Western: a influência do gênero no mundo dos games (Parte 3)

Ainda na metade dos anos 1980, algumas desenvolvedoras insistiriam em velhas fórmulas e jogos sem destaque, no entanto, os anos 1990 finalmente trariam aos jogadores aventuras épicas com o melhor da Era de Ouro do Western.

em 20/12/2019
O mundo estava mudando rapidamente na década de 1980 — e não apenas no cinema. A música, as famílias e a política ansiavam por mudanças e quebras de paradigmas. Enquanto isso, alguns jogos de faroeste ainda permaneciam com velhas fórmulas que, à essa altura, sequer angariariam a atenção mesmo a atenção dos fãs do gênero nos filmes. Algo precisava ser feito urgentemente.



Law of the West

  • Console: Commodore 64 / Apple II / NES
  • Geração de consoles: 3ª geração (aplicável ao Commodore 64 e NES)
  • Ano de lançamento: 1985
Law of the West é um título que está na contramão dos outrora lançados no gênero, onde a ação cede espaço a uma série de diálogos entre o xerife (controlado pelo jogador) e diversos moradores da cidade que vão de encontro a ele. A depender do resultado dos diálogos, o “protagonista” pode se envolver em um duelo.

A despeito de “nadar contra a maré”, é um título interessante que lida basicamente com as relações entre o xerife e os habitantes da cidade. Caso ele seja cordial com o médico, por exemplo, será resgatado caso sofra o disparo de algum adversário — em sentido contrário, será deixado para morrer. De mesmo modo, caso o jogador saque a pistola durante um diálogo, o NPC se recusará a falar até que a arma seja guardada.
Com gráficos atualizados e enredo mais complexo, este título poderia receber uma bela repaginada.


Em uma era repleta de jogos de ação (no caso, o período em que foi lançado), Law of the West poderia ser declarado como um dos precursores das visual  novels e dos diálogos que alteram o destino ou parte da história envolvendo o protagonista — algo muito comum em Red Dead Redemption 2, a título de exemplo. Novamente, a despeito da similaridade de nomes, em nada se assemelha ao longa de 1932.

Outlaws

  • Console: Commodore 64
  • Geração de consoles: 3ª geração
  • Ano de lançamento: 1985
Outlaws é um jogo de ação lateral que coloca o jogador na pele do “The Lone Rider”, que se encarrega em eliminar um grupo de criminosos que pilhavam e matavam por todos povoados em que pisassem.
Bons gráficos para a época, nenhuma canção durante as partidas.


A despeito do jogo indicar a passagem para outros cenários, como “o território dos Sioux”, visualmente havia pouquíssima alteração entre eles. A inexistência de canções durante as partidas (estas são presentes somente na tela título e nas alterações entre cenários) e o fato de que o protagonista se mantém todo o tempo sobre o cavalo (dificultando desviar de projéteis inimigos), apenas transformam Outlaws em “mais um dentre tantos” outros títulos do gênero.

Six-Gun Shootout

  • Console: Commodore 64 / Atari 8 bits / Apple II
  • Geração de consoles: 3ª geração (aplicável ao Commodore 64)
  • Ano de lançamento: 1985
Six-Gun Shootout se destaca como outro título que tenta se afastar do costumeiro tiroteio dos jogos de ação, sendo basicamente um jogo de estratégia entre grupos de pistoleiros (sendo um deles controlado pelo computador ou por um segundo jogador).
Inovador, merecia um remake ou sucessor espiritual.


Embora visualmente simplório, o jogo possui uma mecânica interessante, que leva em consideração o terreno em que são alocados os homens de cada equipe, linha de visão, postura de combate, 18 armas com diferentes efeitos e, inclusive, condição dos feridos. Mesmo diante da limitação gráfica, muitos dos cenários empregados remetem vagamente a locais reais do Oeste norte-americano ou mesmo a longas, como Rio Bravo, de 1959.

Gunfright

  • Console: ZX Spectrum
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 1985
Gunfright coloca o jogador na pele do xerife Quickdraw, que deve se empenhar em localizar os criminosos que estão na cidade de Black Rock. O jogo possui visão isométrica e algumas mecânicas interessantes, como a alteração para visão em primeira pessoa durante duelos e a necessidade em fazer com que tais confrontos não ocorram na cidade ou que algum civil seja atingido por disparos, o que fará com que o jogador pague uma “multa”.
A mesma estrutura empregada em Nightshade.


A despeito de possuir mecânicas diversificadas, como um produto final Gunfright não acrescenta grandes novidades ao gênero, além de receber críticas sobre sua grande semelhança com Nightshade, título anterior da desenvolvedora Ultimate Play the Game.

Lost Dutchman Mine

  • Console: MS-DOS
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 1989
Lost Dutchman Mine é um título que se diferencia dos outrora lançados com enfoque no “Oeste selvagem” ao protagonizar um minerador que está à procura de ouro em uma série de cavernas e rios. A estratégia do jogo é basicamente manter o personagem vivo (alimentando-o regularmente, por exemplo) e procurar tesouros — mesmo que esses envolvam a eventual captura de um criminoso.
Um título que se arriscou (com sucesso) ao fugir do tradicional bang bang.


O jogo foi bastante elogiado à época de seu lançamento — mesmo que seja basicamente um jogo de estratégia — em razão dos belos gráficos, pela liberdade outorgada ao jogador e a variedade de atividades, como pescar e jogar cartas em saloons.

Mad Dog McCree

  • Console: arcade / PC / CD-i / Sega-CD / 3DO
  • Geração de consoles: quarta geração (aplicável a CD-i, Sega-CD e 3DO)
  • Ano de lançamento: 1990
Mad Dog McCree é uma evolução diante de Wild Gunman (versão para arcade) e Badlands não apenas pelo aspecto visual (graças à utilização do laser disc na versão para arcade) como também nas mecânicas, como a alteração da narrativa de acordo com as dicas oferecidas pelos moradores da cidade e decisões tomadas pelo jogador.
O enredo remete a um estrangeiro (o protagonista) que se depara com uma cidade em apuros, cujo prefeito, sua filha e o xerife foram feitos reféns. Basicamente competirá ao jogador eliminar a gangue de Mad Dog McCree e salvar os moradores.

Blood Bros.

  • Console: arcade
  • Geração de consoles: não se aplica
  • Ano de lançamento: 1990
Acreditem ou não, Blood Bros. talvez seja um dos maiores responsáveis pelo sucesso de Wild Guns, do qual ainda falaremos. Desenvolvido para os arcades (uma versão para SNES em desenvolvimento foi cancelada em razão do falecimento de seu principal programador), o título permite até dois jogadores (respectivamente um cowboy e um nativo norte-americano) que estão à procura do criminoso Big Bad John.
Lembra algum jogo da Natsume?


Para iniciar, as semelhanças com Wild Guns se dão pela visão “às costas” dos personagens, com elementos de cenário que podem ser destruídos e power-ups como rifles e dinamites. A mecânica é basicamente a mesma: sem efetuar disparos, o jogador controla o personagem. Ao realizá-los, a mira é controlada. Um aspecto interessante do jogo é o fato de que um dos heróis é nativo norte-americano, uma figura que outrora era associada à imagem de que eram “selvagens” ou criminosos — ideia essa há muito abandonada por Hollywood.

The Lone Ranger

  • Console: NES
  • Geração de consoles: 3ª geração
  • Ano de lançamento: 1991
The Lone Ranger é um dos mais criativos e completos jogos do gênero desenvolvidos até então. Baseado no seriado de TV homônimo (que foi transmitido pela rede ABC durante os anos 1949 e 1957), o jogo segue a mesma premissa do programa televisivo. O protagonista é um ex Texas Ranger sobrevivente após uma emboscada de Butch Cavendish, onde cinco outros Texas Rangers, companheiros do protagonista, foram mortos. A partir desse momento, ele fica conhecido como “O Cavaleiro Solitário”, que parte em uma jornada em busca de vingança. Ironicamente, o título não condiz muito com sua "alcunha”, já que recebe auxílio de um nativo norte-americano conhecido como Tonto.
O título exige bom senso do jogador ao utilizar recursos.
A ação do jogo varia entre a visão aérea e plataforma, com direito a visitas a diversas cidades e dicas para que o jogador prossiga em sua aventura. O game design força o jogador a racionar recursos, já que munições de pistolas se reduzem a cada disparo.

Sunset Riders

  • Console: SNES / Mega Drive / Arcade
  • Geração de consoles: 4ª geração (aplicável a SNES e Mega Drive)
  • Ano de lançamento: 1991
Sunset Riders talvez seja o título mais memorável para os jogadores que iniciaram suas “carreiras” a partir da 4ª geração de consoles — como este redator. O jogo coloca os players no controle de um dos quatro cowboys disponíveis: Billy, Bob, Steve e Cormano — por sinal, altamente estereotipado com seu poncho e sombrero.
Algo mais precisa ser dito?


A jogabilidade entre os quatro personagens é basicamente a mesma, senão pelo fato de que Cormano e Bob empunham espingardas, ao passo que Billy e Steve, pistolas. Power-ups aumentam o poder de fogo dos jogadores, permitindo que os disparos ocupem uma maior área na tela.

Ação frenética, uma infinidade de inimigos, um cenário em que é possível montar um cavalo — ou correr o risco de ser pisoteado por um estouro de manada —, donzelas em perigo e personagens carismáticos (quem não repete as frases finais de cada chefe abatido, como Bury Me With My Money! — de Simon Greedwell — ou Adios, Amigo! — de El Greco?) fazem de Sunset Riders uma das melhores representações do western.

Estrada para o ouro

Ao longo deste artigo, notamos a evolução não apenas nos conceitos, como também na jogabilidade de diversos títulos. De jogos de estratégia à plataforma, a despeito do western praticamente ser ignorado pelo grande público no decorrer dos anos 1990, diversas desenvolvedoras insistiram no gênero — algumas com sucesso, outras nem tanto.


De todo modo, as novas gerações de consoles, especialmente os da 4ª geração, apresentaram uma queda brusca em jogos de faroeste, o que representa, de certa forma, um “filtro” do público para produtos que realmente valessem seu tempo e recursos financeiros. Títulos como Sunset Riders e Blood Bros. trouxeram duas formas completamente diversas para se explorar o conceito do Velho Oeste e o fizeram com algum destaque, estabelecendo alguns alicerces para qualquer estúdio que buscasse inspiração no western. E muitos outros títulos virão até chegarmos nesta fase. Chegou agora? Então não deixe de acompanhar as partes um e dois deste artigo!

Revisão: Farley Santos

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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