Análise: Epic Dumpster Bear 2 (PC/PS4) — o jogo que não é tão épico assim

Se aventure como um urso que precisa exterminar uma organização do mal e sobreviver com um visual desleixado.

em 24/06/2020
Jogos de plataforma existem aos montes, com diversas propostas diferentes. Algumas são coesas, enquanto outras beiram o absurdo. É nessa segunda classe que se encontra Epic Dumpster Bear 2 (PC/PS4).


Com diversos elementos claramente baseados em franquias consagradas, como Mario, Sonic e Crash Bandicoot, o título até tem boas intenções, mas a ideia final não é tão satisfatória assim.

De onde veio isso?

Primeiro vamos entender onde tudo começou. Epic Dumpster Bear foi lançado em 2016 para Wii U e dois anos mais tarde foi portado para PC e PS4, com algumas alterações. Nele, controlamos um urso que vivia em uma floresta que foi destruída por uma corporação do mal. Para sobreviver, ele se abrigou em uma lixeira, onde planejou sua vingança contra aqueles que destruíram seu lar.
Com essa motivação digna de um Game Award, o jogo se desenvolvia de maneira estranhamente cativante em seus mais de 70 estágios, que incluíam batalhas contra chefes e fases bônus desafiadoras.

Uma sequência forçada

A ideia deste segundo título é continuar a saga do destemido urso por diversas áreas com o intuito de acabar com os resquícios da corporação malévola. O problema é que tudo aqui é rigorosamente igual ao episódio anterior.

A sequência traz os mesmos visuais, movimentos, colecionáveis e ideias do seu antecessor, com pouquíssimas inovações. Até o número das fases diminuiu consideravelmente, sendo 30 regulares e 14 extras. Infelizmente, ela acaba passando a impressão de que seria melhor se fosse apenas um conteúdo extra.

Um urso com problemas

Nosso herói improvável conta com as mesmas habilidades de antes: pular e correr, sendo que agora também pode dar um pulo duplo e um arranhão, útil para abater inimigos e destruir alguns blocos. Também é possível se agarrar nas paredes, similar ao que pode ser feito em Mega Man X

Os controles até que respondem bem ao comandos do jogador, mas existem algumas coisas que podem tirar o qualquer um do sério. Ao errar um pulo próximo a uma parede, o animal automaticamente se agarra a ela e obriga o uso de um wall jump desnecessário que, inclusive, pode resultar na queda em algum obstáculo ou inimigo.

Outro recurso que pode dar dor de cabeça é a combinação de pulo duplo e arranhão. O golpe pode ser direcionado e, se usado após um salto, ajuda na impulsão necessária para alcançar lugares altos. Entretanto, como alguns trechos do jogo têm ritmo acelerado, é muito fácil errar a direção necessária e ir parar em cima de alguma armadilha fatal. Todas essas confusões direcionais complicam — e muito — trechos de plataforma que tinham tudo para serem simples e tranquilos. 

Acho que já passei por aqui...

Ao todo, são seis mundos distintos que contam com os estágios regulares, alguns bônus e uma fase final contra um chefe. A identidade visual se mantém igual em cada um, principalmente a do fundo da tela, passando a sensação de repetição, o que torna alguns trechos bem cansativos, fazendo-os parecer mais longos do que realmente são.

Começamos sempre com dois corações e devemos atravessar cada estágio no menor tempo possível. Se o urso tomar algum dano, o coração será reposto no checkpoint, que tem o formato de uma lixeira. É possível recomeçar com um coração a mais pagando algumas moedas após uma morte, mas, ao utilizarmos essa opção, o tempo deixa de ser computado. Ao final de cada objetivo, devemos pular em um alvo que determina qual será nossa pontuação.

A estrutura dos níveis, conhecida também como level design, é bastante desigual. Enquanto alguns setores de plataforma são tranquilos e até auxiliam o jogador a se acostumar com os controles apresentando uma boa curva de aprendizado, outras são verdadeiras torturas, exigindo uma precisão absurda. A variação de inimigos e obstáculos também é pouca e não é raro ver o mesmo padrão de criaturas ou armadilhas apenas em disposições diferentes e com cores e velocidades alteradas. Junte isso ao problema dos saltos e está anunciada a tragédia.

Além disso, existem três moedas vermelhas que precisam ser encontradas. Apesar de oferecerem um desafio a mais, elas não rendem nenhun tipo de bonificação. Outro colecionável que não agrega em nada são figurinhas as conseguidas após a conclusão de certas áreas — além do fato de serem bem feias.

Alguns estágios contam com poderes que podem ser usados para superar barreiras. Mais uma vez, o mau uso e falta de variedade se fazem presentes, pois os dois power-ups são basicamente bombas iguais e, se são utilizados em cinco ocasiões ao longo de 44 estágios,  ainda é muito.

Por fim, as batalhas contra os chefes são bizarras do seu próprio jeito. Se já não bastasse controlar um urso que anda sobre duas patas, nossos rivais também são animais apoiados nos membros traseiros (exceto um deles, que é a cabeça flutuante de um peixe), que disparam raios de energia e não possuem um padrão exato de ataque.

Tosco em alta definição

EDB 2 aposta em um visual propositalmente feio para aumentar seu tom cômico. Essa prática já se tornou comum e até aumentou a visibilidade de títulos como Goat Simulator (Multi), por exemplo.

Porém, não é essa a impressão que fica aqui. Mesmo conseguindo a façanha de rodar a 60 frames por segundo, os gráficos quadriculados e ultrapassados só causam estranheza. A repetitiva paisagem de fundo, como citada anteriormente, só agrava a sensação de algo feito de qualquer jeito. Como cereja do bolo, nós temos os efeitos sonoros, que são repetidos à exaustão para todo e qualquer tipo de ação ou dano.

O ponto fora da curva é a trilha sonora, que demonstra ter sido feita com algum empenho. São músicas que variam do rock ao folk e que até conseguem ser agradáveis, mas acabaram ofuscadas pelo conjunto da obra.

De volta para a lixeira

Epic Dumpster Bear 2 não se esforça para ser interessante, o que é uma pena. Ele simplesmente se limitou em trazer, de uma forma reduzida, aquilo que seu antecessor já havia mostrado, sem ousar sair da sua zona de (des)conforto.

O mais frustrante não é o level design irregular, ou o visual porco, e sim o fato de pensar que, se houvesse um pouco mais de dedicação, o coitado do urso teria tudo para protagonizar um divertido título de plataforma.

Prós

  • Controles são fluidos e respondem rápido;
  • Trilha sonora bem trabalhada;
  • Algumas fases apresentam um ótimo level design.

Contras

  • Combinação de pulos, wall jumps e ataques nem sempre tem uma direção clara;
  • Visuais ultrapassados sem conseguir um apelo cômico;
  • Poucas fases, sendo algumas muito curtas e outras cansativamente longas;
  • Efeitos sonoros repetitivos;
  • Pouca variedade visual de inimigos e obstáculos;
  • Mau uso de power-ups.
Epic Dumpster Bear 2 — PC/PS4 — Nota: 4.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise feita com cópia digital cedida pela Log Games


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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