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Ensemble Studios: história e legado

Relembre a trajetória da desenvolvedora icônica, responsável por popularizar o gênero RTS, e veja como sua influência perdura até os dias de hoje.

em 22/05/2019
Qual é o primeiro jogo que vem a sua mente quando escuta os termos “RTS” ou “Estratégia em Tempo Real”? Por mais que você não seja fã, se estiver minimamente familiarizado com o gênero, é provável que sua resposta seja Age of Empires. A franquia surgiu no fim da década de 90 e se tornou um sucesso instantâneo, servindo como inspiração para diversos outros jogos do tipo. Além disso, a série angaria fãs mesmo anos depois do seu primeiro lançamento (este que vos fala só a conheceu em 2009), o que a transforma em um sucesso atemporal. Entretanto, hoje a luz dos holofotes não estará nos títulos em si, mas em seus criadores. A Ensemble Studios foi fechada há 10 anos, mas suas produções deixaram uma marca indelével na história dos jogos eletrônicos. Vamos conhecer um pouco sobre o início, a ascensão e o fim dessa importante empresa do mundo dos jogos.

A fundação

A origem do estúdio remonta a 1989, quando Tony Goodman fundou a Ensemble Corporation ao lado de alguns amigos. A empresa atuava como consultora de tecnologia da informação e experimentou um rápido crescimento até 1998, quando foi adquirida pela já extinta UsWeb Corporation. Porém, Tony estava participando de outro projeto há algum tempo...
Tony Goodman, o idealizador da Ensemble
Assim, em janeiro de 1995, nascia em Dallas, no Texas, a Ensemble Studios pelas mãos de Tony Goodman, seu irmão, Rick Goodman, Bruce Shelley e Brian Sullivan. Sem a Ensemble Corporation, Tony, um apaixonado por videogame, se dedicou exclusivamente ao estúdio recém-fundado, atuando como CEO e diretor de arte. Seu irmão ficou responsável pelo cargo de designer chefe, enquanto Brian e Bruce ajudaram na parte de desenvolvimento. O fruto dessa união é bem conhecido por todos: Age of Empires (PC) chegou às lojas americanas através da Microsoft em 15 de outubro de 1997 e foi um sucesso tanto de crítica quanto de público.

O jogo foi inovador em diversas características, como a interface simples e funcional criada por Rick. Até hoje é um modelo seguido por outros jogos do gênero, como Rise of Nations (PC), Empire Earth (PC) e, mais recentemente, War Party (PC) e Bannermen (PC). Outra novidade era o uso da própria história humana como pano de fundo da ação. Enquanto Warcraft II: Tides of Darkness (PC) e Command & Conquer (PC) se passavam, respectivamente, em um universo de fantasia e em uma era futurista, Age of Empires apostava em uma abordagem mais realista, colocando o jogador no controle de uma civilização real do mundo antigo entre 12 disponíveis. Muitos conceitos são méritos de Bruce Shelley, que havia ajudado Sid Meier a criar Civilization em 1991. Por exemplo, a ideia de desbloquear tecnologias a cada nova era alcançada e a construção de Maravilhas do Mundo são inspirações provenientes da experiência anterior de Bruce.

No ano seguinte ao lançamento, em 31 de outubro de 1998, Age of Empires recebeu sua única expansão, chamada de Rise of Rome. Ela trazia pequenas melhorias na jogabilidade, como permitir que o jogador fizesse uma fila de produção de unidades e um limite maior de população. Também trazia 4 novas civilizações, campanhas, tecnologias e um novo estilo arquitetônico, entre outras novidades. A exemplo do original, Rise of Rome teve uma recepção favorável e ajudou a consolidar a Ensemble Studios no mercado de RTS. No total, Age of Empires vendeu mais de 3 milhões de cópias até os anos 2000, enquanto sua expansão alcançou 1 milhão de unidades vendidas no mesmo período. No entanto, o melhor ainda estava por vir.
Assim começam os impérios

A era dourada

A Ensemble Studios não se acomodou após o êxito do primeiro jogo e, mesmo com a saída de Rick Goodman, produziu o que ficaria conhecido como sua obra-prima. Em 30 de setembro de 1999, foi lançado Age of Empires II: The Age of Kings (PC). A continuação da série trouxe diversas inovações em relação ao título original, o que rendeu diversos elogios por parte da crítica e muitas horas de jogatina para o público. Além de utilizar um motor gráfico diferente, o jogo abrangia o período histórico da Idade Média (entre 476 e 1453), implicando em unidades, civilizações e arquiteturas diferentes daquelas da Antiguidade. The Age of Kings ainda contava com uma jogabilidade mais polida, novos mapas e modos de jogo extras.

Tudo isso contribuiu para que a jóia da Ensemble se tornasse o título mais vendido de outubro de 1999 e o quarto daquele mesmo ano nos EUA. O jogo ainda passaria os próximos dois anos e meio no top 20 de vendas. A este sucesso retumbante, seguiu-se a expansão The Conquerors, lançada em 24 de agosto de 2000. As adições eram equivalentes àquelas de Rise of Rome: novas civilizações, campanhas, unidades, tecnologias, etc. De qualquer modo, foi uma boa adição ao jogo base, vendendo cerca de 221 mil cópias nos EUA até outubro de 2000. A Ensemble Studios conseguiu, em apenas 5 anos, lançar uma incrível sucessão de clássicos, aclamados quase universalmente.
Um dia típico da Idade Média
O enorme sucesso do estúdio texano sob o comando de Tony Goodman provavelmente impressionou a Microsoft, publicadora de todos os jogos da franquia Age of Empires até então, que decidiu adquiri-lo. Assim, em 1º de maio de 2001, a desenvolvedora independente se tornou parte da gigante da computação, mas permaneceu no mesmo prédio em Dallas. Nessa época, o talento de Brian Sullivan já não fazia parte da Ensemble, tendo deixado o estúdio no ano anterior. Apesar disso, grandes produções ainda seriam feitas.

O primeiro trabalho do novo milênio foi uma inusitada parceria com a LucasArts. O resultado foi Star Wars: Galactic Battlegrounds (PC), lançado em 11 de novembro de 2001. O jogo foi desenvolvido com a Genie engine, criada pela Ensemble Studios. É um prato cheio para os fãs de RTS que gostam de Star Wars, já que é basicamente o Age of Empires II com a roupagem da franquia espacial. Um pacote de expansão chamado Clone Campaigns foi lançado em 14 de maio de 2002 e continha duas novas facções e campanhas. Embora a participação da Ensemble se limite ao licenciamento da engine, é válido mencionar este breve capítulo na história do estúdio.
Esse minimapa parece familiar...
A verdadeira grande produção da fase na Microsoft veio em 30 de outubro de 2002, quando Age of Mythology chegou à prateleira das lojas. O spin-off ousava por sair ligeiramente do molde tradicional da Ensemble, ainda que mantivesse a mesma fórmula. Ao invés de História, o jogo se baseava na mitologia, trazendo 3 civilizações bem distintas entre si: gregos, egípcios e nórdicos. Cada uma tinha acesso a criaturas de suas próprias lendas e podia obter o favorecimento dos deuses de seus panteões, conforme avançavam de era. Essa abordagem diferente ajudou a franquia a não se manter repetitiva, bem como permitiu que novas ideias fossem implementadas na jogabilidade. 

O título mitológico foi feito utilizando a BANG! engine, desenvolvida pela Ensemble na mesma época do Age of Empires II, e foi a primeira empreitada totalmente em 3D do estúdio. O jogo passou por um teste de qualidade intenso durante seu desenvolvimento, para ficar o mais balanceado e competitivo possível. O esforço, por fim, acabou recompensado: Age of Mythology vendeu cerca de 1 milhão de unidades em 5 meses após seu lançamento. Como era de costume, uma expansão foi lançada um ano depois. The Titans chegou em 30 de setembro de 2003 adicionando uma nova civilização, os Atlantes, novas unidades, campanhas e mapas. A inovação trazida pela Ensemble tornou Age of Mythology um dos títulos mais populares e queridos da franquia.
O verdadeiro duelo de titãs








Os anos finais

Houve uma pausa de um ano antes que a Ensemble fizesse seu último trabalho na série Age of Empires. O terceiro capítulo veio em 18 de outubro de 2005 e trouxe várias mudanças na jogabilidade. Utilizando a conquista da América como contexto histórico, os jogadores agora tinham uma metrópole, de onde podiam enviar suprimentos e reforços para ajudar nas batalhas, através de um sistema de baralho. Além disso, os recursos não precisavam mais ser carregados até um ponto de depósito, sendo automaticamente adicionados às suas reservas. O jogo foi feito utilizando a BANG! engine com algumas melhorias, como o uso do sistemas Havok de física.

Assim, Age of Empires III (PC) possuía várias mudanças na fórmula tradicional e tinha os mais belos gráficos da franquia até então. O jogo vendeu muito bem, chegando a ser o oitavo mais vendido nos EUA em 2005. No entanto, não foi capaz de superar o êxito do Age of Empires II, inclusive obtendo avaliações menores que o antecessor. Ainda assim, foi mais um sucesso para a coleção da Ensemble Studios, que lançou mais duas expansões para o terceiro título. A primeira foi The Warchiefs, em 17 de outubro de 2006, e trazia 3 civilizações indígenas, novas campanhas e mapas. A segunda, The Asian Dynasties, co-desenvolvida pela Big Huge Games, veio em 23 de outubro de 2007 e colocou 3 civilizações asiáticas, mais mapas e unidades no jogo.
Grandes gráficos para a época







A Ensemble Studios ainda faria um último trabalho antes de seu repentino fechamento, que ocorreu até antes do lançamento do jogo. O título em questão é Halo Wars, um RTS para Xbox 360, lançado nos EUA em 3 de março de 2009. A história se passa no universo da série Halo e narra o esforço dos soldados humanos para impedir que uma frota de naves caia nas mãos da aliança alienígena Covenant. O jogo sofreu algumas críticas por apresentar elementos rasos de estratégia, mas mesmo assim obteve um número expressivo de vendas, alcançando a marca de 1 milhão de unidades vendidas no mundo todo ainda em 2009.

A Microsoft havia anunciado em 2008 que fecharia a Ensemble Studios ao fim do desenvolvimento de Halo Wars. Assim, em 29 de janeiro de 2009, o estúdio fundado em 1995 deixou de existir. Algumas pessoas foram demitidas, enquanto outras foram remanejadas para outros cargos dentro da empresa. A Microsoft alegou que isso traria benefícios para as duas companhias. É de se estranhar que o estúdio responsável por produzir diversos clássicos tenha terminado de modo tão repentino, mas esses são os ossos da indústria. Seja como for, as sementes da Ensemble Studios já estavam lançadas.
O canto do cisne da Ensemble Studios











O legado

Mesmo com apenas 13 anos no mercado, diversos frutos foram gerados a partir da série Age of Empires. Rick Goodman, após sua saída da Ensemble, fundou a Stainless Steel Studios, lar de Empire Earth (PC). De certo modo, o jogo era uma interpretação do próprio Rick sobre qual caminho a franquia de seu ex-estúdio deveria seguir. Em 2006, foi a vez de Brian Sullivan lançar Titan Quest (PC), um RPG de ação desenvolvido pela Iron Lore Entertainment. O jogo trazia a mesma atmosfera do Age of Mythology, usando criaturas míticas em seu enredo.

Após o fechamento da Ensemble, Tony Goodman fundou a Robot Entertainment e acolheu vários ex-funcionários do outro estúdio. Eles foram responsáveis por iniciar o desenvolvimento do Age of Empires Online, um título free-to-play que misturava as tradicionais mecânicas de RTS com elementos de MMO. Também trouxe um gráfico cartunesco, algo nunca visto antes na série. Eventualmente, a Gas Powered Games se tornou responsável por continuar a produção do jogo, que foi lançado em 16 de agosto de 2011. Os servidores foram fechados pela Microsoft em 1 de julho de 2014, sob a justificativa de que o conteúdo estava muito caro para ser mantido. Entretanto, em 2018, o Age of Empires Online foi revivido pela comunidade através do Project Celeste. O jogo está disponível totalmente de graça, com todas as funcionalidades antigas e com novos elementos adicionados pelos fãs. Tudo é feito conforme as regras da Microsoft, então, não há riscos do novo servidor ser subitamente fechado.
Os gráficos cartunescos foram mais uma singularidade desse jogo










Por fim, temos a revitalização dos próprios jogos originais. Em 9 de abril de 2013, uma versão remasterizada do Age of Empires II chegava à Steam. Com poucas mudanças significativas, o título recebeu avaliações medianas. Porém, graças a equipe do Forgotten Empires, três novas expansões chegaram ao clássico da Ensemble. A primeira veio em 7 de novembro de 2013, chamada The Forgotten. Originalmente, era um mod não oficial feito por fãs. Com a ajuda da SkyBox Lab, esse conteúdo extra pôde chegar ao jogo remasterizado. Em 5 de novembro de 2015, era a vez de The African Kingdoms e em 19 de dezembro de 2016, veio a última expansão até o momento, chamada de Rise of the Rajas. Age of Mythology também recebeu um novo tratamento e, em 8 de maio de 2014, chegava a Extended Edition. Uma expansão foi lançada em 28 de janeiro de 2016, denominada Tale of the Dragon, mas esta veio com uma qualidade aquém do esperado, o que rendeu uma péssima recepção.

O primeiro Age of Empires de todos não ficou de fora e recebeu uma bela versão em 4K pelas mãos da Forgotten Empires, chamada Age of Empires: Definitive Edition. O jogo traz uma necessária atualização para a modernidade dos games, mas, infelizmente, conta com alguns problemas desde seu lançamento em 19 de fevereiro de 2018, como crashes, comportamento estranho da IA, pathfinding confuso das unidades. Atualizações ainda estão sendo feitas para corrigir essas questões e melhorar a experiência dos jogadores. A Microsoft já anunciou uma definitive edition para o Age of Empires II e III, mas nenhuma nova informação foi divulgada desde 2017. O tão aguardado Age of Empires IV também foi prometido, mas sabemos apenas que ele está sendo desenvolvido pela Relic Entertainment.
A única imagem que temos até agora
A Ensemble Studio foi capaz de lançar uma sucessão de clássicos, mesmo em seu curto período de existência, um feito notável para um estúdio que desenvolveu vários trabalhos de maneira independente. A criatividade, esforço e dedicação presentes em seus jogos são características a serem seguidas por qualquer empresa do ramo. Ela revolucionou todo um gênero ao definir parâmetros que são utilizados até os dias de hoje. A Ensemble Studios foi verdadeiramente um cometa na indústria de jogos: apareceu, brilhou com intensidade e foi embora, mas sua luz permanece conosco.

Revisão: Giba Hoffmann

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