Análise: Disintegration (Multi) é uma mistura peculiar de FPS com estratégia em tempo real

Pilotando graviciclos, combata máquinas e comande rebeldes na luta pela liberdade em um futuro distópico.

em 29/06/2020
V1 Interactive é um estúdio novo composto por uma equipe de 30 pessoas. Fundada por Marcus Lehto, co-criador do universo de Halo, o estúdio tem desenvolvedores que já participaram da produção de vários outros títulos do mercado. Disintegration é o primeiro jogo produzido pela equipe e apresenta uma narrativa distópica da Terra somada a uma jogabilidade peculiar, misturando dois gêneros: tiro em primeira pessoa com estratégia em tempo real. Será que deu certo? Vamos ver!

Integração

No futuro, um processo chamado Integração possibilita que humanos possam transplantar seus cérebros para corpos robóticos, evitando que doenças, fome, e até a idade sejam um problema. O processo de Integração, a princípio, se mostra interessante, mas muitos humanos passaram a ser integrados de maneira forçada, tornando-os reféns de grupos opressores como a Rayonne, que deseja dominar o mundo fazendo uso deste processo.


Romer Shoal é um integrado e um experiente piloto de graviciclo, uma espécie de nave flutuante com acomodação para um piloto e que pode ser usada tanto para esporte quanto para atividades militares. A história começa com Shoal sendo acuado por Black Shuck, o nêmesis da história, em uma colossal fortaleza voadora. Uma tentativa de fuga de outros prisioneiros também favorece Romer, que se junta a seus novos “amigos” e acaba por se tornar líder deles em um levante contra a Rayonne e no sonho de encontrar uma forma de se tornarem humanos novamente.

Romer, o piloto e líder

Dominar o controle do graviciclo é o ponto crucial para conseguir jogar Disintegration, o que resume a “metade FPS” do jogo. O jogador controla o veículo em primeira pessoa, e não há a possibilidade de jogar fora dele. Durante as missões, você é responsável por controlar e combater como Romer e a liderar sua equipe no campo de batalha, dando ordens diretas de movimento, interação com itens, comandos para utilizar os ataques especiais deles e ordens diretas de ataque contra inimigos específicos.
Romer Shoal é o líder em incursões rebeldes, auxilando seus aliados em combate de forma ofensiva e provendo apoio operacional
Ao jogar pela primeira vez, o jogador é convidado – ou melhor, recomendado – a se aventurar por uma missão tutorial para conhecer os comandos do jogo. A princípio, os aspectos de movimentação e jogabilidade se assemelham muito a um FPS tradicional, mas dominar o comando do graviciclo leva tempo, então não se frustre em fazer algumas barbeiragens durante o processo.
A visão do jogador é totalmente em primeira pessoa
O veículo não é como uma nave, que anda livremente no ar, podendo fazer manobras como parafusos e loopings; o graviciclo é um planador gravitacional que pode flutuar até uma determinada altura. Algo como um hovercraft, só que podendo chegar a uma altitude em torno de 15 metros em relação a superfície onde está planando. Isso significa que se você resolver saltar de uma ponte com ele, sim, você vai cair e morrer. Outra função bem útil usada por Romer é um scanner visual, que destaca itens, inimigos e pontos de interesse na tela, facilitando a identificação destes pelo jogador.
O scanner visual destaca pontos de interesse no campo de batalha
Os comandos aos membros da equipe são dados com o botão de ombro direito (R1/RB). Marque o tipo de interação que você quer que a equipe execute com seu retículo de mira e pressione o botão para que eles executem a ação. Se não houver nada no local, a equipe se movimenta manualmente para a posição e ficará lá até você cancelar a ordem, fazendo que ela volte a agir de forma automática. Se for um inimigo, todos os membros da equipe darão prioridade a atacá-lo até que seja destruído. Por fim, se for um item de interação, como um painel para abrir uma porta, por exemplo, eles se deslocarão para o local dando cobertura para que um dos membros realize a ação.
Dominar o controle do graviciclo é fundamental, assim como saber orientar seus aliados. Mas cuidado para não se tornar um alvo fácil no processo.
Se um membro da equipe for morto, Romer tem até 30 segundos para recuperar sua cabeça no local do abate e assim aguardar mais alguns segundos para que ele volte à ação. Não recuperar aliados caídos antes do fim do tempo limite, ou deixar que Romer seja abatido, resultam no insucesso da missão e o jogador deve reiniciar a partir do último ponto de checagem.

Cada membro da equipe também tem à sua disposição uma habilidade especial, que após ser usada necessita de um tempo de descanso para que possa ser utilizada novamente. Granadas, chuva de mísseis, áreas de lentidão e abalos sísmicos são algumas das habilidades que são selecionadas usando os direcionais, cada um correspondendo a um dos até quatro membros da equipe. Uma linha de ação é exibida na tela de Romer, projetando o raio de ação da habilidade e, ao selecionar o alvo, basta pressionar o botão de ordem para que o membro a use.

Liberdade? Nem tanto! Muita ação? Às vezes!

A jogabilidade em Disintegration, depois que se pega a manha dos controles do graviciclo, é divertida, permitindo até algumas raras manobras para flanquear grupos de inimigos com uma boa coordenação com sua equipe de solo, mas liberdade é algo que não chega a ser bem aproveitado aqui. Durante a campanha principal você controla diferentes modelos de graviciclos, alguns mais ágeis, por serem leves, e outros nem tanto, por serem mais pesados. O arsenal deles também não pode ser selecionado pelo jogador, fazendo com que lutemos em algumas missões, muitas vezes, com uma arma muito boa, mas em outras com uma menos potente ou que não nos adaptamos muito bem.

O mesmo se aplica para a equipe de solo. Não é possível selecionar quem vai acompanhar Romer na missão ou quais habilidades deseja equipar neles. Tudo é pré-determinado e roteirizado. Então não se apegue a uma arma ou habilidade, pois nem sempre ela estará disponível para você. A única coisa que se pode fazer é equipar chips de atualização, que melhoram os status de Romer e seus aliados de forma permanente, como mais saúde, mais defesa, velocidade de carregamento, tempo reduzido para uso de habilidades, etc.
Chips de atualização são usados para melhorar os atributos de Romer e seus aliados antes de cada missão
A estrutura de níveis é bem linear, com momentos de avanço da equipe e lutas contra ondas de inimigos, majoritariamente. Algumas missões contam com objetivos adicionais, como defender territórios, escoltar equipamentos, destruir alvos pré-determinados ou resgatar alguém. Alguns momentos contam com uma quantidade excessiva de inimigos, muitos surgindo do nada, o que faz o campo de batalha virar uma bagunça e fazendo o jogador sofrer dano de todos os lados. E, apesar dos cenários se mostrarem bem amplos e abertos, a exploração não é um ponto forte em Disintegration.

Multiplayer online? Temos também, mas calma

Um dos pontos que poderia destacar Disintegration é seu modo multiplayer online. Poderia, pois a experiência não foi a mais agradável que se espera em um jogo com um forte potencial para esse tipo de abordagem. Dê uma olhada nesse trailer antes de continuarmos.


Bem legal, né? Também achei! O jogador seleciona times já prontos para competir, cada um com visual, arsenal e esquadrões únicos, podendo ser levemente customizados com novas cores e acessórios desbloqueados com pontos obtidos no jogo, frutos de vitórias, conclusão de desafios ou através de microtransações. Sim, temos essa prática aqui, em pleno ano de 2020 e num jogo que não é gratuito para jogar. Mesmo que sejam apenas para fins estéticos, eu desaprovo isso veementemente, mas não vou me aprofundar nesse assunto hoje.
Créditos podem ser obtidos com dinheiro real para comprar itens cosméticos no modo multiplayer
Quando finalmente experimentei o online do jogo, não consegui encontrar partidas em todos os modos disponíveis. Pra falar a verdade, só consegui jogar duas vezes o modo Controle de Zonas, onde duas equipes de três jogadores, cada um com seu time (piloto + esquadrão), competem para manter o controle de três zonas no mapa por mais tempo, acumulando pontos para vencer. Os outros dois modos são: Colecionador, onde o objetivo é derrotar inimigos e coletar pontos, e Recuperação, onde cada esquadrão deve recuperar núcleos de batalha e entregar em um ponto específico no campo de combate.
Repare no canto inferior direito, nos quase 10 minutos aguardando para encontrar uma partida
E quero ressaltar ainda o motivo de terem sido apenas duas partidas. Nas duas vezes que joguei, a espera para encontrar uma partida foi demasiada longa, chegando a beirar os dez minutos de espera, e sem filtros de modos de jogo, ou seja, o que viesse tava valendo. Vou tentar novamente mesmo depois da publicação dessa análise para tentar experimentar os outros modos, quem sabe com mais sorte. Por ora, só consegui comprovar que o modo funciona e não apresentou problemas de conexão, como lag.

Uma novidade diferente

Para um projeto com pessoas veteranas no mercado, uma equipe pequena, e sendo o game de estreia do estúdio, acho que Disintegration foi um bom começo para a V1 Interactive, mas com pontos que merecem atenção para agradar um público maior. Conta ainda com uma narrativa de ficção científica bem legal, com personagens apresentando personalidades fortes e bem características. Acho que inclusive daria uma boa série para a Netflix. Uma nova abordagem em jogabilidade, misturando dois gêneros bem distintos, com um modo multiplayer – que mesmo não tendo o melhor serviço, pode melhorar – fazem deste um título interessante pra quem gosta de novidades.

A jogabilidade misturada, esse “FPS-RTS”, é bem estranha no início, mas eu me peguei jogando bem sério depois que peguei a manha dos controles. Sabe quando você até senta direito pra jogar? Pois é! Um ponto final antes de encerrar é sobre o preço. Curiosamente ele está mais barato nos consoles do que no Steam. É um jogo que recomendo pegar numa promoção. E, se o multiplayer estiver menos lerdo até lá, melhor ainda.

Prós

  • Jogabilidade única, misturando a ação de um FPS com a estratégia de um RTS;
  • História cinematográfica, com personagens esbanjando personalidade;
  • Multiplayer online promissor.

Contras

  • Jogabilidade exigente para controlar simultaneamente o graviciclo e o esquadrão
  • Quedas de performance pontuais em momentos de muita ação na tela;
  • Estrutura de missões muito linear, com etapas muito semelhantes;
  • Falta de liberdade para customizar o arsenal e habilidades da equipe durante a campanha;
  • Multiplayer online com longas esperas para encontrar uma partida;
  • Microtransações em um jogo que não é gratuito para jogar.
Disintegration – PC/PS4/XBO – Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS4
Análise feita com cópia digital cedida pela Private Division
Revisão: José Carlos Alves


Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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