Análise: Gears Tactics (PC/XBO) mantém a essência da série ao trazer um novo tipo de experiência para a franquia

Adaptando elementos oriundos da série principal, a versão tática de Gears consegue simplificar o gênero e agradar seus fãs.

em 08/05/2020

Quando Gears Tactics foi anunciado na E3 2018, eu não fiquei empolgado e ansioso para poder colocar as mãos no título, pois não é o tipo de jogo que eu costumo me aventurar, o gameplay proposto na série principal faz mais o meu estilo. Mas ao jogar a versão tática da série Gears eu pude finalmente experimentar algo do gênero e ser surpreendido em como as engrenagens que movimentam o gameplay estão bem encaixadas.

Direto ao ponto

A história do jogo é bem simples. Ela se passa anos antes do primeiro Gears of War, e o nosso protagonista é Gabe Diaz, pai da personagem Kait de Gears of War 4 e Gears 5. Junto a outros combatentes, iremos acompanhar a jornada de Gabe para derrotar o vilão Ukkon, um geneticista que construiu uma fábrica para a criação de novos tipos de locusts.

Apesar de simples e não se aprofundar em grandes temas, aqui temos uma narrativa que é conduzida com um ótimo ritmo. Por meio de cutscenes, que tem boas animações e um trabalho de câmera que não deve nada a produções de cinema, o roteiro avança sem pressa dando o tempo necessário para seu desenvolvimento, e faz isso sem criar momentos arrastados e desinteressantes.



Sem que o roteiro traga reviravoltas ou leve a trama para lugares inesperados, o que sustenta esse bom ritmo são os personagens. A interação entre o grupo principal é orgânica, as motivações que cada um apresenta são bastante críveis, e eles são construídos de forma coerente com suas respectivas personalidades tomando atitudes que não entram em conflito com seus discursos.

Um elemento que eu senti falta de poder ver mais foi o dia a dia do acampamento. Durante o jogo, um dos objetivos de Gabe é juntar e treinar novos soldados para reforçarem a batalha contra Ukkon. Mesmo isso sendo algo muito importante, temos apenas duas cenas que retratam essa parte. Seria bem interessante poder ver mais das pessoas que nos acompanham em cada uma das missões, elas aparecem apenas como coadjuvantes sem falas em algumas das cutscenes.


Sem perder a essência

Gears Tactics é do gênero de estratégia por turnos e o gameplay apresentado aqui se assemelha aos jogos da série XCOM, em que a cada turno o jogador deve dar ordens para os personagens que formam o esquadrão a fim de completar os objetivos definidos em cada uma das missões. 

Ao iniciar uma missão, a primeira coisa a ser feita é montar o grupo que será enviado para o campo de batalha, obedecendo às restrições impostas. Dependendo da fase até quatro gears podem ser enviados, e é de suma importância montar uma equipe balanceada, pois aqui os personagens são divididos em classes. Ao todo são cinco papéis diferentes, sniper, vanguarda, batedor, peso-pesado e suporte. 



Neste ponto entra o aspecto RPG do título, pois precisamos evoluir o nível dos personagens e distribuir seus pontos em árvores de habilidades para desbloquear novas skills. Não é possível construir novos equipamentos, no entanto é possível customizá-los com novas peças de efeitos variados. Já as armaduras podem ser trocadas livremente. De início temos uma boa variedade de opções para customizar, mas não demora para que esse sistema perca robustez e passe a ter itens repetidos diferenciados apenas por seus atributos e uma classificação com relação a sua raridade, o que mais para o fim do jogo torna essa parte pouco interessante.



Já dentro do campo de batalha, ao início de um turno cada personagem tem uma quantidade limitada de pontos de ação disponíveis para gastar. Cada vez que ele ataca, se movimenta ou usa uma habilidade, esses pontos são consumidos e cabe ao jogador gerenciar o uso dessas ações para poder derrotar os inimigos e prosseguir para os pontos de interesse no mapa. 

O jogo oferece uma boa variedade de ações, que vão desde o básico até adaptações de mecânicas vistas na série principal, como o uso da motosserra para dilacerar um inimigo e ganhar sua posição. O uso desses elementos cumpre o papel de ajudar a manter a essência brutal, além de trazer uma sensação de familiaridade para aqueles que já se aventuraram nas batalhas contra os locusts em outro títulos. Por vezes parece que estamos jogando um tps em que temos tempo para planejar o próximo passo.



Um elemento que torna esse título uma boa pedida para quem nunca experimentou outro do gênero é a agilidade com que os combates acontecem. Por meio de mecânicas como a execução de inimigos abatidos, a qual recupera pontos de ações, é possível encaixar combos em que vários inimigos são eliminados em um mesmo turno. E isso somado a mapas pequenos, que incentivam o combate o tempo todo, e o turno dos inimigos se desenrolar de forma rápida, faz com que as missões não sejam longas e que a tensão para realizar o movimento certo esteja presente em boa parte da partida.

E falando em inimigos, aqui temos uma boa variedade. Assim como os nossos soldados, eles são divididos em classes e ao longo de toda a aventura somos apresentados aos poucos a diversas variações, que vão criando novas dificuldades e principalmente tirando o jogador da zona de conforto de forma gradual e forçando a adaptação aos novos desafios, seja ter que lidar com o tiro certeiro dos snipers ou eliminar rapidamente um boomer para pegar seu lança granadas e usar contra tropas inimigas.

Durante a campanha, além dos inimigos comuns vamos enfrentar chefes que oferecerão os maiores desafios de toda a jornada, que por si só já oferece um bom nível de dificuldade mesmo jogando no normal. Esses embates criam bons momentos de variação, pois trazem consigo mecânicas próprias que forçam a mudança na forma de lidar com o combate.



Se até agora tudo parecia caminhar para direção correta, o jogo perde um pouco a mão com relação a sua estrutura de missões. Gears Tactics é dividido em três atos e esses, por sua vez, são compostos por capítulos que possuem uma missão da história cada. O problema começa quando são inseridas as missões paralelas que, apesar do nome, são obrigatórias para prosseguir com a campanha. Essa fases repetem muitos cenários, não adicionam nada à narrativa, e a impressão que passa é que estão lá apenas para inchar artificialmente o tempo de jogatina.

Ao terminar a aventura principal, que leva cerca de 21 horas para ser concluída, o jogo libera mais algumas fases ao estilo das missões paralelas nas quais é possível adquirir novos equipamentos e continuar evoluindo os personagens. Não tendo outros modos, o fator replay fica todo condensado em elevar ao máximo o nível dos heróis.



Artisticamente belo, tecnicamente feio

Sendo lançado após Gears 5, talvez a expectativa para a parte gráfica tenha ficado alta e por mais que artisticamente o jogo entregue um bom resultado, existem algumas limitações técnicas que são visíveis e deixam claro que esse é um jogo de menor escopo.

Visualmente o título em um primeiro momento impressiona com suas belas cutscenes, permeadas de boas animações e com bons efeitos de iluminação. Enquanto estamos assistindo aos diálogos, dificilmente vamos notar algum problema técnico, o bom trabalho de câmera ajuda focando no que o título tem de mais detalhado, que são os personagens.



Detalhados também são os cenários em que as batalhas tomam forma. Variando de cidades urbanas destruídas a localidades desérticas desoladas, cada ambiente é composto por uma variedade de elementos, como veículos, muitas construções e variações de relevos, que cumprem o papel de criar mapas que sempre são interessantes de explorar e observar.

Os problemas técnicos infelizmente não são imperceptíveis: texturas em baixa resolução e o carregamento demorado delas incomodam bastante. Outro detalhe que não passa batido é a baixa qualidade dos efeitos visuais, principalmente o de fogo e fumaça, que não convencem. Talvez pelo fato de ter um gameplay em que a maior parte do tempo a visão está distante dos elementos, isso não tenha sido uma prioridade no desenvolvimento, mas se mostram visíveis em momentos que a câmera muda de ângulo e se aproxima da ação.



No áudio temos um bom trabalho na trilha na sonora que segue a linha que já vinha sendo apresentada pela série principal com temas intensos e pesados que marcam o ambiente de guerra. Os bons efeitos sonoros também têm sua parcela de contribuição, que apesar de ser quase uma obrigação, não deixa de merecer um destaque todo o trabalho realizado com sons dos tiros das armas, dos locusts morrendo e das pequenas falas que temos durante os combates.

E nós brasileiros fomos agraciados com uma ótima dublagem que em vários momentos, adapta seu texto para funcionar melhor em nosso contexto. Não deixando de enaltecer o bom trabalho dos dubladores que encarnaram bem seus personagens, inclusive os secundários, o que mais chama atenção é a adaptação, que conta com  várias frases do nosso cotidiano, memes, e expressões locais bem inseridas.


As engrenagens de vez em quando param

Algo que eu não poderia passar batido é sobre os problemas que enfrentei ao jogar o título. Sendo breve, eu utilizei a versão que está disponível no serviço Xbox Game Pass e um computador equipado com uma RTX 2060, Ryzen 5 1600 e 16 GB de Ram. Com relação a performance, tudo rodou de forma tranquila no presset alto e não experimentei nenhum engasgo, sempre mantendo uma boa taxa de quadros.

O que realmente se tornou um problema foram as vezes que o jogo travou e simplesmente fechou. Isso acontecia durante os loadings da tela inicial ou antes de ir para uma missão. Não que isso tenha tido um impacto muito negativo na minha experiência, mas é algo importante a ser relatado.


Junte-se aos Gears na luta contra Ukkon

Gears Tactics é com certeza uma boa experiência da série em um gênero novo. Adaptando elementos e tendo uma abordagem mais direta e simples, fãs da franquia, mesmo aqueles que não tem experiência com esse tipo de jogo, podem ir tranquilos que irão encontrar mais um bom Gears que mantêm a essência e ainda terão a chance se apaixonar por um gênero e por uma história bem contada.

Prós

  • Combates direto e simples para jogadores iniciantes;
  • Boas lutas contra chefes que ajudam a dar variedade a jornada;
  • Boa adaptação de mecânicas vistas na série principal;
  • Roteiro simples mas que possui um ótimo ritmo;

Contras

  • O jogo fecha sozinho as vezes;
  • Gráficos apresentam texturas de baixa resolução e efeitos visuais fracos;
  • As missões paralelas são chatas e inflam artificialmente o tamanho do jogo.

Gears Tactics — PC/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator



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