Análise: Alwa’s Legacy (PC) — puzzles e liberdade em um metroidvania expansivo

Um grande mapa e progressão não linear são os destaques deste título indie com ares retrô.

em 25/06/2020

Em Alwa’s Legacy, desbravamos um grande mundo na companhia de uma feiticeira. O foco da aventura é resolver puzzles, mas há também ação e plataforma, o que torna o andamento ágil e variado. Além disso, a progressão é mais livre do que em outros jogos do gênero, e muitos segredos incentivam explorar com cuidado cada canto. Estas características, em conjunto com gráficos em pixel art e música no estilo chiptune, fazem com que a experiência seja repleta de nostalgia e empolgação.

Buscando memórias em uma terra estranha

Zoe é uma feiticeira que acorda no reino de Alwa sem memória alguma de como foi parar ali. Mesmo assim, ela sente que já esteve nesta terra a fim de completar uma tarefa importante, pois os locais lhe parecem familiares. Essa suspeita se confirma quando ela conversa com uma anciã. A senhora diz que Zoe perdeu suas memórias ao tentar salvar Alwa no passado, e para recuperá-las será necessário derrotar criaturas malignas espalhadas pelo reino.

Para conseguir realizar tal tarefa, Zoe explora a grande região em uma aventura 2D de plataforma. A ação se passa em um imenso mapa com salas interconectadas e muitos locais só podem ser acessados após adquirir habilidades específicas, como é de praxe em metroidvanias. Alwa’s Legacy é uma continuação de Alwa’s Awakening, no entanto não é necessário ter jogado o título anterior para aproveitá-lo, pois sua história é independente. Na verdade, a trama é subdesenvolvida e praticamente inexistente: ela é, basicamente, uma desculpa para desbravar o reino.


Alwa’s Legacy se concentra principalmente em puzzles, mas há também um pouco de combate e plataforma. Para explorar o mundo, Zoe conta com três feitiços muito úteis. O primeiro deles permite criar um bloco para ativar botões ou bloquear perigos. O segundo conjura uma bolha flutuante para alcançar locais altos. Já o terceiro lança um relâmpago para acertar dispositivos distantes e inimigos. O jogo nos desafia constantemente a usar os três poderes para prosseguir e existem alguns outros feitiços passivos de efeitos diversos.

A progressão da aventura é livre e não linear. O foco nos três feitiços básicos, que são adquiridos logo no começo da jornada, possibilita essa abordagem, pois boa parte dos desafios e obstáculos exige somente o uso deles. Por meio de orbes mágicos, as técnicas básicas podem ser alteradas, o que expande as possibilidades de exploração e resolução de enigmas. Alguns pontos só podem ser atravessados com poderes ou itens específicos, mas na maior parte do tempo é possível ir para quase qualquer lugar.


Nostalgia permeia a atmosfera de Alwa’s Legacy com seus gráficos em pixel art e música com elementos de chiptune. Enquanto o jogo anterior, Alwa’s Awakening, remetia aos sistemas 8-bits, a sequência “evolui” para os 16-bits com elementos grandes, coloridos e iluminação detalhada, mas de paleta de cores deliberadamente limitada. O resultado é um mundo bonito e agradável com ares retrô, por mais que, visualmente, ele careça de identidade.

Se perdendo em um reino elaborado e convidativo

A mistura de exploração, plataforma, ação e puzzle me encantou no meu tempo em Alwa’s Legacy. O título sabe dosar muito bem os diferentes tipos de desafio e a variedade de situações é boa. Em um trecho, a dificuldade é pular por várias estruturas enquanto evitamos inimigos. Em outro, precisamos usar blocos e bolhas para ativar botões espalhados pela sala. Já outra parte exige uso rápido e preciso das habilidades para evitar perigos. A dificuldade é moderada e morri mais de uma centena de vezes na aventura, no entanto a presença de pontos de salvamento é generosa, o que minimiza a frustração da derrota.

Desbravar o mundo de Alwa é o meu ponto favorito do jogo. Os cenários contam com vários trechos que, em um primeiro momento, parecem inacessíveis. Porém, basta um pouco de insistência e criatividade para alcançar esses locais distantes — às vezes é necessário usar uma combinação de blocos e bolhas para subir em obstáculos, outras vezes a solução é uma rota alternativa. É notável a presença de diferentes abordagens na hora de resolver os desafios, e as melhorias dos feitiços oferecem novas possibilidades. Em contrapartida, senti um pouco de falta de maior variedade de habilidades para a protagonista.


Apreciei também a liberdade de progressão no jogo. Fora o trecho inicial, podemos explorar livremente boa parte dos locais do reino, e essa atividade é incentivada com a presença de segredos espalhados pelos cenários. Muitos poderes e melhorias, inclusive, são completamente opcionais e terminei a história sem obter tudo — vários colecionáveis eu não tinha nem ideia de como alcançar. O título conta também com dois recursos de assistência que podem tornar a aventura mais tranquila: marcação de itens importantes no mapa e opção para reviver na mesma sala no lugar de nos pontos de salvamento.

É interessante ter um mapa extenso para desbravar, porém ir de um lugar até outro pode ser um pouco custoso por causa da distância e obstáculos pelo meio do caminho. Morrer, nas configurações padrões, evidenciam isso, afinal a feiticeira é transportada para o último ponto de salvamento ao ser derrotada. Há um sistema de teletransporte entre os checkpoints, contudo ele depende de itens opcionais para ser ativado. Por causa disso, o ritmo no início é prejudicado, afinal mal temos os colecionáveis necessários para habilitar o recurso. Por sorte isso muda em partes mais avançadas da jornada, mas não deixa de incomodar.


A estrutura não linear também traz alguns problemas à experiência. Muitas vezes é difícil saber como alcançar o próximo objetivo, pois as dicas dadas pelos NPCs são bem vagas e o mapa é bem simples. Além disso, alguns puzzles têm solução obtusa e muitos deles não têm indicação clara de que são importantes — em um ponto da aventura fiquei minutos rodando pelo mundo tentando entrar em um calabouço, pois deixei de fazer um enigma distante obrigatório que parecia ser opcional. Depois de algumas horas de jogo eu me adaptei e consegui superar estes detalhes, mas acredito que o título se beneficiaria de maior clareza nestes aspectos.


Uma boa aventura retrô

Alwa’s Legacy é um metroidvania suave e com muitos momentos criativos. É empolgante explorar o reino de Alwa por causa da progressão não linear, da diversidade de momentos, dos vários puzzles interessantes e do mapa repleto de segredos. Além disso, o jogo conta com uma atmosfera agradável inspirada em clássicos da era 16-bits com seu visual em pixel art e música com elementos de chiptune. A estrutura mais livre permite que o jogador dite o ritmo da aventura, no entanto às vezes é fácil ficar perdido ou preso em algum ponto mais complicado. No fim, a combinação de todos estes elementos faz com que Alwa’s Legacy seja um ótimo título de plataforma 2D e uma experiência bem divertida.

Prós

  • Mundo extenso e repleto de segredos com progressão não linear;
  • Muitos puzzles que usam de forma inteligente as habilidades da heroína;
  • Ambientação 16-bits charmosa com visual em pixel art e música com elementos de chiptune.

Contras

  • Às vezes os próximos objetivos não são muito claros;
  • Certos puzzles têm solução confusa;
  • Ritmo lento no início da aventura.
Alwa’s Legacy — PC — Nota: 8.0
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Elden Pixels

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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