Nem sempre um game precisa ser revolucionário para ser uma ótima pedida. Afinal, antes de gráficos belíssimos ou grandes inovações, jogos eletrônicos precisam ser divertidos e cativantes.
Ys: Memories of Celceta (Multi) é um bom exemplo, pois, mesmo com uma apresentação mais simples e sem maiores novidades, ele é um ótimo RPG de ação, conforme vamos conferir nesta análise.
Longa tradição
Embora não tão famosa, a franquia
Ys já teve vários títulos lançados desde a sua estreia em 1987. A série de RPG conta com mais de 15 games diferentes, incluindo alguns remakes de jogos já lançados anteriormente.
Ys: Memories of Celceta (Multi) pode ser incluído nessa categoria, sendo uma nova versão de dois games de 1983.
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Caixa de Ys IV: Mask of the Sun para SNES |
Isso mesmo: “games”, no plural.
Ys IV: Mask of the Sun (Multi) e
Ys IV: The Dawn of Ys (PC) foram lançados no mesmo ano, mas foram produzidos por empresas distintas. Compartilhando a mesma história básica, os dois títulos têm várias diferenças entre si. Mask of the Sun é o mais popular, tendo recebido um remake em 2005, chamado
Ys IV: Mask of the Sun - A New Theory (PS2).
Ys: Memories of Celceta, produzido pela
Nihon Falcom, substituiu essas três versões como um novo título canônico da franquia. Ele foi lançado originalmente em 2012 para o
PS Vita, onde teve um relativo sucesso. Depois disso, o game recebeu uma
versão para PC em 2018, onde recebeu algumas melhorias na taxa de quadros e na resolução. Por fim, ele também chegou ao
PS4 em junho de 2020 pela publicadora
XSEED Games.
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Uma comparação dos gráficos das três versões |
Do tipo RPG de ação, ele tem combates dinâmicos, diversas customizações de golpes e equipamentos, muitas missões interessantes e um vasto território para ser explorado. E tudo isso é reunido em uma aventura divertida e desafiadora. Apesar de alguns aspectos mostrarem a idade do jogo, ele ainda é uma experiência bastante recomendável.
Uma história interessante e divertida
Se o leitor curte esse gênero, então Memories of Celceta é um prato cheio. A história é simples, mas funcional: tudo começa com o protagonista
Adol Christin, que acorda desmemoriado em meio a uma cidade desconhecida. A partir daí, o jogador vai pouco a pouco descobrindo mais sobre o personagem e seu misterioso passado.
Adol é encontrado por
Duren, um valioso aliado que se junta ao herói. Durante as primeiras batalhas dos personagens, os dois descobrem sobre uma importante missão do governo: mapear a gigantesca
Floresta de Celceta. O local parece ter relação com o passado do protagonista, que decide aceitar a tarefa e, assim, explorar a região para recuperar a sua memória.
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Adol (direita) e Duren começam a sua aventura |
Conforme o game avança, novos desdobramentos vão dando corpo à história. A dupla encontra novos personagens, cidades desconhecidas e muitos inimigos pelo caminho. Tudo parece um pouco desconexo até a metade do game, onde as peças da aventura começam a se encaixar em um interessante quebra-cabeça.
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O mapa do game é enorme, com destaque para a grande Floresta de Celceta |
Sem revelar grandes
spoilers, Adol acaba se envolvendo com antigos artefatos mágicos e deuses poderosos. No final, a campanha acaba convergindo para a tradicional missão de salvar o mundo. Tudo isso ocorre de maneira bem orgânica e com reviravoltas bem interessantes, sempre fazendo bom uso da falta de memória do protagonista e dos curiosos e fantásticos elementos do game.
Jogabilidade dinâmica e divertida
Em minha opinião, o maior ponto forte de Ys: Memories of Celceta é a sua jogabilidade. Embora não seja original, ela é divertida e muito bem implementada, oferecendo combates dinâmicos e desafiadores. Tudo funciona muito bem: ataques básicos, esquiva, defesa, itens, equipamentos e habilidades (
skills) especiais.
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As habilidades Flash tornam as batalhas ainda mais dinâmicas |
Aprender a esquivar e defender nos momentos certos garante vantagens importantes. Ao escapar de ataques corretamente (
Flash Move), o jogador se torna mais rápido que os inimigos; já acionar a defesa no tempo correto (
Flash Guard) garante dano zero. Ambos recursos também aumentam a barra de especial dos personagens.
Habilidades especiais consomem parte dessa barra e, conforme elas são utilizadas, carregam a habilidade
EXTRA. Esse super ataque causa uma grande quantidade de dano por área e permite combos interessantes. Também é possível adquirir e melhorar
skills conforme os personagens sobem de nível e as utilizam nas batalhas.
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Libere todo o poder de cada personagem com as EXTRA skills |
Mesmo com tantas opções para escolher, tudo funciona de forma simples e competente. Preparar a equipe e partir para explorações e lutas é sempre muito divertido. O nível de dificuldade é bem ajustado, exigindo sempre um equilíbrio entre o nível dos personagens (e seus respectivos itens e habilidades) e a capacidade do jogador. Muitos RPGs de ação acabam exigindo muito de um ou de outro, o que tornou a experiência de Ys: Memories of Celceta ainda melhor.
Outra mecânica importante do game é saber utilizar o seu grupo. Até o final da história seis personagens diferentes entram para a equipe, cada um com suas habilidades e movimentos únicos. Temos um membro que utiliza espada, outra que utiliza kunais, outro uma lança, outra uma maça e assim por diante, oferecendo uma variedade agradável.
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Da esquerda para direita: Frieda, Adol, Calilica, Duren, Karna e Ozma |
Habilidade e estratégia
Certos inimigos têm fraqueza a determinados tipos de ataques, o que torna a escolha de qual personagem deve ser utilizado bastante relevante. Até três membros podem lutar ao mesmo tempo, sendo que o jogador pode controlar somente um. Os dois restantes podem ser colocados em modo ofensivo ou defensivo a qualquer momento.
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É importante manter a equipe na defensiva durante os ataques inimigos |
Dessa forma, Memories of Celceta reforça ainda mais o quesito estratégia. Como dito anteriormente, equilibrar habilidade e nível dos itens e personagens é essencial para vencer as batalhas. Por isso, ficar atento a qual o melhor ataque a ser utilizado é tão importante quanto saber esquivar ou ter uma espada poderosa.
Os equipamentos podem ser devidamente reforçados, podendo adquirir, além de mais ataque ou defesa, atributos como causar envenenamento ou paralisia. As opções de customizações são generosas, mas intuitivas e fáceis de usar. Aliás, essa é uma marca do game: mesmo oferecendo um universo vasto, ele é sempre convidativo e interessante.
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São muitas opções para melhorar as armas e equipamentos |
Prepare-se para ordenhar vacas estranhas, derrotar hordas de aranhas gigantes, brincar de esconde-esconde, se tornar um vendedor e enfrentar deuses malignos. Ys: Memories of Celceta oferece muitas “pequenas aventuras” dentro da “grande aventura”, ajudando a quebrar o ritmo das missões obrigatórias. E, como não poderia deixar de ser em um RPG, elas também oferecem itens raros e oportunidades para o jogador ficar mais forte.
Funcional e bonito, mas um pouco limitado
Temos uma grande diversidade de cenários e elementos no game. Rios, cidades, cavernas, templos, pântanos e florestas são originais e interessantes. Vemos diversas variações desses temas ao longo do game, sempre com um ar de novidade. Cada novo território traz novas missões e segredos, oferecendo muitas horas de exploração e combates.
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Explorar 100% do mapa do game é um dos objetivos mais desafiadores |
O design dos personagens também é interessante, sobretudo nas cenas com imagens no estilo anime/mangá. Mesmo relativamente básicas, elas ajudam a caracterizar cada um dos participantes da aventura. Infelizmente, a apresentação geral é bastante limitada e, em certos pontos, ruim, como o menu principal. Embora não comprometa o produto final, ela prejudica o que poderia ser um game ainda melhor.
Vale lembrar que o game original é de 2012 e recebeu poucas melhorias. Questões como texturas simples, modelos pouco suaves e animações “mecânicas” saltam aos olhos negativamente em um PS4, que possui inúmeros títulos de maior qualidade nesse quesito. Os combates não chegam a ser comprometidos graças ao ritmo dinâmico da jogabilidade, mas os demais momentos têm aquela cara de “jogo antigo” (oito anos não é tanto tempo assim, mas acredito que você entendeu a ideia).
Outro ponto que pode ser visto como um problema de Ys: Memories of Celceta é o quesito inovação. Apesar de oferecer um jogo muito sólido, nada é uma grande novidade. Jogabilidade, enredo e habilidades são familiares, sobretudo para quem já conhece a franquia. Creio que essa seja mais uma consequência do título ser originalmente de 2012.
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Muitas surpresas, grandes e pequenas, te esperam neste game |
Embora tenhamos dublagem no game, as falas são muito esparsas e ocorrem somente em momentos específicos. As músicas, por outro lado, são numerosas e, em geral, muito boas. Cidades e batalhas contra chefes são exemplos de onde encontrar as melhores canções do game, que embalam com competência as aventuras de Adol e seu divertido grupo de amigos.
Um delicioso feijão com arroz
Mesmo sem trazer grandes novidades,
Ys: Memories of Celceta (Multi) é uma ótima pedida. Sua aventura de ação RPG é divertida, com muitas missões e segredos para serem encontrados, contando com uma jogabilidade sólida e mecânicas de jogo excelentes. É uma pena que os gráficos e o visual datados deponham contra o título, pois ele é obrigatório para os fãs do gênero e aqueles que procuram um game dinâmico e bem construído.
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Memories of Celceta é uma ótima aventura |
Prós
- História é interessante, com vários personagens e eventos curiosos;
- Grande diversidade de cenários, inimigos, missões e itens;
- Jogabilidade é simples, sólida e divertida;
- Customizações e sistema de níveis são vastos e funcionais;
- Nível de dificuldade é muito balanceado, sobretudo graças aos controles e à quantidade de opções para melhorar os personagens.
Contras
- Apresentação geral datada, incluindo menus, animações e texturas;
- Game não traz inovações significativas ao seu concorrido gênero.
Ys: Memories of Celceta – PC/PS Vita/PS4 – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
E você, leitor? O que achaste de Ys: Memories of Celceta? Já conhecias a série através de outro título ou console? Deixa o teu comentário.
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games
Revisão: Ives Boitano