Jogar videogame em competições de alto nível e transformar isso em profissão é o sonho de muitos jovens. A carreira de pro player atrai atenção graças aos notáveis benefícios oferecidos, como patrocínios de grandes empresas e o reconhecimento dos fãs, além da possibilidade de ganhar a vida fazendo algo que realmente gosta. No entanto, o trabalho também tem seu lado negativo que nem sempre é levado em consideração, por exemplo, a pressão por resultados e a necessidade de evolução constante.
Vivenciar um pouco deste cenário e conhecer melhor alguns dos desafios é possível com Esports Life Tycoon, projeto do estúdio U-Play Online e que está disponível para PC. A premissa do título é colocar o jogador na função de CEO de uma organização de eSports. No cargo, além de ter que lidar com questões financeiras e estruturais, ainda será necessário assumir papel na comissão técnica — definindo quem é titular ou reserva e preparando as táticas adequadas em função de cada adversário.
A experiência é baseada em League of Legends (PC), escolha justificável por se tratar do jogo que revolucionou o mercado de eSports. Quem acompanha o MOBA da Riot Games, principalmente o competitivo, acabará se divertindo ainda mais. Além dos campeões inspirados nos personagens que se enfrentam em Summoner's Rift, há referências as organizações reais. É o caso da brasileira INTZ e-Sports, que no game é IMTZ, e a americana Cloud9, que virou Cloud6 — alterações feitas por questões de licenciamento.
Também existem algumas equipes que cederam seus nomes e até mesmo logomarcas para serem usadas em Esports Life Tycoon. Neste grupo, estão a chinesa Afreeca Freecs e as europeias G2 Esports e Fnatic. Infelizmente, os times com denominações e escudos oficiais são a avassaladora minoria. Seria bem mais interessante e imersivo se as partidas fossem sempre contra as organizações que frequentemente acompanhamos, porém não é algo que se deva cobrar dos desenvolvedores. Ainda mais se lembrarmos que gigantes como EA e Konami frequentemente têm problemas similares com seus games de futebol.
Fnatic é uma das poucas organizações com o escudo e nome oficiais no game |
O novo chefe na área
O simulador começa com a criação do avatar em uma ferramenta de personalização com boa quantidade de opções. Apesar de o modelo dos personagens ser um tanto quanto simples, é possível customiza-lo para deixar o visual conforme seu gosto. Com a aparência pronta, vem a tarefa de definir a identidade da equipe — escolhendo o nome, país de origem, escudo, cores e uniforme. Por fim, seu time recebe cinco jogadores aleatórios que também podem ser alterados.Depois de tudo finalizado, é o momento de assumir o cargo de CEO e levar a equipe rumo ao estrelato. Os primeiros dias dentro da gaming house funcionam como tutorial para que sejam aprendidas as ferramentas básicas do jogo. Nesse princípio, as funções vão sendo apresentados aos poucos, com isso, fica bem fácil entender as mecânicas fundamentais e a curva de dificuldade é totalmente convidativa.
Para ter certeza de que você assimilou as informações corretamente, o game tem um sistema de missões que precisam ser completadas antes de prosseguir. Ou seja, basicamente, ele te ensina como lidar com determinada questão e espera que você mostre que compreendeu antes de o próximo passo ser dado. Com o passar do tempo, o tutorial vai soltando a sua mão até o momento em que o jogador deverá se virar sozinho. A partir desse ponto, o verdadeiro desafio começa.
Personalize seu time como quiser |
Dois em um
Não seria exagero afirmar que Esports Life Tycoon tem dois jogos dentro de um. O primeiro, que acaba sendo o principal foco, consiste no gerenciamento da organização. Será seu trabalho contratar novos jogadores, negociar contratos com os membros do time, escolher patrocinadores, investir em estrutura, entre diversas outras atividades. Já o segundo está na disputa de cada uma das partidas, em que o papel de CEO fica de lado e é preciso assumir a função de técnico.A parte de administração é a que consome boa parte do tempo de gameplay. Todas as suas decisões impactam diretamente no desempenho da equipe. Preferiu investir mais em marketing do que em máquinas para treino? Você verá sua base de torcedores aumentar, mas terá um time completamente sem entrosamento. Gastou todo seu dinheiro em estrutura e esqueceu da divulgação? Os resultados esportivos virão, mas sem fãs para atrair patrocínios melhores os cofres tendem a esvaziar.
Resultados positivos fazem com que seu time suba de liga |
Por outro lado, o trabalho de técnico acaba sendo muito mais simples do que poderia. Basicamente, você precisa definir os picks e bans antes de cada partida (escolher os campeões que serão banidos do jogo e aqueles usados pelo seu time). Para realizar essa escolha, é necessário ter em mente que conforme seus pro players vão utilizando os mesmos personagens por mais tempo, eles desenvolvem mecânicas melhores com esses campeões e liberam bônus únicos.
Já durante o duelo, basta indicar qual lane deve pressionar o adversário e qual tem que estar mais na defensiva. Diante de tantas possibilidades de explorar uma partida de LoL, Esports Life Tycoon opta por fazer o menos complexo. Esqueça cuidados com controles de rota, ganks, visão, builds e tudo mais. Até mesmo a sinergia entre campeões está ausente, não há uma composição de equipe que leve vantagem sobre outra simplesmente pela combinação de habilidades.
Etapa de picks e bans |
Entretanto, esse não deve ser considerado ponto negativo do game. Afinal, ao descomplicar ao máximo a interface, os desenvolvedores acabaram atingindo resultado que deixa o jogo atraente até mesmo para quem nunca ouviu falar de League of Legends. Por isso, mesmo que você não conheça nada sobre o MOBA, rapidamente será capaz de dominar as mecânicas da parte competitiva de Esports Life Tycoon.
Outra prova da acessibilidade é que quem estiver interessado somente em focar no campo administrativo tem acesso a uma ferramenta que automatiza o controle das partidas. Assim, os resultados serão afetados somente pelas suas escolhas gerenciais. Além de eliminar completamente a atuação do jogador como técnico, essa mecânica também torna o gameplay mais rápido e dinâmico. Com ela, é possível que a temporada completa (11 jogos) seja disputada em menos de uma hora.
Mecânicas de combate são bem simplificadas |
As recompensas da boa gestão
Conforme a gestão da equipe vai sendo dominada e os resultados positivos aparecem, as recompensas pelo bom trabalho começam a aparecer. Junto do sucesso vêm alguns pontos de experiência que servem para desbloquear novas possibilidades. Dependendo do level do CEO, gaming houses maiores e devidamente equipadas são disponibilizadas. Também é liberada a função de contratar outros profissionais para o time, como um técnico que aprimora o treinamento dos jogadores, gerente de relações públicas para tratar de patrocínios e psicólogos que cuidam da preparação mental dos competidores.Porém, ter toda essa estrutura significa que os gastos mensais aumentarão consideravelmente. O dinheiro em caixa funciona como uma espécie de barra de energia, sendo que se a grana acaba o dono da organização poderá demiti-lo, mesmo que as vitórias estejam acontecendo. Com isso, conforme o jogo avança, é fundamental saber controlar o desejo de realizar investimentos desnecessários. A regra primordial é sempre colocar a saúde financeira em primeiro lugar.
Estrutura é bem precária no início do jogo |
Caindo na mesmice
O principal problema de Esports Life Tycoon é que não demora muito para que se torne repetitivo. Depois de conseguir uma boa poupança no banco e dominar toda a administração da equipe, o jogo fica sem emoção. De vez em quando, aparecem alguns problemas pontuais para serem resolvidos, como lesões que atrapalham o rendimento de algum atleta ou punições que proíbem um integrante da organização de atuar. Mas, esses percalços, geralmente, não são o suficiente para trazer o desafio de volta.Adversidades que envolvem a gestão de pessoas, como desentendimentos entre os pro players ou punições por mau comportamento, até acontecem. Mas o impacto não é forte como teria potencial de ser. Por exemplo, um dos meus jogadores foi pego trapaceando na fila ranqueada e ficou impedido de atuar por algumas rodadas. Devido à gravidade do problema, fiquei com vontade de multa-lo, porém essa opção não existia. O resultado prático disso é que uma simples gripe de um dos integrantes da equipe é tão prejudicial quanto alguém usando ferramentas ilícitas. Apesar de serem situações completamente distintas e que mereciam soluções totalmente diferentes, em ambas basta colocar o reserva no time para resolver o problema.
Um jogador muito tempo na reserva também poderia ser mais problemático |
Com tudo isso, o simulador tem vida útil limitada, fato que se agrava ainda mais para quem utiliza a ferramenta que automatiza as partidas. Também contribui para essa questão a falta de funcionalidades online. Seria interessante um mercado virtual de pro players, com a possibilidade de negociar com outros jogadores reais a compra e venda de atletas. Outra função capaz de aumentar a longevidade seriam partidas contra outras pessoas por meio da internet, colocando à prova seus conhecimentos de técnico e administrador frente competidores de carne e osso.
Alguns problemas chegam por e-mail, mas quase sempre sem grande impacto |
Potencial para crescer
A ideia de mostrar que a vida de um pro player não é somente diversão acaba sendo bem explorada pelo jogo, que aproveita um conceito inovador para oferecer experiência bem interessante — principalmente para quem tem curiosidade sobre o mundo dos eSports. Apesar de ser um passatempo, o título consegue transmitir uma noção, mesmo que superficial, dos bastidores das grandes organizações.Capaz de agradar boa parte dos fãs de League of Legends, o game é didático e atraente até para aqueles que não se interessam pelo MOBA. Contudo, o título derrapa por ter vida mais curta do que deveria devido à ausência de grandes desafios ou problemas sérios para serem resolvidos depois de algumas horas de jogatina. A falta de recursos online é outro dos critérios que auxiliam no encerramento precoce da experiência.
A sensação que fica é que Esports Life Tycoon poderia ter um pouco mais de conteúdo que conseguisse manter o gameplay envolvente. No entanto, na era das atualizações e DLCs, isso é algo que talvez surja no futuro. Com premissa extremamente criativa e bem executada, faltou apenas uma variedade maior de situações para que esse fosse um daqueles simuladores que viciam ao ponto de nem percebemos a hora passando.
Prós
- Interessantes desafios de gestão e técnicos;
- Mecânicas simplificadas capazes de atrair diferentes públicos;
- Possibilidade de automatizar completamente a parte competitiva.
Contras
- Gameplay repetitivo após certo tempo;
- Problemas com lesões ou punições sem o impacto necessário;
- Havia espaço para funcionalidades online.
Esports Life Tycoon — PC — Nota: 6.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raiser Games