Enquanto esperamos por um prato principal, nada melhor do que aproveitarmos um belo aperitivo ou prato de entrada, não é mesmo? Podemos utilizar esse exemplo como analogia para
Travis Strikes Again: No More Heroes Complete Edition (PC/PS4), que serve como uma espécie introdução para o próximo título principal da franquia. Simples, mas divertido, vamos conferir esse game em mais uma análise no
GameBlast.
A trajetória de No More Heroes
Tudo começou no
Nintendo Wii, com o lançamento de
No More Heroes (Wii) em 2007. Através dele conhecemos pela primeira vez
Travis Touchdown, um fã de luta livre e animes. Após comprar uma
katana laser na internet, o protagonista se vê sem recursos e, assim, é convencido a entrar na disputa da Associação dos Assassinos Unidos para conseguir dinheiro.
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No More Heroes foi uma agradável surpresa no console da Nintendo |
Travis toma gosto pelo mundo dos assassinatos e decide alcançar o topo do ranking. O título estreia boa parte das características principais da franquia: personagens cheios de personalidade; ação do tipo
hack and slash; muito bom humor; e várias referências a elementos de filmes, animes e outros games;
Em 2010, também para o Wii, tivemos o lançamento de
No More Heroes 2: Desperate Struggle (Wii). A história segue diretamente do jogo anterior: depois de se tornar o número um do ranking,
Travis se afasta do mundo dos assassinatos. Após a morte de seu amigo a mando de um assassino em busca de vingança, o protagonista resolve retornar aos combates.
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Seguindo na onda do sucesso |
aO game mantém as características do primeiro título, melhorando a produção técnica e expandindo o universo da franquia. Ainda em 2010, uma versão melhorada do primeiro game foi lançada para
PlayStation 3 e
Xbox 360 com o nome de
No More Heroes: Heroes’ Paradise (PS3/X360). Depois de um hiato de quase dez anos, foi lançado
Travis Strikes Again: No More Heroes (Switch) em janeiro de 2019 de forma exclusiva para o
Nintendo Switch.
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Heroes' Paradise foi uma ótima oportunidade para quem não teve um Wii conhecer a série |
Finalmente, em 17 de outubro de 2019 o game recebe versões para
PC, publicado pela
Marvelous Inc., e
PS4, publicado pela
XSEED Games, sendo agora chamado de
Travis Strikes Again: No More Heroes Complete Edition (PC/PS4). Tal como seus predecessores, o título é produzido pela
Grasshopper Manufacture. Ele reúne, além do jogo base, as duas DLCs lançadas para o game.
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Um verdadeiro hack and slash |
A primeira, chamada
Black Dandelion, adicionou a personagem
Shinobu Jacobs e um novo cenário para
Badman, companheiro de
Travis no game que iremos detalhar mais adiante. A segunda expansão, chamada
Bubblegum Fatale, adicionou a personagem
Bad Girl e um novo conjunto de fases. Ou seja, um título com pacote completo.
Para fãs e novos jogadores
Tal como definido pela produção do game e pelo próprio protagonista durante o vídeo de abertura (esqueça a quarta parede no título), Travis Strikes Again é uma espécie de introdução da franquia para um novo público. Esse recomeço para
Travis não ignora, entretanto, a sua história até então. Tudo é tratado de forma bem fluída, sem estragar a experiência do jogador, seja ele novo ou veterano.
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O hub central de Travis Strikes Again é um trailer cheio de recursos |
A história do game se passa sete anos após Desperate Struggle, onde o ex-jogador de beisebol
Badman está sendo caçado por um sindicato criminoso. Antes de ser eliminado por um assassino dessa organização,
Badman confessa que seu único objetivo é eliminar
Travis Touchdown, que matou sua filha
Bad Girl durante o primeiro No More Heroes.
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A opção do modo cooperativo é um dos pontos fortes do game |
O vingativo pai, então, recebe do assassino um item chamado
Death Ball e a localização de seu alvo.
Travis agora vive em um trailer no meio de uma floresta no Texas, EUA, jogando jogos eletrônicos. Durante o ataque de
Badman, um misterioso videogame de
Travis, chamado
Death Drive MK-II, reage a
Death Ball e transporta a dupla para um mundo digital.
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Vamos lá buscar as Death Balls do... "tigrão"?! |
Lá, eles descobrem que se os jogos contidos nas
Death Balls, incluindo a de
Badman, forem completados, o console
Death Drive MK-II irá conceder um desejo. Assim, a dupla se une para acabar com os games e reviver
Bad Girl. Durante a campanha, conhecemos um pouco mais sobre o passado dos protagonistas e do universo de No More Heroes na atualidade, tal como uma verdadeira introdução.
Como é possível notar, a história é bastante maluca; mas acredite em mim, ela faz sentido uma vez que o jogador comece a fazer parte dela. Além disso, os personagens são carismáticos, rendendo diálogos interessantes e engraçados. Outro ponto alto do game, e da franquia como um todo, são as inúmeras referências:
Legend of Zelda,
Galaga,
Exterminador do Futuro,
Dragon Ball,
Devil May Cry e
Tron são alguns exemplos (confesso que devo ter deixado vários passarem batidos).
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Travis chegando para mais um game (semelhanças com outras mídias são meras coincidências) |
Desafios, colecionáveis e (muitas) batalhas
A mecânica básica consiste em avançar pelas fases derrotando vários tipos diferentes de bugs, passar por algumas seções leves de plataforma e vencer um chefe no final. Eles são inimigos com várias formas e habilidades diferentes, sempre trazendo nomes interessantes como
Spielbug,
Zuckerbug ou
Electric Triple Star. Para enfrentá-los,
Travis e
Badman tem a disposição dois tipos de ataques.
O primeiro é com as respectivas armas de cada um deles: a
katana laser de
Travis e o bastão de beisebol
laser (não pergunte) de
Badman. O jogador pode utilizar um ataque leve e um pesado, que, infelizmente, são simples e não possuem um conjunto de combos. Também é possível pular e esquivar rolando pelo chão.
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Mesmo funcional, o sistema de batalha ficou devendo mais profundidade |
Já o segundo tipo de ataques é proveniente de chips de batalha. Eles conferem habilidades como disparar raios elétricos, atordoar inimigos e recuperar a vida. Obtidos ao longo das fases ao derrotarmos bugs especiais ou em lugares escondidos, até quatro chips podem ser equipados por vez. E lembre-se de utilizá-los, pois os combates são justos, mas bem desafiadores, sobretudo no
endgame.
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Você obteve um "chip de batalha"! |
Falando de fases, em Travis Strikes Again elas são divididas de acordo com as diferentes
Death Balls. Isso porque cada uma delas é uma espécie de jogo em si mesmo, com temática, cenários e mecânicas exclusivas. A primeira é a mais linear, sendo que as demais sempre trazem alguma novidade.
Golden Dragon GP, por exemplo, intercala as lutas com corridas e
Life is Destroy traz quebra-cabeças interessantes.
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Cada "jogo" dentro do game tem seu charme próprio |
O problema é que, apesar dessas variações, a jogabilidade e as mecânicas de jogo são simples demais. No frigir dos ovos, elas se tornam repetitivas em vários momentos porque o foco maior é somente nas lutas, que são numerosas e por vezes cansativas. Mesmo a boa quantidade de itens escondidos é tediosa, visto que poucos deles são realmente úteis ou interessantes.
Muito estilo e conteúdo, mas pouca profundidade técnica
Os gráficos do jogo, ainda que sem grandes destaques, são estilosos e bonitos. O design como um todo é ótimo, com personagens, cenários e itens originais. Basta conferir o
HUD na tela ou o estilo de cada chefe. Pena que são poucas as cenas animadas, onde poderíamos ver todo o charme do universo No More Heroes em ação.
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Os visuais são bastante interessantes e variados |
Já as músicas são um ponto alto de Travis Strikes Again. Eu simplesmente adorei a trilha sonora, sempre muito bem escolhida para cada fase ou combate. Além disso, os efeitos sonoros são divertidos. O ponto negativo do som do game fica por conta da dublagem, que é deficiente, ou melhor, (quase) inexistente.
E é não pela razão mais óbvia: as vozes de todos os personagens são excelentes, mas o game tem pouquíssimas partes que as utilizam. A grande maioria dos diálogos e cenas utiliza textos, tornando a experiência limitada e por vezes maçante. As conversas são em sua maioria hilárias, mas ter que lê-las o tempo todo realmente incomoda, sobretudo porque precisamos delas para obter novas
Death Balls, através de um sistema do tipo
visual novel.
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Um pouco mais de capricho nas visual novels tornariam-nas ainda melhores |
Infelizmente, esse é mais um exemplo dos problemas de caráter técnico do título. As telas de carregamento, embora não sejam tão constantes, são meio demoradas para um jogo relativamente simples. Também encontrei alguns becos sem saída no game, onde uma porta ou passagem que deveria se abrir não funcionou. Embora reiniciar o título tenha resolvido, o espaçamento entre os pontos de salvamento me levou a repetir parte da fase.
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O game até oferece algumas variações no gameplay, mas ainda assim fica devendo |
Sendo um fã da série, jogar este game após ter zerado ambos Heroes’ Paradise e Desperate Struggle foi uma ótima experiência. O charme da franquia está lá e é realmente o destaque do game. É uma pena que ele seja tão modesto e tenha tantos problemas/limitações técnicas, o que pode afastar um pouco quem estiver conhecendo a série agora. O próprio jogo brinca com isso, sempre referenciando
No More Heroes 3, que deve sair em 2020 para o Switch.
Um bom aperitivo para o prato principal
Já fazia tempo que
Travis Touchdown estava quieto com seus videogames. Logo, nada melhor do que
Travis Strikes Again: No More Heroes Complete Edition (PC/PS4) trazer o divertido universo dos assassinos para novos tempos. O estilo, os combates emocionantes, a grande quantidade de colecionáveis e o charme dos personagens e história estão todos lá. Mesmo com vários pontos técnicos negativos, o game é ótimo para os fãs e uma opção interessante para quem quiser conhecer a série antes do seu novo título principal.
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Uma aventura maluca, divertida e desafiadora em Travis Strikes Again |
Prós
- Jogo transcorre em um universo rico, divertido e original;
- Gráficos bonitos e estilosos;
- Jogabilidade simples e funcional;
- Nível de dificuldade bem definido;
- Boa quantidade de desafios e itens para coletar.
Contras
- Jogabilidade e mecânicas de jogo se tornam repetitivas em muitos momentos;
- Seções de visual novel são monótonas;
- Várias limitações técnicas, como falta de dublagem, problemas na progressão e loadings demorados.
Travis Strikes Again: No More Heroes Complete Edition – PC/PS4 – Nota: 7.5
Versão utilizada para a análise: PS4
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games