Análise: Trover saves the Universe (PS4/PSVR) é uma hilária aventura feita para a realidade virtual

Desenvolvido pela Squanch Games junto com o criador de Ricky and Morty, este é um jogo obrigatório para quem gosta de comédia.

em 10/06/2019
O PlayStation VR recebe cada vez mais jogos exclusivos e 2019 já se mostrou um grande ano para o periférico do PS4. Isso porque grandes e aguardados nomes do óculos de realidade virtual estão finalmente sendo lançados enquanto outras grandes surpresas continuam fazendo bem à plataforma. Uma dessas incríveis surpresas é Trover saves the Universe (PS4/PSVR), lançado com um modo “não VR”, mas claramente pensado para a realidade virtual.


O detalhe que mais chama a atenção de Trover antes de jogá-lo é o fato do game ter sido desenvolvido em uma parceria da Squanch Games com Justin Roiland, a mente por trás da famosa série animada Rick and Morty. Como se não bastasse a mão da comédia pesada de Roiland na criação do jogo, é o próprio ator que dá a voz à maior parte dos personagens, utilizando falas rápidas, humor ácido e muitos palavrões no processo.


O jogador dentro do jogo

Um elemento muito interessante de se notar  assim que começamos a jogar Trover saves the Universe é o fato de que nós, enquanto jogadores, fazemos parte diretamente da história. Nós somos membros de uma raça alienígena chamada Chairopean, a qual tem como principal característica o fato de viver sempre sentada em cadeiras de teleporte. Isso por si só já é uma brincadeira que o jogo faz com o jogador e a quebra da quarta parede, colocando exatamente as nossas características enquanto jogamos como as características da espécie alienígena no jogo.

No enredo, nossos cachorrinhos são sequestrados por um ser alienígena sem olhos chamado Glorkon, o qual utiliza os cães justamente no lugar dos olhos, dando-lhe poderes colossais que podem destruir completamente o universo (sim, é isso aí). Durante o momento que somos apresentados a todo esse incomum contexto, recebemos também um tutorial de como interagir com o mundo virtual ao nosso redor através de um programa de televisão, uma forma muito engraçada e criativa de ensinar o jogador a jogar.



Após este momento em nossa humilde casa recebemos a visita de Trover, o carismático e simpático protagonista do jogo. Ele precisa nos levar até o seu chefe, pois aparentemente este é o seu trabalho. E assim começamos a ter uma ideia real da jogabilidade do título, que mescla elementos de aventura, plataforma e ação com um uso muito criativo de recursos da realidade virtual.

A história em si possui algumas reviravoltas interessantes e é cheia de personagens carismáticos e engraçados. Desde os inimigos comuns que enfrentamos em cada mapa até os NPCs batidos e passando pelos personagens que realmente fazem diferença no enredo, todos tem diálogos engraçados, boas piadas e sempre o timing certo para nos tirar boas risadas. O mais interessante é que vemos isso tudo em primeira pessoa, participando muitas vezes dos diálogos respondendo “sim” ou “não” com a cabeça e ajudando constantemente Trover em puzzles e combates.


Mecânicas criativas e divertidas

Nossa função no jogo inicialmente é ser a câmera, sendo teleportado de base em base quando Trover chega ao local. Entretanto, tanto nós quanto o próprio Trover recebemos melhorias no decorrer do jogo, dando um sentimento de progressão muito gratificante e viciante à jogatina. Nós, enquanto Chairopeans, conseguimos levitar com a nossa cadeira, assumindo três alturas diferentes, modificando nossa perspectiva do cenário ao nosso redor.

Além disso, avançando mais no jogo, conseguimos manipular objetos ao nosso redor, o que pode servir até para ajudar Trover a enfrentar alguns inimigos, entre outras coisas. Todas essas melhorias são bem relevantes para a jogatina e a melhoram cada vez mais. Já Trover, por sua vez, luta com uma espada de energia e recebe melhorias de NPCs que lhe dão os chamados Power Babies, criaturas às quais ele utiliza como olhos.



Suas melhorias envolvem novos golpes com sua espada, melhorias em sua mobilidade como pulos duplos, rolamento e a capacidade de flutuar de um local para o outro, entre outras coisas. O bacana é que as melhorias de Trover se combinam muito bem com as nossas, dando mais dinamicidade à jogatina, fugindo completamente da monotonia ou da repetição.

Para além desse sistema de progressão muito divertido, as mecânicas de movimentação, combate e, principalmente, interação com os NPCs é, no mínimo, incrível. Essas interações, inclusive, merecem uma atenção extra nessa análise, pois realmente fazem muita diferença durante a experiência de jogar Trover.


Um mundo que reage ao jogador de forma hilária

A sensação de imersão na história que o jogo nos dá é fantástica, seja pelos recursos da realidade virtual que ele utiliza, como a possibilidade de responder os NPCs com um aceno de cabeça positivo ou negativo, seja pelos diálogos que esses personagens tem conosco. Principalmente o próprio Trover, que ao longo do jogo vai comentando nossas ações, parabenizando a resolução de puzzles e outras coisas, dando bastante vida à jogatina.

Mas para além disso, algumas reações dos personagens frente às nossas ações são muito divertidas e criativas, além de dar maior peso para as nossas ações. Um personagem que lhe dá uma missão básica de exterminar uma criatura e você, acidentalmente ou não, extermina outra, pode lhe dar respostas grossas ou se desesperar pois você “matou os únicos amigos que ele tinha no mundo”.


Isso fora outros que podem te dar respostas diferentes caso você bata neles, caso ignore o que eles estão perguntando ou pedindo entre outras coisas. Existem NPCs que podem, inclusive, serem mortos por nós de forma opcional (e sempre muito criativa), dando uma resolução, no mínimo, inesperada para um diálogo complexo.

Todas essas interações e quebras da quarta parede dão a sensação de estarmos literalmente dentro de um episódio de desenho animado ao estilo de Ricky and Morty, com diálogos engraçados, reações hilárias dos personagens e resoluções inesperadas. A combinação de recursos imersivos da realidade virtual com recursos imersivos dos próprios NPCs faz toda a diferença na experiência de Trover, que definitivamente não é completa sem a realidade virtual. Porém, vale dizer que esses recursos de diálogos só funcionam quando o jogador entende muito bem a língua inglesa, já que Trover não possui dublagem ou textos em português.

Definitivamente feito para a realidade virtual

Em um determinado momento do jogo, quando vamos conversar com um NPC muito maior do que nós, escutamos ao longe o personagem nos chamando repetidamente. No meio do seu diálogo ele fala: “(...) inclusive, essa é uma parte incrível de ser vista na realidade virtual!”. E com certeza o personagem está certo, não só em referência a essa parte específica do jogo, como ao game como um todo.

O visual de desenho animado de Trover fica belíssimo na realidade virtual, com uma ótima resolução, cores bem vivas e basicamente nenhum recursos que possa causar cinetose no jogador. Além disso, várias são as mecânicas que utilizam tanto o giroscópio do próprio PlayStation VR como também do Dualshock 4. 

Junte a isso uma trilha sonora que combina e complementa a jogatina de uma forma incrível, diálogos secundários que dão ainda mais graça para as situações e uma imersão feita de um modo criativo e quase único dentre os jogos lançados para PSVR até o momento. Trover é um excelente exemplo, juntamente com Astro Bot Rescue Mission (PSVR) e Moss (PSVR/PC) de como jogos de plataforma em terceira pessoa podem ficar fantásticos na realidade virtual.

Prós

  • Visual caricato fantástico e bem imersivo;
  • Enredo bizarro e criativo combina bem com a narrativa;
  • Jogabilidade criativa e muito divertida;
  • Diálogos hilários e bem inteligentes ;
  • Nível de desafio instigante;
  • Colecionáveis muito divertidos de serem coletados;
  • Escolhas influenciam diretamente a história;
  • Reação dos personagens às ações do jogador são fantásticas;
  • Tempo de duração muito bom para um jogo em RV;
  • Level design criativo e bem modelado.

Contras

  • Modo de jogo sem realidade virtual não é tão interessante;
  • Dublagem em pt-br seria um bom acréscimo.
Trover saves the Universe - PS4/PSVR - Nota: 9.5
Versões utilizadas para análise: PS4/PSVR
Análise produzida com cópia digital cedida pela Squanch Games.

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.