Pois bem, como descrever toda essa virada de No Man’s Sky que, passados três anos do seu lançamento, já recebeu inúmeras atualizações e correções totalmente gratuitas? Seria tudo isso o mínimo que a Hello Games deveria ter feito após um lançamento tão controverso? Ou será que a empresa pode ser considerada um exemplo a ser seguido com sua postura aparentemente honesta e humilde frente a comunidade de jogadores? Pois bem, é sobre este assunto que vamos debater um pouco aqui hoje, mas obviamente, estendendo o tema para além únicamente da Hello Games ou de No Man’s Sky.
O desastre premeditado
Falar do desastre de No Man’s Sky em 2016 é, logicamente, falar de Sean Murray. O “garoto propaganda” da Hello Games foi responsável por boa parte do hype surgido do jogo independente. A proposta inicial do projeto lá em 2013 envolvia a ideia, até então inovadora, de usar o gênero de exploração espacial com uma tecnologia procedural totalmente nova. A ideia era a transição entre planetas, sistemas e outros astros ser feita sem telas de carregamento, numa ideia já utilizada em jogos de RPG mais modernos, mas nunca numa escala tão grande, num galáxia com 18 quintilhões de planetas.Entretanto, as promessas começaram a superar os próprios limites, o que acabou gerando um efeito de hype incontrolável, fazendo do jogo um dos mais aguardados por anos. Ao ponto de tanto Sean Murray como a própria Hello Games receberem ameaças de morte por adiarem o jogo mais de uma vez. Quando o título finalmente chegou até nós em 2016, estava anos-luz de distância do que havia sido prometido. Assim o desastre estava feito.
Em duas semanas, No Man’s Sky já havia perdido 90% dos seus jogadores. Nos meses seguintes, a própria Hello Games foi processada por propaganda enganosa, mas acabou sendo inocentada. Já vimos isso tudo acontecendo antes com jogos como Watch Dogs (Multi), Metal Gear Solid V: Ground Zeroes (Multi), The Order: 1886 (PS4) e Ryse: Son of Rome (XBO/PC). Entretanto, nunca numa escala tão grande e com um ódio generalizado tão vasto por parte da comunidade. Isso tudo resultou no fato de que No Man’s Sky foi considerado o pior jogo de 2016 em vários sites especializados.
O momento após o desastre
A Hello Games ficou bastante comovida com todo o ódio generalizado que foi jogado sobre ela enquanto empresa e sobre seus membros enquanto pessoas individuais. Após um período de alguns meses de absoluto silêncio e tentando se redimir com a comunidade de jogadores que ainda olhava para ela (10% do seu público original, lembram?) no final de 2016, a desenvolvedora lançava a primeira do que viria ser uma série de grandes atualizações para No Man’s Sky.
Chamada de Foundation, a primeira grandiosa atualização do jogo trazia modos de jogo distintos e, principalmente, a possibilidade de se construir bases na superfície dos planetas. Além disso, começou a ser esboçada uma possível tentativa de comunicação entre jogadores (mesmo que ainda estivesse longe de ter uma opção de jogo online na época). Também foi introduzida nesta versão 1.1 as naves cargueiras gigantes para serem contratadas como bases móveis, entre outras tantas melhorias.
A atualização realmente agradou bastante, mas o gosto ruim das promessas não cumpridas ainda estava muito recente e a aceitação do público não foi lá essas coisas. O interessante aqui é que a maior parte das empresas já teria aberto mão do jogo neste momento. Eles já tinham feito “a sua parte” tentando se redimir e introduzindo até bastante conteúdo no jogo, mesmo que ainda faltasse muito mais. Bom, o motivo deste texto existir é que a Hello Games não parou por aí.
Um caminho árduo de insistência
Em março de 2017, cinco meses após lançar a versão 1.1 batizada de Foundation, a Hello Games lançava a atualização 1.2, chamada de The Path Finder. Com ela, mais inúmeras correções e melhorias, com o grande acréscimo de novas linhas de missões, mais conteúdo in game e a possibilidade de criar veículos terrestres para explorar planetas. Aqui a aceitação do público começou a melhorar, ao menos entre os jogadores que ainda lembravam que No Man’s Sky existia.
Em Agosto de 2017 a Hello Games já lançava mais uma grande atualização, batizada de Atlas Rises (1.3) que acrescentava mais 30 horas de um novo modo história ao game, além de um sistema de comércio mais complexo, novos itens, melhorias e elementos a serem coletados. Neste ponto podemos considerar que No Man’s Sky já tinha uma comunidade de jogadores fixa, a qual, independente das mancadas da desenvolvedora, escolheram apostar nesse cavalo manco e doente que ainda insistia em não morrer.
Do fundo do poço para as premiações
O tempo passou e, por quase um ano, somente Atlas Rises ficou recebendo atualizações e correções. Mas a Hello Games já havia preparado terreno e anunciou para 2018, segundo a empresa, a maior atualização que No Man’s Sky já havia recebido. A atualização foi tão grandiosa que eles tiveram a presunção de “atualizar” o nome do jogo, chamando-o de No Man’s Sky NEXT. Assim, em Agosto de 2018, recebemos o tão exaltado conteúdo e, pasmem, a empresa não exagerou em sua promessa, eles cumpriram o combinado!
A nova versão do jogo veio junto com uma versão para Xbox One do título, somando-se às versões de PC e PS4. No Man’s Sky NEXT trouxe uma tonelada de melhorias tanto em seu modo história como em suas mecânicas, além de melhorias gráficas, aumento de variedades de naves e armas, inclusão de planetas com anéis como Saturno e a possibilidade de um multiplayer digno. Agora era possível entrar no jogo de algum amigo e compartilhar seu mapa, ajudando-o em sua base ou construindo juntos, num esquema semelhante ao que vemos em outros games sandbox como Conan Exiles (Multi) e Ark: Survival Evolved (Multi).
Além disso, a versão ainda trazia uma mudança no layout principal do jogo, que deixava de ser exclusivamente em primeira pessoa para ter a opção de controlarmos tanto nosso avatar como nossas naves em terceira pessoa. Isso trouxe junto todo um sistema de customização do nosso avatar que deu uma nova vida ao game. Aqui, senhoras e senhores, No Man’s Sky recuperou até um pouco da sua avaliação no Steam, saindo de “Extremamente Negativas” para “Neutras” e até alcançando o status “Ligeiramente Positivas” por um tempo.
Foi com Next que a Hello Games conseguiu a indicação no The Game Awards 2018 para No Man’s Sky como “Melhor jogo de conteúdo contínuo”, mas que não recebeu o prêmio, perdendo para Fortnite (Multi) e concorrendo em pé de igualdade com pérolas como Destiny 2 (Multi) e Overwatch (Multi) na disputa. Aqui, novamente, outro momento que a empresa poderia ter parado seu trabalho. Ela já havia anunciado que estava trabalhando em um novo jogo, já havia cumprido praticamente todas as promessas não cumpridas no lançamento de No Man’s Sky e já tinha a aprovação da sua comunidade de jogadores (que estava crescendo) e da crítica. Mas este texto existe porque, pásmem, ela não parou por aí.
Indo além com No Man’s Sky Beyond
Após o lançamento de No Man’s Sky NEXT, tivemos a atualização The Abyss, ainda em 2018, que melhorava os biomas submarinos do jogo, permitia a construção de bases subaquáticas e introduziu um submarino como veículo. Não era nada tão grandioso como NEXT, mas deu um senso de continuidade muito bom para o trabalho da desenvolvedora que, com isso, deixava uma mensagem clara: “confie em nós, não vamos parar por aqui”.
Já na versão 1.75 do jogo, ainda no final de 2018, tivemos a atualização Visions, que melhorava finalmente a variedade e qualidade dos biomas dos planetas e sistemas do jogo. Com muito mais diversidade de biomas e elementos a serem coletados, além de novos algoritmos para melhorar a fauna e flora dos planetas, com possibilidades de escavação para encontrar fósseis e tantos outros recursos. Isso, lembrando, ainda em 2018 e após o lançamento da grande atualização NEXT.
Mas com o perdão do trocadilho, a Hello Games queria ir “além”. E assim, no início de 2019 anunciaram uma nova atualização ainda para este ano, batizada de No Man’s Sky Beyond. Esta seria a versão 2.0 do jogo, que inicialmente não tinha nada anunciado, além do fato de ser “maior do que a NEXT”. Por fim, descobrimos que esta seria uma única atualização que, na verdade, seriam três diferentes: No Man’s Sky 2, No Man’s Sky Online e No Man’s Sky VR.
Sim, Beyond trouxe inúmeras atualizações, melhorias e correções que, somadas com tudo que veio na época de NEXT, conseguem fazer de No Man’s Sky um jogo quase que completamente novo. Além disso, um sistema online muito mais dinâmico e instintivo foi incluído através da estação espacial Nexus. Agora podemos esbarrar com outros jogadores e encontrar amigos sem precisar entrar nos seus jogos diretamente, além de compartilhar naves e bases. Como se não bastasse tudo isso, eles extrapolaram tudo que haviam prometido até então e adicionaram um modo totalmente compatível do jogo tradicional com óculos de realidade virtual tanto no PC quanto no PS4.
Você que não acompanhou essa história desde o início, ou pegou ela no meio do caminho, pode estar se perguntando: “mas e daí que ela fez isso tudo? Ela errou lá no início! Não fez mais do que a sua obrigação, na verdade, devia ter feito tudo isso lá em 2016, não três anos depois!”. Porém, vamos analisar um pouquinho o que outras empresas muito maiores do que a Hello Games fizeram em situações semelhantes…
Os outros “modelos” de mercado
Vamos aqui relembrar outros jogos que passaram por histórias semelhantes a de No Man’s Sky, tanto em sua hype, quanto nas falsas promessas como, por fim, no ódio generalizado dos fãs e comunidades de jogadores. Assim, podemos ver como foi a postura das empresas frente a estes desastres e comparar com a postura que a Hello Games teve com seu game de exploração espacial. Como as histórias são longas, vamos separar em tópicos para facilitar:
- Watchdogs (Ubisoft, 2014): O já citado game de hacker da Ubisoft foi lançado em 2014 com a promessa de um mundo interativo, cheio de ação, visuais estupendos para a época e a promessa do jogador poder manipular toda a cidade através do smartphone do protagonista. O jogo chegou bastante limitado, com inúmeros bugs e com notáveis reduções visuais que geraram um ódio generalizado nos fãs. A Ubisoft corrigiu alguns bugs com packs de atualização, mas as melhorias grandiosas prometidas só foram cumpridas de fato em 2016, na forma de um novo jogo: Watchdogs 2 (Multi).
- Assassin’s Creed Unity (Ubisoft, 2014): O carro-chefe da Ubi também teve seus problemas em 2014, com o lançamento do quinto jogo da linha principal da franquia. Unity tinha algumas promessas revolucionárias, como cenários com uma vasta quantidade de NPCs, uma cidade muito mais realista, visuais fantásticos para a época e um inédito e inteligente sistema de multiplayer. O jogo ainda assim é considerado bom por muitos, mas trouxe uma história rasa para a franquia, protagonista pouco icônico, jogabilidade repetitiva, qualidade gráfica reduzida, bugs controversos e outros problemas de processamento. A resposta da Ubi? Atualizações rasas para consertar o que era mais drástico e, no ano seguinte, lançar um novo Assassin’s Creed corrigindo de fato a maior parte dos problemas do seu antecessor: Assassin’s Creed Syndicate.
- Mighty No. 9 ( Level-5 Comcept/Inti Creates, 2016): A grandiosa nova franquia feita por um dos criadores de Mega Man, Keiji Inafune, com a promessa de ser o sucessor espiritual do andróide azul. O jogo foi bombástico em seu pré-lançamento, com o desenvolvimento sendo pago via financiamento coletivo. Entretanto, depois de muitos atrasos, chegou até nós um game de qualidade medíocre que era infinitamente menor em qualidade, duração e visual do que o prometido pela campanha. A resposta das empresas ou do próprio Inafune? Iniciar outra campanha de financiamento para um outro jogo qualquer e fingir que nada disso aconteceu, dá pra acreditar?
- Mass Effect Andromeda (BioWare/EA, 2017): Mais um caso de grandes promessas, hype e decepção que geraram desastre. Mass Effect Andromeda tinha o peso da famosa franquia nas costas e o risco de ser algo totalmente desconectado da história da trilogia original. Com promessas revolucionárias no sentido de exploração espacial e visuais realistas, o jogo chegou com uma tonelada de bugs, um gameplay previsível e um visual grotesco (principalmente de NPCs). A resposta da BioWare foi até interessante, com correções de bugs e algumas melhorias, mas nada que fizesse o jogo sair do limbo que caiu de esquecimento com uma imagem de péssimo jogo. A resposta final da empresa? Bom, acabou sendo um outro fracasso que você confere logo abaixo...
- Anthem (BioWare/EA, 2019): Devo admitir que a BioWare não anda muito bem das pernas. Anthem foi uma promessa grandiosa para 2019, sendo um dos jogos mais aguardados do ano e com a garantia da EA e da própria BioWare que receberia toneladas de atualizações dando a sensação aos jogadores de um mundo online vivo e profundamente dinâmico. O que veio em seu lançamento não era nada próximo disso. Tinha um gameplay que é basicamente a evolução do que vimos em Andromeda, sem muitas inovações. O pior é a resposta das empresas quanto a isso: uma ausência de contato de meses sem qualquer tipo de atualização e, recentemente, a inclusão dos famigerados cataclismas que surgiram cheios de bugs e piorando os problemas técnicos que o jogo já tinha. E agora, bom, mais silêncio.
Com estes cinco exemplos já podemos notar um certo padrão por parte da indústria frente a lançamentos de jogos fracassados, não é mesmo? Basicamente ou a empresa corrige de forma rasa os problemas e toca outro projeto (geralmente uma continuação do jogo que realmente corrige tudo que era para ter sido corrigido no primeiro título) ou então um ato cru de ignorar o fracasso fingindo que ele nunca aconteceu. Literalmente escondendo a sujeira debaixo do tapete a aprontando o quanto antes um outro projeto para mudar os holofotes de foco. Bom, é nesse exato ponto que o trabalho da Hello Games deixa um pouco de ser “obrigação” e passa a ser “exemplo”.
Um exemplo a ser seguido
Temos três pontos cruciais que fazem o papel da Hello Games ser tanto de redenção quanto de exemplo a outras desenvolvedoras. Isso tudo, independente da postura da empresa ter sido sua obrigação ou não. Os três pontos são: admitir erros, insistência de correções e gratuidade do serviço. Indo devagar nestes três pontos, temos a postura ética inicial da desenvolvedora de assumir seus erros e se desculpar por isso. A Hello Games, após o lançamento problemático de No Man’s Sky, se manteve em silêncio nos primeiros meses para finalmente ir a público se desculpar pelas mentiras, garantindo que iam trabalhar para corrigir tais erros.
Em seguida temos o segundo ponto: insistência nas correções. No Man’s Sky já havia recebido poucos meses após seu lançamento uma grande atualização inserindo novos modos de jogo e mecânicas inéditas ao gameplay. Mas não foi bem aceito exatamente. A empresa não parou e continuou acrescentando conteúdos num período quase trimestral. Ainda não chegando ao que a comunidade de jogadores queria. Assim ela deu uma pausa maior para lançar NEXT e revolucionar o jogo totalmente. Um ano após NEXT, chegou Beyond com mais revoluções ainda. A empresa não parou em momento nenhum, não desistiu do jogo, não abriu mão dos jogadores fiéis que ainda insistiam em apostar naquele fracasso.
Assim chegamos no terceiro pilar: todo o serviço da Hello Games para os jogadores no decorrer destes longos três anos desde o lançamento inicial do jogo foi gratuito. Foundation, Atlas Rises, The Path Finder, NEXT, The Abyss, Visions, Beyond… todas as atualizações com toneladas de conteúdos, reformulações e melhorias que No Man’s Sky recebeu nestes árduos três anos foram totalmente gratuitas. Incluindo a versão VR do jogo, que outras empresas como a GearBox e a Bethesda, poderiam ter inserido como atualização em seus Borderlands 2 e The Elder Scrolls V: Skyrim, mas resolveram lançar uma edição nova para faturar um pouco mais, não é mesmo?
Num mundo ideal, isso seria obrigação
Não me entendam mal. A Hello Games de fato “não fez mais do que a sua obrigação” ao se retratar com os fãs, melhorar o jogo o máximo possível e, aos poucos, consertar todo o desastre que No Man’s Sky foi em 2016. Porém, parar nossa discussão por aqui e simplesmente falar “isso aí, Hello Games, não fez mais do que a sua obrigação” não é o caminho certo. Isso porque, baseado nos outros exemplos que citei aqui, não vivemos em um mundo ideal onde a obrigação é feita por todo o mundo.
A Hello Games teve sim contas a prestar, teve sim que se retratar perante suas falsas promessas e não devia mesmo ter cobrado nada pelas mudanças que fez no jogo. Mas se formos ver pelos exemplos que temos na indústria, não seria muito mais fácil ela esquecer o jogo e anunciar, três anos depois, um “No Man’s Sky 2” com todo o conteúdo que ela inseriu no jogo base? E ainda lançar depois uma versão separada do jogo para a realidade virtual? Talvez usar políticas de DLCs ou expansões? Pois é, é pensando nessas hipóteses que começamos a notar certo compromisso ético na postura da empresa, mesmo após tantos erros e mentiras.
Boas posturas geram bons frutos
Não podemos aqui assumir que a postura da Hello Games e dos seus desenvolvedores foi lógica ou sentimental, foi movida pela comunidade ou friamente calculada para recuperar sua imagem popular. Não dá pra assumir que a empresa sofreu de “peso na consciência” ou simplesmente “não tinha outra opção”. Mas o que podemos mostrar aqui são os resultados dessa postura de redenção que só gerou bons frutos, tanto para a empresa quanto para nós, jogadores.
Este ano, meses antes do lançamento de Beyond, alguns fãs do jogo montaram uma comunidade no Reddit para arrecadar cerca de mil dólares para comprar um outdoor para prestar homenagem à equipe por todo seu esforço. Segundo eles, o dinheiro seria utilizado para instalar um outdoor de agradecimento à equipe da Hello Games na cidade de seu escritório, Guilford, no Reino Unido. No anúncio ainda brincaram: "Uma parte do dinheiro arrecadado será utilizado para comprar uma caixa de cerveja e um almoço para a equipe".
A proposta de arrecadar mil dólares foi superada com folga, tendo a vaquinha arrecadado nada menos que 6 mil dólares. O resultado foi um fofo e simplista outdoor escrito “Thank You Hello Games” (obrigado, Hello Games), o que gerou uma grande comoção da comunidade e um agradecimento fervoroso dos membros da equipe, principalmente de Sean Murray. Como se não bastasse, essa mesma comunidade arrecadou dinheiro o suficiente para doar mais de uma dezena de consoles PlayStation 4 com games e uma quantia em dinheiro para um hospital de tratamento de crianças carentes que necessitava de doações de brinquedos para as crianças além de outros gastos.
Já a empresa, teve um aumento considerável das suas vendas, tanto com o lançamento da versão de Xbox One como da nova versão física de No Man’s Sky Beyond para PS4, com acréscimo de informações sobre a realidade virtual na capa. Inclusive, a versão em RV de No Man's Sky já está entre os melhores jogos de realidade virtual lançados até então, ao lado de pérolas como Resident Evil VII (Multi) e Astro Bot Rescue Mission (PSVR) Em 2018 a empresa foi considerada como uma das maiores revelações na indústria, principalmente pela história que contamos neste texto. E mais recentemente, a comunidade de jogadores de No Man’s Sky estava na terceira posição do ranking de maior índice de crescimento de comunidades de jogos online de 2019.
Que a exceção passe a ser regra
O que a história da Hello Games com No Man’s Sky muda em planos práticos na indústria dos games? Praticamente nada. Mas o potencial que essa história possui é incrível. Principalmente para servir de exemplo para nós, consumidores finais desta tão moderna e divertida mídia. Temos aqui um exemplo de como é possível empresas abaixarem a cabeça e admitirem seus erros. Temos uma referência de como é possível dar recursos e melhorias à comunidade de jogadores sem exigir mais do que já fora combinado, sem prejuízos ou abusos.
Temos aqui um ponto de partida para enxergarmos com olhos mais críticos posturas como as das já citadas Ubisoft, BioWare e Electronic Arts, que assumem posturas mercadológicas questionáveis e apagam seus erros a troco de mais compras por parte dos jogadores. Pense bem se todas as melhorias que vimos em Watchdogs 2 fossem na verdade uma atualização do primeiro jogo e não precisássemos pagar por um jogo novo para ter essa experiência.
Independente dos erros, das mentiras e dos deslizes que a Hello Games cometeu em seu passado, toda a jornada árdua de redenção que a desenvolvedora teve com o, agora excelente, No Man’s Sky serve para mostrar para nós enquanto comunidade de jogadores e amantes de videogames, que nós, enquanto consumidores, podemos sim sermos vistos como a prioridade. Assim como as empresas podem, sim, ter lucro a partir de posturas éticas e comprometidas com seus fãs. Resta saber qual outra desenvolvedora vai ter metade da coragem e da força de vontade que a Hello Games demonstrou em No Man’s Sky, transformando um verdadeiro fracasso em uma excelente história de redenção.