Análise: Sparklite (Multi) é uma colorida aventura que não empolga

Este jogo indie explora inúmeros conceitos consagrados, no entanto uma execução mediana o impede de ser interessante.

em 15/11/2019

Sparklite é um jogo de ação e aventura que se passa em um planeta cuja topografia se altera constantemente. O título se inspira em vários clássicos, como The Legend of Zelda, e adiciona algumas ideias em voga, como características de roguelike. O visual caprichado, uma atmosfera charmosa e boas ideias chamam a atenção em um primeiro momento, mas aos poucos a experiência se revela desinteressante por causa da execução rasa de várias mecânicas e conceitos.

Tentando impedir um magnata ganancioso

O mundo de Geodia só existe por causa da presença de Sparklite, uma energia capaz de trazer vida ao planeta. As pessoas desenvolveram dispositivos que funcionam com a ajuda desse combustível, mas rapidamente a humanidade descobriu que não pode abusar dele por ser altamente instável em altas quantidades. Mesmo assim, um homem que se autointitula Baron decidiu minerar toda a Sparklite do planeta a fim de construir um exército. Em face disso, o mundo reagiu por meio de rupturas, um mecanismo natural de defesa que reorganiza as localidades constantemente, o que atrasa os planos do vilão.

A única esperança é Ada, uma mecânica com um artefato especial que vai fazer de tudo para impedir Baron. No controle da garota, exploramos o mundo de Geodia em uma aventura de ação com visão aérea e mapa dividido em espaços. O objetivo é encontrar e derrotar os capangas do barão maligno, que estão minerando a energia do planeta. Para acabar com os inimigos, Ada ataca com uma engrenagem, que também se transforma em um martelo ao segurar o botão de golpear por alguns segundos. Além disso, a garota consegue escapar de perigos e atravessar buracos com a ajuda de uma investida. Um robô voador acompanha a heroína e ele recebe novas ferramentas no decorrer da aventura.


Para complicar, Ada precisa lidar também com as rupturas. Por causa desse fenômeno, a organização do mundo se altera a cada nova tentativa com mapas gerados proceduralmente, o que é comum em roguelikes. A configuração do planeta se altera toda vez que a garota é derrotada, logo é necessário explorar novamente todos os cantos constantemente. No entanto o progresso de pontos importantes são permanentes, como templos especiais e batalhas contra chefes. Morrer em Sparklite não é tão custoso: a garota perde somente os itens consumíveis encontrados nessa partida, o dinheiro e demais equipamentos são mantidos.

Os capangas do barão são fortes e conseguem derrotar Ada com facilidade. Por sorte, a garota consegue aumentar seu próprio poder por meio de vários recursos. A principal maneira de fortalecer a protagonista é por meio de patches, itens capazes de melhorar atributos, como a vida, defesa ou ataque. Para ativá-los, é necessários organizar os itens em uma grade de tamanho limitado, e na maior parte das vezes não é possível equipar todos eles. Há também patches com funções únicas, como revelar o mapa automaticamente ou diminuir o tempo de carregamento do martelo. A garota também encontra armas secundárias e itens especiais que ajudam na exploração do mundo e na resolução de puzzles.


Entre os momentos de exploração, Ada visita uma cidade voadora que funciona como base. É neste local que a garota pode utilizar o Sparklite coletado para melhorar estruturas e adquirir itens. Aos poucos o lugar recebe novas estruturas conforme encontramos pessoas perdidas pelo mundo.

Um mundo caprichado, mas repleto de problemas

Jogar Sparklite é bem agradável por causa de seu visual charmoso e colorido em pixel art e a atmosfera leve. A jornada começa bem divertida e tem ciclo interessante: exploramos o mundo em busca de dinheiro e itens, eventualmente morremos, voltamos para a cidade para fortalecer a protagonista e tentamos de novo. O combate em tempo real é simples e funciona bem, e a movimentação ágil da protagonista traz um bom ritmo de jogo. Ser derrotado é um revés pequeno e na verdade gostei do fato de que o mundo se altera repetidamente — fiquei com a sensação de estar explorando algo novo constantemente.

Infelizmente essa sensação de deslumbre e diversão dura muito pouco e bastam algumas poucas tentativas para que os defeitos de Sparklite comecem a aparecer. O problema mais grave do jogo é a quantidade muito reduzida de conteúdo: há poucos tipos de salas e inimigos, o que faz com que eles sejam repetidos com frequência. O mundo de Geodia conta com cinco diferentes biomas, mas as principais diferenças são os visuais e as variações de inimigos — na prática todos funcionam do mesmo jeito.

Outra questão importante é a simplicidade dos desafios. Na maior parte do tempo, os únicos objetivos são andar e derrotar inimigos enquanto buscamos o covil do chefe da região. Existem alguns espaços especiais com arenas e desafios que aparecem raramente, mas eles são extremamente básicos, apresentando salas em que precisamos derrotar todos os inimigos ou resolver puzzles facílimos. O mais estranho é que Ada obtém alguns itens e equipamentos para a resolução de enigmas e desafios, no entanto só precisei utilizá-los em raríssimas ocasiões em puzzles extremamente básicos. Até mesmo o robozinho voador tem uso bastante limitado.


O combate é ágil, mas rapidamente perde a graça. Boa parte das batalhas consiste no ciclo de esquivar da investida do inimigo e em seguida atacar. Dois tipos de inimigos têm golpes mais difíceis de escapar que exigem o uso da esquiva, fora isso ela não é utilizada. Ada consegue outras armas, como uma pistola laser e um balão explosivo, mas elas são tão lentas e fracas que nunca as utilizei. As batalhas contra chefes oferecem algum desafio por causa dos ataques mais elaborados dos mestres, mas basta decorar a ordem dos movimentos para superá-las rapidamente. O combate não evolui com o avançar da aventura, o que o torna muito repetitivo.

Por fim, Sparklite tem um aspecto de grind irritante. Ada, no começo da aventura, é muito fraca e morre com facilidade. Para fortalecer a protagonista, precisamos encontrar dinheiro e patches de atributos. Acontece que tudo no jogo é muito caro ou difícil de encontrar, exigindo repetir várias vezes os mesmos trechos para tentar melhorar a heroína. Para piorar, chega um momento em que os inimigos ficam muito fortes e praticamente somos forçados a fazer grind para conseguir avançar. Faltou muito balanceamento nesse aspecto.


Uma aventura regular

Sparklite é um jogo charmoso cuja empolgação não dura muito. O conceito principal é sólido, e é divertido explorar um mundo que muda constantemente por causa dos comandos ágeis e bom ciclo de jogo focado em melhorias. No entanto, a variedade pequena de situações e o combate que não se desenvolve tornam a aventura repetitiva muito rápido e ficamos com a sensação de estar sempre fazendo a mesma coisa. Além disso, muitos dos conceitos do título são mal desenvolvidos ou subutilizados, como os equipamentos praticamente inúteis e os puzzles extremamente fáceis. No fim, Sparklite oferece diversão momentânea e nada memorável.

Prós

  • Conceito principal simples e ágil;
  • Ótimo visual em pixel art.

Contras

  • Exploração repetitiva e desinteressante;
  • Combate simples e que não evolui;
  • Muitos conceitos subdesenvolvidos, como puzzles, gadgets e patches.
Sparklite — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Merge Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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