Desenvolvido pela Netchubiyori e lançado no Japão com o título Work x Work, Heroland é um RPG que se passa no parque de diversões homônimo. Nesse lugar as pessoas exploram dungeons controladas para brincar de ser herói por um dia e conseguir souvenirs variados. Com bastante humor, o jogo tem bastante charme, mas infelizmente acaba se tornando um tanto cansativo.
Um guia turístico em um parque de fantasia
Em busca de um emprego, o protagonista vai para o parque Heroland, um lugar mágico onde os clientes têm a chance de se tornar heróis e lutar contra perigosas criaturas. Claro que tudo não passa de uma brincadeira controlada: os inimigos são trabalhadores fantasiados e os ambientes reproduções baratas de localidades lendárias.
O personagem se torna um guia do parque, o que faz com que ele tenha a responsabilidade de garantir a diversão dos clientes e, preferencialmente, o sucesso deles nas batalhas de mentirinha. Montando equipes de quatro pessoas, o jogador tem então que organizar expedições pelas dungeons, dando-lhes armas adequadas e carregando consigo itens.
O parque é equipado com várias instalações: lojas de itens e equipamentos (que não podem ser adquiridos nas próprias dungeons); o quarto do protagonista (que pode ser enfeitado com os objetos adquiridos nas dungeons); a sala de comando (onde é possível ganhar informações sobre as dungeons); locais variados para os clientes descansarem (onde é possível conversar com eles e obter sidequests) e a entrada das dungeons (onde são feitas as missões).
A maior parte do jogo gira em torno da exploração das dungeons. Com temas como “caverna”, “vulcão” e outros, as áreas são na verdade linhas em que o jogador atravessa automaticamente sem poder explorar nada além dos caminhos estabelecidos. Nem mesmo voltar é possível, apenas seguir em frente até o objetivo final.
Em cada ponto do trajeto uma nova batalha ou um evento de história acontece até que o grupo alcance o boss daquela área e o tesouro. Infelizmente esses trajetos acabam sendo mais do mesmo e se tornando bastante repetitivos. Até mesmo as sidequests são exclusivamente novos trajetos para percorrer nas dungeons que se desenvolvem da mesma forma.
Em termos das batalhas em si, é interessante notar que, como o jogador é um mero guia, a sua capacidade de ação é auxiliar o grupo de clientes. Isso significa que a IA dos personagens é o que realmente movimenta as batalhas e o jogador precisa ser esperto e usar um bom timing para alterar a forma como eles agem.
Existem basicamente três possibilidades de interação em batalha: as bandeiras, as ações individuais e os itens. Com as bandeiras, o jogador pode alterar a dinâmica de todos os personagens ao mesmo tempo. Verde deixa eles fazerem o que quiserem, azul implica em usar golpes básicos (sem custo de SP), vermelho é o uso de habilidades mais fortes, preto é concentrar os ataques em um inimigo específico e branco é fugir da batalha.
Obviamente, nem sempre é bom pedir para todos os personagens executarem o mesmo tipo de ação e é aí que entram as ações individuais. Como guia, o jogador aconselha um personagem específico a usar uma ação (por exemplo, pedir para o healer usar a magia em um aliado). No entanto, como as ações dos personagens só ocorrem quando suas barras de tempo são preenchidas, nem sempre é possível depender delas e é nesse caso que os itens podem ajudar bastante.
A maior parte deles são consumíveis que restauram HP, SP ou curam status (como veneno e confusão), mas há também livros e cápsulas (que funcionam como um quinto integrante da equipe que sempre executa a mesma ação). Sempre que executa qualquer uma dessas ações, o protagonista fica cansado e precisa recuperar o fôlego. Quando a sua barra de cooldown é preenchida, ele pode novamente fazer alguma coisa.
Essa limitação força um desafio no jogo em que é necessário ter um bom timing e avaliar bem as ações dos inimigos e dos aliados para extrair o maior valor possível dos movimentos do guia. Se por um lado é extremamente recompensador conseguir vencer inimigos 5 ou mais níveis acima do seu pelo uso de boa estratégia, por outro depender da IA e suas decisões muitas vezes burras (ou no mínimo insensatas no longo prazo) pode ser muito incômodo.
Um mundo charmoso cheio de humor
Uma parte muito importante de Heroland é o seu tom cômico. Piadas metalinguísticas, trocadilhos e referências a outros jogos e itens variados da cultura pop são parte constante dos diálogos. Na maior parte do tempo, o jogo não se leva a sério e isso acaba sendo um ponto forte do jogo de forma geral.Há também várias críticas à forma como o trabalho funciona nas sociedades modernas. Questões como a estrutura burocrática das organizações ou os esforços colossais que muitas vezes são exigidos de quem trabalha na elaboração de produtos culturais japoneses são algumas das coisas levantadas em meio às conversas mundanas dos personagens.
Os personagens são outro aspecto que teve bastante cuidado e carinho por parte da desenvolvedora. Além de serem representados de uma forma muito interessante com um estilo que simula objetos de uma peça teatral, cada um tem sua própria história, personalidade e manias. Ao mesmo tempo, ele consegue apresentar dramas interessantes ocasionalmente, mostrando outros pontos de vista sobre os personagens ou até mesmo o crescimento pessoal de alguns deles.
Elric, por exemplo, é um príncipe esnobe que ao longo da jornada aprende bastante e o jogo deixa isso muito claro. Outros personagens, como a família de aventureiros, começam parecendo “pessoas normais” e vão demonstrando características muito específicas que são bastante surpreendentes.
Conhecer os personagens e se divertir com suas histórias é o maior tesouro de Heroland. Também é bastante agradável que, como usual dos jogos da XSEED, a adaptação para teclado e mouse é intuitiva e customizável ao invés de apenas algo colocado como segundo plano só para constar no port. Se o jogo não errasse a mão no nível de repetição com as suas dungeons, este seria um título essencial para fãs de RPGs. Ainda é um bom jogo e vale a experiência, mas é bom estar preparado para uma jornada infelizmente um tanto cansativa.
Prós
- Roteiro com bastante humor;
- Críticas bem colocadas aos ambientes de trabalho modernos;
- Personagens charmosos e cheios de personalidade;
- Adaptação para teclado e mouse fácil de aprender e customizável.
Contras
- Por design, o jogador tem pouco controle dos personagens em batalha, o que pode ser incômodo em situações em que a IA age de formas estúpidas;
- Design das dungeons é muito repetitiva, fazendo a exploração ficar enfadonha.
Heroland – PC/PS4/Switch - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games