Blood & Truth é um FPS focado em ação que coloca o jogador na pele de um personagem que seria perfeitamente o protagonista de um filme cheio de adrenalina como Duro de Matar, Missão Impossível ou algum outro semelhante. Isso porque o game se baseou bastante nesses “clássicos” do cinema de ação para construir a narrativa, o enredo e a jogabilidade de Blood & Truth. O produto final que recebemos faz nosso queixo cair em vários momentos.
Casos de família
No enredo de Blood & Truth, estamos na pele do ex-soldado das forças especiais Ryan Marks, que começa o jogo sendo interrogado por um homem que ainda não sabemos se é amigo ou inimigo. Durante boa parte do jogo estamos neste interrogatório, contando tudo que aconteceu conosco e com a nossa família para este homem. Esse formato de narrativa é bem comum em filmes de ação e logicamente funciona muito bem no jogo, dando dinamicidade para a narrativa e justificativa para os ambientes mudarem de forma mais brusca.Tudo se complexifica um pouco quando fica clara a relação da nossa família com a máfia londrina, que é a responsável por boa parte dos problemas pelos quais Ryan e seus irmãos passam no decorrer do jogo. A história não é exatamente inovadora ou muito criativa, mas funciona bem com a jogabilidade e a ótima interpretação da maior parte dos personagens. Infelizmente, na versão dublada do título, a dublagem do principal vilão da história ficou aquém do esperado, com os momentos de fúria do personagem não passando a emoção correta, deixando os diálogos um pouco artificiais. Porém, isso não se repete nos demais personagens, que convencem bastante em suas interações.
Para além destes problemas, a história tem uma duração considerável para um título de realidade virtual, com momentos de clímax incríveis que são complementados de forma estupenda pela trilha sonora e também pelas mecânicas de jogo. Essas mecânicas, logicamente, fazem bastante diferença para estes clímax e vamos falar mais sobre elas a seguir.
Incrível variedade de mecânicas de jogo
Um ponto que merece ser muito elogiado em Blood & Truth são suas mecânicas de jogo. Mesmo que muitos possam achar ruim ou estranho o estilo de movimentação obrigatoriamente linear do título, que se assemelha bastante a um arcade de tiro, isso é compensado de certo modo pelas excelentes funcionalidades que o jogo possui baseadas na realidade virtual. Para um jogo de ação, muito fazemos para além de simplesmente “sair atirando em qualquer coisa que aparece em nossa frente”.
São puzzles e tarefas diversas que aumentam a imersão do jogador naquele filme de ação interativo. Utilizamos ferramentas específicas para abrir fechaduras, sabotamos trancas eletrônicas desde desparafusar sua caixa de energia até cortar fios certos e substituir fusíveis. Subimos escadas utilizando as mãos, escalamos prédios realmente agarrando suas beiradas e muito mais. Todas essas atividades “secundárias” fazem a aventura de ação ser muito mais completa e imersiva.
Para além dessas tarefas, temos toda a variedade de armas disponíveis no decorrer dos capítulos do jogo, assim como também toda a imersão nos controles dessas armas. Para começar, podemos guardar e retirar elas dos coldres localizados na cintura para pistolas e nas costas para armas de grande porte. E para removê-las dos coldres ou guardá-las fazemos movimentos realistas com os controles de movimento PS Move.
Temos também que recarregar as armas manualmente, retirando cartuchos pendurados no nosso peito e encaixando da forma correta na arma. Vale lembrar que cada tipo de arma possui um modo específico de ser carregado, não sendo assim o mesmo movimento para recarregar uma pistola e uma shotgun. Isso é ótimo para a imersão, mas no caso das armas em específico, tem alguns problemas principalmente relacionados a proximidade de alguns comandos, confundindo às vezes o ato de pegar um cartucho com o ato de pagar uma pistola. Ou atirar com a arma ao invés de guardá-la. O que atrapalha um pouco a progressão do jogo em alguns raros momentos.
Visual de primeira para um jogo de ação
Os aspectos visuais de Blood & Truth saltam aos olhos de modo muito gratificante. Não são exatamente gráficos de última geração comparados a títulos AAA dos consoles lançados este ano, mas não deixam de ser excelentes por conta disso. Na verdade, o jogo é constantemente cheio de efeitos, explosões, momentos rápidos e mudanças bruscas de cenários. Em tudo isso a movimentação semi-automática ajuda bastante, tornando tudo friamente calculado para entreter da forma correta o jogador.
Para o bem e para o mal, a sensação que temos é de estar participando de um filme interativo, onde precisamos saltar de prédios, descer de asa-delta, pular de janelas, fugir em uma troca de tiros, atirar em inimigos em um carro em movimento e muito mais. Tudo isso funciona muito bem na realidade virtual, dando a imersão certa em todas essas cenas que talvez uma movimentação livre não permitisse com tanta elegância.
Esse visual é sempre complementado pela já citada trilha sonora, mas também por excelentes efeitos sonoros que aumentam bastante a qualidade da experiência. Mesmo em momentos cheios de informação com muitos tiros, explosões, fala de inimigos, música ambiente e outros elementos, tudo fica muito claro e nada poluído, deixando a percepção de tudo que está acontecendo muito clara.
Desafio para James Bond nenhum botar defeito
Como um todo, a jogabilidade é divertida mas nem por isso deixa de ser desafiadora. Na verdade, tanto o estilo do jogo quanto algumas de suas músicas e seu nível de dificuldade lembram bastante a experiência de jogar 007 Goldeneye (N64) lá nos anos dourados do Nintendo 64. Além da estética que ajuda bastante nisso, o nível de desafio do jogo é considerável para seu gênero, com mortes acontecendo exatamente por falta da habilidade necessária do jogador.
Aqui não basta termos mira e olhos rápidos, mas também temos que ter uma ótima desenvoltura com os controles de movimento. No decorrer da progressão da dificuldade das fases, somos obrigados a coordenar várias tarefas com trocas de tiro, usar mais de uma arma ao mesmo tempo, arremessar granadas, se esconder, recarregar e correr. Tudo de um modo muito dinâmico e orgânico, dando a sensação de estarmos realmente numa cena de ação e fazendo qualquer um ter suor escorrendo pelo rosto, mesmo sem fisicamente sair do lugar.
Um jogo obrigatório para o PSVR
Se você tem um PlayStation VR, não é exagero dizer que este é um daqueles jogos obrigatórios para se ter no periférico. Isso por conta tanto da sua qualidade bem acima da média como também pelo peso que o título pode vir a ter nos próximos jogos desenvolvidos para a realidade virtual. São tantas formas de interação, tantas mecânicas de jogo e tantos clímax divertidos que nos fazem ver como a realidade virtual pode ser muito bem aproveitada sem necessariamente tirar a coroa dos jogos tradicionais de videogame.
Blood & Truth (PSVR) é energético, faz juz aos jogos de tiro de antigamente ao mesmo tempo que constantemente nos faz lembrar dos grandes filmes de ação dos anos 80 e 90, assim como um dos ícones mais recentes do gênero, John Wick (que inclusive possui um troféu do jogo em sua homenagem). Jogar este jogo é obrigatório para quem possui um PSVR exatamente pela proposta do título ter tudo a ver com a proposta do periférico: imersão em um modo de jogo criativo.
Prós
- Trilha sonora fantástica;
- Enredo típico de filme de ação, com ótimos momentos;
- Comandos detalhados e realistas;
- Usos criativos dos controles de movimento;
- Variedade de tarefas executadas agrada bastante;
- Ritmo acelerado da jogatina combina bastante com a narrativa;
- Visual de ótima qualidade;
- Efeitos sonoros ótimos, com dublagem em pt-br competente;
- Nível de desafio considerável;
- Colecionáveis criativos;
- Ótimos recursos para evitar cinetose.
Contras
- Em alguns momentos a imprecisão dos controles de movimento pode atrapalhar;
- Movimentação totalmente linear pode não agradar alguns;
- Personagens rasos tiram um pouco o peso da história.
Blood & Truth - PSVR - Nota: 9.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony.