Lunar: The Silver Star (Sega CD): o encontro da tradição com a inovação que marcou uma era

Pegando o que existe de melhor da tradição do JRPG, a Game Arts entregou um grande jogo que tem tudo o que um fã nostálgico dos Role-Playing Games precisa.

em 03/10/2019

Lunar: The Silver Star é um RPG desenvolvido pela Game Arts e Studio Alex e lançado originalmente para Sega/Mega-CD em 1992 no Japão. Graças ao sucesso do título em terras nipônicas, a Working Designs trouxe o título para o Ocidente no ano seguinte. Um dos primeiros títulos a entrar na era do CD-ROM, Lunar trouxe como novidade músicas em alta qualidade e cutcenes animadas no estilo anime. Que tal embarcar conosco nesta aventura carismática de Alex em busca de se tornar um grande herói?


As origens da transição para o CD-ROM

Lunar: The Silver Star foi aclamado pela crítica e público logo no seu lançamento, em 1992. Foi um dos títulos mais vendidos para o Mega-CD da Sega, e não demorou muito para desembarcar também no PlayStation e Sega Saturn como Lunar: Silver Star Story Complete, uma espécie de remaster do título original. Em 1994, uma sequência chamada Lunar: Eternal Blue foi lançada, seguindo por Lunar Legend (2002) e o remake do título original, Lunar: Silver Star Harmony em 2009 para PSP.

Lunar: The Silver Star é um RPG "Top-Down" tradicional, no mesmo estilo dos carismáticos JRPGs da era dos 16 bits, com seus personagens em cenários renderizados em sprites 2D. Aqui, tudo o que existe de melhor nos JRPGs clássicos é oferecido em abundância: viajar entre as vilas, dungeons, interagir com NPCs e as famosas batalhas de turno. Tudo está lá, do jeito que você se lembra quando assoprava fitas.

A grande novidade foram as cutcenes animadas, filmes curtos que ajudavam a direcionar a história — tudo graças a nova tecnologia das mídias ópticas, que começava a dominar o mercado. Estávamos em uma era de transição, onde as pixels art da época do 16 bits conviviam muito bem com as novas possibilidades dos CDs. As músicas eram gravadas em arquivos de áudio digital, que garantiam uma qualidade extraordinária para a trilha sonora, que por si carregava composições de alto nível.

Apenas em 1997 com Final Fantasy VII que o gênero RPG japonês iria de fato abandonar os pixels em prol da renderização poligonal e do CGI. Porém, até aquela época, e mesmo durante a era dos 32 bits, era fácil encontrar toneladas de títulos no estilo clássico. A biblioteca do PlayStation e do Saturn é um exemplo vivo de como o estilo ainda sobrevivia bem, e Lunar é uma das estrelas dessa categoria.

Claro, mesmo a partir da sexta geração ainda existiam jogos no estilo "Top-Down" em 2D, porém eles foram ficando cada vez mais raros. O boom dos consoles portáteis ajudou a manter o estilo vivo, e a onda retrô da atualidade desperta o interesse dos jogadores nos jogos de RPG clássicos. Lunar: The Silver Star é um excelente jogo, acumulando média de 86% na GameRankings e 78/100 no Metacritic. A franquia angariou fãs nostálgicos pelo mundo e se mantém presente no coração de seus admiradores até hoje.

Partindo em busca de uma nova aventura

Na história, o jogador assume o papel de Alex, um jovem que sonha em se tornar um grande herói, assim como seu ídolo, o lendário Mestre de Dragões Dyne. Para isso, ele se envolve em várias situações perigosas a fim de embarcar em uma grande jornada que defina seu destino como herói.

Em uma dessas aventuras, Alex viaja até a caverna de um dragão junto com seu amigo Ramus, o "mascote" Nail — uma espécie de gato voador fofo—, e sua paixonite de infância, a bela Luna, atrás de uma pedra preciosa. Ao chegar na caverna, o time é abordado por Quark, um dragão centenário, que diz ser o destino de Alex se tornar o próximo Mestre dos Dragões. O sábio dragão sugere que o rapaz parta em uma grande aventura pelo mundo em busca desse destino.

Ao retornarem à vila em que moram, os jovens aventureiros decidem acompanhar Alex em sua jornada, cada um com um motivo pessoal. Ramus quer vender a pedra preciosa que encontraram na caverna, Nail quer acompanhar seu tutor para presenciar a realização de seu sonho de herói, já Luna quer apenas protegê-lo. O grupo então parte em uma grande jornada e é aí que nossa aventura começa.

Cada personagem tem seus motivos, sua personalidade bem definida e são peças chaves do enredo, como todo bom JRPG deve ser. Destaque especial vai para a menina Luna, que inclusive inspirou o título do jogo. Logo na cena inicial encontramos a moça cantando uma bela canção que ela mesma não sabe a origem. Mais para frente descobrimos que a cantoria de Luna tem poderes mágicos de cura, e a própria moça não sabia dessas habilidades.

O Mestre de Dragões Dyne, grande herói em que Alex tenta se espelhar, tinha a missão de proteger a deusa Althena, uma entidade benevolente do mundo de Lunar. Assim, logo no início do jogo já sabemos que Luna tem alguma ligação com a tal entidade, e que a missão de Alex de se tornar um novo Mestre de Dragões tem algo a ver com sua amizade com a garota. O resto do enredo, obviamente, deixaremos para você, caro jogador.

Um RPG clássico para ninguém botar defeito

Como dito acima, Lunar: The Silver Star é um JRPG tradicional em todos os seus aspectos. Você tem um mundo inteiro para explorar, com cidades simpáticas para esticar as chuteiras de vez em quando. Existem dungeons perigosas cheias de monstros que são enfrentados em batalhas de turno e entregam XP quando derrotados. Está presente também o grinding tedioso para poder subir de nível e encarar novos desafios. Tudo está aí do jeito que você conhece da saudosa era dos 16 bits.

Neil, o mascote gato voador, não participa das batalhas, mas serve de suporte, analisando os inimigos antes das lutas começarem de fato. Como todo bom JRPG das antigas, os personagens encontram itens equipáveis pelo cenário, e os itens e armas garantem melhorias de atributos para deixar o time mais competitivo para as batalhas que virão.

Quando derrotado, o jogador tem a opção de carregar um estado de jogo previamente salvo ou começar de um checkpoint automático — outra novidade da época que estava sendo introduzida aos poucos. Com a força do hardware do Sega Saturn e do PlayStation, algumas melhorias pontuais foram feitas, como a inclusão de uma paleta de cores melhorada, alguns efeitos visuais e maior qualidade na trilha sonora.

Durante as batalhas, o jogador pode escolher, por meio de comandos, atacar, usar magias, itens, se defender, mover-se no campo de batalha ou fugir, como é de tradição nos JRPGs de turno. As batalhas são vencidas quando todos os inimigos são derrotados. Quando isso acontece, pontos de experiência são distribuídos entre os personagens, que vão evoluindo e se tornando mais poderosos. Porém, ao avançar na história, os inimigos e chefes também se tornam mais poderosos, mantendo o desafio da jornada.

Por detrás de uma obra mais que bem feita

Lunar: The Silver Star foi desenvolvido pela Game Arts em um projeto visionário que tentava unir o gameplay com narrativa animada no estilo anime. Por isso o Mega/Sega-Cd caiu como uma luva para a desenvolvedora, pois oferecia exatamente o que era preciso para as experimentações da Game Arts. Como a Game Arts tinha pouca tradição em jogos de RPG (seu foco sempre foi plataforma e shooters do Mega Drive e PC Engine), foi criada uma subsidiária chamada Studio Alex.

Pelo nome do estúdio, dá para perceber a importância de Lunar para a desenvolvedora. A versão ocidental ficou a cargo da Working Designs — culpe eles pela voz irritante de Neil. Apesar desse detalhe, o trabalho de localização foi muito bem feito.

O amor e dedicação em cima da localização foi tanto que a equipe de tradução teve a liberdade de criar sentenças próprias do idioma inglês, como “Have you ever tried swimming in lemon jello?” e diversas piadas que faziam referência a cultura pop, comerciais americanos, celebridades, coloquialismos e alguns clichês de RPG.

A incrível trilha sonora abusa da capacidade do Sega CD em renderizar músicas em qualidade de CD. As músicas dos jogos até viraram um CD de áudio, lançado em 1992 no Japão e na versão do PlayStattion, Lunar: Silver Star Story Complete Collector's Edition, podemos encontrar esse CD com a trilha sonora.

O legado do mais do mesmo

Lunar: The Silver Star foi um sucesso de vendas no Japão, conseguindo esgotar 100.000 cópias do jogo para a plataforma Sega/Mega-CD. Toda a produção japonesa do jogo foi vendida, e o jogo pode ser considerado um system seller junto com Sonic CD. O jogo, inclusive, mantém o título de mais vendido do Sega-CD no Japão.

Na lista de vendas mundiais, ele perde apenas para Sonic CD. A versão ocidental do jogo alcançou sucesso semelhante, principalmente com a crítica especializada. Revistas como Game Players, Game Pro e EGM intitulam o jogo como um dos melhores JRPG já produzidos.

A versão do PlayStation, mais conhecida do público ocidental, é uma espécie de remake/remaster e possui o nome de  Lunar: Silver Star Story. Mantendo a mesma trama da versão original e introduzindo algumas melhorias técnicas, a versão do console da Sony vendeu 223.000 cópias apenas nos EUA.

O jogo foi o terceiro JRPG mais vendido de 1999, ficando atrás de Final Fantasy VII e Planescape: Torment. Em 1998 tivemos uma sequência, Lunar 2: Eternal Blue Complete, já em 2002 Lunar Legend foi lançado para Game Boy Advance. Por fim, em 2010, um caprichado remake chegou ao PSP, Lunar: Silver Star Harmony.


Conforme podemos ver, não há nada de novo e revolucionário aqui. A Game Arts simplesmente resolveu entregar mais do mesmo de uma maneira magistral, o que acabou agradando a uma enorme quantidade de pessoas amantes do gênero JRPG. Lunar Silver Star é um jogo gostoso, clássico, com visuais incríveis e uma belíssima trilha sonora! Um jogo essencial para quem busca algo mais tradicional, do mesmo jeitinho que um bom JRPG sempre foi feito. 

Revisão: Farley Santos

Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
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