Análise: Dragon Marked for Death (Multi) — dragões e ação em uma ágil aventura de plataforma

Faça missões sozinho ou com a ajuda de amigos neste título que conta com bom ritmo, mas peca na simplicidade de alguns sistemas.

em 11/08/2020

A sede de vingança é o principal tema de Dragon Marked for Death, título de ação e plataforma 2D com pitadas de RPG. O jogo, que foi produzido pela desenvolvedora nipônica Inti Creates (responsável por séries como Mega Man Zero e Gunvolt), oferece seis personagens de classes distintas, que são especialmente pensadas para a modalidade multiplayer. Combates acelerados e boa diversidade de missões são seus maiores destaques, por mais que a experiência seja comprometida por aspectos subdesenvolvidos.


O jogo foi lançado originalmente no Nintendo Switch em duas versões, contendo uma dupla de personagens cada. Meses depois, ele chegou também ao PC e PlayStation 4 em uma versão com novos recursos, conteúdo inédito e rebalanceamentos de vários aspectos.

Um pacto de poder em uma aventura com toques de RPG

Há muito tempo, o mundo foi devastado por uma guerra entre os Celestials e os Astral Dragons. Após um longo conflito, os dragões foram derrotados e o grupo vencedor, cujos membros se intitulam deuses, dominou a terra e fundou o reino de Medius. Parte do clã dos dragões sobreviveu na forma do Dragonblood Clan, que vive à margem da sociedade e com medo dos Celestials. Isso muda quando o grupo é atacado e tem sua oráculo capturada. Com sede de vingança, alguns indivíduos fazem um pacto com o dragão Atruum para ganhar poderes e acabar com a tirania do reino de Medius.

Essa é a premissa que norteia o conceito principal de Dragon Marked for Death. No controle de um dos sobreviventes do Dragonblood Clan, realizamos diferentes missões em uma aventura de ação e plataforma 2D. Heróis de diferentes estilos de jogo estão disponíveis, quatro desde o início e dois desbloqueáveis. A guerreira Empress ataca com lâminas e seu braço em forma de dragão, que é capaz de lançar chamas. Já Warrior foca em habilidades defensivas e golpes lentos e poderosos. Shinobi oferece agilidade com sequências rápidas e mobilidade aérea, porém tem força reduzida. Witch usa feitiços potentes para derrotar inimigos ou oferecer efeitos de suporte, mas é extremamente frágil.


A aventura é estruturada em missões individuais. Cada uma delas se passa em um mapa elaborado e os personagens precisam executar tarefas, como derrotar um chefe, encontrar um item escondido, usar frutas para purificar água venenosa, destruir uma quantidade específica de monstros e outras. As tarefas podem ser completadas sozinho ou no multiplayer online para até quatro jogadores. No Switch há também a opção de multiplayer local, porém cada participante precisa de um console e de uma cópia do jogo.

Fora a estrutura de ação 2D, Dragon Marked for Death conta com elementos de RPG: os parâmetros dos personagens podem ser melhoradas ao subir de nível e ao equipar diferentes itens. A variedade de equipamentos é grande, sendo possível também transformá-los em versões mais poderosas. O título se inspira um pouco em MMOs com sistema de saque e incentiva jogar missões já completadas em dificuldades mais avançadas para obter armas e acessórios melhores. O progresso do nível e de completude dos estágios é separado para cada personagem, no entanto os itens são compartilhados entre todos.


A variedade e a coordenação do clã do dragão

Um combate ágil e personagens com estilos de jogo distintos são os maiores destaques de Dragon Marked for Death. É empolgante controlar os heróis, pois os comandos são precisos e o ritmo da ação é acelerado. A essência das mecânicas é simples, mas nuances e particularidades entre os guerreiros traz variedade à experiência. Cada personagem possui uma habilidade de dragão que consome uma barra, que é preenchida ao acertar ataques específicos. Sendo assim, para avançar, é importante equilibrar o uso dos diferentes tipos de golpes.

Cada classe de herói apresenta vantagens e desvantagens próprias. Empress é uma espadachim balanceada com ataques capazes de acertar inimigos próximos ou a média distância, o que a torna uma boa opção para iniciantes. Já Warrior oferece um estilo defensivo com uma habilidade capaz de anular dano e um poder que dobra temporariamente seu ataque. A feiticeira Witch é uma das mais difíceis de jogar: para ativar suas magias, é necessário executar sequências específicas de comandos, e ela fica completamente vulnerável enquanto faz o encantamento. O ninja Shinobi tem técnicas de locomoção (saltos e flutuação no ar, pulos em paredes) e marca inimigos para acertá-los de longe — ele é ágil, porém bem fraco.


Gostei bastante de experimentar e dominar as habilidades dos personagens. Cada um deles nos força a adotar diferentes abordagens no combate: Empress e Warrior permitem enfrentar os inimigos frente a frente, já Shinobi e Witch exigem estratégias mais elaboradas para não morrer. A progressão nos estágios também muda, pois eles têm habilidades de locomoção distintas que permitem explorar partes e rotas alternativas. Diferentes tipos de missões ajudam a trazer variedade às partidas, algumas delas apresentam até pequenos puzzles, por mais que o combate seja o maior foco na maior parte das vezes.

É possível se divertir sozinho, mas é no multiplayer que o real potencial do jogo se revela. No modo cooperativo, as habilidades das classes se complementam: o Warrior pode proteger a Witch enquanto ela prepara um feitiço, ao mesmo tempo que a Empress chama a atenção do inimigo. Coordenar as ações é importante, pois no multiplayer os inimigos são mais poderosos. Além disso, certas missões são pensadas para grupos, com tarefas espalhadas em diferentes partes do mapa. No meu tempo com o jogo eu não fui capaz de encontrar partidas públicas e precisei chamar outros participantes em um fórum ou Discord para conseguir montar um grupo. A comunicação é limitada a mensagens predeterminadas que são suficientes para montar as estratégias.


A atmosfera de fantasia do jogo é construída com ótimos gráficos em pixel art que remetem a títulos da era 32-bits, como é de praxe da desenvolvedora. Os heróis e inimigos são bem animados, e as ilustrações elaboradas trazem personalidade aos habitantes do mundo. É uma pena que os cenários explorem temas batidos, como floresta, caverna de gelo ou tumba egípcia repleta de areia. A história funciona mais como motivação para a ação e, fora as cenas iniciais e finais, mal tem desenvolvimento.

Algumas limitações e percalços pela jornada

A primeira impressão de Dragon Marked for Death é bem positiva e variada, embora uma série de problemas apareçam rapidamente e comprometam a experiência. O combate é ágil, mas logo se revela limitado: os personagens têm à disposição uma pequena seleção de movimentos que não se altera no decorrer da aventura. Para piorar, a maior parte dos inimigos normais é derrotada com a mesma sequência de golpes repetidamente, sem muita estratégia.

Aspectos de RPG, como equipamentos e níveis, estão presentes no jogo, porém eles têm pouco impacto. Salvo alguns poucos casos, esses recursos só alteram os atributos dos personagens e não mudam a natureza repetitiva do combate. Além disso, chega um momento na campanha em que os inimigos se tornam muito resistentes e somos forçados a refazer missões para encontrar equipamentos melhores — para mim, esse grind foi uma maneira preguiçosa de estender a aventura. Até existe a opção de mudar o elemento principal dos heróis, o que altera levemente algumas de suas habilidades, mas são mudanças tão sutis que não fazem tanta diferença.


Outra questão que pesa negativamente são as missões. Até existe uma boa diversidade de tarefas, os níveis, entretanto, são mal estruturados e repletos de espaços vazios, o que as torna desnecessariamente longas, mesmo com a boa velocidade de movimento. A variedade de inimigos, chefes e cenários é pequena, trazendo uma sensação de mais do mesmo a longo prazo. Versões mais difíceis das missões têm pequenas alterações (como chefes com novos movimentos), porém a essência de correr e derrotar inimigos repetidamente não muda.

Esses problemas fazem com que Dragon Marked for Death se torne repetitivo e cansativo — o que é uma pena, pois a ideia principal funciona. Mais opções para customizar os personagens, equipamentos mais distintos, e estágios com maior diversidade de inimigos e desafios são algumas características que poderiam deixar a experiência mais interessante. Claro, dá para se divertir, principalmente no multiplayer ou se você não se importar com o grind, os mais exigentes, contudo, vão se cansar rápido.


Um jogo divertido, ainda que com falhas

Dragon Marked for Death cativa com sua ação 2D ágil e acelerada. Completar missões no controle de seis diferentes heróis é empolgante e dominar suas habilidades e particularidades é um dos destaques do título. A aventura pode ser explorada sozinho, mas é no multiplayer que o potencial é melhor explorado: os jogadores precisam coordenar seus movimentos para conseguir vencer, e é divertido quando as estratégias funcionam. Mesmo assim, o jogo apresenta algumas limitações notáveis, como aspectos de RPG de pouco impacto, desenho de níveis sem inspiração e conteúdo reciclado, características que podem trazer sensação de repetição. No fim, Dragon Marked for Death é uma experiência razoável, porém é necessário relevar seus problemas para melhor aproveitá-lo.

Prós

  • Mecânicas de ação 2D fáceis de entender e com bom ritmo;
  • Seis diferentes classes de personagens com estilos de jogo distintos;
  • Modo multiplayer que explora bem as particularidades das classes de heróis;
  • Boa variedade de missões;
  • Ótimo visual em pixel art.

Contras

  • Aspectos de RPG limitados que não trazem a sensação de que o personagem está evoluindo;
  • Pequena variedade de inimigos, estágios e situações traz sensação de repetição a longo prazo;
  • Desenho de níveis muito simples e com vários trechos vazios;
  • Necessidade de grind em alguns momentos.
Dragon Marked for Death — PC/PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inti Creates

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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