Western: a influência do gênero no mundo dos games (Parte 4)

Os anos 1990 foram favoráveis não apenas aos jogos de faroeste, como também a filmes que marcaram a década na qual, embora ambos fossem produzidos em número e ritmo menores, foram lançados títulos que marcaram gerações.

em 27/12/2019
A cultura que se desenvolveu no decorrer da década de 1990 foi praticamente uma sequência da década anterior, para o melhor e para o pior. O Hard Rock começou a ceder espaço para o Grunge, os filmes de ação estavam mais fortes do que nunca e os computadores, cada vez mais populares — e acessíveis —, ocupavam espaços de livros e consoles de video game. Logo a Internet estaria disponível ao público em massa e o mundo mudaria para todo o sempre.

Quanto aos western, estes resistiam bravamente, como muitos dos heróis e anti-heróis que apresentavam nas telas. Dances with Wolves (“Dança com Lobos”), de 1990, arrebatou milhares de pessoas mundo afora e hoje é considerado um filme cult. Mesmo títulos famosos como Back to the Future (“De Volta Para o Ffuturo”), lançado no mesmo ano, se inclinaram ao gênero — no terceiro filme da trilogia — e mesmo desenhos animados embarcavam no faroeste, como An American Tail: Fievel Goes West e Wild West COW-Boys of Moo Mesa — ambos com bastante sucesso na TV.
Dances with Wolves: a perspectiva de câmera colocando o homem branco sem destaque em relação aos nativos representa a evolução do cinema western à época.
 O mesmo ocorreria aos jogos: alguns causaram impacto, outros foram simplesmente ignorados e, enfim, esquecidos. Mas o sucesso do gênero em algumas produções era uma mensagem direta do público: se nos derem bons trabalhos, consumiremos.

Billy the Kid Returns!

  • Console: PC (sistema operacional MS-DOS)
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 1993
Billy the Kid é um dos personagens mais icônicos do Oeste norte-americano, sendo provavelmente o precursor dos grandes “vilões” do Velho Oeste, comumente frutos da Guerra Civil Americana — especialmente ex-soldados confederados —, filhos de pais assassinados em disputas de terras ou simplesmente jovens sem perspectiva de futuro que tinham em sua agilidade (e boa mira) sua fonte de sustento.
Cada estágio possui uma explicação para situar o jogador na história do anti-herói.


Billy the Kid Returns! se destaca porque tenta apresentar ao jogador a história de vida de Billy the Kid (embora não se conecte ao filme homônimo de 1938), desde suas fugas miraculosas até seu embate final contra o xerife Pat Garrett e seus homens — famosos por finalmente serem os responsáveis pela morte do famoso “criminoso”. Embora o jogo possua algumas passagens não condizentes com a história de Billy the Kid, é interessante por apresentar ao público um personagem real, em vez de uma criação “meia-boca”.

Lethal Enforcers II: Gun Fighters

  • Console: Arcade / Mega Drive / Sega CD
  • Geração de consoles: 4ª geração (aplicável a Mega Drive e Sega CD)
  • Ano de lançamento: 1994
Lethal Enforcers II: Gun Fighters foi lançado primeiramente no Japão para os arcades e, então, “portado” para o console caseiro da Sega. Embora seja uma continuação, o primeiro jogo se passa no mundo moderno. A sistemática do jogo é muito similar aos produtos lançados pela American Laser Games, responsável por títulos como Mad Dog McCree, Fast Draw Showdown e The Last Bounty Hunter.
Jogos western nesse estilo já viram dias melhores...


Basicamente o personagem controlado pelo jogador é um pistoleiro que está à procura de criminosos que atacam uma cidadezinha qualquer no estereótipo do Velho Oeste e deve se atentar para não atingir civis ou agentes da lei. Ao longo do jogo, armas como espingardas e até mesmo um canhão são disponibilizados. A versão para Sega CD era levemente superior em gráficos e sons ao port para Mega Drive.

Wild Guns

  • Console: SNES
  • Geração de consoles: 4ª geração
  • Ano de lançamento: 1994
Wild Guns é outro dos títulos que marcaram gerações, seja pela ótima jogabilidade e qualidade visual, seja pelo fato de ser um dos jogos mais bizarros do gênero western. Com mecânicas muito similares a Blood Bros., lançado quatro anos antes.
Absurdo, mas um dos melhores representantes do gênero.


O enredo conta a história de Annie e Clint, dois caçadores de recompensas que buscam vingança pela morte da família de Clint. A despeito de comumente ser taxado como um jogo com influências sci-fi e steampunk, é certo que elementos do western spaghetti estão presentes em todo o conjunto da obra: vingança, caçadas a recompensas e brutais embates com armas pesadas. Embora boa parte dos inimigos enfrentados sejam robôs ou máquinas, é um título altamente recomendado para os fãs de faroeste.

Oregon Trail II

  • Console: PC
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 1996
Oregon Trail II é basicamente um relançamento melhorado do primeiro título. O aspecto mais interessante neste título se faz com uma participação massiva (e positiva) de mulheres e minorias étnicas, sendo um dos primeiros jogos de video game a se atentarem a tais aspectos.
Visualmente mais agradável que o título original.


As mecânicas e jogabilidade não se alteraram em demasia, sendo mais impactante por suas melhorias visuais e aspecto “ético” do que pelo produto em si.

Wild Arms

  • Console: PS
  • Geração de consoles: 5ª geração
  • Ano de lançamento: 1996
Wild Arms é uma das franquias mais bem sucedidas dos consoles, embora também possua títulos lançados para dispositivos mobile. A despeito de ser concebido como um RPG, Wild Arms possui todas as caracterizações de um típico jogo western. Isso se deu em razão da Media.Vision, a desenvolvedora, ser responsável por títulos de run and gun como Rapid Reload e Crime Crackers — e é uma surpresa que tenha atingido reconhecimento em um gênero no qual não possuía experiência.
Os demais jogos da franquia destacariam ainda mais os conceitos western.


O jogo se passa no início da Revolução Industrial, com máquinas sendo empregadas no dia-a-dia, ao passo que os personagens precisam lidar com a utilização de “tecnologia destrutiva” (no caso, armas de fogo), a qual é considerada (por sua obviedade) perigosa e, portanto, proibida.

Outlaws

  • Console: PC
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 1997
Embora a semelhança de títulos, Outlaws (1997) não tem qualquer conexão com o jogo lançado em 1985 para Commodore 64. Mesmo o enredo é consideravelmente mais denso, como o fato de o protagonista ser um xerife que busca vingança contra uma quadrilha que assassinou sua esposa e filha.
Outlaws foi pioneiro na utilização de armas com zoom, como o rifle de longo alcance.


O jogo possui visão em terceira pessoa e, a despeito de ter competidores de peso, como Quake, foi muito elogiado por sua trilha sonora, que ficou sob os cuidados de Clint Bajakian, que desenvolveu uma mistura entre elementos de suspense e de western.

America

  • Console: PC
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 2001
America é um jogo de estratégia desenvolvido pela Related Designs e possui premissa equivalente a Age of Empires. O enredo se passa logo após a Guerra Civil Americana e o jogador poderá escolher entre nativos norte-americanos, colonos, mexicanos ou foragidos da época.
Welcome to America! (Or not.)


Como a maioria dos jogos do gênero estratégia, as missões consistem em fazer com que a “tribo” escolhida sobreviva e se desenvolva, além de expandir seu território.

O futuro estará nas mãos das novas gerações

Muitos jogos lançados entre os anos 1990 e 2000 buscaram se renovar, seja pela mistura de gêneros, como Wild Arms e America, seja pela busca de profundidade nos enredos. Como dito no início deste artigo, alguns atingiram seus objetivos, enquanto outros foram esquecidos.

A única certeza que havia é que o western não desistiria tão facilmente de sua audiência e, com a nova geração de consoles, a tendência seria de melhores e maiores jogos do gênero. Os fãs mal podiam esperar.

Revisão: Ives Boitano

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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