Driver 2: The Wheelman Is Back (PS) mantém o jogador no controle de um investigador infiltrado

John Tanner persiste na captura de Salomon Caine numa corrida contra a violência desenfreada em Chicago.

em 31/05/2019

Há jogos que marcam nossas vidas, ainda que para os demais (ou para a crítica) eles sejam medianos ou até mesmo ruins. Driver 2: The Wheelman Is Back, desenvolvido pela Reflections Interactive, está longe de ser ruim, no entanto, é um jogo que envelheceu mal no decorrer dos anos (problemas de renderização e gráficos pouco atrativos, típicos da geração que ainda aprendia a desenvolver em 3D).

Passou por uma tentativa frustrada em seguir os passos de Grand Theft Auto em DRIV3R (Multi), retomando seu caminho original — com algum sucesso — desde Parallalel Lines (Multi). Mesmo com tais considerações, assista à cena de abertura do jogo e acompanhem Sitting Here Alone de Hound Dog Taylor na leitura deste artigo para compreender a razão pela qual Driver 2 é tão empolgante.

Já vimos isso antes mas é sempre muito bom

Histórias de policiais infiltrados são encontradas aos montes em filmes, livros, séries de televisão e, claro,  jogos eletrônicos. Some a isso o fato de que a série Driver se inspira em filmes focados em perseguições de carros, tais como Bullitt (1968) e The Driver (1978), o que incrementa ainda mais a experiência.

Em Driver 2, permanecemos no controle de John Tanner, um ex piloto de corridas que agora atua como investigador disfarçado que, em companhia de seu parceiro, Tobias Jones, está em busca do paradeiro de Pink Lenny.

O ex piloto e agora investigador J. Tanner.

Outrora responsável pela contabilidade de Solomon Caine (criminoso antagonista do primeiro jogo), é atualmente aliado de Álvaro Vasquez, mafioso brasileiro concorrente de seu antigo empregador. Com as mãos sobre Lenny, os dois policiais tentarão prender ambos os chefões e encerrar a onda de violência iniciada pelas gangues de Solomon e Álvaro na cidade de Chicago.

Admitamos: o enredo não é algo necessariamente genial (tampouco original), mas a forma como o jogo se desenvolve a partir da jogabilidade faz toda a diferença. Para a geração que cresceu durante a era 128 bits, com mundos sandbox em 3D, Driver 2 não parece algo tão surpreendente.

Em adição ao primeiro jogo, agora Tanner pode sair de um veículo para entrar em outro, mas nada além disso. Nada de tiroteios iniciados pelo jogador, senão os que vemos em cenas em CG. Nada de acidentes envolvendo pedestres que, embora presentes nas ruas, possuem a agilidade e perspicácia de gatos, sempre fugindo de eventuais atropelamentos.
Este é seu escritório, aproveite!



Toda a ação é voltada basicamente à perseguição de veículos ou segui-los furtivamente. E isso, por si só, é muito divertido, em especial porque a física é bastante satisfatória (para a época) e os controles respondem bem aos comandos.

Há algumas questões interessantes aqui: nada de tutoriais ou dicas. O jogador é lançado desde já na direção de um veículo e deve encaminhá-lo dentro de um determinado tempo até um “ponto de encontro” onde, já na segunda missão, será lançado em uma perseguição frenética num trânsito agitadíssimo em Chicago, cujo trajeto dificilmente será cumprido na primeira tentativa.

E como a ação está centrada basicamente na direção de veículos, as únicas barras de “vida” existentes são as Damage (o quanto o automóvel ainda suporta de dano) e Felony (o quanto falta para que as forças policiais convencionais consigam prender o personagem). Nas missões em que se deve seguir algum veículo durante investigações, há uma terceira barra, Distance, que define quão longe ou próximo se está do veículo seguido.
Perseguindo chefões do crime e fugindo de policiais.
É um jogo clássico de tentativa e erro, em que as habilidades do jogador são colocadas à prova a cada nova missão (e basicamente todas possuem um contador de tempo para serem cumpridas). Soa frustrante a um primeiro momento, mas a dificuldade se alinha aos comandos que respondem adequadamente (como já dito), logo, é um desafio do próprio jogo, não de problemas com game design — e, até a geração 32/64 bits, era dessa forma como se desenvolviam a maioria dos jogos.

Os modos de jogo se dividem em Undercover (o modo história), Take A Ride (direção livre pelas cidades que forem liberadas no decorrer do jogo), Driving Games (mini jogos com desafios de direção) e Multiplayer (disputa entre dois jogadores para destruir o carro do outro, com livre direção pela cidade.). Há também um modo para replays de partidas.

Meu Sangue Latino, Minh'alma (não tão) cativa

Muitos jogos, antigos e atuais, retratam alguns cenários no Brasil, de Street Fighter II a Max Payne 3 — e com Driver 2 não é diferente. O Rio de Janeiro está entre os cenários disponíveis, cidade onde se localiza a base de um dos principais antagonistas do jogo, Álvaro Vasquez (sim, porque todo brasileiro acaba tendo sobrenome espanhol) e, por alguma razão, é o único personagem que não possui uma dublagem (talvez porque o estúdio não encontrasse alguém que falasse “brasileiro”).

Os cartões postais típicos da cidade, como o Corcovado e o Cristo Redentor são vistos em muitas das missões, mas não há diferenciação nas estruturas dos imóveis em relação às missões passadas em Havana, senão meramente estéticas. Algumas missões também ocorrem em Las Vegas.

Hound Dog Taylor é muito bom, mas o que mais há?

A despeito da cena de abertura, a trilha sonora de Driver 2 não é a mais variada que já ouvimos, tampouco foi bem incluída no conteúdo do disco. Se concentra basicamente nos “cortes” entre as missões e durante as CGs.

Além de outra canção de Blues como Help Me (Sonny Boy Williamson) e de R&B com In The Basement (Etta James), temos Just Dropped In (Kenny Rogers & The First Edition, que traz à lembrança boa parte das canções utilizadas por Quentin Tarantino em seus filmes), Fever (The Dust Junkies, o lado Rock do jogo), finalizando com Requiem, do compositor clássico Wolfgang Amadeus Mozart, na execução da Lacrimosa dies illa contrastando com a imagem do Cristo Redentor.

De fato, são poucas canções recepcionadas num formato de jogo cuja trilha sonora deve incrementar a experiência do jogador, no entanto, há acréscimos com boas composições próprias do jogo que remetem à uma pegada do seriado televisivo Miami Vice.

Quanto aos veículos disponíveis, todos baseados em modelos reais, há variações de acordo com a cidade onde o jogador se encontra e isso inclui clássicos como Oldsmobile 442 de 1972 (em Chicago) e até mesmo Corcel de 1971 (no Brasil — e a bem da verdade, o único veículo disponível no território brasileiro do jogo que realmente marcou presença no país).

Por outro lado, é frustrante perceber que o Buick GSX possui o mesmo ronco de motor que um Cadillac Eldorado. Em outras palavras, o ruído dos automóveis são repetitivos, senão quando se conduz caminhões, ambulâncias e ônibus escolares. Veículos de emergência permitem o acionamento de sirenes, mas há nada neles que os diferencie, senão pelas formas de condução, realmente perceptíveis.

O fatídico port para Game Boy Advance

O portátil da Nintendo é um dos mais poderosos já lançados e recebeu ótimos ports para a sua capacidade, como a série Donkey Kong Country e Doom (dentro de suas próprias limitações). No entanto, o port de Driver 2 ficou sob os “cuidados” da Sennari Interactive, que não foi muito eficaz na execução de seu trabalho.
"Meu nome é Tanner, mas pode me chamar de Pitfall Harry."


Por razões técnicas, as interessantes cenas em CG foram substituídas por imagens borradas com mensagens de texto com o intuito de explicar o enredo. E diante da capacidade reduzida do cartucho, metade do conteúdo presente em sua versão original foi eliminada, restando apenas as cidades de Chicago e Rio de Janeiro, forçando o enredo a se adaptar apenas a estes dois locais.

Além dos gráficos poligonais simplificados, as canções originalmente utilizadas foram substituídas por “músicas” desenvolvidas exclusivamente para o port, no entanto, soam mais como ruídos em .mid do que qualquer outra coisa, além de uma queda gigantesca na jogabilidade, renderização e física, chegando ao ponto de alguns veículos controlados pela IA simplesmente atravessarem uns aos outros.

Por incrível que pareça, os modos Undercover, Take A Ride e Multiplayer (com espaço para quatro jogadores) foram inseridos no cartucho. A experiência vale tão somente pelo aspecto da curiosidade, sendo a recomendação que dedique seu tempo ao jogo original.

Para que, então?

De fato, há aspectos negativos em Driver 2, já enunciados neste artigo, como os problemas com renderização bem como a ausência de tutoriais que podem ser pouco simpáticos aos jogadores mais recentes. No entanto, o jogo oferece exatamente aquilo que se espera: desafio razoável, diversão e um enredo que, embora já nos seja familiar, não é apenas um “tapa buraco” para justificar perseguições de carros.

Ao longo dos dois discos que o compõe, a história se desenvolve bem e torna a ação (que é constante no jogo) ainda mais crível. Não à toa o jogo desbancou os dois primeiros GTA no PS, conforme relatado por David Kushner em seu Jacked: The Outlaw Story of Grand Theft Auto (lançado no Brasil como O Grande Fora da Lei) e vale a pena ser experimentado não apenas pelas novas gerações, mas também por todos que apreciam um bom jogo de ação. E quanto a vocês, qual a experiência mais marcante em Driver 2? Compartilhe conosco!

Revisão: Raphael Barbosa

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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