Bushido Blade (PS): a emoção de um duelo de espadas sem o risco de morte real

Bushido Blade confronta os jogos de luta convencionais com uma mecânica de combate única.

em 12/07/2019

Uma das grandes vantagens de colunas como a Blast from the Past é a possibilidade de resgatar títulos que marcaram gerações de jogadores, promover a nostalgia entre os mais velhos e a curiosidade dos mais novos.


Bushido Blade (PS), desenvolvido pela Light Weight, publicado pela (ainda) Square e pela Sony Computer Entertainment, é um desses jogos: gráficos OK para a época em que foi lançado, game de luta com proposta interessante e, apesar de ser um título com uma aceitação respeitável no ano de lançamento, não envelheceu muito bem, infelizmente. Ainda assim, é um jogo que vale a pena experimentar. Continue conosco para entender as razões!

Seis guerreiros e apenas uma fuga

O enredo de Bushido Blade é bastante simples: Meikyokan é um dojô de 500 anos outrora liderado pelo honrado espadachim Utsusemi, que se dedicava a ensinar a disciplina do mestre Narukagami Shinto. Dentro deste agrupamento existe uma sociedade de assassinos chamada Kage.

Um dos membros do dojô é o habilidoso Hanzaki que, ao desafiar Meiyokan, vence-o em uma luta justa e torna-se então o líder da comunidade, tornando-se também o líder da Kage. No entanto, ao obter a espada amaldiçoada Yugiri, Hanzaki começa a mudar sua personalidade e a desconsiderar os princípios ensinados na escola.
Escolha seu guerreiro espadachim...


Um dia, um dos membros Kage fogem do dojô, levando consigo seus segredos. Então os assassinos são coagidos por Hanzaki a caçá-lo, sob pena de serem mortos, os quais alcançam-no somente no Castelo Labirinto Yin e Yang, sendo neste local em que o jogo se inicia.

Independentemente de quem o jogador escolha como personagem (num total de seis), ele sempre será o tal assassino foragido. Mas o desenrolar da história e o final dependerá do lutador selecionado inicialmente.

Após selecionar o personagem, o jogador também deverá escolher uma espada dentre oito, cada qual com seu peso e tamanho, dentre armas japonesas e europeias. As espadas nipônicas seguem exatamente os padrões reais, contudo, as demais espadas foram reduzidas proporcionalmente.
... e escolha sua arma.


A possibilidade de seleção não é mero aspecto visual: cada arma possui características próprias e exigem formas diferentes para serem utilizadas em combate e, embora todas as espadas estejam disponíveis a qualquer dos lutadores, cada um deles possui sua arma favorita.

Além de atacar, bloquear e utilizar ataques especiais (exclusivos para cada personagem), os lutadores podem correr, pular e escalar ambientes nos quais se encontrem. E muitos destes ataques dependem da posição de combate em que o lutador se encontra: alto, neutro ou baixo.
Os cenários são enormes e completamente tridimensionais.


Parece complexo a um primeiro momento, contudo, o sistema de combate é bastante dinâmico e exige mais perspicácia e paciência do que uma sequência insana de combos ou um mero esmagar de botões.

Sem barras de vida, apenas o golpe fatal

Um dos aspectos mais interessantes de Bushido Blade é o fato de que os lutadores não possuem barras de vida, tampouco medidor de tempo para encerramento. Em busca de um realismo nas lutas, um espadachim é apenas derrotado de fato quando morre em combate em decorrência de um golpe fatal. No entanto, há acertos críticos que debilitam braços ou pernas, reduzindo a capacidade do personagem em caminhar ou manejar adequadamente sua espada.

Outro aspecto interessante é que há regras relacionadas à honra, tais como não atacar um adversário pelas costas, agredi-lo no momento do cumprimento ou jogar poeira em seus olhos. Fazê-los compromete o desenvolvimento do enredo, inclusive prejudicando o resultado final, além de uma inevitável reprimenda do próprio jogo.
Tudo o que seu adversário necessita é que baixe a guarda por um instante.


Como dito, o jogo é bastante dinâmico, em especial pelos cenários que são enormes, a maioria deles presentes em torno do tal castelo, sendo inevitável que o jogador percorra por boa parte dele tão somente para “ver até onde isso vai”. Com isso, pode-se levar um adversário que faça uso de espadas mais pesadas até locais com obstáculos que dificultem seus ataques.

Basicamente o jogador tem de se atentar à forma como o adversário maneja sua arma, se são movimentos mais prolongados e pesados (contudo, causam maior dano) ou se são mais ágeis (capazes de um contragolpe mais rápido em momentos de “vacilo” do jogador). Os controles precisos, no entanto, reforçam a qualidade de Bushido Blade para um jogo que preza pela realidade.
O combate pode ser sangrento, mas é honrado.


Os modos de jogo são Story Mode (modo Arcade), VS Mode (disputa entre dois jogadores), Slash Mode (uma raid onde o jogador empunha uma katana e enfrenta 100 inimigos, um seguido de outro), Training Mode (modo de treino), POV Mode (modo em primeira pessoa) e Link Mode (mediante o PlayStation Link Cable, que permite a conexão de dois consoles entre si, como ocorre em Red Alert, Multi).

Gráficos e trilha sonora

O visual do jogo é o clássico 3D que existia em 1997, ano em que o jogo foi lançado. Os personagens não são lindos e os cenários, embora vastos, não são um primor em detalhes, inclusive possuem problemas graves de renderização. No entanto, alguns ambientes são parcialmente interativos e era o máximo vermos bambus sendo cortados durante alguns dos combates.

O que mais aborrece — mas não surpreende — é como o jogo não envelheceu bem. Embora a precisão dos controles seja ótima, visualmente o jogo não é bonito, embora parecesse incrível à época.


A trilha sonora é tipicamente a música japonesa que remeteríamos aos filmes de samurais, no entanto, se limitam à abertura, ao menu de seleção de personagens/armas e no decorrer da história de apresentação, bem como no final de cada lutador. Os combates em si são regidos somente pelo som das espadas quando se tocam (algo gostoso de se ouvir até mesmo hoje), do gemido e gritos dos lutadores quando atacam ou sofrem danos e da carne sendo cortada, além de eventuais sons de água correndo. Em outras palavras, a concentração é total no combate.

Para que, então?

Percebe-se que não se trata de um jogo de luta convencional e, a bem da verdade, desconheço qualquer outro título do gênero desde Kengo: Master of Bushido (PS2/X360) que, embora também seja desenvolvido pela Light Weight, trouxe as infames barras de vida ao mesmo.

Bushido Blade é um jogo ultrapassado, inquestionavelmente. Contudo, sua metodologia de batalha é única e nunca mais existiu qualquer outro jogo próximo a ele que saciasse o desejo de jogadores por batalhas de samurais que não fossem apenas uma transposição das lutas convencionais, embora os lutadores carreguem armas consigo.


A despeito de tais circunstâncias, a experiência com o jogo é válida não apenas como alternativa àqueles que buscam realismo para jogos com essa temática, mas também como um “documento histórico” para os jogadores mais recentes compreenderem quando dizemos que a diversão se sobrepõe mesmo a gráficos de última geração.

Se tiver a oportunidade, experimente jogar com um amigo. Tenho certeza de que, tão logo dominem minimamente a metodologia de combate, se perderão horas a fio com um jogo que traz uma proposta tão inusitada. E então, tentarão a sorte em Bushido Blade? Compartilhem suas experiências e expectativas conosco!

Revisão: Raphael Barbosa

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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