Desenvolvida pela japonesa Primula, Taisho x Alice é uma visual novel do gênero otome. Isso significa que ela conta com uma protagonista feminina, que pode se relacionar com vários rapazes em suas rotas. Com inspiração em contos de fada, o jogo inverte os papéis, colocando tradicionais heroínas como Cinderela e Chapeuzinho Vermelho como belos rapazes cujas situações de vida são um pouco mais nebulosas do que podem parecer a princípio.
Episode I traz a primeira parte da história, com as rotas dos dois personagens mencionados, sendo os outros rapazes (como Branco de Neve, Kaguya e Alice) parte dos capítulos seguintes (já lançados no Japão). Apesar dessa divisão, o episódio se mostra bastante competente em apresentar o mundo de Looking-Glass isoladamente, e ainda deixa pistas do que está por vir.
Cinderela ou Chapeuzinho Vermelho?
Após acordar em um lugar escuro e sem memórias, a protagonista acaba encontrando um jovem garoto. Apesar de inicialmente arredio, ele se apresenta como “Alice” e dá à garota o nome de “Arisu” (Alice em japonês). Sem ideia de onde estão, os dois vagam pelo vazio até se depararem com uma área de espelhos.
Além deles, parece haver um outro mundo, e a garota consegue ver os reflexos de dois rapazes: um cujo olhar parece ter perdido todo o brilho e se tornado cinzas, e outro que usa um capuz vermelho. É nesse ponto, ainda sem conhecê-los, que a garota deve escolher qual caminho seguir. O primeiro leva ao garoto que recebe o nome de Cinderella, enquanto o segundo é obviamente Red Riding Hood (Chapeuzinho Vermelho).
Como a herdeira da rica família Hunter, Yurika Arisu recebeu a notícia de que seus pais estavam negociando seu casamento com o rapaz. Curiosa, ela decide procurá-lo e descobre que ele havia comprado uma cafeteria. Ao chegar no local, uma série de eventos faz com que a mesma seja contratada para trabalhar no lugar, e assim ela começa a conviver com Cinderella e seus dois irmãos.
Para poder descobrir a verdade e protegê-la do perigo, ele decide morar com a garota na mansão. Com apenas os dois nesse lugar, apesar do inicial distanciamento do rapaz (que pode ser visto como uma marca de seu profissionalismo), a história acaba se desenvolvendo para o lado romântico.
Em ambos os casos, no entanto, a história vai além do que é inicialmente apresentado. As reviravoltas são muito bem construídas, e mesmo aspectos que a princípio podem parecer forçados ou causar estranhamento têm motivações interessantes. Existem pontos com um tom mais sombrio também, algo que pode ser até surpreendente, mas nada que seja incômodo.
A tradução do japonês para o inglês também merece destaque. Ela destaca bem a personalidade de cada um e torna as interações entre os personagens muito prazerosas e fluidas com um tom que consegue ser ao mesmo tempo teatral e natural, como uma conversa entre amigos na qual cada um brinca com sua fala. E isso combina bastante com a interpretação original dos dubladores japoneses, cujas vozes são as únicas disponíveis no jogo.
Arisu além do espelho
Além da boa tradução - e também graças a ela -, a principal característica que se destaca no jogo é a protagonista. Ela é claramente muito diferente do usual do gênero, com personalidade e presença marcantes. Esperta e decidida, ela sempre sabe se aproveitar das situações e tirar qualquer um do prumo.
Durante a história, é fácil se surpreender com as atitudes da garota ou com a forma como ela conduz as coisas de forma natural para aquilo que mais lhe convém. Em algumas horas dá até medo de ver como a personagem tem controle sobre o que acontece, e eu diria que o jogo deixa boas pistas de que há mais por trás da personagem do que esse primeiro episódio mostra. Coisas sombrias provavelmente virão à tona nos próximos capítulos.
Em termos visuais, os personagens seguem a estética bishounen, com traços longilíneos e esbeltos. As artes são bem utilizadas, com alguns momentos em que a posição indica também uma referência espacial e, mesmo sem movimentação (nem labial nem mesmo piscadas), os personagens são bastante expressivos.
Também há um uso interessante da interface, alternando o quadro no entorno da tela quando a perspectiva deixa de ser a da protagonista. Essas molduras para os trechos em que vemos a história pelo lado de Cinderella ou Red ajudam a situar o jogador sobre o desenrolar da trama.
Se há um problema no jogo, no entanto, é o fato de que não há nenhuma indicação em relação às escolhas corretas. É apenas marcado se o jogador já escolheu aquela opção anteriormente. Como em alguns pontos é possível tomar uma decisão errada e só ser punido por ela ao final, depois de várias outras decisões, isso acaba se tornando inconveniente para quem gostaria de jogar sem nenhum tipo de guia.
Outros jogos do gênero muitas vezes apresentam uma barra de relacionamento (um coração ou algum item pertinente que possa ser enchido) no menu para ajudar nesse sentido, mas não encontrei nada do tipo em Taisho x Alice.
Apesar disso, de forma geral, a experiência de Taisho x Alice - Episode I - é muito boa. Suas duas rotas são bem amarradas e, ainda assim, o jogo consegue apresentar de forma sutil algumas pistas de que há mais a ser revelado, atiçando a curiosidade sem atrapalhar a qualidade da obra em seu atual estado. Confesso estar muito curioso para saber mais sobre Arisu e os outros rapazes, e acredito que qualquer fã do gênero também sentiria o mesmo.
Prós
- Tradução de alta qualidade que torna as interações entre os personagens prazerosas e fluidas;
- Protagonista carismática e com uma personalidade única;
- Mesmo estáticas, as artes dos personagens são bastante expressivas.
Contras
- Falta de indicações das escolhas corretas.
Taisho x Alice: Episode I – PC - Nota: 8.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Primula