Bruxas estão à solta no reino de Ramezia e somente freiras guerreiras são capazes de enfrentá-las. É nesse cenário que se desenrola a trama de Minoria, título independente de ação e plataforma. Produzido pelo brasileiro rdein, o jogo é um sucessor espiritual da série Momodora e compartilha várias de suas mecânicas e temas. Batalhas complicadas, um mundo de mapa elaborado e uma atmosfera sombria permeiam a experiência do título.
Uma jornada contra a heresia
A paz no reino de Ramezia é constantemente ameaçada por “bruxos”, pessoas que adquirem poderes por meio de um ritual proibido pela Igreja. Minoria se passa durante a 4ª Guerra aos Bruxos, conflito esse que traz terror e morte ao mundo. Acompanhamos as Irmãs Semilla e Fran, uma dupla de missionárias da Igreja que tem como missão impedir novos rituais hereges e salvar a princesa de Ramezia, que foi raptada pelas bruxas.Pela jornada, controlamos a Irmã Semilla, uma freira guerreira versada no manejo de espadas. Para ter sucesso em sua missão, a missionária explora uma região repleta de perigos e criaturas agressivas controladas pelas bruxas. O mundo do jogo é dividido em um mapa complexo, com trechos que só podem ser acessados após obter chaves ou habilidades, como é de praxe do gênero metroidvania.
O maior obstáculo das freiras são os inimigos encontrados pelo caminho: eles são agressivos e poderosos, capazes de acabar com a heroína com poucos golpes. Para sobreviver, Semilla ataca com uma espada com movimentos ágeis e precisos. Além disso, a missionária consegue evitar perigos com um movimento de esquiva e defender ataques. Um contra-ataque pode ser executado ao ativar o bloqueio no momento correto — é uma técnica útil, porém difícil de executar. Incensos especiais permitem desferir feitiços poderosos, como esferas de energia, facas mágicas, relâmpagos e mais. Há também incensos com efeitos passivos.
A difícil luta contra as bruxas
O mundo de Minoria está passando por grandes dificuldades (afinal o reino está em guerra) e esse fato também é representado na jogabilidade do título: a jornada de Remillia é complicada e a sensação de perigo é constantemente sufocante. O jogo pode parecer um metroidvania tradicional com seu mapa extenso e sessões de plataforma, porém o foco está no combate.Os cenários do reino de Ramezia estão infestados de monstros, o que força Semilla a enfrentá-los em inúmeras batalhas. O combate é ágil, e é fácil controlar a protagonista por causa dos controles precisos — bastam alguns encontros para desferir sequências poderosas e esquivar de ataques. No entanto, a dificuldade é brutal: os monstros são muito perigosos e até mesmo inimigos básicos conseguem derrotar a protagonista com facilidade. Sendo assim, me vi forçado a ser agressivo e atencioso ao mesmo tempo, tentando entender os complicados padrões de ataques para defender e golpear no momento certo.
Para deixar as coisas ainda mais difíceis, os pontos de salvamento são distantes entre si. Por causa disso, me senti em constante perigo, principalmente quando a vida da protagonista estava quase no fim, afinal ser derrotado significa refazer trechos consideráveis da aventura. É um recurso interessante para trazer uma sensação de tensão, mas dependendo da habilidade do jogador pode deixar a experiência um pouco desagradável, principalmente nos picos de dificuldade. Em vários pontos da aventura, morri bastante em trechos trabalhosos e precisei refazê-los inúmeras vezes, sendo que tive que decorar a sequência de ações para não morrer mais uma vez — a repetição dos longos trechos foi mais irritante do que empolgante.
Um detalhe interessante em Minoria é a boa variedade de inimigos, cada qual com padrões de ataque e estratégias distintas. Individualmente os monstros não são complicados de enfrentar, no entanto a situação fica tensa quando diferentes tipos de inimigos atacam juntos. Os chefes são um dos pontos altos da aventura, com seus confrontos intensos e elaborados, sendo que há incentivo para não cometer erros — Semilla adquire um Incenso único ao derrotar um mestre sem ser atingida. Mesmo assim, mais para o final da aventura, fiquei com a sensação de que o arsenal da protagonista poderia ser mais diversificado, pois ela adquire pouquíssimas habilidades pelo caminho. Os Incensos de feitiços e uma espada com ataques alternativos tentam amenizar esse defeito, mas não são suficientes para eliminar a sensação.
Fora do combate, o jogo oferece uma estrutura simplificada de metroidvania. Há sim um mapa elaborado e com segredos, contudo a progressão é majoritariamente linear na forma de uma única rota principal para chegar ao próximo objetivo. Muitos dos segredos e extras estão localizados em caminhos alternativos ou de difícil acesso, mas é um pouco complicado revisitar esses lugares por causa da dificuldade de navegação pelo mundo — os atalhos são escassos, não é possível ver o mapa completo para planejar rotas e o sistema de viagem instantânea só é desbloqueado no fim da aventura. Mesmo assim, a estrutura de Minoria funciona bem e lembra bastante uma aventura de ação e plataforma tradicional com um pouco de exploração.
Um mundo opaco e ambíguo
O sucessor espiritual de Momodora deixa de lado o tradicional pixel art para investir em visual de alta resolução. Os cenários são montados com ilustrações desenhadas à mão, já os personagens contam com modelos 3D com tratamento cel shading. O resultado é agradável e harmônico, na maior parte do tempo nem parece que duas técnicas diferentes estão sendo utilizadas no visual. No entanto, a movimentação dos personagens é um pouco travada e artificial, o que traz um ar de estranheza e amadorismo em alguns momentos — por sorte nas cenas de ação frenética este detalhe não é tão aparente.O universo de Minoria é inspirado na Europa medieval na forma de uma fantasia sombria e distorcida. O visual reflete essa característica com localidades escuras e dessaturadas, que conseguem representar o estado caótico do reino. Alguns lugares não são muito interessantes (como o monastério do início da jornada que lembra uma simples fortaleza), mas no geral a ambientação agrada — uma das minhas partes favoritas é um jardim repleto de flores e plantas estranhas que trazem uma sensação desconcertante. Suaves composições com pianos e violinos intensificam a ambientação soturna.
Um detalhe que me agradou bastante foi o cuidado na elaboração do mundo. Durante a jornada, coletamos relatórios com informações sobre a Igreja, as bruxas e a realeza, e é fácil perceber que nem tudo é o que parece ser: a ordem sagrada é corrupta e nada benevolente, algumas coisas indicam que as ações das bruxas não são de fato heresia, e mais. É interessante como a temática é explorada de maneiras ambíguas e sem muita clareza.
Sangue, sombras e morte em um título envolvente
Uma constante sensação de tensão é o destaque de Minoria. A experiência é repleta de momentos complicados e combate focado em precisão, em uma boa mistura de plataforma e ação. A jornada é árdua, exigindo destreza e agilidade dos jogadores, mas algumas decisões podem deixar a experiência cansativa ou frustrante, como os pontos de salvamento distantes entre si — não é divertido refazer várias vezes longos trechos difíceis após morrer. A construção do mundo é acertada na forma de uma história de nuances interessantes e belos cenários desenhados, só a movimentação dos personagens que deixa a desejar em alguns momentos. No fim, Minoria é uma experiência intensa e recomendada para aqueles que gostam de aventuras complexas.Prós
- Sistema de combate ágil, explorado em confrontos que exigem precisão e estratégia;
- Dificuldade intensa, com atmosfera que traz constante sensação de perigo;
- Ótima direção de arte que mistura elementos 3D com cenários desenhados à mão.
Contras
- Pequena variedade de habilidades pode trazer sensação de limitação;
- Revisitar locais pode ser cansativo por causa da ausência de ferramentas para facilitar a navegação;
- Personagens apresentam movimentação artificial e estranha em alguns momentos.
Minoria — PC — Nota: 8.0
Revisão: Henrique Moreno
Análise produzida com cópia digital cedida por Dangen Entertainment