Análise: Carrion (Multi) traz uma divertida e monstruosa aventura

Jogo de terror acerta ao inverter papéis e colocar o jogador no papel de um monstro contra humanos.

em 28/07/2020
Uma das maiores qualidades que um jogo pode trazer é a inovação. Esse quesito, inclusive, pode ser determinante para que produções mais modestas conquistem destaque no mercado. Carrion (Multi) é um exemplo perfeito: o título foge das premissas tradicionais e te coloca no controle de uma criatura assustadora, que busca vingança contra os seus captores. Prepare-se para caçar alguns humanos, pois a análise vai começar.

Fugindo da “mesmice”

Desenvolvido pelo Phobia Game Studio e publicado pela Devolver Digital, Carrion (Multi) foi lançado no dia 23 de julho, mas já vinha sendo trabalhado há um bom tempo. Inclusive, o GameBlast já havia conferido o game em um evento da publicadora lá em 2019. Fico satisfeito em afirmar que as expectativas foram alcançadas com louvor.
A feira da Devolver Digital incluiu o promissor Carrion
Com versões para PS4, Xbox One, Switch e PC via Steam e GOG, Carrion é bastante original. Em termos de história, temos uma premissa bem simples: o jogador está no papel de um ser alienígena que foi capturado e submetido a toda sorte de testes. Um dia, você consegue sair da sua contenção e, assim, inicia o seu caminho para fora das instalações secretas onde estava preso.

Para chegar à saída, nada ficará no seu caminho, principalmente os humanos responsáveis pelo local onde você era mantido capturado. A criatura não tem um nome ou forma definida: ela é uma espécie de emaranhado de fios vermelho-sangue, unidos por uma gosma da mesma cor com vários olhos e bocas. Realmente um monstro horrendo e original.
O começo da aventura
O jogador começa como um pequeno, mas perigoso monstro. Conforme o título avança, a criatura aumenta de tamanho e ganha novas habilidades. Por outro lado, os combates, explorações e quebra-cabeças também se tornam mais complexos. Tudo evolui de forma bem pensada, sem saltos desnecessários na dificuldade.

Exploração agradável...

Uma parte considerável de Carrion consiste em explorar vários tipos diferentes de cenários. Embora todos tenham elementos em comum, como portas, grades, dutos e reservatórios de água, eles apresentam variações de acordo com o avanço no game. Cavernas, fábricas e selvas são alguns exemplos dos ambientes a serem explorados.
Tão perto e, ao mesmo tempo, ainda tão longe da saída
Falando em cenários, vale destacar que o game é bonito, com visuais simples, mas competentes. O estilo 16-bits funciona muito bem, sobretudo em relação ao protagonista. Ver a criatura se movimentar é sempre interessante, pois o seu corpo disforme pode escalar paredes e se contorcer por passagens apertadas.

É uma pena que não temos nenhum mapa ou sistema de navegação. Embora o jogador possa utilizar uma habilidade da criatura, que emite sons para localizar humanos e outros experimentos (mais sobre isso em seguida), avançar a esmo pode ser um pouco frustrante.
Alguns inimigos pode ser bem perigosos
Dito isso, aviso que nunca me perdi e sempre consegui achar o caminho certo de forma relativamente rápida. Acredito que essa escolha de navegabilidade seja para incentivar o jogador a conhecer bem os ambientes, além de tornar alguns quebra-cabeças mais difíceis. Eles consistem em abrir portas, acionar alavancas e usar adequadamente as habilidades do monstro.

... e combates ainda melhores

Sem dúvidas, o melhor de Carrion são os combates. Enfrentar os “malignos” humanos utilizando um monstro carnívoro repleto de bocas e tentáculos é ótimo, sobretudo graças à variedade de movimentos oferecida pelo game. O jogador pode agarrar os inimigos diretamente e devorá-los, recuperando a sua energia, ou então atirá-los longe.
Hora do lanche!
Também é possível segurar objetos para arremessá-los nos inimigos ou acertá-los diretamente os inimigos com eles. Para completar, a criatura possui habilidades especiais, que podem ser obtidas ao se interagir com outros experimentos espalhados pelo complexo. Elas incluem uma espécie de teia pegajosa, uma poderosa investida, o já mencionado grito localizador e até um controle da mente dos humanos.
Controle humanos para liberar passagens antes inacessíveis
Algumas habilidades são suprimidas de acordo com a quantidade de massa da criatura, que também corresponde à sua vida. Logo, alguns desafios exigem que o jogador deposite casulos para que o monstro se torne menor e, assim, possa utilizar certos movimentos. É preciso ficar atento, pois assim ele também fica mais fraco e vulnerável.
Com os casulos na água, o jogador pode acessar novas áreas
Esse, aliás, é um ponto importante. Apesar da criatura de Carrion ser poderosa e assustadora, ela está longe de ser invencível. Alguns disparos ou ataques bem executados podem liquidá-la rapidamente. E embora uma parte dos humanos corra horrorizada, outra irá partir para cima com armas, escudos elétricos, lança-chamas e até armaduras e robôs tecnológicos.
Prepare-se para surpreender seus inimigos
Por isso, muitas vezes a sutileza pode ser uma poderosa aliada. Se esgueirar por passagens subterrâneas e atacar de surpresa são ótimas pedidas para ter sucesso. Afinal, como um bom jogo de horror reverso, nada melhor que utilizar movimentos sorrateiros e atrair os inimigos para armadilhas, utilizando grunhidos e itens do cenário.

Ficou um gostinho por mais extras

O jogo também faz bonito no quesito som. As músicas são quase perturbadoras (o que é ótimo), saídas diretamente dos filmes de terror. Efeitos sonoros, como barulho das portas e grades arrancadas e gritos de pânico das pessoas, são fiéis e apresentados na intensidade certa. Até mesmo o ruído da criatura se movimentando é bem pensado.
As seções com os humanos ajudam a contar a história do game
Além de controlar a criatura monstruosa, Carrion oferece alguns pequenos segmentos que colocam o jogador no controle de alguns humanos. Essas partes, que consistem principalmente em explorações e quebra-cabeças, mostram como a criatura foi descoberta e encarcerada. Embora nada revolucionárias, elas fecham bem o pacote.

Infelizmente, esse pacote ficou devendo um pouco no quesito extras. O game é muito divertido e sua campanha, como espero ter deixado claro ao longo da análise, é ótima. A questão é que não temos nada além disso. Conteúdos como colecionáveis, segredos, multiplayer e o conhecido New Game + seriam opções interessantes.
As únicas indicações de progresso são painéis eletrônicos na entrada de cada área
A já citada ausência de um mapa poderia ser consertada em conjunto com a adição de itens e segredos. Afinal, seria interessante explorar os cenários atrás deles. Travar combates contra os amigos também seria muito legal, com alguém controlando o monstro e os demais jogadores no comando dos humanos e seus equipamentos. Fico na torcida para que o game possa receber alguma atualização ou continuação e, assim, se tornar ainda maior e melhor (tal como a sua criatura).

Uma incrível aventura original

Nunca imaginei como seria divertido jogar no papel de um monstro assustador que precisa lutar para escapar de uma instalação secreta repleta de humanos. Além da sua proposta bastante exclusiva, Carrion (Multi) também manda bem em quase todos os demais quesitos. Os visuais são ótimos, a jogabilidade funciona bem e as mecânicas de jogo são divertidas. Mesmo deixando o jogador querendo mais, essa é uma aventura obrigatória para quem curte um bom game de terror.
Pronto para aterrorizar em Carrion?

Prós

  • Proposta original, interessante e bem executada;
  • Gráficos com visual pixelado de qualidade;
  • Jogabilidade funcional, incluindo cada um dos poderes e habilidades;
  • Sons e músicas casam muito bem com a atmosfera;
  • Mecânicas de combate e exploração são divertidas.

Contras

  • Ausência de um sistema de navegação ou mapa;
  • Nenhum conteúdo extra ou conjunto de colecionáveis.
Carrion – Multi – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital
Siga o Blast nas Redes Sociais

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).