Análise: Skelattack (Multi) traz carisma e frustração em um simples jogo de plataforma

Uma ambientação divertida e ótimos visuais não salvam esse título indie de seus vários problemas.

em 16/06/2020

Um simpático esqueleto guerreiro é o protagonista de Skelattack, título de ação 2D inspirado em clássicos da era 16-bits. O primeiro trabalho do estúdio indie Ukuza chama a atenção com o belo visual desenhado, ambientação carismática e boa interpretação de conceitos de plataforma em trechos de dificuldade acentuada. No entanto, uma série de problemas e decisões estranhas atrapalham a experiência profundamente.

Uma caveira enfrentando uma ameaça humana

Skully é um esqueleto que aproveita tranquilamente a pós-vida em Aftervale na companhia de sua amiga, a morcego Imber. Infelizmente a paz não durou muito tempo: humanos atacaram o lugar e levaram o ancião como refém. Por ter sido um guerreiro em vida, Skully decide perseguir os invasores a fim de salvar o local. No decorrer da aventura, os heróis descobrem as reais intenções dos humanos que, inclusive, têm relação com o passado de Skully.

No controle do herói-caveira, precisamos explorar várias regiões de Underworld em uma aventura de ação e plataforma 2D tradicional. O foco é navegar por vários cenários repletos de perigos que exigem pulos e movimentos precisos. Para superar os desafios, Skully pode executar um salto adicional no ar, além de usar paredes para conseguir impulso extra.


A progressão é linear, sendo que o próximo objetivo é explicitado com clareza. O mundo do jogo conta com caminhos opcionais com segredos, itens e melhorias para Skully, e pontos de viagem rápida permitem revisitar facilmente áreas anteriormente atravessadas. Fora os trechos de plataforma, há alguns momentos de combate em que o herói ataca com uma espada, chefes e partes em que a morcego Imber pode ser controlada diretamente. A duração do jogo é curta e bastam umas quatro horas para terminá-lo.

Um ponto notável em Skelattack é sua ambientação carismática com personagens divertidos e diálogos leves. O visual desenhado é muito belo e lembra um cartoon do início da década de 1990, com direito até a um leve filtro de distorção de cor que dá uma aparência meio retrô. O resultado é uma atmosfera charmosa, por mais que o título explore temas batidos, como cenários em calabouços de pedra, cavernas cheias de lava e florestas.


Morte seguida de morte

Skelattack se destaca com ritmo ágil e ação acelerada, remetendo bastante a títulos de plataforma da era 16-bits. Skully é rápido e bastam alguns momentos para entender seus movimentos básicos, mas isso não quer dizer que o jogo é fácil, pelo contrário: o mundo está repleto de desafios complicados. Boa parte dos cenários contam com espinhos e outros perigos que matam instantaneamente o herói, o que nos força a avançar com calma e precisão.

Para conseguir prosseguir, é essencial dominar as habilidades de Skully. Na maior parte do tempo, a dificuldade é saber medir a altura certa dos saltos e pular pelas paredes para evitar as armadilhas e conseguir chegar na próxima tela. Você vai morrer bastante, mas a presença generosa de checkpoints e o reinício rápido minimizam a frustração. É bastante recompensador conseguir superar algum ponto difícil, mas é importante estar preparado para morrer bastante no processo.


O conceito de Skelattack funciona, mas, infelizmente, ele tem inúmeros problemas que impactam fortemente a experiência. Para começar, os controles são meio escorregadios e imprecisos, nem sempre respondendo na velocidade necessária. Um exemplo é o comando do pulo na parede. O movimento é controlado por meio da alavanca de movimento, porém ele é desajeitado e sensível demais, o que me fez muitas vezes saltar para a morte sem querer. Para piorar, o alcance dos perigos é desregulado e muitas vezes morri mesmo passando bem longe dos espinhos fatais.

A aventura, no geral, carece de balanceamento: momentos muito difíceis são sucedidos por partes banalmente fáceis, não há uma clara curva de dificuldade. Além disso, o design dos cenários e desafios se apoia demais em obstáculos que matam com um único acerto, e chega um ponto que a aventura fica repetitiva. Para piorar, são frequentes os momentos de tentativa e erro com pulos cegos e perigos fatais que aparecem do nada, gerando pontos que favorecem mais a memorização e tentativa do que a técnica.


Por fim, Skelattack conta com algumas características irrelevantes. Durante a aventura, Skelly ganha algumas habilidades, mas elas são completamente subutilizadas — até o final do jogo, precisei utilizá-las exatamente três vezes. O combate é extremamente básico e sem graça: basta apertar o botão de ataque de qualquer jeito e pronto. As batalhas são tão sem impacto que a partir da metade da jornada eu simplesmente passei a ignorar os inimigos, pois o movimento do herói não é interrompido ao levar dano. A sensação que eu tive foi que a inclusão destes aspectos no jogo foi apressada e mal planejada.

Uma aventura que deixou a desejar

Skelattack é um título de plataforma simpático, mas que, infelizmente, não tem uma execução muito boa. Tentar atravessar salas repletas de armadilhas tem seus momentos divertidos, e checkpoints constantes ajudam a minimizar a frustração de morrer constantemente. Além disso, o mundo esbanja carisma com personagens divertidos e belo visual. No entanto, a aventura tem muitos problemas: dificuldade balanceada, controles imprecisos, colisão de obstáculos inconsistente, muitos trechos de tentativa e erro, mecânicas irrelevantes, e mais. No fim, Skelattack é somente mediano e nada memorável.

Prós

  • Aventura de plataforma direta e de bom ritmo;
  • Ambientação charmosa, com visual que lembra desenhos da década de 1990.

Contras

  • Física e controles imprecisos atrapalham nos momentos de plataforma;
  • Dificuldade desbalanceada e muito dependente de perigos que matam instantaneamente;
  • Combate desinteressante.
Skelattack — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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