Imagine a situação: muito tempo após ser anunciado, um esperado jogo finalmente está para ser lançado. Cheio de expectativa, você acessa a internet para buscar possíveis novas informações e, para seu choque, descobre que ele foi adiado. Embora num primeiro momento isso pareça uma má notícia, um atraso não é necessariamente um sinônimo de problema. Nessa matéria, vamos debater sobre essa decisão tão comum no mundo dos games.
Mercado com muita competição
Em uma indústria cada vez mais competitiva, as produtoras de jogos precisam criar títulos com a maior qualidade e o menor tempo de produção possíveis. Afinal, de nada adianta demorar muito tempo em um grande jogo e perder competitividade, assim como ter um prazo curto com um jogo precário e com pouco conteúdo.
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A concorrência neste mercado é muito grande |
Logo, o planejamento de um game, sobretudo dos chamados AAA, que são os maiores do mercado, exige uma adequada consideração do tempo necessário para a produção. Para manter o
hype dos jogadores, vídeos e notícias são normalmente lançados ao longo da execução. Tudo para que o título seja lançado na data prometida com a devida expectativa por parte dos fãs e crítica.
Infelizmente, na vida real isso nem sempre acontece. Por diversos problemas que veremos mais adiante, como falhas na produção e divergências artísticas, o game precisa ter a sua data de lançamento postergada. Seja no caso de alguns dias ou então de muitos meses, esse tipo de adiamento pode acarretar muitas consequências.
Para os jogadores, o impacto é óbvio: demorar mais tempo para poder curtir o desejado produto. Compras do tipo pré-venda, inclusive, podem ser ainda mais prejudicadas. Já para a indústria, acredito que a questão seja mais relativa. Obviamente, um tempo de mais de produção também significa maior gasto com equipe e equipamentos.
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Tal como o Wario, não podemos esquecer que a indústria dos games visa sempre o lucro |
Campanhas de marketing podem ser atrapalhadas, sendo que o atraso pode até acabar levando jogadores a não querer mais o game. Com a boa variedade e frequência de novos lançamentos, trocar de produto não é uma decisão complicada. Até porque com a presença forte da internet na atualidade, remediar problemas com patches e atualizações é quase um processo natural.
Uma política bastante comum
Entretanto, mesmo com esses argumentos, contra os adiamentos, esse tipo de decisão é relativamente frequente. É possível citar, inclusive, alguns exemplos bem recentes e que poderão ajudar a entender o porquê dos adiamentos serem importantes. E olha que esses títulos podem ser considerados alguns dos mais promissores do ano de 2020.
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The Last of Us Part II (PS4) foi adiado de fevereiro para maio |
O remake aventura em
Midgard do
Playstation original,
Final Fantasy VII Remake (PS4), f
oi adiada de 3 de março para 10 de abril. Já o título baseado na franquia de filmes mais lucrativa do cinema atual,
Marvel’s Avengers (Multi), teve seu
lançamento transferido de 15 de maio para 4 de setembro. Finalmente, o futurístico e grandioso
Cyberpunk 2077 (Multi)
foi reagendado de 16 de abril para 17 de setembro.
E, caso o leitor não tenha conferido cada um deles, todos os respectivos comunicados dos adiamentos tiveram uma característica em comum: a justificativa de que todos os games tiveram o seu lançamento adiado para que pudessem ser mais polidos e, assim, oferecer tudo que as produtoras prometeram e os jogadores tanto esperam.
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Muita expectativa pelo promissor Cyberpunk 2077 |
Como esses títulos são os chamados AAA, as expectativas das empresas envolvidas neles são muito altas. Logo, um adiamento de alguns meses torna-se válido para que tudo esteja bem ajustado na hora do lançamento. E, assim como lembrado anteriormente, patches e atualizações podem complementar problemas menores que ficarem para trás.
É possível, entretanto, citar um exemplo de game que não soube aproveitar o seu adiamento.
Anthem (Multi) foi planejado originalmente para 2018, mas acabou sendo lançado
somente em fevereiro de 2019. Ainda assim, ele teve muitos problemas técnicos e pouco conteúdo, recebendo muitas críticas dos jogadores.
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Ainda que tenha muitas qualidades, Anthem ficou devendo |
Ou seja, um adiamento não necessariamente vai garantir o sucesso de um game. Problemas mais sérios na produção podem precisar de um tempo mais longo, que podem ser proibitivos do ponto de vista do calendário. Patches e atualizações foram disponibilizados depois do lançamento, melhorando pouco a pouco o game.
Agora, um exemplo de como um adiamento poderia ter reduzido problemas, e de como lançar modificações posteriores pode ser muito danoso.
Fallout 76 (Multi), de outubro de 2018, foi muito criticado por ter inúmeros problemas técnicos e problemas no seu conteúdo (tal como em Anthem). Dados os pontos defeituosos, a impressão foi de que o game ainda precisaria passar mais um tempo em produção.
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Fallout 76 até hoje tenta se reerguer do seu lançamento conturbado |
E aqui vem a pior parte: frequentes patches e atualizações tentaram, em vão, corrigir os muitos problemas do game da
Bethesda. Acredita-se que somente após o lançamento da expansão via DLC chamada de
Wasterlanders, no primeiro quarto de 2020, é que Fallout 76 irá decolar. Ela irá adicionar, por exemplo, NPCs com opções de diálogos, cuja ausência foi bastante criticada.
Mas afinal de contas: adiamentos são ruins ou não?
Agora que consideramos vários pontos importantes e citamos vários exemplos, podemos tentar construir uma resposta para essa pergunta. E se seguirmos as ideais anteriores, uma conclusão muito importante pode ser feita. Embora eles signifiquem problemas, como mais espera por parte dos jogadores, muitas vezes eles podem ser importantes e até mesmo essenciais.
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"Um jogo adiado é eventualmente bom, mas um jogo apressado é para sempre ruim." |
Como visto no exemplo de Fallout 76, de nada adianta lançar um jogo com muitos defeitos e tentar corrigir tudo posteriormente. Logicamente, na era da internet as atualizações e os patches podem ter um papel importante para sanar potenciais problemas no lançamento do game. Mas as empresas não podem colocar no mercado um produto que vai exigir concertos tão demorados e profundos. É uma questão de bom senso.
Anthem também mostrou que adiamentos podem ser até mesmo insuficientes. Mas certamente eles têm maior potencial para ajudar do que para atrapalhar. Quer um exemplo game adiado que deu certo? Dentre tantos, podemos ficar com
The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Wii U/Switch), postergado por mais de dois anos e hoje considerado um dos melhores de todos os tempos.
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Paciência é uma virtude |
Para terminar, vamos com mais um exemplo da
Nintendo. O tão esperado
Metroid Prime 4 (ainda sem um nome confirmado), possível continuação da aclamada série Prime de
Samus, foi anunciado em 2017 como uma produção da
Bandai Namco Studios. Mas, por não ter alcançado um nível de qualidade aceitável pela dona do Mario, a produção foi cancelada.
Assim, em janeiro de 2019, foi anunciado que o estúdio
Retro Studios seria o novo responsável pelo título, recomeçando a produção do zero. A Nintendo, inclusive, teve suas
ações desvalorizadas devido a essa mudança. Certamente a perda devido a um Metroid de baixa qualidade seria muito maior para a empresa, que preferiu esse “super-adiamento”.
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A continuação do aclamado Metroid Prime 3: Corruption (Wii) vai demorar mais um tempo |
O mais importante é ponderar a qualidade do game: se ela é aceitável no lançamento, então que as correções sejam feitas por patches. Se não for, então o adiamento é uma estratégia válida. Tudo porque se o game tiver belos gráficos, boa jogabilidade, história envolvente e muitos conteúdos interessantes, certamente a espera terá valido a pena.
Produto final: o balizador da decisão
Adiar o lançamento de um game, em um primeiro momento, pode ser uma decisão frustrante para os jogadores. Afinal, depois de tanta espera pela chegada do título, ter que esperar mais pode parecer ruim. Por outro lado, de nada adianta um jogo chegar na data certa e ter muitos problemas. Ou seja, os adiamentos podem ser suportáveis, e até mesmo necessários, se são utilizados para garantir um nível de qualidade adequado e a satisfação dos jogadores.
Revisão: Mariana Mussi S. Infanti