Análise: Magic: The Gathering Arena (PC) pode ser tão divertido quanto a versão física do card game

Lançado oficialmente no último dia 28, o jogo permite partidas no formato padrão contra amigos e adversários de todo o mundo.

em 04/10/2019
Magic: The Gathering é um jogo de cartas colecionáveis desenvolvido pelo professor Richard Garfield e lançado em 1993 pela Wizards of the Coast, tornando-se um sucesso desde a versão Beta e, à essa altura, é atualmente o maior card game já lançado até então.


Magic: The Gathering Arena (PC) veio definitivamente para colocar nas mãos das novas gerações, acostumadas ao entretenimento puramente eletrônico, toda a emoção que os jogadores veteranos possuem em partidas reais.

Vamos tentar — de novo

Com o iminente sucesso e a vinda de novas tecnologias, o título já se enveredou nos mais diversos meios de entretenimento, desde o insosso Magic: The Gathering — Battlemage (lançado em 1997 para PlayStation) e mesmo em adaptações virtuais do jogo propriamente dito, como o Magic: The Gathering Online (PC), Magic Duels: Origins (PC) e Magic: The Gathering – Duels of the Planeswalkers (PC).
Battlemage é tão horrível quanto parece.


Até o momento, a despeito das dificuldades na jogabilidade de Magic: The Gathering Online, esta foi a versão preferida dos jogadores, especialmente os que optam pelo aspecto competitivo, em razão das partidas serem exatamente como ocorrem em disputas reais.

As demais versões, embora sejam visualmente mais atraentes, possuíam mecânicas que tentavam facilitar a entrada de novos jogadores mas, com a péssima execução no desenvolvimento, tornavam as jogadas e efeitos resultantes das cartas ainda mais difíceis de manipular.
Magic: The Gathering Online: um dos preferidos dos jogadores veteranos e competitivos.


Na tentativa em adentrar de uma vez por todas nesse universo, a Wizards optou em criar seu próprio estúdio de desenvolvimento, o Wizards Digital Games Studio, que receberia aporte não apenas da empresa maior, como seria constituída por quem realmente compreendesse as nuances envolvendo o card game.

De antemão, dentre todos os jogos até então lançados sob o selo “Magic: The Gathering”, Arena é o jogo definitivo para partidas no formato padrão/Standard (formato em que são permitidas em jogo somente cards lançados nas últimas coleções) e arrebatou milhares de jogadores em todo o mundo.

Visual, jogabilidade, sons

A primeira coisa que notamos desde os trailers promocionais em plataformas de compartilhamento de vídeo é o lindo visual do jogo. Como é voltado para um público mais jovem, alguns aspectos como efeitos e movimentos de algumas criaturas representadas nas cartas foram bem inseridos, dando um ar de aventura e emoção aos jogadores.

Muitas das “arenas”, que representam a mesa física onde os jogadores disputam entre si, possuem elementos como torres, animais, insetos, gárgulas, estátuas que, ao serem clicadas com o mouse, realizam movimentos ou desencadeiam efeitos. Isso não faz qualquer diferença in game, mas demonstram que no aspecto visual a equipe de desenvolvimento da Wizards caprichou para que tudo fosse bonito e atraente.
Arena: indiscutivelmente bonito.


Mas de nada adianta um produto ser visualmente lindo se a jogabilidade for desastrosa ou inacessível aos jogadores. Nesse aspecto, como já dito, Arena é o jogo definitivo para qualquer categoria de jogadores — casuais ou competitivos — que estejam focados no formato padrão.

Conforme o nível de compreensão das mecânicas for incrementado ao jogador, este poderá optar por um controle maior das jogadas, como quais terrenos serão “virados” ou quais habilidades, das criaturas, terão seus efeitos realizados primeiro, ou ainda, o momento das fases de cada turno. Para total controle do jogo, basta que acesse o menu de configurações e desmarcar as opções automáticas.
A árvore de maestria permite a liberação de novas cartas e efeitos foil.


No final das contas, basicamente toda a movimentação do jogo se dará com a utilização do mouse e apenas algumas teclas como “Z” ou “Ctrl” , que serão utilizadas para desfazer uma jogada não confirmada ou ter automaticamente total controle sobre o jogo (como se desmarcasse as jogadas automáticas em configurações), a título de exemplo.

No aspecto sonoro, não apenas o som de criaturas, golpes físicos e efeitos mágicos são muito bem desenvolvidos, como a trilha sonora, que possui uma temática aventureira e desafiante, tornando o jogo um produto completo.

Sintam-se em casa, veteranos e noviços

Ao realizar seu cadastro junto ao portal da Wizards, o jogador obterá um número exclusivo, precedido de seu nickname e “#” — e será esta a forma de identificação para que seja possível realizar partidas com amigos especificamente.

Após o download, instalação e a inserção do e-mail e senha cadastrado junto ao serviço, o jogador será imediatamente levado para uma tela de tutoriais a fim de que compreenda as mecânicas básicas do jogo.
Os tutoriais ensinam o básico do jogo e desenvolvimento de estratégias.
Ao longo das cinco partidas tutoriais, o jogador aprenderá conceitos como “custos de mana”, sistemas de combate, combat tricks e condições de vitória e derrota. Por sinal, a última rodada consistirá num embate contra Nicol Bolas, um dos seres mais odiados (amados por alguns) e poderosos do universo Magic, onde todo o conhecimento obtido pelo jogador será colocado à prova.

O básico do jogo no formato padrão

Todo jogador de Magic: The Gathering será detentor de um deck formado com no mínimo 60 cartas. As cartas se dividem em diversas categorias como Criaturas, Terrenos, Mágicas Instantâneas, Feitiços, Auras, Encantamentos e Artefatos.

Com exceção dos Artefatos, todas as cartas dividem-se em cinco cores básicas, cada qual representando especificidades de jogo e cada uma delas representada por um tipo de “terreno”. Além disso, cada cor possui suas cores “aliadas” e “adversárias”, representadas pelas cores que estejam mais próximas ou mais afastadas delas, como indicado na parte de trás de qualquer card.


A despeito da conceituação básica e simplificada, não há qualquer impedimento para que os jogadores elaborem suas estratégias com quaisquer cores que desejem — sejam estas “opostas” ou “aliadas”, bastando que as cartas tenham interação entre si. Dessa forma, não é incomum encontrarmos decks com duas, três ou mesmo cinco cores — e muitas das cartas representam mais de duas cores, muitas delas “opostas”.
Kit inicial de decks entregues aos novos jogadores.


Com a estratégia em mente, o jogador deverá elaborar seu deck , buscando um número equilibrado entre terrenos (necessários para a geração de “mana” e, consequentemente, o conjuro de mágicas), criaturas (a principal forma de vitória em jogos convencionais, já que serão  a principal forma de causar dano nos pontos de vida do adversário), mágicas instantâneas e feitiços (utilizados para truques de combate, aquisição de novas cartas no deck, mágicas de destruição de criaturas adversárias etc), além de artefatos, auras, encantamentos e equipamentos, que gerarão os mais diversos efeitos em jogo.
A construção de decks próprios começa aqui.


Para os jogadores recém iniciados, tão logo concluam o tutorial, receberão cinco decks completos, cada um representando as cores existentes em Magic. Conforme obtenham maior experiência, poderão alterá-los com a aquisição de novas cartas ou mesmo combinarem cartas das mais diversas cores entre si para gerarem efeitos poderosos.

É gratuito, mas...

Arena não exige absolutamente qualquer desembolso para que os jogadores possam usufruir do produto. Além dos decks básicos, diariamente os jogadores recebem diversas “missões”, consistentes em “baixar determinado número de terrenos” ou “conjurar determinado número de mágicas de alguma cor”.

Essas missões diárias fornecerão “gold”, que são utilizados para a aquisição de novos boosters (pacotes com cartas aleatórias para incrementar o jogo) ou para que os jogadores participem dos diversos eventos semanais que a Wizards promove em Arena.
A partir do Lv. 3 é possível participar dos eventos pagos e gratuitos semanais oferecidos.


A grande questão é que cada uma dessas missões diárias possuem recompensas que variam entre 500 e 750 gold, ao passo que boosters de qualquer coleção custam 1000 gold. Em outras palavras, para um jogador que complete somente as missões diárias, ele terá meios de adquirir somente um booster a cada dois dias, número insuficiente para que um deck competitivo seja construído em um reduzido período de tempo.

Além disso, eventos com premiações melhores, como diversos pacotes de boosters e uma determinada quantia em gold, exigem como entrada uma quantia equivalente a 5000 gold, tendo o jogador médio que optar entre participar de eventos competitivos para incrementar sua premiação ou tornar sua coleção de cartas mais competitiva.  
Mensagens curtas pré programadas são meios de interagir com adversários.


Em um dado momento, alguns jogadores criticam este sistema declarando que Arena, em verdade,  torna-se um pay to win. Embora as críticas devidas ao sistema de recompensas, não é de todo verdade que somente com a aquisição de “gemas” (adquiridas com moeda real) e, consequentemente, a obtenção de diversos boosters com as mesmas que permitirão progresso no jogo.

De fato, a política de gemas é um estímulo à aquisição de produtos com dinheiro real, no entanto, para o jogador médio que realize suas missões diárias e se atente aos diversos códigos que a própria Wizards remete ao e-mail cadastrado (os quais oferecem desde cards gratuitos a pacotes com três boosters), é possível que desenvolva um jogo equilibrado e, mesmo, competitivo.
A loja do jogo e as fatídicas gemas.


Para tanto, jogadores de nível baixo comumente não são lançados para disputar contra jogadores de alto nível — o que tornaria a experiência extremamente ruinosa para quem ainda está em seus primeiros passos em Magic. Mesmo para players competitivos, partidas “ranqueadas” (que oferecem premiação a cada temporada em acordo com o nível obtido) são equilibradas com jogadores de mesmo nível de ranking (como “Bronze” ou “Mítico”, por exemplo).

E então, vale a pena?

Magic: The Gathering Arena chegou com tudo. Este redator possui experiência no formato físico do card game desde a 7ª edição e experimentou todos os jogos eletrônicos de Magic desde então — inclusive o horrível Battlemage para PlayStation. Embora o Magic Online possua todos os formatos disponíveis no jogo real — ao passo que Arena se limita ao formato padrão —, este é ainda a melhor recomendação para novos jogadores ou mesmo aqueles que optem pelo formato Standard.
A Wizards prometeu inserir o formato Brawl em Arena.


O aspecto visual e sonoro são muito acolhedores, de fato, mas a facilidade na realização de jogadas e a escolha facilitada para eventuais efeitos de jogadas e mágicas realizadas são facilmente assimiladas por jogadores, qualquer que seja o nível deles. Nesse aspecto, a melhor jogada (com o perdão do trocadilho não intencional) da Wizards foi tomar as rédeas de seu produto eletrônico.

Por outro lado, o excesso de efeitos durante as jogadas, embora visualmente bonitos, podem demandar mais do computador do que deveria para um jogo que, no final das contas, é um duelo de cartas colecionáveis.

Além disso, as premiações pelo cumprimento das “missões diárias” talvez faça com que o jogador sinta que não progride no jogo mas, considerando que dificilmente ele será colocado para disputar contra jogadores com mais experiência, serão incomuns partidas em que alguém possua um deck altamente competitivo disputando com alguém que ainda está com seu deck promocional fornecido pelo Arena.

Em mesmo sentido, o jogo é igualmente acessível pelo fato de que está localizado para português brasileiro, sendo bastante didático especialmente durante os tutoriais — sendo de suma importância neste caso que o jogador se atente a todas as orientações que eventualmente receber.
Avatares representam os jogadores durante as partidas.


Em suma, é recomendado a todos aqueles que conhecem o jogo físico, mas nunca tiveram a oportunidade em experimentá-lo no mundo real, àqueles que conhecem o jogo mas querem disputar o formato padrão contra jogadores do mundo todo e mesmo aqueles que sequer ouviram falar em “Magic” mas procuram um card game virtual acessível, divertido, de fácil aprendizado e de rápido domínio de jogo.

Prós

  • Versão eletrônica do mais famoso card game atualmente;
  • Tutoriais didáticos a novos jogadores;
  • Localização em português brasileiro;
  • Visual, jogabilidade e sons irrepreensíveis;
  • Distribuição de jogadores por nível mantém o jogo equilibrado;
  • Gratuito.

Contras

  • Premiações pela realização de missões diárias são baixas;
  • Efeitos visuais excessivos exigem do computador;
  • Eventos com melhores premiações exigem alto valor de gold ou mesmo gemas;
  • Premiações em eventos ranqueados não valem o tempo investido no jogo
  • Sistema de embaralhamento apresenta falhas.
Magic: The Gathering Arena — PC — Nota: 8.5

Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia distribuída gratuitamente pela Wizards

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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