Análise: Azur Lane: Crosswave (PC/PS4) é bem bonito, mas é repetitivo demais

Fundir garotas com navios de guerra pareceu interessante, mas o gameplay repetitivo fez o jogo morrer na praia.

em 20/02/2020
Uma das coisas que mais gosto em um anime ou mangá é que a única coisa que limita a criatividade do autor é a sua imaginação. As ideias podem parecer tão absurdas e inimagináveis que um roteiro bem escrito faz com que aceitemos aquilo como a coisa mais normal, ou mais legal, que já criaram para assistirmos ou lermos. E este jogo propõe justamente mais uma das coisas que só poderiam vir do nosso querido Japão.




Azur Lane: Crosswave traz seres que posso descrever como “garotas-navio”, com nomes e atributos livremente baseados em famosas embarcações militares do Japão, Estados Unidos e Europa, principalmente da época da Primeira Guerra Mundial. O título é uma evolução de Azur Lane, originalmente lançado para Android e iOS em 2017 e disponível gratuitamente para estes sistemas. Em Azur Lane: Crosswave, as batalhas das “garotas-navio” deixam de lado o side-scrolling e mergulham em batalhas num ambiente totalmente 3D.

As quatro grandes nações

O mundo é um belo lugar coberto por um vasto oceano azul e graças à cooperação de quatro grandes nações (Eagle Union, Royal Navy, Iron Blood e Sakura Empire) a paz é predominante. As Kansen são garotas dotadas de poderes especiais que lhes dão características de navios militares e são as defensoras de suas nações, cooperando entre si para manter a ordem mundial. Uma nova ameaça chamada de Sirens se revela e o inimigo em comum faz com que as nações juntem forças para se fortalecer, conhecer e combater o que pode acabar com este longo período de paz.

As nações se juntam para realizar uma série de exercícios militares para preparar suas recrutas contra o novo inimigo, nos bombardeando de personagens entrando a todo momento durante o jogo. Shimakase e Suruga são membros do Sakura Empire e protagonistas de nossa aventura que vai nos apresentar a muitas outras Kansen detentoras de personalidades radiantes e únicas, mas com a mesma vontade de lutar e defender seu mundo contra a ameaça das Sirens.

Navegando em águas turbulentas

Azur Lane: Crosswave possui três modos de jogo: história, extreme battle e um modo de episódios. Na história, acompanhamos Shimakase e Suruga durante os exercícios militares e somos constantemente apresentados a novos personagens a cada minuto de conversa, que são muitos. Para cada dez minutos de conversa, passamos cerca de um minuto jogando em batalhas muito rápidas e sempre com os mesmos objetivos que, por sinal, são os mesmos em todos os modos de jogo: abater aeronaves, destruir alvos, ou ambos. E isso não muda em nada no decorrer do jogo.

A história tem alguns momentos engraçadinhos, mas no geral é desinteressante e com um excesso de personagens que mais atrapalha do que ajuda no enredo. Este modo tem a maior parte do tempo investido nas cutscenes. Durante minha sessão de jogo para fazer esta análise, eu simplesmente dei skip em todas as cutscenes de dois dos sete capítulos do jogo e no fim das contas não percebi nenhuma evolução significativa na narrativa. Com dez linhas de diálogo eu já estava novamente por dentro do que estava acontecendo ali, que era praticamente a mesma coisa de dois capítulos anteriores.

Neste modo, controlamos nosso avatar em um mapa onde há pontos de interação representados por avatares das outras Kansen onde acionamos eventos de história, de batalhas principais e secundárias. Também há caixas de itens para coletar peças de equipamentos para as garotas e fabricação de armamentos mais poderosos.

Em questão de jogabilidade, esta já se mostra como a mais interessante no jogo. Os combates são realizados em um ambiente 3D, semelhante a uma arena em alto-mar, onde montamos nossa equipe de Kansen para combater embarcações inimigas, bombardeiros, recrutas e oficiais de outras nações durante os exercícios militares. Com o analógico esquerdo controlamos o movimento e, com o esquerdo, uma mira semi automática que pode ser desativada mas não recomendo.

Cada Kansen pode ser equipada com até duas armas principais e contam com uma habilidade de classe, que pode ser um boost de ataque, defesa ou velocidade, além de um efeito secundário, dependendo da personagem. Por exemplo: a habilidade de Shimakase é um boost de ataque, por ser uma Destroyer, mas ela estende essa habilidade às aliadas quando ativada. Elas também possuem um ataque especial, chamado de Lock-On, que desfere um ataque que causa dano a todos os inimigos no campo de mira. Todas as ações possuem um tempo de cooldown para serem utilizadas, podendo ser reduzido com uso de equipamentos e aprimoramentos.

Como recompensa pelas batalhas, recebemos pontos de experiência que favorecem todas as personagens já adquiridas pelo jogador, dinheiro para usar na loja, equipamentos ou peças destes para fabricar novos, e A Points, usados para comprar novas Kansen, que são divididas em classes que determinam seus principais atributos:
  • Destroyer: São as mais velozes. Possuem o maior dano de torpedos e com a menor defesa. Fracas contra fogo normal.
  • Light Cruiser: São uma classe intermediária aos Destroyers e Heavy Cruisers. Eficazes contra aeronaves. Fracas contra fogo normal.
  • Heavy Cruiser: São menos rápidas e sua barra de ataque Lock-On é carregada mais rapidamente que a das outras classes.
  • Battleship. São as mais poderosas. Conseguem aguentar mais dano que as demais classes. Suas armas possuem uma cadência baixa e possuem uma habilidade de movimento que cria um escudo temporário. São resistentes a fogo normal e mais vulneráveis a torpedos.
  • Aircraft Carriers. São as porta-aviões. Lançam aeronaves que atacam automaticamente os inimigos em seu raio de ação. São eficientes contra todas as classes, mas os aviões podem ser abatidos, cessando o ataque.
É possível montar frotas com até seis integrantes, sendo três principais, jogáveis, e outros três para suporte, não jogáveis, que oferecem algum tipo de atributo especial. Além disso, a composição da frota também influencia nos bônus que serão ativados na batalha. Frotas compostas por personagens de uma mesma facção, que usam lacinhos na cabeça, ou que tenham algum grau de afinidade, são alguns dos vários critérios que definem os bônus que serão ativados.
Frota principal (Rosa); Frota de suporte (Azul); Efeitos de frota (Amarelo)
A aquisição das Kansen tem um ponto que me incomodou muito que foi a impossibilidade de ver quais suas habilidades antes de adquiri-las com os A Points. A única informação disponível é a classe delas. Não é possível ver, por exemplo, se a habilidade especial dela favorece apenas a personagem ou os outros membros da frota. Não que seja difícil juntar pontos para adquirir todas, mas o jogo não me permite ver os atributos delas antes de comprar, o que transforma cada aquisição num verdadeiro tiro no escuro.

Em questão de desafio, o jogo não proporciona nenhum a não ser que você vá às opções do jogo e ative o modo difícil. As batalhas durante a campanha são extremamente rápidas, podendo durar menos de um minuto cada. Todas as missões do jogo têm os mesmos objetivos bônus, que são: concluir a batalha, não ter nenhum personagem abatido e conclusão em até 120 segundos.

Tentando nadar pra não morrer na praia

Além da campanha, o jogo possui um um modo chamado Extreme Battle, que consiste basicamente em continuar batalhando, mas sem as cutscenes da campanha. Este modo conta com a mesma jogabilidade do jogo principal, em várias batalhas predefinidas com dificuldade escalar. A única vantagem de jogar este modo é conseguir algumas recompensas diferentes para continuar fazendo aprimoramentos em suas Kansen.

O terceiro modo de jogo traz episódios onde você joga histórias secundárias com outras personagens, mas convenhamos, não há nenhuma diferença significativa se comparado aos outros dois, com exceção das recompensas que só podem ser adquiridas neste modo. A jogabilidade e os objetivos continuam os mesmos, e o desafio, caso você não tenha alterado a dificuldade nas opções do jogo, também.

Também há um modo fotografia disponível para escolher suas Kansen favoritas e colocá-las em poses legais para tirar uma foto e uma outra função, digamos, um tanto imprópria onde você pode cutucá-las. Isso rende duas conquistas/troféus, acredite.

Poderia ter sido bem melhor

Vou ser bem honesto, Azur Lane: Crosswave não é um jogo de todo ruim. Possui uma jogabilidade muito boa e ao elevar a dificuldade eu aproveitei bem mais por conta do desafio maior. Se ele possuísse, pelo menos, um modo multiplayer local em tela dividida faria sentido jogar para fortalecer ao máximo todas as minhas Kansen para jogar com um amigo. Mas como o único desafio é contra o computador, não senti muita motivação em obter todas elas e deixá-las no nível máximo, que é o 100. E atendendo a alguns requisitos é possível quebrar esse limite e elevá-las até o nível 200.

A boa jogabilidade demora a brilhar pois é ofuscada por longas cenas de diálogo e batalhas curtas e repetitivas demais, onde você mal pode ver o real potencial do investimento de tempo feito nas Kansen. O jogo quer mesmo é que você apenas colecione todas elas e pecou bastante ao reproduzir a casualidade da versão mobile. Apesar dessa e de outras falhas de execução, concluí que faltou um pouco mais de ousadia para fazer algo maior. Azur Lane: Crosswave deve agradar mesmo os entusiastas de jogos baseados na cultura pop japonesa e os jogadores que gostam muito de fazer grinding.

Prós

  • Arte em cel shading muito bonita;
  • Trilha sonora com músicas boas;
  • Boa jogabilidade;
  • Sistema de classes proporciona inúmeras combinações de personagens para jogar.

Contras

  • Batalhas sem variedade de objetivos e extremamente repetitivas;
  • Modo história com enredo desinteressante;
  • Ausência de um modo multiplayer que poderia agregar uma vida mais longa ao jogo;
  • Os três modos de jogo são praticamente iguais.
Azur Lane: Crosswave – PC/PS4 – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Análise feita com cópia digital cedida pela Idea Factory
Revisão: Thiago Monte

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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