Análise: Falcon Age (PS4/PSVR) é uma divertida aventura sobre amizade e revolução

O novo jogo da Outerloop Games é uma incrível jornada contra um sistema opressor, e brilha ainda mais na realidade virtual.

em 20/04/2019
Nas últimas semanas a Sony fez a sua primeira edição do novo formato de apresentação de seus jogos, o State of Play, e entre os anúncios estavam diversos lançamentos para o PlayStation VR. Entre as novidades que o periférico de realidade virtual terá em 2019 está Falcon Age (PS4/PSVR) um jogo de aventura em primeira pessoa com possibilidade de ser jogado na tela normal ou com o óculo de realidade virtual.

Com uma jogabilidade que mistura algumas pérolas já conhecidas, temos como diferencial aqui a parceria com uma bela e fofa fêmea de falcão que, além de fazer parte diretamente da história, influencia também a jogabilidade. Com alguns leves deslizes na execução, um mapa formidável e boa jogabilidade, Falcon Age pode ser um páreo duro entre os melhores jogos de realidade virtual do ano.



Uma amizade em meio a tormenta

A história de Falcon Age é bem peculiar se pensarmos que o jogo se trata de uma caçadora de falcão. No enredo, a humanidade foi escravizada por máquinas e vive subjugada por elas, em prisões totalmente controladas por inteligências artificiais. É em uma dessas prisões que começamos a jogatina, na pele de Ara, uma jovem que serve obedientemente as regras da prisão até encontrar um filhote bem carismático.

A falcoa bebê a qual batizamos ao longo da jogatina passa a ser nossa aliada e, com isso, começamos a questionar as regras da prisão. Com o tempo, descobrimos a existência de uma resistência de humanos que tenta se livrar das máquinas. Nesse contexto, somos apresentados à mitologia dos caçadores de falcão, nobres guerreiros que, em parceria com as enormes aves de rapina, conseguem se resolver inúmeros problemas.


O interessante aqui são os contextos e diálogos da história. Ara não chega a ser uma protagonista muito carismática, principalmente pelo fato de a escolha de respostas colocar a nossa personalidade na protagonista, mas sem nenhuma consequência para isso muito drástica ao longo da aventura. Assim, todo o foco de apego sentimental fica por conta da relação com o falcão através da jogatina, onde precisamos alimentá-lo, dar carinho e, ao mesmo tempo, ele nos auxilia ativamente em batalhas e na resolução de puzzles.

Como treinar seu Falcão

Independente de ser um jogo de aventura com resolução de puzzles, Falcon Age se trata principalmente de comandar seu falcão. Tudo no jogo gira em torno da ave de rapina, desde os pontos de vida, que são exclusivos dela, até a obtenção de itens e colecionáveis ao longo da exploração do mapa. Este mapa, por sinal, é consideravelmente grande, levando em conta que estamos falando de um jogo totalmente pensado para a realidade virtual.



O falcão é utilizado na caça de animais, coleta de recursos e nos combates contra inimigos. Além disso, temos que alimentá-lo para recuperar sua vida e podemos personalizá-lo com itens específicos que vão desde uma touca mágica que mantém ele como filhote eternamente até um elmo de dragão vermelho. Complementando toda essa experiência de interação com um animal totalmente virtual, temos inúmeras formas de interagir com ele, desde dar carinho até fazer cumprimentos secretos de amizade.

Toda essa jogabilidade focada no Falcão é muito enriquecedora para o jogo e faz dele algo bastante original. Caso jogado na realidade virtual com os controles de movimento PS Move, essa interação fica ainda mais realista, imersiva e divertida. Infelizmente, não sentimos na história um incentivo a essa relação com o animal tão forte como a jogabilidade sugere. Mas isso não atrapalha muito a experiência, que atravessa a mera apreensão da história para fazer do jogador em si um verdadeiro amigo da ave virtual.


Explorações divertidas, desafios nem tanto

Como dito anteriormente, o mapa de Falcon Age é consideravelmente extenso para um jogo focado na realidade virtual. Mas além de sua extensão, explorá-lo é bastante divertido. Temos uma movimentação bem livre pelo mapa, mas sempre respeitando as habilidades aprendidas pelo falcão, com caminhos impedidos temporariamente por conta da história ou por conta de determinadas habilidades não terem sido aprendidas.

A exploração em si é bem divertida e interessante, com animais para caçar, puzzles para serem resolvidos e materiais para serem coletados. Entretanto, os desafios secundários que encontramos ao longo do caminho nem sempre acompanham o mesmo nível de qualidade do ambiente em si. Estes desafios são como uma espécie de missão secundária para treinar algumas mecânicas específicas da jogatina, mas acabam frustrando e estressando mais do que divertindo.



Isso porque alguns problemas nos desafios fazem deles um contínuo exercício de tentativa e erro que pouco explora a inteligência do jogador. Na realidade virtual isso acaba se tornando um pouco pior, com bugs na captação de movimento e controles não tão afiados assim. Isso tudo, vale lembrar, são elementos específicos dos momentos dos desafios, não se repetindo estressantemente ao longo da jogatina comum.

Melhor ainda na realidade virtual

Como dito no início dessa análise, Falcon Age é um dos carros-chefe da realidade virtual em 2019, então seus aspectos que utilizam essa tecnologia precisam de uma atenção mais apurada. Fazer um jogo que funcione bem tanto na tela tradicional quanto na realidade virtual é um desafio a parte que poucos jogos conseguiram com a devida proeza. Felizmente Falcon Age também está nesse grupo.


Na verdade, a realidade virtual complementa e melhora a experiência que temos jogando na tela tradicional. Alguns aspectos, como chamar o falcão para o seu braço, infligir golpes com seu bastão elétrico contra os inimigos e interagir com o seu companheiro penoso são muito mais imersivos e divertidos de serem feitos na realidade virtual, principalmente com os controles de movimento.

Em contrapartida, alguns aspectos ficam um pouco menos agradáveis, como a movimentação que possui bem mais bugs do que na versão tradicional e a administração de menus que, mesmo mais imersiva, é desnecessariamente mais trabalhosa de ser feita. Mesmo com tudo isso, o resultado final da experiência da realidade virtual é muito positiva e vale bastante a pena.

Uma carismática e penosa aventura

Falcon Age (PS4/PSVR) não é um jogo perfeito, mas é bem competente naquilo que propõe enquanto experiência e diversão. Para os jogadores tradicionais, temos aqui uma experiência de game independente bem divertida com a interação com o falcão sendo seu maior diferencial no decorrer da jornada. Porém, quem mais ganha aqui são os entusiastas da realidade virtual, que tem em mãos uma experiência bem diferente de outras que temos por aí e pensado para vários públicos.

Mesmo que a história não esteja em primeiro plano na experiência do jogo, aqui vemos como utilizar mecânicas de jogo bem pensadas podem melhorar a experiência para além de simplesmente contar uma história visualmente. Falcon Age, no final, acaba sendo mais sobre a forma que interagimos com os videogames do que necessariamente jogar e finalizar o jogo.


Prós

  • História interessante;
  • Visual agradável e colorido;
  • Jogabilidade original;
  • Realidade virtual bem imersiva com comandos inteligentes;
  • Interação com o Falcão é muito divertida;
  • Combates estratégicos e dinâmicos.

Contras

  • Alguns problemas de otimização;
  • Algumas movimentações problemáticas;
  • Sensores da realidade virtual não tão precisos.
Falcon Age - PS4/PSVR - Nota: 8.0
Versões utilizadas para análise: PS4/PSVR
Análise produzida com cópia digital cedida pela Outerloop Games.

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.