglês original. Além disso, alguns poucos elementos não sofreram tradução por estarem muito integrados ao jogo.
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Quando a criatura conhece o criador... |
Claro que o título em si continua divertido e as legendas não deixam o jogador ficar perdido, mas dada a proposta intimista e bem humorada, saber inglês é fundamental. Como alento, deixo registrado que o game é bastante acessível, podendo até ser usado para o jogador melhorar o seu conhecimento da língua inglesa.
Ficou um (grande) gostinho de quero mais
Além da questão da língua inglesa, creio que There Is No Game: Wrong Dimension tenha somente uma grande “falha”. Uso aspas novamente porque ela não chega a ser um problema do jogo em si, apenas uma oportunidade perdida. Cada missão dura, em média, aproximadamente uma hora. Ou seja, a experiência completa do game tem duração de pouco mais de seis horas.
Ainda que cada minuto seja muito proveitoso, realmente o tempo total é curto. É uma pena, pois o game é tão bom que fica a vontade por mais. E dado que a experiência é muito dependente da resolução de enigmas e desafios, sem contar a ausência de pontuação e as várias surpresas da trama, jogar novamente não será nem de perto como a primeira vez.
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Até mesmo a temida tela azul é motivo de boas piadas em Wrong Dimension |
Logo, teria sido muito bom ter outros modos de jogo além da campanha. Admito que, por um certo ponto de vista, ter uma aventura concisa e bem executada seja melhor do que arriscar em “esticar” o game desnecessariamente. Talvez algum tipo de novo desafio, que pudesse ser baixado periodicamente, fosse uma boa ideia. Seja como for, o título ainda é uma muito recomendável experiência.
O melhor “não game” que você poderia jogar
There Is No Game: Wrong Dimension (PC) foi uma das maiores surpresas que eu tive na minha vida como jogador. Mesmo não sendo grandioso, sua proposta original, divertida e envolvente é excelente, oferecendo uma aventura repleta de bom humor e ótimos desafios e enigmas. Com uma jogabilidade simples e funcional, belos visuais e um ótimo trabalho de dublagem, esse é com certeza mais um game obrigatório para a sua biblioteca de títulos.
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Pronto para uma incrível aventura? |
Prós
- Proposta original, muito divertida e desafiadora na medida certa;
- Visuais excelentes, desde os menus até os personagens;
- História divertida e envolvente, com ótimo uso da quarta parede;
- Mecânicas de jogo levam o gênero apontar e clicar a novos e incríveis limites;
- Dublagem e trilha sonora de alta qualidade.
Contras
- Dublagem e vários outros elementos exigem inglês para serem bem aproveitados;
- Campanha relativamente curta e ausência de outros modos de jogo.
There Is No Game: Wrong Dimension – PC– Nota: 9.0
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Draw Me A Pixel