Análise: Katana ZERO (Switch/PC) — precisão, violência e estilo em um mundo com tons de neon

No controle de um assassino, rebobine o tempo quantas vezes for preciso para superar os vários desafios nesse título indie frenético e bem produzido.

em 18/04/2019

Um samurai que é capaz de manipular o tempo é o protagonista de Katana ZERO. O objetivo do protagonista é matar todos que aparecem pelo caminho em uma aventura de ação intensa, violenta e difícil, que exige destreza e experimentação dos jogadores. Com visual estiloso, ambientação ímpar e narrativa interessante, somos convidados a mergulhar em um mundo futurista impiedoso em busca de respostas. Com ótimas mecânicas e execução impecável, o título oferece uma experiência memorável.

Na pele de um assassino letal

Em Katana ZERO controlamos um samurai assassino que, além de ser um exímio espadachim, consegue manipular o tempo. Normalmente suas missões, que se passam em uma cidade futurista, são simples e consistem em invadir algum lugar de segurança reforçada e acabar com o alvo, sem deixar nenhuma testemunha viva. Fora das tarefas, acompanhamos o samurai em visitas ao psiquiatra, que é também o responsável por delegar as tarefas. Essas consultas são importantes, pois além de discutir sonhos estranhos o samurai também recebe uma dose de uma droga — ela parece ser imprescindível para o bem estar do herói. A trama já começa complicada e aos poucos fica ainda mais complexa.

As missões são divididas em áreas e precisamos matar todos os inimigos para poder prosseguir. Além de atacar com a espada, o samurai pode pegar e lançar objetos, rolar no chão para escapar de perigos e rebater balas com sua lâmina. O assassino também consegue manipular o tempo, deixando a ação lenta e permitindo maior precisão na hora de atacar ou refletir projéteis. Mesmo sendo letal, o samurai é extremamente frágil: basta receber um único ataque para morrer. Quando isso acontece, todas as ações são “rebobinadas” e precisamos recomeçar desde o início da área — na verdade, cada tentativa é somente o samurai avaliando as possibilidades que funcionam ou não. Há também alguns momentos de furtividade em que a regra é não ser visto.


Os diálogos são constantes na jornada do espadachim assassino e bem importantes para a progressão, pois as respostas são capazes de mudar o rumo dos fatos. Em um hotel, por exemplo, eu conversei com a recepcionista na entrada (ela achou que o samurai estava fazendo cosplay, veja só), aí no final da missão ela me ajudou a evitar um confronto ao afirmar que o sangue era falso e fazia parte da fantasia. Ignorar a garota resulta em uma situação completamente diferente no final da mesma missão: ela chama os seguranças e pode até morrer no meio da confusão. Algumas escolhas mudam só detalhes, já outras alteram completamente o rumo de certas cenas. Um detalhe legal é que o sistema de diálogos permite interromper os outros personagens, o que abre mais opções de interação.

Explorando possibilidades e o peso das escolhas

Controlar o samurai nas missões de Katana ZERO me trouxe uma constante sensação de frenesi: tudo é muito rápido e em milésimos de segundo podemos estar mortos. O assassino é frágil, logo ser preciso é essencial para sobreviver — tarefa complicada, afinal cada estágio costuma ter uma boa quantidade de inimigos e perigo. O desafio, então, é tentar descobrir a melhor maneira de acabar com os oponentes e obstáculos, em uma experiência que combina estratégia, velocidade, improvisação e destreza. Os controles são simples e precisos, você realmente se sente na pele de um samurai ágil.

Os estágios têm estruturas e inimigos em posições fixas, no entanto existem várias possibilidades na hora de abordar os desafios: outras opções de caminhos, itens com efeitos variados, oponentes que reagem de maneiras diferentes de acordo com nossas ações, e mais. Em uma sala, por exemplo, estava sempre morrendo no mesmo ponto, pois o samurai era cercado por inimigos distantes que ouviram o barulho de luta. Sendo assim, em uma outra tentativa, utilizei uma estratégia diferente e matei primeiro esses inimigos problemáticos ao explorar uma rota alternativa, aí não fui mais cercado e consegui progredir. Em outro ponto complicado, preferi ser furtivo e usei uma granada de fumaça para confundir os guardas — foi muito fácil acabar com os inimigos quando eles não conseguiam me ver. Mas claro, a força bruta também funciona: com um pouco de destreza, é possível derrotar grupos de inimigos atacando diretamente. Experimentação e muitas possibilidades faz com que Katana ZERO seja um puzzle de ação bem frenético.


O foco é na matança, porém há diversidade de fases e situações em Katana ZERO. Alguns locais são mais verticais e permitem fazer ataques surpresa, outras áreas são mais abertas e exigem que o samurai consiga enfrentar muitos inimigos simultaneamente, construções com corredores complicados oferecem caminhos alternativos, e assim por diante. Apreciei também alguns trechos com momentos de furtividade, pois oferecem uma experiência mais lenta e tensa. No fim, fiquei surpreso em como o título consegue exigir o domínio de habilidades diferentes.

As situações complicadas e a presença de muitos inimigos faz com que o jogo seja difícil, e a morte é constante. Ao ser derrotado, o samurai reaparece no início da sala e precisamos tentar tudo de novo — é necessário sair ileso para conseguir progredir. Isso não chega a ser um grande problema, pois os estágios não são muito longos e a animação de “rebobinar a fita” é bem rápida. Mas, mesmo assim, pode ser cansativo repetir o mesmo trecho inúmeras vezes, principalmente aqueles mais lineares — nesses momentos a sensação é de que o jogo se tornou pura tentativa e erro, com pequenos deslizes barrando nosso progresso. De qualquer maneira, é muito recompensador conseguir superar um estágio complicado depois de passar vários minutos insistindo e tentando.


Por fim, apreciei o impacto das escolhas no mundo de Katana ZERO. As respostas nos diálogos mudam o rumo da trama e algumas fases se alteram completamente dependendo do que falamos — fiz questão de jogar novamente algumas fases para ver as consequências dos caminhos diferentes. Inclusive fiquei com a sensação de que muitos dos segredos e extras dependem das escolhas que fazemos pela aventura. Além de ser criativo, o sistema de diálogos é um ótimo incentivo para revisitar os estágios.

Fitas VHS em um mundo banhado por neon

A jornada do samurai assassino se passa em um deslumbrante mundo futurista construído com uma pixel art impecável. Os cenários apresentam elementos produzidos com esmero, com vários pequenos detalhes que tornam as localidades ricas e verossímeis. Um detalhe que chama a atenção é a iluminação constante em cores neon, como rosa, roxo e azul claro, que traz uma atmosfera moderna e fria ao universo do jogo.

A ação estilosa é construída com vários elementos visuais que deixa tudo impactante. Um exemplo marcante é o combate: ao acertar inimigos com a espada, ocorre uma pequena pausa dramática enquanto o oponente cai e seu sangue jorra nas paredes, tornando visceral a ação de matar. Interromper alguém durante um diálogo faz com que a caixa de texto da pessoa desmonte, como se tivesse sido quebrada. Uma trilha sonora com composições synthwave reforça a ambientação futuro moderno do jogo — o legal é que sempre vemos o samurai ligando seu walkman, como se ele realmente estivesse ouvindo música enquanto mata pessoas. Fora do combate, composições suaves com piano pontuam os momentos tranquilos e reflexivos.


Um recurso muito legal é que, supostamente, estamos assistindo a fitas de vídeo. Não é só uma maneira de representar o menu principal, mas é parte do jogo também: quando morremos, simplesmente rebobinamos a fita e tentamos novamente, sendo possível ver com calma as investidas que resultaram em sucesso. Outro detalhe é que o menu de pausa simula uma interface de um VHS. Em alguns momentos, esse recurso narrativo de estar gravando a ação é subvertido em cenas bem surpreendentes em uma espécie de quebra da quarta parede.

Por fim, apreciei bastante a trama, que é contada de um jeito nada convencional por meio de diálogos, sonhos, memórias embaralhadas e mais. No começo é meio complicado saber o que é real ou não, mas aos poucos as coisas fazem sentido. Para entender exatamente a história, é importante também testar respostas diferentes e, às vezes, desobedecer ordens. E achei bastante curiosa a dualidade do jogo: em um momento estamos matando pessoas impiedosamente, em outro estamos em um ambiente tranquilo conversando com o psiquiatra sobre o que assola a mente do samurai.


Brutalmente impressionante

Katana ZERO usa violência, ação empolgante e ambientação criativa para criar uma experiência incrível. Controlar um samurai assassino é fácil, no entanto superar os perigos é outra história: experimentação e muita destreza são imprescindíveis para sair vivo das fases repletas de inimigos. O conceito principal é o mesmo na maior parte das vezes, contudo há muito espaço para outras estratégias por causa das várias possibilidades apresentadas nos estágios. Uma narrativa que usa recursos inusitados, visual elaborado em pixel art e trilha sonora pulsante são outros destaques do jogo. A soma de todas essas qualidades faz com que Katana ZERO seja imperdível.

Prós

  • Jogabilidade ágil focada em precisão e improvisação;
  • Ambientação excepcional que coloca um samurai ágil em um mundo contemporâneo;
  • Narrativa nada convencional que subverte expectativas por meio de recursos únicos;
  • Ótimo visual em pixel art com predominância de tons de neon;
  • Trilha sonora empolgante e repleta de synthwave e pianos.

Contras

  • Alguns momentos de repetidas tentativas podem ser cansativos.
Katana ZERO — PC/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alberto Canen
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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