Code Vein (Multi): um soulslike que precisará de mais para se destacar

Bandai Namco desenvolve um game influenciado pela saga Dark Souls, mas inserindo suas próprias influências, mesmo que isso não traga um resultado perfeito.

em 10/06/2019


Anunciado no ano passado, Code Vein recebe um beta fechado para todas suas plataformas, PS4, Xbox One e PC, chamado Network Test. Ele é dedicado ao teste de estabilidade da rede, mas ainda inserindo 30 minutos do modo história e mais alguns desafios extras. Esse é um RPG de ação ao estilo Dark Souls, que usa uma estética de anime japonês para compor seu mundo. Isso vai desde roupas, personagens e até narrativa, fazendo este último ser o ponto mais problemático até então.

Uma narrativa de anime

Ao iniciarmos nossa jornada, com um protagonista criado pelo jogador, somos apresentados a uma personagem chamada Cruz, e seu nome é a única coisa que sabemos sobre ela. A mulher misteriosa nos diz que renascemos como uma criatura imortal, denominada aparição (uma espécie de vampiro neste mundo). Cada uma dessas criaturas possui um código de sangue, dando poderes de combate, magia, força, entre outras coisas. O nosso vampiro possui um código quebrado, indicando que podemos trocar entre esses códigos livremente, implicando diretamente no gameplay.



Depois desse primeiro momento maçante e expositivo, despertamos no meio de uma distopia, ferido e perdido. Mas ao nosso lado uma jovem garota que ajuda a encontrar uma nascente de cristais de sangue, ao usar um desses frutos caímos no sono e então uma gangue aparece e nos leva à sua estação de trabalho. Ao acordar, somos levados para a presença do líder deles, que nos conta quem é seu chefe, um personagem chamado Silva, e a única coisa que ele precisa deles são esses cristais.

O tempo da campanha aqui não é longo. Mas é notável o uso de clichês para contar essa história, como uma jovem de seios fartos que fala coisas estranhas e parece boba boa parte do tempo, ou mesmo um NPC que te apresentam como um possível amigo, para matá-lo logo depois, e só então nos apresenta sua história. Certamente as coisas podem melhorar, mas esses detalhes conseguem incomodar, principalmente quando o propósito parece ser “porque sim”.


Batalhe como um Souls

É mais do que claro que esse título bebe na fonte da série Souls em muitos sentidos: atacamos controlando a stamina, desviamos, trocamos de armas de forma dinâmica, usamos itens para nos curar,  até mesmo temos a opção do backstab, com algumas animações bem legais. Mas é do seu diferencial que alguns problemas surgem.

Primeiramente, o foco da criação do personagem está na variedade de opções e não na construção de uma classe. Então podemos mudar o rosto, cabelo, roupas, além de detalhes menores, como cor dos olhos ou o tamanho do busto caso a personagem seja feminina. E não se enganem, é fácil ficar muito tempo nessa ferramenta, criando seu vampiro da forma mais bela ou esquisita que sua mente imaginar.



O que faz diferença nas batalhas é qual o código de sangue que seu personagem está equipado, já que aqui não existem classes, nem evoluímos os atributos individualmente. Eles definem sua força, se você pode usar magias, a velocidade de sua esquiva, o número de seu PV (pontos de vida), às vezes até exigindo um tipo de arma específico, entre outros detalhes. Cada um deles possui uma árvore de habilidades especiais, que trazem vantagens para o personagem, ou mesmo ataques mais poderosos, com tudo isso custando pontos de sangue, que você pode coletar dos inimigos usando seus poderes de vampiro.

Tudo isso pode ser evoluído no Visco usando as Brumas que são coletadas ao derrotar os inimigos, semelhantes a Fogueira e as Almas do Dark Souls. Ainda é possível comprar habilidades novas para seu código de sangue, subir de nível, teletransportar para outro ponto já descoberto, chamar um companheiro, online ou offline controlado pela IA, entre outras coisas.



As semelhanças à série Souls não acaba por aqui. Depois de derrotar o primeiro chefe do jogo, pelo menos dessa beta, nos é apresentado a base dos vampiros. Parecendo um grande salão com quartos, onde podemos treinar nossos movimentos, conversar com NPC, comprar e vender itens e equipamentos, além de melhorá-los, e também iniciar novas missões.  Aqui também existe uma mecânica de afinidade, onde se você entregar algum item específico aos comerciantes, eles vão te liberar itens especiais para compra.

A exploração nesse estágio do game é bem linear, até existindo um mini mapa no topo da tela, que se preenche ao achar um item específico, ou enquanto caminhamos às escuras. Também é possível achar vários outros itens consumíveis, e até mesmo equipáveis, como espadas, machados, armas de fogo, com diferentes atributos e até requisitos para serem usadas, tudo isso dentro de baús espalhados por aí. Além disso, achamos casacos que se transformam ao ativarmos nossos poderes de vampiro, e cada um deles possui uma forma e ataque diferente, o que é bem legal.


Outro diferencial é que você poderá ter um companheiro te acompanhando por boa parte da jogatina, e isso já facilita um pouco as lutas: atacando, distraindo e até nos curando quando estamos com o PV baixo. Isso não indica que a IA funcione muito bem, já que em alguns momentos ele vai acabar morrendo por se focar no inimigo errado. Felizmente, no geral, a dificuldade aqui é bem acessível se comparada a outros títulos do gênero, e isso não é um problema, e pode até trazer um público menos “hardcore”.

Também temos chefes aqui, e mesmo que eles não tenham a imponência dos de Dark Souls, eles podem dar certo trabalho, mesmo com um aliado te ajudando. Infelizmente nestes momentos mais críticos, onde talvez precisamos de uma habilidade de algum outro código de sangue, o jogo não ajuda na troca, me forçando a selecionar a que eu quero manualmente. E isso, para um jogo rápido como esse, é um problema que força o jogador a escolher previamente sua “classe” antes de alguma batalha.



No fim, esse é um sistema bem complexo que funciona nas suas limitações. Mesmo trazendo algumas inconsistências, como sendo problemático acertar um backstab em alguns momentos, e ser fácil em outros;ou mesmo a hitbox que também possui esse problema: às vezes parece que acertamos o golpe, mas o jogo não computa isso. Esses erros são superados facilmente conforme jogamos, evoluímos e derrotamos os monstros.

Nem tudo é animado

A decisão de usar um gráfico ao estilo de anime japonês não é um problema, sendo na verdade um acerto, se fazendo destacar entre os muitos títulos que existem nesse estilo e conseguindo ser bonito no processo. Se os modelos dos personagens são bonitos, e até mesmo dos monstros são muito bem feitos, o mesmo não se pode falar das suas animações.

O andar parece duro e subir uma escada é feio. Existe um cuidado na hora das lutas, fazendo cada arma parece ter um peso distinto, mesmo com quedas de quadros até que frequentes em ambientes mais caóticos, mas infelizmente não é só de lutas que vive Code Vein. Também assistimos a cenas de corte com quase nenhuma expressão facial, e movimentos bem robóticos, o que é bem estranho.



O ambiente também não é grande coisa, parecendo corredores sempre com o tom cinza em destaque, além de outros detalhes, como carros, asfalto, pedaços de concretos e de prédios espalhados pelo mapa. Espero que na versão final outros ambientes sejam exploráveis, como florestas, cavernas, e até lugares mais abertos.

Já as suas músicas são bem rápidas, e acompanham muito bem o frenesi das batalhas, principalmente quando estamos no subterrâneo (a fase extra do beta, de nível de dificuldade elevado).

E então?

Neste ponto do desenvolvimento, acredito que nada do que foi citado irá sofrer alguma mudança. E mesmo parecendo divertido, com uma boa jogabilidade e gráficos bonitos, o jogo ainda não está livre da necessidade de se provar para o jogador. Trazendo além de tudo isso uma diversidade de desafios, uma narrativa e personagens mais interessantes do que foi apresentado até agora. Pois senão esse pode ser só mais clone estranho de Dark Souls, e desejo que isso não seja verdade.



Revisão: Francisco Camilo

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.