Análise: Virgo Versus the Zodiac (PC), confrontando os signos do zodíaco em um charmoso RPG

Acompanhe uma anti-heroína em uma jornada com ótimas mecânicas e ambientação criativa.

em 18/03/2020

Em um universo alternativo, personificações dos signos do Zodíaco criaram reinos pelo cosmo, mas uma dessas entidades não aguenta mais a organização atual da galáxia e decide mudar tudo com as próprias mãos. Em Virgo Versus the Zodiac controlamos a representação do signo de Virgem em uma aventura moralmente dúbia. O jogo para PC produzido pelo estúdio brasileiro Moonana é um RPG que se destaca com temática ímpar, personagens carismáticos e sistema de batalha elaborado e variado. A mescla conceitos clássicos e modernos, com inspirações em Mario & Luigi e Mother, resulta em uma experiência empolgante.

Uma odisseia para trazer de volta a Era Dourada

Em algum momento no passado, a organização da Via Láctea mudou e cada um dos signos do Zodíaco passou a ter seu reino individual. Em seus domínios, as entidades governam como bem entendem, alguns com benevolência, outros com tirania. Normalmente um Zodíaco não interfere no reino do outro, porém Virgo é uma exceção. A Zodíaco de Virgem, que se autointitula “A Rainha Sagrada”, está cansada da desordem promovida pelos “hereges” e decide trazer de volta a “Era Dourada”, um tempo antigo regido pelo equilíbrio. Para isso, ela precisa da coroa de cada um dos doze signos do Zodíaco, item que simboliza a soberania e poder das entidades superiores. Com a ajuda de três aliados inusitados, Virgo parte em uma jornada pelos reinos cósmicos para alcançar o seu objetivo, sempre deixando um rastro de destruição e confusão pelo caminho.


Mecanicamente, Virgo Versus the Zodiac funciona como um RPG clássico. Controlando Virgo e seus aliados, visitamos os diferentes reinos do Zodíaco em momentos de exploração e combates. A progressão é bem linear e não é possível voltar para as áreas já completadas, no entanto há muito o que fazer em cada trecho: missões opcionais para concluir, personagens para conhecer, equipamentos para construir e mais. Pelo caminho aparecem alguns puzzles e partes que exigem saltar por plataformas, mas nenhuma dessas atividades são muito complexas. O foco do jogo é sobre descobrir qual é o próximo lugar que precisamos ir para avançar na aventura, e há tanto para ver em cada reino que fiz questão de explorar todos os cantos.

Algumas opções estão disponíveis em uma área que só pode ser acessada entre os capítulos da história. Nesse local central há várias atividades opcionais, como a possibilidade de construir ou melhorar equipamentos, um buraco negro repleto de inimigos para ganhar itens e experiência, lojas e mais. Uma construção do hub permite ver memórias de Virgo, o que ajuda a entender como ela decidiu sair nesta jornada e como era a relação dela com os outros Zodíacos. Por fim, é possível participar de um minigame shoot ‘em up ao ir para o próximo destino — ele é tão bem produzido que parece um jogo próprio.


Virgo Versus the Zodiac conta com diferentes finais de acordo com as escolhas feitas durante a jornada. Algumas decisões importantes afetam um pouco os rumos da história, mas até mesmo questões banais de NPCs afetam as possibilidades de finais. As escolhas são indicadas por cores, o que facilita controlar o fechamento desejado. Infelizmente o título não oferece a opção New Game+, o que dificulta um pouco jogar novamente para ver os outros finais.

Um combate de estratégia, experimentação e destreza

Quando um herege agressivo aparece no caminho de Virgo, a única solução é batalhar. O combate de Virgo Versus the Zodiac é por turnos, mas ataques e movimentos de defesa exigem comandos, como apertar um botão na hora certa ou executar uma sequência de direções, para serem executados com o poder total. Além desse diferencial, várias outras nuances e mecânicas trazem camadas de complexidade ao combate.


Ataque e defesa são regidos pelo Zodiac Quality System, que funciona como um triângulo de fraquezas. Cada equipamento conta com uma “qualidade” específica relacionada a uma cor: roxo (“Cardinal”) tem vantagem sobre verde, verde (“Mutable”) vence vermelho, e vermelho (“Fixed”) sobrepuja roxo. Durante o combate, é possível identificar o tipo de dano e defesa por meio da cor das armas e das roupas dos personagens. Aproveitar desse sistema é essencial, pois a diferença de dano é notável. Fora isso, algumas técnicas exigem alguns turnos de descanso para serem utilizadas novamente.

Outro recurso importante é o contra-ataque. Por meio de movimentos específicos, os personagens podem aumentar a sua Pureza (“Purity”), que dá pontos de defesa temporários. Caso um herói ou inimigo com pontos de Pureza seja atacado, ele pode executar um turno extra de contra-ataque, que é capaz de mudar dramaticamente os rumos da batalha. O posicionamento também precisa ser levado em conta: ataques diretos movem o herói para a primeira posição, o que o torna alvo prioritário para os oponentes. Técnicas de defesa permitem movimentar o personagem para espaços afastados.


A customização dos heróis é feita por meio de equipamentos. Cada arma ou vestimenta provê técnicas diferentes, além de também alterar os atributos do personagem. Por causa dos ataques tão distintos, raramente é simples escolher um equipamento: é importante balancear seus prós e contras, assim como a cor da técnica. No meu tempo de jogo, por exemplo, fiquei um bom tempo usando um item cujo ataque deixava todos os inimigos atordoados por um turno, mesmo ele sendo mais fraco, pois seu efeito extra compensava suas deficiências. A variedade de técnicas e efeitos é grande, e parte da diversão é montar o melhor conjunto.

Tantas nuances tornam empolgante o combate de Virgo Versus the Zodiac, pois ele combina estratégia, posicionamento, observação do equipamento dos inimigos e um pouco de destreza na hora de apertar os botões. Para vencer é essencial saber balancear os momentos de atacar e defender, sendo que o tempo de descanso das técnicas também precisa ser levado em conta. Os pontos de defesa temporários criam situações em que, às vezes, é melhor passar um turno ao invés de acertar um inimigo e ativar seu contra-ataque. A diversidade de inimigos nos força a mudar de estratégia constantemente, e os chefes contam com batalhas elaboradas com múltiplos estágios.


Mas alguns detalhes atrapalham a experiência. Nem sempre é fácil determinar com clareza a cor das armas e roupas dos oponentes por causa da mistura de tons, o que atrapalha explorar o triângulo de fraquezas. Os comandos do combate aparecem de surpresa e às vezes não há tempo hábil para reagir, o que pode fazer uma diferença imensa no andamento do embate, e isso seria facilmente resolvido com a exibição prévia do tipo de comando. Por fim, ao ser derrotado, só é possível tentar de novo ou recomeçar do último ponto salvo, acredito que uma opção para alterar o equipamento e tentar novamente tornaria as coisas mais ágeis. A dificuldade nas configurações padrão é de moderada para alta, e, felizmente, existem opções para facilitar ou complicar os combates — recomendo usar o tempo de execução de comando mais lento, ao menos no começo.

É bem interessante que a mitologia do jogo faça parte integral da ambientação como o uso de termos exclusivos. No entanto, nomes confusos de atributos dificultam um pouco escolher os equipamentos com clareza. O título usa nomes como mutável, fixo e pureza no lugar dos tradicionais ataque, magia e defesa, e por causa disso muitas vezes eu encontrava um item novo e não conseguia saber muito bem se ele era melhor ou não. Por fim, o inventário podia ter mais recursos, como opções de ordenar ou filtrar os equipamentos.


A diversidade e criatividade dos reinos do Zodíaco

Virgo Versus the Zodiac é um RPG com temática que foge de temas batidos com sua representação curiosa de um universo governado por personificações dos signos do Zodíaco, sendo que cada reino é único e explora alguma ideia diferente. Capricórnio criou uma imensa empresa capitalista repleta de bodes workaholics e trabalho moralmente pesado. Touro rege uma floresta mística que tem como principal atração um festival de doces com direito a sacrifícios. Câncer preferiu dirigir a prisão galáctica em uma sociedade distópica vigiada por 24h. Já Aquário virou uma pirata, sempre causando problemas pelos reinos. Gostei bastante de ver as criativas interpretações dos signos do Zodíaco e de seus reinos, que fazem referências às características clássicas de cada um deles.

Além da ótima ambientação, o jogo conta com um elenco variado e cativante de personagens. Virgo é uma anti-heroína que, na maior parte do tempo, é irônica, nervosa e bruta, no entanto há momentos em que os seus sentimentos escondidos vêm à tona na forma de benevolência e compreensão. A feiticeira Adol é rodeada de mistérios, porém ela diverte com suas atitudes sem noção. Já o jovem Spica demonstra constantemente sua devoção à Virgo, constantemente exagerando nos floreios. O biscoitinho de gengibre Ginger funciona como mascote e constantemente faz comentários bem humorados. A relação dos protagonistas é conflituosa, exagerada e repleta de momentos divertidos e dramáticos. Os outros Zodíacos também apresentam personalidades marcantes, mesmo que um pouco unilaterais.


A construção da ambientação é complementada com os diálogos excelentes. Cada um dos personagens apresenta maneirismos distintos na hora de falar, e o bom humor é uma constante no universo do jogo. Até mesmo itens do cenário contam com descrições divertidas ou comentários ácidos de Virgo, o que me incentivou a explorar todos os cantos. Já a trama é repleta de situações absurdas, malucas e imprevisíveis, por mais que ela comece bem confusa. Algumas ações dos protagonistas podem não parecer moralmente corretas, e há momentos que até mesmo a supostamente insensível Virgo se arrepende de algumas atitudes, mas é tudo tão carismático que eu acabei torcendo para o sucesso da Zodíaco implacável.

O visual em pixel art é agradável e remete a títulos do final da era 8 bits, só que um pouco mais elaborado. Destaco os combates, pois neles os heróis e oponentes contam com animações estilosas e detalhadas, sendo que cada arma apresenta movimentos distintos. A variedade e de inimigos é boa e com conceitos muito criativos: uma cabra executiva de terno que ataca com sua maleta e fica mais agressiva depois de tomar café, alpacas místicas lançadoras de feitiços, um ovni com uma vaca presa em um raio de atração, bois violinistas e muito mais. A trilha sonora conta com música que mistura instrumentos tradicionais, como piano e cordas, com elementos eletrônicos, trazendo um ar simultaneamente etéreo e moderno ao jogo em composições belas e marcantes.


Um RPG notável e cativante

Virgo Versus the Zodiac se destaca com suas ideias diferentes e diversas mecânicas interessantes. A jornada da anti-heroína Virgo é repleta de personagens e momentos inusitados com texto bem humorado em um universo bem pensado. O combate por turnos, que mescla elementos de estratégia e tempo real, é bastante divertido e desafiador. A ambientação é outro ponto forte com interpretações únicas de símbolos do Zodíaco, visual charmoso em pixel art e música excepcional. Alguns pequenos detalhes incomodam, como o uso de termos confusos, mas, felizmente, podem ser perfeitamente contornados. No fim, Virgo Versus the Zodiac se mostra um RPG criativo e uma ótima experiência.

Prós

  • Ambientação marcante que conta com interpretação criativa dos símbolos do Zodíaco;
  • Personagens interessantes e texto divertido;
  • Sistema de combate complexo e repleto de mecânicas únicas;
  • Ótima trilha sonora, que mistura instrumentos tradicionais e elementos eletrônicos.

Contras

  • Alguns conceitos e termos são desnecessariamente confusos;
  • Pequenos problemas no inventário.
Virgo Versus the Zodiac — PC — Nota: 9.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela Degica Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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