Castlevania: Lords of Shadow — Mirror of Fate (Multi): definindo novos rumos para a franquia

Mirror of Fate prova que nem todo Castlevania em duas dimensões precisa seguir os passos de Symphony of the Night.

em 05/07/2019
Castlevania é uma das franquias mais amadas pelos jogadores e pode ser definida como pós-Symphony of the Night e pós-Lords of Shadow. O primeiro reuniu o que há de melhor no quesito RPG+plataforma+exploração e possui uma história longa e densa. O segundo finalmente inseriu Castlevania de forma adequada no universo 3D e, talvez, tenha sua maior importância justamente em organizar as relações entre a família Belmont e Drácula, algo que nunca foi adequadamente explorado na franquia.


E é com Lords of Shadow — Mirror of Fate, lançado originalmente para Nintendo 3DS e portado para PlayStation 3, Xbox 360 e PC que basicamente se concentra toda essa explicação, da relação Belmont-Drácula até as origens de Alucard e do próprio Drácula. E é com essa carga de responsabilidade que a MercurySteam desenvolve seu trabalho, primeiro em um portátil da Nintendo, que não recebia um jogo da série havia quase oito anos — todos com características pós-SotN.

Enredo é algo crucial e deve ser tratado com seriedade

A era de ouro dos video games, compreendida entre as décadas de 1980 e 1990, não tinha como uma de suas características o enredo elaborado ou complexo, servindo a história apresentada tão somente como o pano de fundo da aventura em si. Lançado ainda no ano de 1986, Castlevania era um desses jogos. Mesmo Symphony of the Night, que trazia em seu bojo a busca de vingança de Alucard contra seu pai e a marcante presença nos diálogos entre o herdeiro de Drácula e de sua principal aliada, Death, não foi suficiente para trazer à tona todas as dúvidas que rondavam os Belmont e o Príncipe das Trevas.
Gabriel Belmont.


Em Lords of Shadow (Multi), além de trazer um novo protagonista da famosa família de caçadores de vampiros, Gabriel, todos os “furos” até então presentes foram devidamente solucionados, se tornando um título obrigatório especialmente àqueles que, assim como eu, se interessam por tais minúcias.

Quatro personagens, quatro histórias e três destinos

Mirror of Fate é um jogo que se divide em Atos, além de um Prólogo, que nos coloca na pele de Gabriel, Simon, Trevor e Alucard, cujas histórias não são contadas em ordem, embora os Atos de Simon e Alucard sejam concomitantes na linha temporal.

O Prólogo com Gabriel serve como um tutorial dos movimentos básicos, sendo basicamente os mesmos utilizados com os três outros personagens. A grande diferenciação se dá com as armas secundárias/poderes especiais, que se diferenciam entre Simon, Trevor e Alucard.
Toda a sutileza do garoto Simon.


Embora alguns dividam parte dos cenários entre si (algo como outras áreas do castelo), nenhuma delas é revisitada por outro personagem. Esse é um dos aspectos que pode surpreender os jogadores da era pós-SotN: a exploração é basicamente nula, sendo MoF um jogo linear e centrado na ação, exceto na parte dos quebra-cabeças, que são muito bem explorados na condução de Trevor e Alucard.
Um dos vários puzzles do jogo.


A despeito da linearidade, os cenários são muito bem desenhados e construídos, com um nível artístico poucas vezes atingido no 3DS, seu console original. A maioria dos inimigos e principalmente os chefes são, de longe, alguns dos mais criativos de toda a série. Os boss exigem muita habilidade e perspicácia do jogador, forçando que todas as habilidades aprendidas até o momento sejam utilizadas com maestria e esmero. As lutas contra Drácula (são duas) e Daemon Lord (em sua primeira aparição), por sinal, são algumas das mais desafiadoras.
Trevor e Daemon Lord.
Os combates são uma das melhores partes, sendo sempre divertido descobrir novos e eficazes meios de destruir um adversário em um verdadeiro sistema de combos e finalizações, a despeito de não existir o registro da quantidade de hits causados. Por sinal, a esquiva, algo de que sempre reclamo em muitos dos títulos que fazem uso desse artifício, funciona perfeitamente bem e é essencial para se evitar contra-ataques de adversários. Há também defesa contra ataques inimigos e quebra-defesa de inimigos que bloqueiam ataques.

Um dos aspectos interessantes é o uso da Cruz de Combate (da qual Simon somente tomará posse adiante no jogo, estando munido de seu tradicional chicote) como meio de se agarrar a alguns objetos ambientes para alcançar determinados locais, no melhor estilo Super Castlevania IV (Multi).

Trilha sonora e som, os elos da Cruz de Combate

Uma das principais características de Castlevania é sua trilha sonora e a era pós-SotN deixou-nos “mal acostumados”. A trilha sonora de MoF, composta pelos espanhóis Oscar Araujo e David Hernando Vitores, com execução pela Orquestra Sinfônica de Bratislava é uma das melhores da franquia, senão por um único quesito: ouvi-la diretamente de algum site que disponibilize a soundtrack original.

Na maior parte do jogo, o destaque nas canções se restringem às cutscenes ou batalhas contra inimigos e chefes e, em pouquíssimo momentos, ao adentrar ambientes. Em outras palavras, uma trilha sonora que seria primorosa no conjunto da obra, em sua maior parte se limita a momentos-chave do jogo ou são meramente ambientais. Mesmo que opte por escutá-la fora do game, perceberá que algumas são curtíssimas. Mas há destaques para a música tema, Hilltops, Forgotten Caves, Spirit, Night Watchman, Combatant 2, Vertical Prison, The Mask, Daemon Lord's Theme e Trevor's Farewell.

Por outro lado, as dublagens ficaram muito boas, com o Alucard de Richard Madden nada devendo a Robert Belgrade, dublador do Alucard no SotN original e sendo superior mesmo à dublagem de Yuri Lowenthal, de SotN em Castlevania: Requiem, a título de exemplo. Mas, de longe, a melhor dublagem do jogo gira em torno do trabalho de Richard Ridings, que está impecável como Daemon Lord, sendo inacreditável que este artista é o mesmo que dá voz a Daddy Pig (sim, o pai da Peppa Pig).
Richard "Daddy Pig Daemon Lord" Ridings.


Os efeitos sonoros, por sua vez, diante da ausência de músicas constantes, definem a maior parte do entrosamento da ação com o jogador, com sons de armaduras, correntes, golpes e sons emitidos por inimigos bastante críveis e bem desenvolvidos.

Vale a pena?

Os dois aspectos que mais causariam estranheza a jogadores pós-SotN é a linearidade de MoF e o quão curto o jogo é. Aqui, inexistem as centenas de armas e equipamentos que oferecem upgrades que facilitem a vida do jogador, se parecendo mais com os jogos da primeira leva da franquia Castlevania, não fosse pelo aspecto de que há níveis para os personagens, que servem tão somente para aumentar a quantidade de HP, de corações (para o uso das armas secundárias), da barra de magia e o aprendizado de novas habilidades.
Combo e finalização com Alucard.


Os gráficos, que seguem o formato 2.5D, cedem a alguns momentos com quick time events com cenas bastante fortes e interessantes, como no primeiro encontro com Daemon Lord, sendo um dos mais bonitos para o 3DS e não fazendo feio mesmo em sua versão em HD, valendo a experiência para a plataforma que preferir, especialmente com a presença das legendas em português brasileiro, que facilitam ainda mais a compreensão da história.
Briga das boas: Alucard e Drácula.
O enredo contado sob o ponto de vista de quatro personagens traz à tona todo o drama da família Belmont que, como todos conhecemos do primeiro Lords of Shadow, inclui Drácula, solucionando uma das inquietações de muitos apreciadores da série Castlevania, sendo portanto, mais do que recomendado. Particularmente, meu voto é o de que a série ressurja tendo o enredo de Lords of Shadow como o ponto de partida.

E quanto a vocês, conheciam Mirror of Fate? Quais suas experiências e opiniões sobre o jogo? Contem para nós!

Revisão: Raphael Barbosa

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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