Análise: Tropico 6: The Llama of Wall Street (PC) fica em déficit após tanta especulação econômica

É um pouco complicado fazer um review de algo que não oferece quase nada para ser analisado.

em 16/02/2020
Há aproximadamente um ano, quando analisei Tropico 6 (Multi), escrevi que “o novo jogo da franquia de paródia política da Kalypso não inova ou sequer traz alguma novidade substancial à série”. Isso acontece porque as supostas inovações anunciadas para esse sexto título, naquele momento, eram mecânicas que já estavam presentes na quinta edição do game, embora se tratassem de adicionais que vieram via DLC e foram implementadas na versão base desta sexta.


Obviamente, essa maracutaia — alguns até chamariam de fraude — não torna Tropico 6 automaticamente ruim, mas o jogador veterano da franquia acaba se sentindo enganado, visto que o fascínio que a IP pode proporcionar acaba sendo direcionado basicamente a um não-iniciado. Os fãs fiéis, por sua vez, acabam sendo escanteados nesse aspecto por terem a impressão constante que estavam jogando Tropico 5 (Multi) novamente.

Pois bem, chegou a hora de recebermos o primeiro DLC para a mais recente iteração do simulador de ditador tropical da Kalypso. Intitulado “The Llama of Wall Street”, todas as novas mecânicas básicas que ele traz se relacionam às práticas possíveis de mercado para o nosso pequeno paraíso caribenho. Na prática, não passa de uma simples expansão do sistema de importação e exportação.


Abrindo a economia para novos mercados

Uma das principais formas de arrecadação em Tropico sempre foi a possibilidade de exportação de matéria prima — como leite, algodão, cacau, ouro, carvão e outros produtos de origem natural — ou de seus derivados — queijo, chocolate, joalheria, etc. Considerando as especializações que eram possíveis de se desenvolver em nossas próprias ilhas, podíamos simplesmente exportá-las ou definir uma rota comercial.

As alianças mercantis que podiam ser estabelecidas com outras nações eram geralmente fixas e previsíveis. Com o DLC, essa mecânica agora é suscetível a variações de preço e disponibilidade. De tempos em tempos, algumas commodities ficam em alta e outras ficam em baixa. Variar a produção, então, torna-se indispensável para conseguir lidar com esse sistema.



Levando, então, a flutuação dos preços em conta, outra adição implementada durante esse ano que o jogo tem de mercado é o prédio de depósito. Nele, é possível estocar nossos bens em vez de direcioná-los para o consumo interno ou para o mercado externo. Dessa forma, cabe ao jogador decidir qual é o melhor momento para vender as próprias reservas.

A questão é que, como toda nação corrupta de economia controlada, nós temos a capacidade de mudar as marés dos preços das commodities a nosso favor. Para isso, é necessário construir o Trade Institute, que serve justamente para manejar os preços das exportações em troca dos pontos de conhecimento acumulado pelas universidades e bibliotecas. Assim, pode-se aumentar ou diminuir a tendência das commodities de forma parcialmente aleatória — são sempre oferecidos três grupos com três itens diferentes, e é necessário selecionar um deles para que a intervenção faça efeito.

Mais conteúdo, mas nem tanto

Além desse upgrade nas mecânicas centrais da economia de importação e exportação, outras poucas novidades foram implementadas. Fazendo companhia ao inédito Trade Institute, dois novos prédios industriais agora dão as caras: é possível criar brinquedos com o Toy Workshop e mobília com o Smart Furniture Studio. Apesar de serem um extra interessante para trazer mais opções de processamento da matéria-prima, eles não trazem nada de realmente diferente em sua jogabilidade.



O principal atrativo desse DLC, contudo, é o cenário exclusivo. Começando no período das grandes guerras, é necessário completar uma série de missões até chegarmos ao período moderno. Embora esse mapa leve algum tempo para ser completado, é notável que ele se trata de uma mini-campanha inchada, uma vez que a maioria das tarefas exigidas não passa de um tutorial disfarçado para as novas mecânicas e, se o jogador não cometer loucuras, ele logo chega ao fim sem encarar qualquer desafio — a maioria das quests envolve apenas acumular números consideráveis de matéria-prima exportada ou estocada nos depósitos.

Em tempo: há um edital que pode ser ativado para implementar uma política de renda mínima e que colabora na melhoria da felicidade e da situação financeira dos nossos cidadãos. Ademais, há também um novo mapa e mais algumas opções de personalização para El Presidente.


Uma verdadeira pedalada

Sabe, não há muito o que dizer de The Llama of Wall Street. As novas mecânicas chamam a atenção, mas podem passar completamente despercebidas para qualquer jogador levemente distraído, visto que não existe nenhum alarde dentro do próprio game a respeito do pouco conteúdo implementado.

O mercado flutuante e a possibilidade de intervir na economia de uma maneira keynesiana são boas ideias que, ao serem integradas, parecem que sempre estiveram lá. O problema é que elas trazem o tipo de mecânica que claramente poderia ter entrado na versão básica do título ou sido oferecida de maneira inteiramente gratuita. É muita pouca coisa para ser considerada um “pacote” de DLC.

Prós

  • Novas mecânicas inseridas de forma tão natural parecem ter estado sempre lá.

Contras

  • Mecânicas que realmente deveriam ter estado sempre lá;
  • Pouquíssimo conteúdo para um pacote de DLC completo.
Tropico 6: The Llama of Wall Street — PC/PS4/XBO — Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa.
Análise realizada com cópia digital cedida pela Kalypso Media.

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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