Meus Jogos Favoritos de 2019 — João Pedro Boaventura

Os redatores do GameBlast falam sobre os títulos que mais curtiram entre os lançamentos deste ano.

em 03/01/2020
Bom, é a terceira vez que faço esse post para o Blast e, em vez de simplesmente ranquear os meus jogos favoritos, decido criar pequenas categorias específicas e aleatórias para eles, uma vez que não os considero os melhores de fato, mas apenas os que me conquistaram de alguma forma.

 eFootball Pro Evolution Soccer 2020 (Multi)

Gastei muito mais tempo do que deveria nisso

Categoria presente nos dois anos anteriores e, em ambas as ocasiões, destinada a um simulador de esporte. A bola da vez ficou com o eFootball Pro Evolution Soccer 2020 (Multi). Gostei muito da forma como lidaram com o modo carreira dessa versão, bem como foi feito o equilíbrio da jogabilidade prática. Isso fica nítido quando percebemos que ajustaram o game de forma a fazer com que uma jogada específica não se mostre mais eficaz do que outras na hora de enfrentar a IA, nos fazendo variar sempre o estilo de jogo dependendo da situação da partida.


É claro que aproveitei para arrumar todas as burradas que a diretoria e comissão técnica do Corinthians cometeram ao longo do ano. Afinal, é para isso que fazemos questão de escolher o nosso próprio time nesses simuladores virtuais.

Dusk Diver (Multi)

Xodó do Ano

Dusk Diver (Multi) conta a história de uma garota que se vê presa em uma espécie de intriga entre diferentes mundos espirituais e cabe a ela resolver esse conflito através de muita pancadaria. Com um visual todo moderninho de anime, o título foi produzido em Taiwan e distribuído no Ocidente pela PQube.

Tive a oportunidade de fazer a análise do game para o Nintendo Blast e ele logo se tornou o meu xodó. Tenho completa noção de todos os seus defeitos, mas o título tem um carisma tão único e personagens tão interessantes que eu não consigo deixar de me apegar a ele. Muito do que ele apresenta é completamente chupinhado de outras obras parecidas como Persona, mas há algo em Dusk Diver que me faz verdadeiramente torcer por ele.

Pokémon Sword/Shield (Switch)

Prazer Culpado

A nova geração dos monstrinhos de bolso já era uma tragédia anunciada desde o período de pré-lançamento. O fandom de Pokémon, contudo, tinha uma espécie de mantra-deboche que anestesiava nossa dor de forma irônica passiva-agressiva que era “você vai comprar de qualquer jeito”. Pois bem, tal profecia se cumpriu.

A primeira coisa a se considerar é que Pokémon não tem um game verdadeiramente bom desde a quinta geração. Todos os subsequentes tiveram picos de qualidade, mas o produto final sempre acabava sendo comprometido por causa da Game Freak, seja pelas decisões erradas, seja pela incompetência do estúdio.



A verdade é que, na prática, pouco me incomodou o tal corte da National Dex. A mediocridade de Pokémon Sword/Shield está na confecção do jogo em si. Ele começa de maneira incrivelmente lenta e mastigada para depois acelerar o ritmo no final, com um desenvolvimento de história pífio. Apesar de ter seus acertos — como as batalhas contra os líderes de ginásio e o novo formato da Liga  —, a tentativa de simplificar a história para se assemelhar ainda mais à primeira geração resultou num produto esquelético.

Eu sei. Eu deveria parar de dar dinheiro a uma empresa que não tem a mínima vontade de mudar e definiu uma mentalidade de desenvolvimento que vai na contramão daquela que renderia games organicamente agradáveis, sem se apoiar na força da franquia, apenas. Paciência.

Fate/Extella Link (Multi)

Atividade repetitiva que divide opiniões

Hellblazer é uma série em HQ em que o protagonista, John Constantine, vende sua alma a três demônios ao mesmo tempo para que eles brigassem por ela — tal ocorrido acontece no arco Hábitos Perigosos, de Garth Ennis. PES 2020 é o primeiro dos meus demônios. Pokémon Sword/Shield é o meu segundo. Fate/Extella Link (Multi) é o meu terceiro.

Eu não gastei tanto tempo nele quanto perdi com os dois primeiros, mas foi algo que eu me contive justamente porque qualquer coisa do gênero musou vicia. O fato de ser provavelmente o jogo mais competente da série até a presente data, conseguindo replicar as mecânicas características da série Fate/ em um formato completamente diferente de gameplay serve apenas como mais um atrativo para me fazer repetir infinitamente a atividade de derrotar hordas de inimigos com o apertar de um botão.

Para se ter uma ideia, a coisa é tão repetitiva que os dois parágrafos acima foram praticamente recortados e colados do meu texto do ano anterior, mas alterando todas as referências que antes eram a Fire Emblem Warriors (Switch/3DS). É sempre a mesma coisa — e lá vou eu investir meu tempo nela.

VA-11 HALL-A: Cyberpunk Bartender Action (Multi)

Meu não-jogo favorito de 2019

Saído originalmente no PC há alguns anos e só agora disponível nos consoles, VA-11 HALL-A: Cyberpunk Bartender Action (Multi) nos coloca numa espécie de visual novel com uma clara reminiscência dos clássicos de PC Engine. O título se resume basicamente a conversar com os clientes e servir a eles os drinques certos para que a história daquele interessante universo cyberpunk vá se desenrolando de forma gradativa. Destaque ainda para os personagens carismáticos, já que o enredo é basicamente sustentado a partir deles.



A questão é que a definição de videogame envolve alguns conceitos muito específicos de teoria dos jogos e de storytelling digital. Para todos os efeitos, eu não consigo considerar VA-11 HALL-A um game, de fato, por carecer de uma série dessas características definitivas. Dessa forma, produtos como visual novels são narrativas multiformes (procure no Google) e não, não é demérito considerá-las assim.

Judgment (PS4)

Fui o último a descobrir que é bom

Nunca tinha jogado absolutamente nada da série Yakuza até conhecer Judgment (PS4). Meu primeiro contato foi com esse spin-off e imediatamente fiquei apaixonado. Mais do que a sua incrível jogabilidade frenética, fico fascinado demais com toda a atmosfera do game, que simula uma espécie de dorama — o famoso novelão japonês.



Ele foi responsável por me fazer ir atrás e acumular toda a coleção de Yakuza para jogar aos poucos no PlayStation, incluindo o Fist of North Star: Lost Paradise (PS4), visto que o gameplay prático da série da Sega se encaixa aqui feito uma luva e deve tirar o gosto ruim que o Ken’s Rage (X360/PS3) deixou.

The King of Fighters All-Star (mobile)

Finalmente me rendi ao mercado mobile

Pela primeira vez em toda minha vida, eu decidi testar um gacha no meu celular. O escolhido foi The King of Fighters All-Star (mobile) e, apesar de ter demorado para aprender a lidar com os recursos de um game do gênero  — aquela história de esperar os momentos certos para gastar seus recursos em uma lootbox — consigo dizer que finalmente entendi o motivo de tantas pessoas venderem suas almas para esse tipo de aplicativo. Nesse caso, especificamente, achei fascinante como ele transforma a série principal em um beat’em up (quase como se desse uma volta completa e resgatasse suas origens em Fatal Fury e Art of Fighting) e traz uma visão alternativa dos enredos centrais dos jogos clássicos da franquia.

Fire Emblem Three Houses (Switch)

Redimindo-se dos erros do passado

Na teoria, o conceito de Fire Emblem Fates (3DS), que envolvia trazer três versões diferenciadas de uma mesma história, dependendo das escolhas do jogador logo no começo do título, era muito interessante. Na prática, entretanto, ele acabou se prejudicando por conta de todo o mercenarismo em não apenas dividir o enredo em praticamente dois games diferentes (e um DLC para a terceira), mas também em colocar um letreiro de “compre o outro jogo correspondente” caso escolhêssemos um caminho diferente daquele referente ao da versão que já tínhamos.



Sabe, eu não veria problema em apenas dividir os dois — Pokémon sempre faz isso, no fim das contas. O pecado capital está em abrir uma caixa de diálogo e, teoricamente, disponibilizar a opção de selecionar a rota que não fosse a do título que já tínhamos em vez de simplesmente seguir a história de forma direta. Isso foi um grande dedo do meio na cara do jogador. Como se não bastasse, Conquest apresentava uma dificuldade completamente diferente do passeio no parque que é Birthright, tornando a escolha entre as versões uma decisão que vai muito além da simples afinidade por Nohr ou Hoshido, as duas facções inimigas de Fates.

Logo em seguida veio Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia (3DS), que foi bom por si só, mas ele se tratava de um remake. Fire Emblem Three Houses (Switch), por sua vez, é a aplicação prática desse conceito original do Fates, mas da maneira correta. É possível dizer até que são três aventuras diferentes em um único produto com ainda o adicional de uma espécie de campanha extra em uma delas, abrindo para uma quarta rota. Além disso, é um jogo bastante equilibrado, visto que não há uma unanimidade entre as várias tier lists disponíveis na internet, responsáveis por elencar as melhores unidades disponíveis no game. É bom ver que a Intelligent Systems finalmente decidiu aprender alguma coisa com Disgaea, dada a inserção de uma espécie de hub onde é possível executar com uma série de atividades diferentes que vão além da jogabilidade principal.

Astral Chain (Switch)

Prêmio PlatinumGames de Jogo do Ano

Jogo da Platinum comigo é Hors Concours. Todos os games lançados pela empresa são, moralmente, GOTY de seus respectivos anos de lançamento. Certo, nem todos, mas salvo uma ou outra exceção, até os produtos licenciados de qualidade duvidosa, como The Legend of Korra (Multi), acabam fazendo o mínimo que é divertir, mesmo com seus defeitos.



Astral Chain (Switch) é mais uma parceria do estúdio com a Nintendo, depois de The Wonderful 101 (Wii U), Bayonetta 2 (Wii U) e Star Fox Zero (Wii U). Em um universo futurista em que a humanidade está à beira da extinção e por isso se refugiou em uma metrópole chamada The Ark — em referência à embarcação que Noé utilizou para salvar a fauna de um dilúvio de proporções bíblicas — uma força policial especial chamada Neuron precisa enfrentar uma espécie de invasão proveniente de outro plano de existência.

A graça é que, além do combate extremamente divertido com o DNA da Platinum — embora mais simplificado do que o de jogos anteriores, seja dita a verdade — há também o lado de outras tarefas policiais, como é o caso dos momentos que envolvem investigação e a realização de tarefas para outros cidadãos da cidade. Com certeza, trata-se de um dos melhores do Switch.

Menções honrosas:

Gostei muito de Cadence of Hyrule — The Crypt of the NecroDancer featuring The Legend of Zelda (Switch), mas ele oferece uma experiência crua demais para eu conseguir me apegar a ele como deveria. GIGA WRECKER ALT. (Multi) também, mas a física problemática e o fato de o título ter sido desenvolvido pela Game Freak me fazem evitar dar qualquer moral para ele. Tropico 6 (PC) é outro ótimo exemplar, mas não tem nada de especial por eu já ser um veterano da franquia e as novidades dessa edição terem sido pífias.

Além disso, como consegui meu PlayStation 4 só em 2019, aproveitei para finalmente colocar em dia alguns jogos mais antigos que não tive a oportunidade de jogar anteriormente ou cujo contato prévio tinha sido ínfimo. The King of Fighters XIV (Multi), por exemplo, só consegui jogar direito em 2019 e achei maravilhoso. Tive a chance de finalmente testar o Gravity Rush 2 (PS4), que comprei em uma famosa loja de varejo por apenas R$ 9,90 e logo me encantou com seu conceito de jogabilidade que se baseia puramente no controle gravitacional da personagem principal.

Vale mencionar também o que eu consegui finalmente rejogar em 2019, como a trilogia inicial do NARUTO: Ultimate Ninja STORM (Multi). Disgaea 1 Complete (Switch/PS4), remake do primeiro título da série com gráficos modernos, Hour of Darkness, também entrou na minha lista de horas bem gastas em um game.

Para finalizar, menciono as sessões de visual novel do desastre que foi Travis Strikes Again (Switch). Só elas, descoladas de todo o resto do título.

Revisão: Thiago Monte

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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