BGS 2019: O estande do SBT no evento e a relação íntima da emissora com games

Apesar de parecer fora da curva em relação ao que o evento representa, a presença da emissora faz sentido e podemos provar.

em 16/10/2019

Todo ano, a BGS nos brinda com alguma peculiaridade que parece completamente fora de mão em relação ao que o evento é. Nesse ano, um dos estandes que mais chamaram a atenção foi justamente o do SBT, estrategicamente posicionado logo como o primeiro que a gente encontra na entrada lateral, destinada aos VIPs e Imprensa.


Tratava-se de um estande de trezentos metros quadrados que se sustentava basicamente na questão da nostalgia, visto que a série Chaves, que nem é tão exibida com tanta intensidade hoje como já foi um dia, tinha bastante destaque no espaço, com direito a inclusive uma loja própria de produtos oficiais e uma mini-reprodução da icônica vila do personagem.

Além de uma reprodução diminuta da vila, também era possível jogar os games do personagem que saíram para o Wii.
A questão principal é que, apesar de parecer fora do espectro para o público da própria BGS — que é mais jovem, enquanto o da emissora atinge a parcela da população que tem mais de 50 anos — pareceu-me extremamente pertinente a presença do Sistema Brasileiro de Televisão no evento.

Afinal, vamos lá: historicamente, qual é o formato mais repetitivamente utilizado pela emissora ao longo de sua história no sentido de atrair engajamento do público? Os Game Shows estão inerentemente ligados ao DNA do SBT. São games, no fim das contas. Um tipo de competição e jogatina através da televisão que já existia desde antes dos videogames se consolidarem com tanta força na esfera popular.
O estande do SBT era muito bem projetado. Remetia a várias atrações da emissora, como é o caso do Palco onde rolou o Passa ou Repassa.
Explica-se: os videogames, em sua forma mais crua, funcionam basicamente em um sistema de input, em que o jogador insere um comando — como o apertar de um botão, tocar na tela ou movimentar o controle — e logo depois recebe uma espécie de feedback¸ que é como esse mesmo sistema reagiu. Os games do Bom Dia & Companhia, que podiam render desde um PlayStation 2 a até mesmo um incrível Dynavision ou um clássico Jogo da Vida, não funcionavam desse jeito? De uma criança ligar para o programa, escolhia, por exemplo, o seu ratinho favorito (input) que iria competir contra outras crianças em uma corrida e esperava pelo resultado (feedback)? 

Isso porque esse não foi um exemplo de gameshow que se tornaram games de verdade. O Roda a Roda, em exibição até hoje, já foi comercializado como um jogo de tabuleiro. O mais clássico deles, Show do Milhão, também recebeu não só uma versão de tabuleiro, mas também digital, com novas edições sendo lançadas até hoje. Casa dos Artistas, Roletrando e Qual é a Música também foram transformados em jogos de tabuleiro. O SBT sabe capitalizar esse formato como ninguém.
A minha desconfiança é que esse mesmo estande será reutilizado em outros eventos no futuro, como a CCXP. 
Na própria BGS havia reconstituições em que os visitantes podiam simular várias das atrações do passado, apresentadas pelo Homem do Baú, como a cabine de dinheiro do “Quem Quer Dinheiro”, um pequeno palco onde o Show do Milhão podia ser reencenado e até mesmo os piões do Baú, que nos rendiam prêmios se conseguíssemos três números iguais nas roletas.

Ou seja: o estande do SBT, na BGS, faz muito mais sentido do que parece, mesmo parecendo um pouco fora da curva em termos de público. Seria uma tentativa de engajar o jovem que não aguenta mais assistir ao Programa do Ratinho e precisa ter um contato diferenciado com a marca? O único questionamento que fica, afinal, são as alegações do dono, Senor Abravanel, afirmando que certas reformas do governo precisariam ser aprovadas porque a emissora está em vias de quebrar e precisa manter o emprego de todo mundo que trabalha lá — mas gasta uma nota no aluguel do metro quadrado do evento para fazer uma ação dessas. Acontece. 

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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