Análise: John Wick Hex (PC) traz muita ação através de um interessante quebra-cabeça

Jogo utiliza bem uma proposta de estratégia para representar toda a ação dos filmes.

em 22/11/2019
Adaptações de filmes para o mundo dos games (e vice-versa) são sempre envoltas por muita desconfiança. Nem sempre é fácil transportar toda a emoção e magia entre mídias diferentes, pois sempre serão necessárias algumas concessões. John Wick Hex (PC) é um exemplo interessante, pois o game utiliza uma espécie de quebra-cabeça para representar os longas-metragens cheios de ação. Ficou curioso? Então vamos conferi-lo em mais uma análise do GameBlast.

Bem-vindo ao mundo dos assassinatos

Admito que quando vi o nome “John Wick” no título, meus primeiros pensamentos sobre como o game seria envolveram muita ação, tiroteios, sangue e toda sorte de combates frenéticos. E, embora Hex traga todos esses elementos, a forma com que eles foram concebidos é bastante diferente. Tal como citado anteriormente, o título inova ao focar em mecânicas que requerem tática e estratégia.
Uma nova franquia de filmes de ação surgiu em 2014
O primeiro filme, hoje pertencente a uma franquia, John Wick foi lançado em 2014. Repleto de ação e charme, a película fez muito sucesso e, assim, gerou duas continuações até o momento. A parte quatro já está confirmada e deve sair em 2021, assim como uma possível série de TV, sem falar em quadrinhos e outras mídias.
John Wick é sinônimo de lutas e tiroteios de qualidade
A premissa do universo dos filmes é que, nos tempos atuais, existe uma espécie de sociedade secreta entre bandidos, mafiosos e assassinos. Mesmo sendo maus elementos, todos seguem uma espécie de código que organiza este mundo criminoso. Existem locais neutros onde combates são proibidos, moedas especiais usadas somente nessa sociedade e grupos poderosos que regularizam contratos de trabalho e a relação entre todos os membros.

Nos filmes, temos como protagonista John Wick, considerado um dos maiores assassinos do planeta. Interpretado com maestria por Keanu Reeves, o personagem é responsável por levar os espectadores por esse mundo misterioso e muito interessante. Sem grandes spoilers, as premissas dos filmes lidam com o retorno do protagonista ao universo criminoso, após seu afastamento por alguns anos.
O jogo trouxe uma representação intressante do famoso assassino
John Wick Hex (PC) foi lançado em outubro de 2019 e apresenta uma história original que se passa antes das aventuras dos três filmes. Um vilão chamado Hex, até então considerado uma espécie de mito, tem um plano secreto que envolve o então na ativa John Wick. Conforme a história avança, descobrimos mais sobre o malfeitor e sua relação com Wick e o mundo dos assassinos.

Muita ação, mas de uma maneira original

Desenvolvido pela Bithell Games e publicado pela Good Shepherd Entertainment, o game está disponível para PC e Mac através da Epic Store. Embora tenha sido anunciado que os consoles da nova geração também receberão uma versão do jogo, ainda não temos uma data confirmada. Creio, entretanto, que foi uma decisão acertada, sobretudo para o início da vida do título.
Prepare-se para muita ação através de muita estratégia e recursos
Digo isso porque jogar pelo computador me pareceu mais natural do que seria utilizando um controle. John Wick Hex usa mecânicas que tem várias semelhanças com um jogo de tabuleiro. O mouse é utilizado para a maioria das ações na tela, sendo que o teclado tem como principal função ajustar a câmera durante as partidas.

O chão do mapa é dividido em pontos com distâncias constantes e o jogador deve clicar em qual John deve se deslocar. As fases terminam quando você consegue chegar inteiro ao fim do cenário, mas para isso o assassino deve lidar com vários inimigos pelo caminho. Como recursos, Wick conta com armas de fogo e ataques físicos como socos, empurrões e golpes de artes marciais.
Os tiroteios são sempre emocionantes
Tudo que acontece no game é ditado pela linha de tempo no topo da tela. Ou seja, um jogo de estratégia que não é ditado por turnos, mas sim por quanto tempo cada ação necessita. Caminhar, agachar, recarregar, atacar e atirar requerem um determinado número de segundos, exigindo que o jogador pense bem antes de agir.

Estratégia e um pouquinho de sorte

Não existe uma penalidade por demorar algum tempo pensando na melhor sequência de ações, o que ajuda muito. Por exemplo: se atirar demora 0,5 segundos de preparação e um inimigo realiza um ataque antes disso, John é atingido, perde saúde e ainda tem o seu movimento interrompido. Calcular o tempo de reação dos adversários desatentos e procurar cobertura em momentos de desvantagem são algumas medidas fundamentais para vencer.
Preste atenção ao seu redor para lidar com todos os inimigos
Obviamente, o nosso assassino tem mais reflexos e força que a maioria dos inimigos. Afinal, o também conhecido como “bicho-papão” é um dos melhores do mundo, mas lembre-se que ele não é invulnerável. Além do tempo de cada ação, o jogador deve ficar atento as barras de foco, exigido para alguns movimentos mais complexos, saúde, recuperada através de escassas bandagens, e munição.

Planejar as ações de acordo com os tempos de cada uma delas e com os movimentos dos inimigos é essencial em John Wick Hex. Mas o game também adiciona um elemento aleatório nas suas mecânicas. Cada ação tem uma certa probabilidade de ocorrer corretamente, sendo que essa chance depende de vários fatores diferentes.
As porcentagens dadas para o sucesso das ações acrescentam um nível a mais no planejamento
Se John estiver agachado e na mesma linha que um inimigo próximo, sem obstáculos entre eles, então a chance de acerto de um tiro é de 100%. Por outro lado, se Wick estiver longe do adversário e ambos estiverem em movimento, então a probabilidade pode cair para 40% (ou menos). Mas lembre-se que os vilões também estão sujeitos a esse efeito.

Bom, mas poderia ter sido melhor

Todos esses elementos oferecem um game equilibrado, com boa dose de desafio e diversão. As mecânicas de jogo, entretanto, não recebem atualizações ou mudanças significativas ao longo do progresso. Logo, o título pode se tornar um pouco tedioso em certos momentos, exigindo um planejamento preciso e/ou várias repetições das fases.
O game poderia ter inovado um pouco mais ao longo da progressão nas fases
Alem dos cenários convencionais, o game também conta com fases que possuem um chefe. Para vencê-los, é necessário reduzir o foco deles através de ataques físicos, para só então tirar vida através de armas de fogo. Esses combates do tipo “gato e rato”, entretanto, não chegam a quebrar o ritmo do jogo.

Essa ausência de novidades também se estende ao inventário e recursos de John Wick. Ao começar um novo capítulo, é possível utilizar moedas para melhorar algumas características do assassino, como reduzir o uso de foco ou melhorar a precisão de alguns movimentos. Infelizmente, o sistema é simples demais e não se estende a novos itens.
Os relatórios ao final das fases é útil para monitorar o nosso desempenho
Itens, aliás, que ficaram devendo no quesito armas brancas ou improvisação. John utiliza toda sorte de facas e objeto interessantes nos filmes, incluindo até mesmo o seu próprio cinto. Certamente isso se deve a sua própria jogabilidade, que embora interessante, abre poucas brechas para improvisação e criatividade. É como se o jogo fosse uma espécie de quebra-cabeça que, apesar de divertido, tem regras rígidas e não oferece novidades significativas ao longo da campanha.

No quesito técnico, o game vai muito bem. Os gráficos são estilosos e casam bem com o clima do jogo, embora pudessem ter sido um pouquinho mais refinados. Quanto ao som, as músicas são boas e os efeitos sonoros OK. O destaque fica na dublagem: além do ótimo trabalho no vilão Hex, quem já assistiu pelo menos uma das películas vai notar que os atores Ian McShane e Lance Reddick cederam suas vozes para os seus respectivos personagens Winston e Charon.
Charon, Winston e Hex são destaques do game
O game disponibiliza, no final das fases, uma opção para o jogador rever a sua partida. Confesso que esperava mais desse recurso, que não tem boas tomadas de câmera ou configurações, que poderiam gerar vídeos interessantes. Fica a esperança que as versões para consoles, e uma potencial atualização para os computadores, tragam algumas novidades pontuais e tornem esse título ainda melhor.

Si vis pacem, para bellum

Não são muitas as adaptações de filmes que resultam em bons jogos eletrônicos. John Wick Hex (PC) é um ótimo exemplo de como fazer direito, sobretudo pela sua abordagem única. Utilizando mecânicas de estratégia e quebra-cabeça, o game consegue oferecer desafios interessantes e cheios de recursos. Mesmo carecendo de mais novidades ao longo da campanha, a experiência final é satisfatória e divertida, sendo uma boa opção para quem quer um título de “ação” diferente.
Seja o temido Baba Yaga em John Wick Hex

Prós

  • Ótima e diferente proposta para representar ação através de estratégia;
  • Estilo gráfico e trilha sonora são agradáveis e combinam bem com o clima do jogo;
  • História simples, mas bem contada e desenvolvida com a presença de ótimos dubladores;
  • Jogabilidade semelhante a um jogo de tabuleiro interativo é viciante;
  • Bom equilíbrio entre diversão e desafio.

Contras

  • Fraca presença de upgrades e novos itens;
  • Devido à sua proposta, o game acaba ficando um pouco tedioso em vários momentos;
  • Opção para assistir as partidas poderia ter sido melhor implementada.
John Wick Hex - PC/Mac - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia cedida pela Good Shepherd Entertainment

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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