O game é uma aventura cheia de suspense e terror psicológico em primeira pessoa que leva o jogador a explorar mentes que foram transportadas para um software de computador. Com pouca ação, mas uma narrativa muito interessante, o jogo pode não ser o ideal para todos os públicos, mas agrada bastante os amantes de uma boa narrativa dispersa em um cenário cheio de detalhes para serem analisados.
Black Mirror em videogame
Como começamos a falar na introdução da análise, o enredo de Transference nos deixa várias pontas propositalmente soltas para serem interpretadas pelo jogador no decorrer da experiência de jogo. Mas o que temos contato desde o início é a nossa missão nisso tudo: precisamos entrar numa mente que foi transferida de uma pessoa para um computador, a fim de encontrar a consciência do portador dessa mente, que no caso, é a esposa do cientista louco que nos incumbiu dessa missão.Claro que esse não é todo o enredo do jogo, já que no decorrer da tensa aventura descobrimos que mais mentes estão presentes na exploração e, com bastante observação aos detalhes, podemos notar quais mentes estão ali e a história por trás de cada uma delas. O formato narrativo que escolheram para o jogo, bem como suas resoluções e tons são muito bons e cumprem o objetivo de deixar o jogador ao mesmo tempo tenso e curioso.
Todo o enredo e atmosfera do jogo lembra bastante o tom tenso e distópico ligado às novas tecnologias que fizeram a série Black Mirror, da Netflix, um fenômeno relâmpago há algum tempo. Essa atmosfera combina muito bem com o jogo, sua estética e sua história, tendo momentos tensos e dramáticos. Porém, que fique claro que para absorver essa história é preciso bastante atenção aos detalhes, e é aí que o ambiente do jogo e a realidade virtual entram com tudo.
Várias mentes, um apartamento
Uma característica bem peculiar de Transference é que o jogo todo se passa em um único ambiente, um velho apartamento relativamente pequeno com vários cômodos e elementos a serem descobertos. Entretanto, o interessante aqui é o recurso dos interruptores, visto que estes são utilizados para mudar de mente dentro do mesmo ambiente. Assim, podemos vislumbrar o mesmo ambiente através de vários pontos de vista diferentes.
Isso, do ponto de vista psicológico, é interessantíssimo, já que a SpectreVision se manteve muito atenta aos detalhes no desenvolvimento de Transference. Enquanto para uma mente os quadros nas paredes são disformes e perturbadores, para outra, ele representa seus maiores medos e temores. Enquanto as portas são facilmente abertas em uma das mentes, em outra elas se assemelham a celas de um manicômio.
Tudo isso com colecionáveis interessantes que acrescentam ainda mais riqueza e profundidade às histórias contadas ali. Tudo de forma muito indireta, induzindo o jogador a explorar e construir sua própria interpretação do que aconteceu naquele apartamento. Como se não bastasse tanta riqueza de detalhes em um único e pequeno ambiente, temos também os aspectos imersivos da realidade virtual que complementam com real qualidade essa experiência.
Realidade virtual com excelente qualidade
Transference surpreende principalmente no PSVR por conta da resolução na qual o jogo roda. Isso porque normalmente jogos de realidade virtual tem quadros de frames menores e recursos de embaçamento da tela para diminuir a possibilidade de enjoos de movimento. Porém, aqui temos um ponto fora da curva, já que tudo em Transference tudo está com um nível de nitidez altíssimo que aumenta bastante a qualidade da experiência.
Além da nitidez, outro fator muito significativo quando exploramos a realidade virtual do jogo são as suas cores: muito vivas e variadas, com elementos eletrônicos que saltam à vista e iluminações fortes que complementam a história contada em cada mente. Porém todo esse neon, show de luzes e alta nitidez possuem um custo para a jogatina: as chances do jogador apresentar cinetose ou algum cansaço na vista em pouco tempo de jogo são altíssimas.
Por isso, o jogo possui alguns recursos para diminuir isso, como já é de praxe em outros jogos com essa funcionalidade, como movimentação por teleporte e algumas opções de desfoque, que acabam tirando um pouco da glória que o jogo possui na realidade virtual. Ainda sobre a realidade virtual, é sentida a falta também dos controles de movimento no jogo, visto que ele é focado em exploração de ambiente e manipulação de objetos, ter controles de movimento como em Red Matter (PC/PSVR) seria o ideal. Porém, o que temos aqui é algo mais próximo de Resident Evil 7 (Multi), com uma ótima exploração e imersão visual, mas pouca manipulação desse ambiente.
Sobre atores e dublagens
Outro aspecto bem chamativo de Transference são os seus personagens. Isso porque os conhecemos principalmente através dos vídeos do cientista, sua mulher e seu filho os quais coletamos no decorrer das explorações. Esses vídeos são feitos com atores reais que melhoram ainda mais a experiência, com atuações convincentes e que se encaixam muito bem com toda a atmosfera de tensão e terror psicológico que o jogo constrói.
Junto a isso, temos também a dublagem feita pela Ubisoft Brasil que deixa o jogo muito mais acessível e imersivo para nós, já que pouquíssimos títulos em realidade virtual encontram-se com áudio em português. Nem mesmo Pixel Ripped 1989 (PC/PSVR), desenvolvido por uma brasileira, possui áudio em português; assim como a maioria, o jogo só possui legendas em nossa língua nativa.
Aqui a dublagem vem bem a calhar, já que temos elementos o suficiente para causar enjoo de movimento, sem e a necessidade de ainda termos legendas para ler e embaralhar ainda mais nossa visão dentro do jogo. Vale ressaltar também que a interpretação dos atores dublados é igualmente muito boa, transmitindo com real apreensão todos os sentimentos reprimidos dos personagens ali apresentados.
Uma experiência breve demais
Infelizmente, Transference não foge do maior problema da maioria dos jogos em realidade virtual: sua curtíssima duração. O jogo de terror psicológico nos dá nada mais que cerca de três horas de experiência, algo muito curto até mesmo para outros jogos nativos da realidade virtual, como o já citado Red Matter, Doom VFR (PC/PSVR) e The Mage’s Tale (PC/PSVR), que mesmo curtos, nos dão bem mais horas de jogatina.
Claro que não dá para comparar a experiência de Transference com jogos maiores da realidade virtual, como Resident Evil 7, Skyrim VR (Multi), Fallout 4 VR (PC) e Table of Tales: The Crooked Crown (PC/PSVR), mas poderíamos ter um pouco mais da riquíssima experiência que o jogo nos dá. Fica então a surpresa de ver algo em tão boa resolução na realidade virtual, com um enredo digno de ser discutido em um grupo de estudos de psicologia. Mas, infelizmente, é uma experiência muito breve para a média geral do que temos atualmente no mundo dos games e até no nicho da realidade virtual.
Prós
- Excelente narrativa contada através da exploração e detalhes;
- Ambiente rico em detalhes complementa a experiência;
- Realidade virtual de altíssima nitidez surpreende na imersão;
- Ótimos recursos de terror sem a necessidade de violência para isso;
- Aspectos psicológicos bem encaixados com a trama;
- Atores reais com ótima interpretação;
- Dublagens em português brasileiro muito bem feitas;
- Colecionáveis complementam e enriquecem a história.
Contras
- Curta duração pode desagradar alguns;
- Alta chance de causar cinetose;
- Ausência de controles de movimento é sentida;
- Pouco charme fora da realidade virtual.
Transference - PC/PS4/PSVR/XBO - Nota: 9.0
Versões utilizadas para análise: PS4/PSVR
Análise produzida com cópia digital adquirida por conta do redator.